Go on

Espíritos livres


Eu estava quase inconsciente, pois não tinha forças para abrir os olhos, mas conseguia escutar alguns passos e frases.

— Ela é do clã Uzumaki... -chimaru-sama está interessado nela. – Haviam pessoas ao meu redor, me carregando. O som de passos continuava e depois de mais algumas palavras trocadas quase inaudíveis, ouvi um barulho estridente, algo pesado. Ferros estavam sendo empurrados sobre o chão. Fui colocada em um piso duro, ouvindo aquele som outra vez, ferros chocando-se um contra o outro. As vozes e os passos diminuíam, perdiam seu eco. Não lembrava de nada, mas uma pergunta imediatamente tomava forma: quanto tempo havia passado? Ergui os olhos e vi um corredor mal iluminado do outro lado das grades. Me pus de pé e corri para frente daquela porta de ferro, segurando-a com ambas as mãos numa tentativa transtornada de sair dali. O que realmente havia acontecido? Grades de ferro enormes me asseguravam de que eu não pertencia mais ao mundo. Eu não poderia aceitar isso porque quando o abracei, papai me sussurrou...

“Karin, você é quem escolhe como quer viver, assim como eu escolhi.”

Eu não entendi. “Ser usado como um objeto por outros não é escolha de vida!”, pensei. Tudo estava silencioso. Conseguia ouvir minha respiração ofegante e o pulsar do sangue nas fontes. Passei a sentir uma pressão muito grande me enfraquecendo as pernas pois até aquele momento não tinha percebido... engoli em seco, virei a cabeça para trás e num susto arremessei meu próprio corpo contra a grade: em um canto escuro da cela, dois olhos verdes fuzilantes me encaravam. Havia um menino, provavelmente de minha idade, sentado no chão. A luz do dia entrava naquele instante por uma abertura que supunha ser uma janela, também gradeada, tocando lentamente com sua claridade sua fisionomia: cabelos castanhos claro com fios que caíam sobre a testa pequena; expressão facial forte, impassível; e que expressão hostil e desinteressada era aquela? E que chakra... O silêncio continuava e aquela cena me alarmava. “Eu não sou uma marionete”, pensei, cerrando os dentes. Me virei e tornei a segurar as grades dando voz àquele pensamento:

— EU NÃO SOU UMA MARIONETE!

No outro dia estava sentada no chão olhando de soslaio para aquele desconhecido, quando de repente ouvi o som de chaves contra a fechadura de ferro: 2 shinobis carrancudos abriam a cela mandando-nos sair. Levaram-nos pelo corredor para uma sala ampla, escura, sem móveis, quando surgiu um homem das trevas com um sorriso malicioso, falando:

Sejam bem-vindas, crianças! KUKUKUKU, eu me chamo Orochimaru e aqui é onde morarão por algum tempo. Como puderam ver, vocês duas são as únicas aqui, mas existem outras crianças como vocês em outros lugares sendo testadas como vocês serão a partir de agora e a melhor forma de fazer isso é pegando suas habilidades emprestadas para a obtenção de certos “itens” para meus experimentos, KUKUKUKU. Estes ninjas atrás de vocês serão seus superiores. Deverão obedecê-los, pois eles lhes darão cada instrução necessária para a realização de suas missões... e o alcance de meu objetivo ficará mais próximo. KUKUKUKUKUKU! Uzumaki Karin, você deve estar se perguntando o que é tudo isso. Você é sortuda, foi resgatada dos ninjas da Grama. KUKUKU, agradeça ao seu colega de cela por isso, ele ajudou no seu resgate. KUKUKU Ofereci à você uma saída, Karin. Agora você deve me compensar e me emprestar seus poderes.— Aquele riso... aqueles olhos... ficaram retidos em minha memória...

Não adianta tentar fugir, porque...— ele pôs aqueles olhos em mim e finalizou – é inútil. KUKUKUKUKUKUKU Garoto, se esforce também!— Certamente eram aliados. Uma coisa ficou clara naquele dia: eu havia saído de uma prisão para outra e isto só ficou mais evidente e eu, desta vez, estava sozinha.

