~ Logan POV

Acordei no mesmo horário de sempre, levantei e fui tomar um banho. Fechei meus olhos e me perdi, em pensamentos alheios. Terminei o banho e vesti meu uniforme.

Desci até a cozinha, comi um pãozinho e sai de casa. Não me despedi de ninguém, já que não tinha ninguém em casa. Fui até a casa de Lucy, bati três vezes na porta e uma no interfone. Não foi bem a pessoa que eu queria, e esperava, que atendeu.

– Hã...oi? – ele disse me olhando com uma sobrancelha arqueada.

– Que que você está fazendo aqui, Bernardo? – disse, colocando as mãos nos bolsos da calça e franzindo o cenho.

– Ela me chamou...Lucy. – Ele se encostou no batente da porta.

– Para...? – Me afastei um pouco.

– Para levá-la pra escola. – Ele deu de ombros.

– Desculpa – Lucy veio correndo e parou do lado dele, olhando pro chão e respirando rápido. – por te fazer esperar. – Ela se virou pra mim. – Tá fazendo o que aqui?

– Bom, de início, eu ia te buscar, mas – olhei Bernardo – acho que não vai ser necessário.

– Você pode vir com a gente. – Bernardo disse, saindo da casa e fechando a porta.

– Não, obrigado. – Eu me virei e me afastei deles, indo pro passeio. – Vejo vocês depois. – Fui em direção a escola, me afastando rápido da casa.

Fui andando, distraído, chutando uma pedrinha. Dei um chute mais forte que os outros, com toda a força que eu podia, e ouvi um gemido. Olhei na direção em que eu tinha chutado a pedra, uma garota estava ajoelhada, passando a mão no braço. Corri até ela e a ajudei a se levantar.

– Descul... – Me interrompi quando ela olhou pra mim. Ela era linda, mesmo estando vermelha e com os olhos cheios de lágrimas. – Desculpa, foi sem querer.

– Tá tudo bem. – ela secou as lágrimas que escorriam pelo rosto e deu um sorriso, indo na direção contrária à minha.

– Perdida? – Segurei seu pulso.

– Mas é claro que... – ela parou e deu um sorriso, sem graça. – que sim. Mas como soube?

– Você tá com o uniforme da Golden e não está indo na direção da escola.

– Ah! – Ela bateu uma mão na outra. – Foi por isso que eu não achei a escola ontem. – Ela se inclinou um pouquinho pra frente, na minha direção. – Me levaria até lá?

– Claro, simbora. – eu disse, já andando pra escola, ela seguindo do lado.

– Obrigadinha. – Ela disse, mexendo na mochila.

– De nadinha? – Eu levantei uma sobrancelha.

– Isso mesmo. – Ela deu uma curta risada. – Ah é! Prazer, meu nome Satella L. Bridget – ela estendeu a mão pra mim.

– Eu sou Logan, de Logan – eu apertei sua mão. Continuamos conversando, pelo caminho inteiro.

Chegamos na escola e ela ficou boquiaberta. Ri daquilo. Ela era um ano mais nova que eu, deixei-a na sala dela e fui para a minha.

Lucy e Bernardo não tinham chegado ainda. Me sentei do lado da grande janela que havia na sala, fechei meus olhos e me debrucei na mesa. Acabei dormindo.

Acordei quando o professor bateu a régua na mesa. Na verdade, eu dei um pulo, assustado.

– Logan, minha aula está te atrapalhando? – O professor gordo de matemática se aproximou, com aquele bafo de cebola, do meu rosto.

– Não – tampei meu nariz – mas seu bafo está. – todos na sala começaram a rir, baixinho.

– Ah é? – ele se afastou. – Lucy, sente-se aqui. – Ele apontou pro lugar ao meu lado e entregou a régua pra ela. – Toda vez que ele dormir ou ficar fazendo gracinhas, bata nele com a régua.

Ela franziu o cenho e ficou o encarando, sem reclamar. Só se sentou, enquanto Fany ia pro lugar dela, queimando-a com os olhos.

– Muito bem, vamos continuar a aula. – ele se virou e voltou a escrever aquelas fórmulas de Satanás no quadro.

– Babaca – revirei os olhos e olhei a janela. Senti algo acertando meu braço . – Hã...ai?

– Presta atenção – Lucy disse, escrevendo no caderno dela.

– Não – dei de ombros e ela me bateu de novo. – Ai!

– Tem certeza? – ela me olhou pelo canto do olho.

– Tenho. – segurei o braço dela e sorri.

– Solta. – ela fazia força, tentando soltar o braço.

– Não, você não manda em mim – eu mostrei um joia e segurei o braço com mais firmeza.

– Muito bem – o professor se virou – voc~es vão fazer os exercícios 20 ao 52, pra amanhã. Até mais.

Ele saiu da sala e eu finalmente soltei o braço dela. Ela ia se levantar, mas eu a abracei e não a deixei sair.

– Me solta – ela se remexia, tentando se soltar.

– Não – dei de ombros.

Uma mulher, com um vestido cinza e óculos, com os cabelos grisalhos presos num coque, entrou na sala. Senhora Doris, a senhora da chatice.

– Aff – Lucy se sentou de novo e se ajeitou na cadeira. – Idiota.

– Lucy – abri meu caderno. – Me desculpa?

– Por? – ela franziu o cenho.

– Por...sei lá... – dei de ombros.

– Ah, então tá, né? Tá desculpado. – ela disse, revirando os olhos.

– Ótimo. – respondi. – Então, você vai lanchar comigo hoje.

– Não. – ela começou a anotar a matéria.

– Mas, você não tinha me perdoado?

– E perdoei – ela bufou – mas não quer dizer que eu tenha que lanchar com você.

