Goin Down
Lenda
A conversa com Nate havia me deixado confusa. Depois de tomar um banho me atirei em minha cama, agarrei meu celular e procurei por alguma mensagem de amigos que deixei em New York. Nada. Procurei meu fone de ouvido e o conectei ao celular. Fui em meus arquivos e procurei por Avril Lavigne. O silêncio do meu quarto foi quebrado com o som de The Best Damn Thing.
Fechei meus olhos. Deixei a musica me desligar do mundo. O beijo de Dean bateu em minha cabeça como um foguete. Sorri por alguns segundos. Não sabia como explicar. Avril Lavigne sempre despertava minhas melhores emoções.
A musica foi interrompida um instante por um bipe me avisando que recebi uma mensagem. Olhei pro visor: Nova mensagem de 555-656985
- Não conheço este número - disse enquanto apertava a tecla 'ler'.
A mensagem apareceu: A festa começou. Não vai vir? Estou te esperando, Dean.
- Como esse garoto conseguiu meu número? - perguntei.
Ele sabe tudo sobre você! Ouvi a voz de Nate gritar em minha cabeça.
- Não é possível! - me levantei da cama com um salto. - Ninguém aqui tem meu número. Como ele conseguiu?
Pensei por alguns minutos. Só havia um jeito de conseguir respostas. Peguei meu melhor vestido. Preto, muito curto e decotado. Usei minha melhor meia rastão, preta com vários cortes. O cabelo, liso em cima e ondulado nas pontas. E de maquiagem, como sempre, sombra preta ao redor dos olhos. Me olhei no espelho.
- Se preparem, só por esta noite, a velha e abusada Taylor Momsen está de volta! - sorri, achando graça de tudo isso.
Minha tia Heyley era um obstáculo a vencer, se eu quizesse chegar na festa de Dean Crawford. No corredor, encontrei Lily na porta de seu quarto conversando com um de seus ficantes no celular. Me aproximei e tomei o celular de suas mãos.
- Oi - eu disse no telefone enquanto Lily tentava sem sucesso algum tirar o aparelho das minhas mãos. - Olha amor, hoje é o dia em que a Lily se dedica a mim. Está entendendo? Outro dia se quizer a gente combina sexo à três. Beijos.
Quando desliguei o celular, percebi o olhar metralhador de Lily.
- Tem ideia de com quem estava falando? Mathew Conor, ou simplesmente o garoto mais cobiçado da escola! Quando eu consigo combinar uam noite selvagem com ele, você me faz isso! Obrigada.
Sorrio maliciosamente.
- Bom... eu também não sou tão ruim assim. Se me ajudar, a gente brinca - eu disse em tom de zombaria.
- Argh! - ela fez cara de nojo. - Diga logo, o que quer?
Expliquei tudo que ela precisava fazer. Lily desceu as escadas correndo e quase se atirou em cima de Heyley.
- Me ajuda! - ela gritava, fingindo tossir. - Acho que engasguei. Me dá água!
Heyley se levantou assustada e correu para a cozinha. Desci as escadas com a mesma velocidade de Lily, quando passei por ela, ela piscou o olho.
- Arrasa gata!
Quando sai de casa, respirei fundo e me dirigi para a porta da casa de Dean. Bati a campaínha. Enquanto esperava por alguém, imaginei onde estaria os pais de Dean. Eles aceitavam tão fácil que o filho desse festas em casa?
Ouvi barulhos na porta. Dean a abriu com um sorriso.
- Já estava achando que você não viria - ele disse.
- Eu não podia perder...
Ele fêz gestos para que eu entrasse. A casa de Dean era enorme. A sala tinha características da França antiga. Nas paredes, vários quadros de perfeitas imitações de obras famosas, como A Mona Lisa de Da Vince. Um grande sofá vermelho ocupava o centro da sala, juntamente com uma pequena mesinha contendo garrafas de vinhos de marca e taças de cristal.
- Sua casa é linda! - adimiti surpresa.
- Esperava o quê? - ele riu. - Pôsters gigantes do Slipknot e guitarras espalhadas pela casa?
Fiquei envergonhada.
- Não! Que isso... - disse sorrindo. - Guitarras espalhadas pela casa não.
Ele explodiu em risos.
- Nem tem graça. Para uma festa, aqui está bem vazio. E a musica? - olhei ao redor, a casa permanecia em um silêncio perturbador.
- Não é uma festa comum, é uma festa privada, para apenas cinco pessoas. É como um ritual. Está preparada senhorita?
- Sempre! - menti. Não fazia a menor ideia do que eu estava afzendo ali.
Dean me puxou pelo braço. Subimos as escadas para o andar superior. Andamos por um corredor enorme, cheio de portas fechadas. No fim dele, outra escada, menor. No topo dela, uma porta vermleha.
- Onde estamos indo?
- Pro sótão - ele respondeu sorrindo.
Dean abriu a porta do sótão e entrou primeiro. Quando entrei, olhei espantada ao redor. O lugar não havia janelas. Iluminado apenas por uma fraca luz de lamparina. No centro, uma mesa com um forro preto e cinco cadeiras. Quando entramos, já estavam a nossa espera mais três garotos. Logo reconheci todos. Faziam parte da banda de Dean.