Uma semana depois do ocorrido, eu havia participado de 4 missões com o menino. Não havia ouvido sua voz ou sabia seu nome. Por 4 vezes eu tentei fugir, mas me pegavam novamente. Eu não saberia dizer o quão fortes eram aqueles dois ninjas. Eram estupidamente inteligentes também, toda a geografia do local da missão, terra e céu, era conhecida por eles. Isso me fazia pensar que tipo de experimentos eram feitos. Eu me sentia observada o tempo todo nas missões, como se estivesse sendo avaliada. Mas o garoto, ele não era diferente de mim. E minha dedução de serem aliados caíra por terra. Estava sendo obrigado assim como eu com uma falsa justificação de que devíamos algo para eles.

3 anos depois [...]

Eu nunca aceitei. Só sabia que sairia dali. Mas não consigo negar que me ‘aventurar’ pelo país anulava um pouco o sentimento de revolta. Porém, quando pensava no fato de que iria voltar para aquela cela, tudo era como antes... desgosto, frustração. Queria ser jovem ainda para aproveitar o resto da minha vida como alguém independente. Tinha 13 anos.

Tivemos uma missão fracassada num certo dia. Um dos shinobis acompanhava-nos até a cela, colérico.

Imprestáveis.— Um homem sobreviveu sendo que a ordem era matar todos. – Vocês terão de aprender a obedecer um dia. Ordens são cruciais para o sucesso da missão. Tsc, moleques descartáveis.— O garoto parou de repente, encarou o shinobi e eu ouvi um barulho abafado. – Desculpe... meu cérebro deu uma ordem pro meu braço, não pude controlar. Aliás, quem te disse que você poderia cuspir sangue no meu rosto?— O ninja estava caído a soltar sangue pela boca e nariz: acabara de levar um soco do menino. Não pude evitar um sorriso de satisfação ao ver o shinobi caído.

O tempo havia passado e as missões continuavam. Matávamos pessoas, talvez inocentes e eu me sentia um pouco menos humana todos os dias. Numa noite, todos os meus sentimentos haviam se tornado o oposto do que eram: raiva em tranquilidade; tristeza em alegria; pressa em calma. Começou assim: eu estava quase adormecendo, quando o meu colega de cela disse:

Seus poderes sensoriais são admiráveis.

Levantei de cenho franzido:

O quê?— Ele olhava para a lua através da pequena abertura gradeada. – Por que está falando comigo?

Era a primeira vez que conversávamos em 3 anos.

Relaxa, eu só quero agradecer por hoje.— Falou. Ele havia se salvado da morte certa após me morder. – Aquele ninja estava certo... talvez eu seja descartável.— Confessou.

Se pensa assim, então é um idiota! Eu vou sair daqui! Se quiser, pode vir comigo. Sou eu quem escolhe a maneira de viver minha própria vida!— Me acalmou o fato de lembrar das palavras de papai e o garoto me deu esperanças de que talvez pudéssemos realmente ir embora dali, porque ele me olhou diferente, estava comunicável, tolerante, aborrecido mas agradecido. Estava sorrindo com o olhar. Ele me encarava, surpreso:

Entendo.— Escondeu o rosto, mas percebi seus traços faciais formando um sorriso.

Desde aquele dia, começamos a conversar periodicamente e eu passei a sentir uma sensação diferente, que não havia sentido desde a morte de mamãe, no começo da guerra que já terminara. Ele agora sorria com facilidade. As missões ficaram mais fáceis, porque nos comunicávamos melhor. Nas lutas, bastava um gesto e já entendíamos o que o outro queria dizer. Seu primeiro nome era Chiru: sempre se excitava quando batíamos de frente com inimigos; sempre roubava algum objeto que lhe era legal quando abatia alguém (da última vez, levou um casaco verde que se contrastou com seus olhos); adorava intimidar pessoas; tinha 14 anos; eu sempre fui ótima em taijutsu, mas ele era melhor (às vezes treinávamos juntos, então aprendi quase tudo que ele sabia); sempre que podia, cortava fios do meu cabelo para colocar acima da boca, formando uma espécie de bigode. Sim, aquilo que irritava profundamente. Eu não saberia explicar o porquê de conseguir sorrir após a morte de meus pais. Antes eu só sentia desespero e raiva, agora eu me sentia bem de todo o coração, ficava ansiosa para as missões, mesmo sabendo que estava fazendo coisas erradas, me preocupava quando Chiru era ferido e ele celebrava sempre que eu conseguia derrubar os ninjas inimigos.

