Como num passe de mágica, meu maior sonho estava sendo realizado. Sim, meus pais iriam viajar á trabalho para Londres, portanto eu ficaria uns dois meses sozinha em casa. Eles dois são advogados super famosos, e parece que apareceu algum caso que envolviam celebridades no qual eles foram chamados para defender os acusados.
Quando eles me deram a notícia, tive que me segurar e quase quebrar os dedos para não começar a gritar e comemorar, ao invés disso, fiz a minha melhor cara de santa e reclamei de ter que ficar sozinha. Claro que tive que ouvir minha mãe se desculpando durante o resto do dia, mas valeu a pena.
Graças á Deus, eles não conseguiram me mandar para a casa de nenhum parente, pois as aulas vão começar daqui á uma semana e também, QUEM é que iria querer ficar dois meses cuidando de uma adolescente de dezesseis anos? Resposta: Ninguém.
Bem, claro que minha mãe, no fundo sabe que eu sou festeira e nada santa, porque descobriu sobre a minha primeira vez ano passado, mas por mais incrível que seja, ela está confiando em me deixar aqui sozinha!!
P.S.: Eu sei que estou meio que traindo a confiança dela, e que talvez ela nunca mais me deixe sozinha depois desses dois meses, mas também não vou passar a tarde toda limpando a casa quando posso dar uma festa de arrasar, né?
Enfim, eles vão viajar no sábado, e como ainda é quinta, eu vou ter que ficar na minha até eles entrarem dentro da droga do avião, mas quem sabe não dá pra fazer alguma coisa em cima da hora no domingo, afinal, eu vou ter que comemorar.
Almoçamos juntos, e enquanto minha mãe arruma a louça, decidi sair um pouco. Desci a escada para a sala, indo para a cozinha.
-Manhêê!-Chamei do corredor.-Vou sair cinco minutos, tá?
-Onde você vai, Haley?-Ela perguntou, saindo da cozinha.
-Hummm, na papelaria.-menti, depois de pensar um pouco.-Falta comprar um caderno e umas coisas para a escola.
-Tudo bem,-disse ela sorrindo.-Será que você podia passar no mercado e comprar algumas frutas?
-Ok.-Disse, pegando meu casaco e saindo de casa.
Primeiro passei na papelaria, porque estava mesmo precisando de um caderno. Comprei um qualquer e depois, fui para o mercado.
A mulher do caixa estranhou, mas mesmo assim, me deu os maços de cigarro que eu pedi, e empacotou as frutas da minha mãe. Claro que minha mãe não sabia que eu fumava, não chego a falar tudo para ela.
A verdade é que ela não pode falar nada, minha mãe fuma feito uma chaminé por causa do stress, o que facilitava muito quando eu pegava uns cigarros dela. Eu também não sou burra. Sei que faz mal á saúde e tal, mas um ou outro cigarro de vez em quando me acalma e o que os olhos dela não vêem, o coração não sente e por enquanto, vai permanecer assim.
Como eu não estava com pressa de voltar para casa, parei num parque e sentei em um dos bancos, tirando o celular do bolso.
Digitei uma mensagem sobre a festa de domingo para Audrey, minha melhor amiga e esperei sua resposta. Audrey é a típica garota peituda e gostosa, mas era muito gente boa, para ser sincera. Ela é loira, com o cabelo comprido e repicado, ama moda mais do que qualquer pessoa que eu conheço e tipo, sempre reclama que eu preciso me arrumar mais. Por culpa dela, eu enchi meu guarda-roupa com roupas de grife, que nem mais sei de onde saíram e para piorar, minha mãe apóia ela total e patrocina todo e qualquer projeto de “mudança-radical-em-Haley” que a Audrey faz.
Acho que minha mãe só apóia porque não sabe que Audrey é bi. Eu até tentei falar, mas achei melhor não. Adoro a Audrey e não quero deixar de andar com ela só porque também beija garotas. Pelo amor de Deus, estamos no século vinte e um!
Agora, a pergunta que não quer calar: se eu e ela já ficamos? Sim, já.
Aconteceu numa festa, eu estava, só pra variar, bem doidona, e eu acho que ela também, e no final, acabamos ficando. Sinceramente, eu gostei. Não vou mentir, ela beija muito bem, melhor do que muitos homens, acho que não cheguei a transar com ela, mas no fim, eu acabei sem algumas peças de roupa, com certeza.
Meu celular apitou com a resposta de Audrey e eu tomei um susto. Li e dei um sorriso, ela apoiava totalmente.
Levantei do banco, feliz por ter uma festa para planejar e topei com alguma coisa que me fez cair no banco novamente. Olhei para cima irritada e ví um garoto, que parecia meio atordoado. Ele era alto, com os cabelos numa cor de areia e dava para ver seus músculos por baixo da camisa de manga comprida. Provavelmente estava correndo.
-Você não olha por onde anda?-Perguntei, ainda irritada com ele.
-Ah, desculpa, você se machucou?-ele perguntou com a testa franzida para mim.
-Estou bem, não que seja do seu interesse,-respondi me levantando novamente.-você devia parar de trombar com as pessoas.
-Olha, me desculpa mesmo, eu me chamo..-ele começou, mas eu interrompi.
-Se quer saber, eu não ligo e não me interessa seu nome.-Disse e saí andando, com o ombro dolorido e de mau humor.