- Conseguiu trazer ela? - perguntou um garoto ruivo de olhos castanhos e musculoso.
- Taylor, quero te apresentar o pessoal. Esse aqui é o Zack. - ele apontou para o ruivo. - Os outros dois ali no fundo são Lucca e Rick.
Lucca e Rick eram gêmeos idênticos. Morenos, de olhos verdes e altos, musculosos também. Lucca me olhou como se fosse me devorar. Me senti corar.
- Prazer em conhecer vocês meninos. - consegui dizer.
- Bom, vamos deixar de papo e começar o jogo? - perguntou Dean.
Os garotos se sentaram à mesa. Dean me olhou.
- Não vem?
- Claro! - puxei uma cadeira e me sentei ao lado de Rick.
- É um pequeno jogo que costumamos fazer com novatas. Tradição por aqui. - Dean sorriu. - Claro que tudo não passa de uma brincadeira, mas os sentimentos são reais. Acredita em lendas urbanas?
Que tipo de pergunta era aquela?
- Acho interessante. Não acredito muito.
- Bom - continuou ele. -, diz a lenda que Houstville era um refúgio de bruxas. E que a cidade envolve uma magia negra escondida em algum lugar. Esperando para se libertar. A lenda também conta que uma bruxa muito poderosa foi queimada no centro da praça, e deixou um diário escondido em algum lugar. Acreditamos que o diário e a tal magia estão no mesmo lugar. De acordo com a história, só se pode encontrar o caminho certo, após entrar em sintonía com o sangue de uma descêndente.
Eu estava querendo me levantar, rir e sair daquela casa contando pra toda a cidade o quanto os meninos mais populares da escola eram otários ao ponto de acreditar em uma lenda urbana.
- Então, como uma brincadeira, sempre que alguma garota se muda pra Houstiville, fazemos o ritual do sangue. Pra manter viva a lenda. - disse Lucca.
- E dessa vez, a garota sou eu? - perguntei olhando os quatro garotos à minha frente.
- Exatamente.
- Esquece! - me levantei.
- Por quê? Tem medo? - desafiou Zack.
Aquilo me deixou ainda mais furiosa. Voltei a me sentar.
- O que eu tenho que fazer?
Dean sorriu. Lucca se levantou, foi até uma cacheta jogada em um canto do chão, e retirou algumas coisas. Uma toalha branca, uma lâmina afiada e um objeto que lembrava muito uma bússola.
- Está pronta? - Lucca perguntou.
- Claro!
Estiquei meu braço sobre a mesa onde Lucca havia estendido a toalha branca. Ele segurou a lâmina e me olhou.
- Isso vai doer um pouco, sugiro que feche os olhos.
Fiz o que ele sugeriu. Fechei os olhos enquanto sentia a dor dilacerante da lâmina escorregando pelo meu pulso. A dor durou alguns instantes e depois cessou com o sangue quente que derramava sobre a mesa. Abri meus olhos novamente. Lucca agora segurava meu braço encima da estranha bússola. O sangue pingou no visor do aparelho. Em apenas alguns segundos, uma seta vermelha girou e indicou uma posição.
- O que é isso? - perguntei.
Os garotos se olharam sombrios. Dean sorriu, se levantou e caminhou até a mim. Pegou a toalha e a enrolou em meu pulso.
- Nada, como sempre. - ele olhou para Lucca. - Isso foi só para não quebrar a tradição. Tente não comentar com ninguém.
Após o jogo bizarro, Dean nos levou para a sala. Tomamos um pouco de vinho e comentamos sobre musica e os planos da banda dele para o futuro. Quase não percebi que o tempo tinha voado.
- Te levo até lá fora - se ofereceu Dean.
Antes de ir embora, me virei para Dean. Estávamos sozinhos ali fora. Era o momento certo.
- Preciso te perguntar uma coisa. Pode parecer idiota, mas me responda.
- Claro - ele sorriu. Quase não resisti.
- Você por acaso já sabia do acidente dos meus pais, antes de eu ter te contado hoje a tarde? - suspirei quanto terminei a pergunta.
Ele pensou um pouco.
- Tem certeza, essa pergunta parece idiota. Não tinha como eu saber. Te conheci ontem, da janela do meu quarto. Lembra? Você apareceu sem roupa.
Senti que estava ficando vermelha novamente.
- Então ele mentiu - eu disse baixo, mas não baixo o suficiênte para ele nao ouvir.
- Ele quem? Quem te disse isso?
- Olha, esquece tá? - me virei.
Dean me puxou de volta.
- Me fala!
- Tudo bem! Foi o Nate, que mora lá na república. Ele disse que você sabe tudo sobre mim, e que já sabia do acidente. Conhece ele?
- Não... mas vou conhecer.
- Preciso ir, Heyley não sabe que estou aqui. - me afastei.
- Taylor? - chamou ele.
Me virei, ele sorriu.
- Você está linda hoje. - depois de dizer isso, ele entrou.
Eu estava com um sorriso enorme, não entendia o motivo, mas me sentia tão bem novamente. Era uma inocência tão boa que eu não sentia a... meses. Eu só estava torcendo para que esse sentimento não fosse embora.
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