O seu taijutsu está perfeito!— Dizia. Com meu poder sensorial, não havia dupla melhor que nós. E aquela sensação só ficava mais forte. Um dia depois de voltar de uma missão difícil, ele me disse:

O tempo está voando, não é? Sabe, eu não me arrependo de ter te conhecido.— Mirei-o:

Humpf, como poderia!? Eu que vou nos tirar daqui!— E nós dois rimos. Ele me fazia esquecer a situação em que vivíamos e, é claro, me fazia ter aquele sentimento bom.

Um dia fui sozinha numa missão com os dois shinobis que nos comandavam, Chiru ficara na cela. Que estranho... Eu não me sentia da mesma forma. Eu geralmente ansiava pelas missões. Talvez pelo fato de que sairíamos para fora. Talvez porque respiraríamos ar puro. Mas quando fui aquela tarde, eu senti tudo isso menos a sensação que tanto adorava. Mesmo com o ar puro, minha respiração estava pesada. A natureza não era o motivo. Foi então que percebi que esta estranha sensação que eu não sabia nomear, renascia apenas perto dele. Odiei estar do lado de fora daquela vez. Naquele momento, foi a primeira vez que eu desejei estar trancafiada.

Se passaram mais dois anos e nossos laços de amizade estavam fortes. E havíamos crescido. Eu comecei a refletir que não importa quem esteja do seu lado, com o passar do tempo, você passa a ter um certo zelo por essa pessoa. Nos últimos meses, Chiru e eu pressentíamos que algo ruim iria acontecer, pois sentíamos um clima pesado no ar.

Quero tirar-nos daqui enquanto ainda estiver jovem...— Suspirei triste e Chiru, que estava sentado do meu lado, replicou determinado:

Sair daqui não é garantia de que lhe fará sentir melhor e sua pouca idade não tem nada a ver com juventude.— Aquelas palavras meio que me surpreenderam um pouco. Foi nesta mesma noite que eu contei à ele o que papai havia me dito antes de morrer.

Eu entendo ele perfeitamente. Eu conheço você agora, Karin. É uma boa pessoa. Não me importaria em dar a vida pela sua. Não foi isso que seu pai fez?— Ele me fizera entender o que papai me dissera anos atrás. Ele estava a me olhar ternamente. Aquela sensação me enchia de vida, mesmo quando estávamos na cela à noite. Eu queria poder nomeá-la...

E-Eu também não me importaria.— Confessei. Ele me encarou:

Por que você tá vermelha? Quer dizer, mais do que de costume? – Falou.

Cala a boca e dorme!— Surtei e ele apalpava a barriga de tanto rir.

Dois dias haviam se passado e naquela manhã estávamos nos preparando para ir à uma missão quando ouvi uma voz:

KUKUKU, hoje é um dia especial.— Era a voz de Orochimaru que ecoava, mas não o víamos em parte alguma. De repente, senti 2 chakras poderosos se aproximando em super velocidade. Suei, eu sabia que algo de ruim aconteceria. Um segundo depois, o barulho de uma enorme explosão do lado de fora confirmou minhas suspeitas. Vivíamos quase inteiramente submersos no meio de uma floresta. Haviam janelas gradeadas para sabermos quando era dia ou noite. Pelas aberturas da janela de nossa cela, a fumaça entrava. Eu e Chiru corremos para fora e em meio a fumaça que se dispersava, eu analisava-os. Suas características eram peculiares: um tinha cabelo branco e olhos arroxeados, além de uma espada de seu tamanho pousada sobre o ombro; o segundo, cabelo laranja espetado e vestido com um manto enorme, era o maior dos dois. Eu sentia toda a extensão de seus poderes e todos eram extremamente fortes. A poeira misturada com fumaça baixava aos poucos e eu examinava-os discretamente.

