POV Rachel

Acordei com um nó no estômago e não consegui me lembrar o porquê. Aí me lembrei que hoje começo na faculdade e me mudarei para o campus. Já morei fora antes, mas desta vez, o Garfield não estaria lá. Fiquei pensando que tipo de pessoa seria minha colega de quarto.

Tentei ignorar a sensação no estômago e me levantei, olhando para o espelho.

— Hoje começa uma nova jornada. - Falei para minha imagem refletida.

Eu tinha cortado meu cabelo curto novamente, pois até semana passada já passava do ombro... Mas prefiro ele mais curto.

Minha mãe me chamou para tomar café e eu fui, deixando para trás uma mala e uma mochila. Sentirei falta da minha casa, assim como senti falta da casa que morava com Garfield.

Cheguei na cozinha e meu pai já tinha ido trabalhar. Sentei no lugar de costume e servi café na minha xícara e fiquei observando a fumaça saindo dela.

— Então. - A voz da minha mãe soou. - Minha garotinha vai começar uma nova etapa hoje.

Eu confesso que nunca gostei muito de ser chamada de "garotinha", mas sei que sentirei saudades disso.

— É. - Falei, assoprando o café e bebendo um gole. Estava amargo. - Precisa de açúcar.

Coloquei uma colher de açúcar e mexi o café, provando mais uma vez. Agora estava perfeito.

— Rachel... Está nervosa, não está?

Arqueei uma sobrancelha. Minha mãe me conhece, mesmo que eu tente esconder minhas verdadeiras emoções.

— Não. - Mas minha voz saiu um pouco tremida, hesitante.

Minha mãe deu um sorriso.

— Não minta pra mim, Rachel Roth. Eu te conheço há 18 anos, mesmo que você tente esconder o que sente. - É, a Dona Angela me conhece mais do que a palma da mão. Incrível.

— Tá legal, estou um pouco nervosa, sim. - Confessei, revirando os olhos. - Satisfeita?

Minha mãe sorriu em contentamento.

— Muito.

Fiz uma careta e tomei o resto do meu café. Estava sem fome, mas comi uma torrada com ovo, que nem senti o gosto, por conta do nervosismo. Desceu direto no estômago.

Ah, esqueci de contar que tirei minha carteira de motorista. Mas a mãe não deixa eu dirigir sozinha ainda. Fica apreensiva. Então, tenho que me contentar com caronas ainda.

Espera só eu ter meu próprio carro. Bom, carro eu não tenho, só uma bicicleta.

Chegamos em frente ao campus e meu estômago se revirou de novo e parecia que eu ia vomitar. Meu café da manhã parecia ter virado uma gororoba borbulhante dentro de mim. Eu queria voltar para casa, mas não podia mostrar que estava apreensiva. Não, eu não sou assim.

— Sentirei sua falta, Rae. - Minha mãe beijou minha testa. - Poderá voltar para casa nos fins de semana.

— Também sentirei a sua. - Eu dei um pequeno sorriso. Era verdade, sentiria falta de todos no mundo aqui fora. - Ótimo.

Minha mãe estava com os olhos cheios de lágrimas, mas não deixou elas caírem.

— Boa sorte, meu amor. Sei que vai se dar bem. - Ela me abraçou e eu senti meu coração apertar.

— Obrigada. Sabe que é meu sonho.

Assim que ela foi embora e fiquei sozinha com a mochila e minha mala, me senti tão pequena em meio a uma grande universidade. Tinham tantas pessoas que eu achei que estava numa balada e não numa faculdade. Engoli em seco e sentindo cada batida do coração.

— Bom, lá vou eu. - Respirei fundo. - Meu novo lar.

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POV Garfield

Acordei tudo babado de tanto dormir. Tô meio desanimado que não verei minha Rae na escola, talvez muito raramente no fim de semana.

Solto um solto suspiro e vou para a cozinha comer algo, mesmo sem fome.

Vou para a escola, sem pressa alguma. Hoje será apresentação dos professores, vai ser chato pra caramba.

Recebo uma mensagem da Rae e logo um sorriso em meus lábios se forma.

Estou sentindo saudades já.

Eu também, minha feiticeira. - Respondi com um sorriso.

A escola era a mesma, mas eu me sentia diferente. Nenhum dos meus amigos estavam lá. Quero só ver como vai ser esse ano.

As garotas já vinham se espichando pra mim assim que entrei na escola, mas eu as desprezei nem olhando para elas. No meu coração só existe uma pessoa: Rachel Roth. Mesmo longe de mim agora, estaremos ligados pelo nosso sentimento mútuo.

O que será que ela está fazendo agora? O que estará vestindo?

Não consigo parar de pensar nela um só minuto. Vou ficar maluco desse jeito!

— Oiiii! - As garotas me cercaram, perguntando se eu queria sair com elas.

Eu não falei nada e me afastei, sem mais nem menos. Não precisava dar satisfação para essas frescas e sim, para minha linda namorada.

O diretor começou a falar e eu suspirei. Será um longo ano...

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POV Rachel

Minha bota montaria faz barulho no piso da faculdade. Eu olho de um lado pro outro, cada vez mais surpresa. Quanta gente que eu não conheço. Eu não ligo, posso ficar sozinha num canto como eu fazia na escola. Mas não estava mais acostumada com isso. Precisava falar com o reitor, pois já tinha meus horários.

Na porta da reitoria, estava escrito que os novatos podiam ir para casa aos fins de semana. Isso me animou um pouco.

Minha primeira aula era de história da psicologia. Estava segurando minha mala e minha mochila. Minhas aulas só começam às 09:00. É 08:30 e eu ainda nem achei meu quarto.

Uma garota negra com coques esbarrou em mim, me fazendo derrubar minha mala no chão, mesmo sendo de rodinhas.

— Foi mal! - Ela rapidamente me ajudou a levantar e me devolveu a mala. - Você tá legal? Se machucou?

— Não. - Apalpei minha roupa. - Tô de boa.

— Você é caloura?

— Sim, e você?

— Sou sim. Meu nome é Karen Beecher. Prazer! - Ela disse, estendendo a mão pra mim.

— Prazer, Karen. Sou Rachel. - Apertei a mão dela e me senti meio ridícula fazendo isso no meio de tanta gente.

— Vai cursar o que? Qual é o seu quarto? - Ela me perguntava.

— Psicologia, 23.

— Sério??? É o meu quarto! E também vou estudar psicologia! - Ela me abraçou como se fôssemos íntimas.

Ela me lembrou muito a Kory.

— Ah, que maneiro. - Foi tudo o que consegui dizer assim que ela me largou.

Fui até o quarto com minha nova colega de quarto piradinha e deixei minhas coisas lá. Tinha um beliche perto da janela e uma cama. Karen dormia em cima, enquanto as duas outras camas estavam vazias. Resolvi ficar na cama solitária. Quem será que é a outra garota do quarto?