POV Rachel

As novidades não param de acontecer. Essa coisa que sinto dentro de mim é tão esquisita mas tão boa ao mesmo tempo...

Estamos de mãos dadas e eu estou deixando! Será que é oficial? Mas não foi dito nada sobre isso. Será que precisa dizer? Eu não sei o que sou dele, não quero ser uma mera ficante.

— Garfield, o que significa essas mãos dadas?

— Ué... Você sabe. - Vi ele coçar a nuca.

— Não, eu não sei.

— Veja... Er...

— O que é? - Perguntei novamente, ruborizada.

— Somos um... - Ele disse, baixinho. - ...casal.

Eu corei brutalmente. Ele disse baixinho, mas entendi claramente. Ele disse que somos um casal.

— Um casal de mentirosos, né?

— Não, Rae. - Ele segurou meu rosto com a outra mão, me fazendo olhar para ele. - Somos um casal de verdade. Não somos?

Ele não conseguia parar de olhar para aqueles olhos verdes. Não consegui nem me desvencilhar dele.

— É... Somos, né? - Eu virei o rosto pro lado, por conta da vergonha.

Eu notei um sorrisinho no rosto de Garfield.

— Está com vergonha?

— E daí? Você também está! - Disparei, corada ainda.

Ele coçou a nuca.

— Somos dois envergonhados. - Ele concluiu, rindo.

Eu ri, assentindo com a cabeça.

Ele mais uma vez entrelaçou seus dedos nos meus, até ficarmos de mãos dadas. A sensação é realmente maravilhosa. Nunca que eu iria imaginar, mesmo sendo "vidente".

Acho que não tenho mais a sensitividade de anos atrás.

POV Garfield

Pegar na mão da garota que você gosta é mágico, é diferente de tudo que eu já experimentei. O toque dela na minha pele é como uma corrente elétrica que percorre meu corpo. Meu coração está muito disparado. Espero que ela não escute, senão vai me achar um esquisitão. Me pergunto se ela sente o mesmo.

Chegamos ao boliche e vi que estava quase vazio.

— Que sorte! Há várias vagas para jogar! - Comentei, soltando da mão dela.

— Eu só joguei isso poucas vezes. - Ela disse.

— Acha que vou pegar leve com você por causa disso? - Fiz minha cara de desafiador.

E ela também fez a dela.

— Cai dentro, Hulk.

— Já é, Quel.

Ela fechou a cara por causa do apelido e eu caí na risada.

Peguei a bola, fazendo cara de confiante. Ela revirou os olhos, o que me fez rir. Continuei me exibindo para ela, até a bola de boliche cair no meu pé.

— Ahhhh!

— Bem feito! Ninguém mandou ser exibido! - Rachel ria.

— Qual é... - Eu sabia que minha expressão era de dor. - Me ajuda aqui...

Sentei num banco que tinha ali perto, me sentindo um idiota por ter derrubado a bola de boliche no próprio pé. Isso só aconteceu porquê estava tentando impressioná-la. E acabei machucado. Que mané!

— Francamente, Garfield... - Disse ela. - Vê se toma mais cuidado!

— Sim, senhora. - Respondi. - Quem sabe se você der um beijinho, a dor passe.

Vi o rosto dela ficar levemente ruborizado e ela tentando esconder.

— Você não é mais criança, idiota. Quer dizer, sua cabeça é de criança. - Ela revirou os olhos.

— Então! Posso ganhar um beijinho?

— Não vou beijar seu pé chulezento!

— Pode beijar outra coisa. - Segurei o rosto dela, olhando para os lábios daquela misteriosa garota.

— N-Não! Aqui não!

— "Aqui não"? Quer dizer que quer fazer isso, mas em outro lugar? - Eu deixei escapar um sorrisinho.

— Idiota! - Agora, ela estava toda corada. - Vamos jogar logo!

Eu sorri internamente. Parece que não sou só eu que estou com vergonha.

POV Rachel

Esse Garfield é mesmo uma criança... Derrubou a bola de boliche no próprio pé! Mas é bem feito para ele, ninguém mandou ficar se achando...

E agora mesmo, quase nos beijamos em público! Só que eu não deixei!

Por incrível que pareça, eu comecei bem o jogo. Eu e Garfield fazíamos dancinhas da vitória quando fazíamos STRIKE. Ríamos do quanto somos bobos.

— Minha barriga dói de tanto rir! - Ele dizia, chorando de rir.

— Minha também! - Eu dizia, rindo e colocando as mãos na barriga, arfando.

Após isso, sei que há mais alguma coisa nos planos do "encontro".

— Para onde vamos agora? - Indaguei, olhando em volta.

— Parque de diversões!! - Gritou ele, empolgado.

— Se acalma aí, criancinha! - Eu ri da empolgação dele.

— Qual é, quero que fique empolgada também!