– Então tá, né? – comecei a anotar a matéria.

A aula foi passando devagar, meus olhos iam se fechando, cada vez mais, até que um homem careca, grande e cheio de rugas no rosto entrou na sala. O diretor.

– Bom dia, senhora Abigail. – ele a cumprimentou com a cabeça.

– Bom dia, senhor Jackson. – ela deu um sorriso bobo para o diretor.

– Desculpa incomodar sua aula. – ele sorriu de volta, com um sorriso amarelo.

– Não incomoda, diretor. – O sorriso dela se alargou.

– Opa, o diretor tá dando em cima da professora. – Toda a turma começou a rir, menos Lucy.

– A única coisa que eu estou dando é uma detenção para o senhor, Luke.

– Ui, tá bem nervosinho... – ele levantou as mãos.

– Muito bem. Vim lhes dizer que os dormitórios ficaram prontos e , a partir de semana que vem, vocês dormirão na escola, para não ter desculpa de atraso e, na sexta à noite ou no sábado de manhã, vocês voltam, entenderam? - ele olhou os alunos, esperando uma resposta. – Entendido?

– Sim – os alunos disseram em uníssono.

– Ótimo. Continue sua aula, senhora Abigail. – ele saiu da sala logo em seguida, sem dizer mais nada.

A aula voltou ao normal, naquele ritmo lerdo de antes. Dessa vez, fiquei enchendo o saco da Lucy, até o sinal do intervalo. Ela se levantou e foi na direção de Bernardo, os dois saindo juntos.

Eu ia atrás dela, mas acho que Fany já estava brava demais comigo. Fui até ela e me sentei na sua mesa.

– Muito brava comigo? – apertei suas bochechas.

– Ai! Para! – ela disse, me unhando.

– Só se me responder. – apertei mais forte ainda.

– Tá bom, mas solta. – Dei um sorriso e parei de apertar as bochechas.

– Então anda logo, você nunca foi assim... – franzi o cenho.

– É só que... – ela começou a mexer com uma mecha do cabelo. – desde que essa tal Lucy chegou, você tem me ignorado. Te chamei várias vezes pra sair, mas você sempre estava com ela, ou algo do tipo.

– Ciúmes? – ela parou de mexer no cabelo por um instante, mas logo voltou.

– Talvez... – agora ela olhava para a mesa, corando um pouco. – De qualquer maneira, você deveria ir atrás dela, ou não vai conseguir acha-la. – Ela se levantou, prestes a sair da sala, mas eu a segurei pelo braço.

– Não vou atrás dela, porque hoje eu vou ficar com minha melhor amiga. – sorri.

– Mas, ela vai sumir... – ela voltou a olhar pra baixo.

– Foda-se! – Me levantei e a puxei pra perto. – Vamos logo.

– Ok, mas não vai colocar a culpa em mim depois... – ela sorriu. – bebezão!

– Bebezão de cu é rola, chorona. – Apertei a bochecha dela, de novo. – Vamos.

Fomos até a cantina e sentamos numa mesa qualquer.

– O que você trouxe pra comer? – perguntei para Fany.

– Nada, eu vou engordar. – ela deu de ombros.

– Vai. Se. Fuder. – peguei dois pudins, que eu tinha levado, na mochila e a entreguei um. – Come.

– Não. – ela franziu o cenho, se afastando do pudim.

– Anda logo. – peguei um pouco do meu e estiquei a colher. – diz, ahh! – ela olhou pro lado por um segundo, antes de se virar pra mim e abrir a boca.

– Se eu engordar a culpa é sua. – sorri, colocando a colher em sua boca.

– Amanhã nós vamos comer sushi, na outra cantina.

– Nós? – ela perguntou, com a sobrancelha arqueada.

– Sim, até onde eu sei, você e eu somos nós. – eu dei de ombros.

Ela riu e continuou comendo o pudim. Ficamos o resto do recreio todo conversando. Quando o sinal tocou nós voltamos para a sala. Lucy voltou com Bernardo. Fui até ela e a puxei para minha mesa. Antes que ela dissesse qualquer coisa, a aula começou, normalmente.

Assim que acabou a aula eu fui embora, pra casa. Antes de sair pelos protões da escola, pensei em passar no centro da cidade, pra comprar alguma coisa para Lucy. Mesmo ela dizendo que tinha me perdoado, eu sabia que ela não me perdoou por completo.

Comprei algumas coisas, demorando mais do que eu queria para voltar pra casa. Quando cheguei já estava tarde, todos na casa dormiam. Fui pro meu quarto e olhei pela janela. A de Lucy estava acesa.

Peguei meu sabre de luz e cutuquei a janela dela, que logo se abriu. Lucy me observou, com o olhar questionador. Sorri e levantei um ursinho com os dizeres “ Me desculpe” . Ela sorriu também.

– Desculpo, seu bobo. – ela revirou os olhos, ainda sorrindo.

– Beleza, então, abre espaço pra eu entrar. – Ela arredou pro lado e eu pulei para a janela dela. – Toma. – A entreguei o ursinho.

– Obrigada. – Ela colocou o ursinho no criado mudo.

– Estudando? – Me sentei na cama. Ela ligou a TV e pegou duas manetes antes de responder, me estendendo uma. – Sim, senhor. Quer jogar?

– Se você estiver pronta para perder... – peguei o controle, dando de ombros.

– Não vou perder. – ela se sentou no chão. Ficamos jogando até de madrugada, até que ela acabou adormecendo e, devo dizer, perdendo também.

Coloquei-a na cama e pulei pro meu quarto de volta. Vesti um pijama qualquer e dormi também, feito uma pedra.