Eu fiz meu melhor para sorrir sinceramente, mas o sorriso saiu "falso". Não preciso me forçar. Eu estou sorrindo naturalmente agora. Me sinto bem mais feliz ultimamente.

Já lá fora, observei que o sol estava quase se pondo. Olhei no relógio perto do parque que marcava 17:30.

— Já está tarde para o parque... - Comentei, vendo Garfield bufar.

— Droga. Bom, eu vou te levar ao cinema e depois, para jantar.

— Seu dinheiro dá pra tudo isso? - Indaguei, espantada.

— Claro. E achou que eu ia deixar a mocinha pagar? De-jeito-nenhum! - Ele falou, de forma que me deixasse constrangida, mas não quis que ficasse aparente.

— Bom mesmo você pagar, hein? - Me fiz de durona, para esconder minha vergonha.

Para mim, esse negócio de alguém pagar para mim era muito novo.

Ele sorriu.

— No próximo fim de semana, vai ter um festival japonês, no domingo. - Ele pigarreou. - Vamos juntos?

— Ah, sim... As cerejeiras vão florescer... - Lembrei-me o quanto são bonitas. - Claro.

Ele deu um sorriso satisfeito.

— No sábado, podemos ir ao parque e ir para casa planejar nossa viagem e...

— GARFIELD! Tem mesmo dinheiro para isso tudo?

— Hehe, claro! - Ele colocou a mão no queixo, como um filósofo. - Eu tenho que deixar minha gatinha feliz, não é?

Senti o coração dar um salto e meu rosto ficar todo quente nesse momento.

Sem eu dizer nada, ele pegou na minha mão e me levou com ele. Essa sensação do vento batendo no cabelo e eu estar sendo aquecida e confortada por essa mão quente entrelaçada sobre a minha era muito boa.

Isso seria impossível alguns anos atrás...

POV Garfield

Paguei as entradas do cinema. Gostamos do mesmo estilo de filmes, de terror e suspense. Também tem ação nesse filme, o que vai deixá-lo mais emocionante. Mas para mim não está importando o filme. Estou mais preocupado com a pessoa ao meu lado. Estou tão em boa companhia que tenho medo de perder o controle.

— Dizem que esse filme é muito assustador! - Disse ela.

— Vai precisar de muito para me assustar. - Coloquei a mão no queixo, novamente.

— O mesmo vale pra mim. Não me assusto tão fácil. - Ela disse.

Toquei o ombro dela do nada, o que fez ela dar um pulo.

— Não se assusta fácil, né?

— Cala a boca. Vamos pegar pipoca. - O rosto dela ficou vermelho por um instante.

Eu ri, baixinho. Como ela fica linda com raiva.

Pegamos pipoca e sentamos na fileira do meio.

Conversamos enquanto os trailers passavam na tela. Comecei a comer minha pipoca como se não houvesse amanhã. Quando começou o filme, já não tinha mais nada. Tive que ficar pedindo para Rachel me dar um pouco da dela.

— Você é um chato, sabia? - Ela disse, me dando pipoca na boca.

— Obrigado. Você também. Minha chatinha.

Vi ela virar o rosto, mesmo escuro. Certeza que tinha ficado sem jeito. Mas eu também confesso que estou morrendo de vergonha.

No meio do filme, num momento de tensão, eu queria muito assustá-la. Mas parece que fui pego antes.

Ela tinha me assustado. Depois, foi minha vez. E assim, íamos seguindo...

Passou um tempo e eu deitei no ombro dela. Senti ela tremer quando fiz isso. Deve ter levado um baita susto.

Essa sensação é muito boa. Eu posso estar de mal jeito na cadeira mas estou me sentindo muito bem.

POV Rachel

Esse cara é inacreditável! Deitou em mim! Não quero que ele perceba que estou sem jeito. Isso deveria ser natural se somos... namorados, né? Mas dá muita vergonha. Não conseguiria ter essa cara de pau que ele tem!

Mas essa sensação é boa... O que eu não quero é que ele ouça meu coração batendo tão forte.

Tomei coragem para acariciar o cabelo dele, ali mesmo no meu ombro. Ele sorriu e fechou os olhos. Não falamos nada, só ficamos assim.

Eu vendo o filme, ele no meu ombro, parecendo que está dormindo e eu o acariciando. Se me contassem que isso aconteceria, eu mandaria a pessoa que disse pro hospício.

Quem diria que logo nós dois, tão opostos, íamos nos apaixonar um pelo outro? O amor é engraçado mesmo... Se bem que tem vezes que ainda quero matar esse moleque. Mas outras vezes, só quero abraçá-lo, como se nada mais importasse.

De uma coisa eu sei... Quero muito ficar com o Garfield para sempre.

Meu coração está batendo mais alto do que a tela do cinema. Isso é muito esquisito. Mas muito bom também.