Agora, Suigetsu.— A voz do tal Orochimaru ordenava (não localizávamos seu dono) e uma enorme espada vinha ao nosso encontro. Chiru e eu estávamos um do lado do outro. Toquei seu braço e murmurei que não se mexesse. A cena seguinte se passou em segundos: os dois ninjas que acabavam de sair do subsolo (nossos ‘superiores’) tiveram seus corpos atravessados pela enorme espada do tal Suigetsu que acabara de atacá-los, pois não éramos o alvo. Suigetsu e os dois ninjas feridos estavam atrás de nós enquanto o de cabelos alaranjados estava a alguns metros na nossa frente.

Gritos ecoaram. Chiru e eu olhamos para trás e dois corpos jaziam no chão, com os membros para fora.

Suigetsu, deveria ter sido mais gentil com seus aliados.— Falou o homem de cabelos alaranjados. Sim, eram aliados! Mas por que ele os atacou? Chiru estava sério, como se estivesse em outra dimensão. Eu testemunhava tudo e não conseguia mover um músculo.

Po-Por que...— se esforçou um dos caídos – Por que... isso tão de repente... Vocês não deveriam nos matar! Não foi o planejado! Só tínhamos de cuidar dela!— Mas o que diabos estava acontecendo?

Ah, isso? Desculpa aí, mas vocês desde o início foram descartáveis. Não só vocês, mas aquele moleque também.— Ele olhou para Chiru com aquela intenção assassina. Segurei a lapela daquele casaco verde roubado:

OE! CHIRU! VAMOS FUGIR! OE! OE! ACORDA!— Não respondia. De uma hora pra outra, seus olhos fuzilantes me encaravam como da primeira vez que os havia visto. Falou:

Karin, você era o objetivo desde o início. Eles só queriam testar você e depois matariam eu e aqueles dois! Vai-...— Interrompi-o:

CALA A BOCA, COMO SE EU LIGASSE! EU JAMAIS DEIXARIA VOCÊ PRA TRÁS!— Encarei-o. Fez-se uma pausa e em seguida Chiru mordeu o polegar da mão direita, exclamando:

Kuchiyose no Jutsu!— Me olhou sarcástico: – Tem razão, vamos fugir! Até porque você não consegue fazer nada sem mim.— Estava estarrecida, era a primeira vez que via aquela técnica. Aquela criatura que não existia para mim estava ali, um dragão vermelho, de olhos hostis que alçava voo com aquelas asas espetaculares! Que chakra Chiru possuía!

Ele se parece com você, não acha? É vermelho.— Ironizou e mesmo sem saber se aquilo era uma ofensa ou um elogio, eu repliquei:

Não é hora pra isso!— Subimos.

Estávamos sobrevoando a floresta, mas não havíamos conseguido fugir: um corpo estava vindo em nossa direção numa velocidade inimaginável. O homem de cabelos laranjas era outra pessoa: com pele escurecida e uma intenção assassina devastadora. Conseguiu alcançar a cauda do dragão e tomou impulso para chegar mais perto de nós. Tudo foi tão rápido que não tivemos tempo de revidar. Pegou-nos ambos pelos pescoços, estrangulando-nos, enquanto nós três caíamos de uma grande altura.

SIM, CHIRU! VOCÊ MORRERÁ E CUMPRIRÁ SEU PAPEL COMO OS OUTROS! HAHAHA COMO É PASSAR A VIVER CONDENADO À MORTE POR CAUSA DE UMA DESCONHECIDA, HÃÃN? COMO? HAHAHAHAHA!— Até sua maneira de falar havia se transformado. Ele tinha razão, era minha culpa...

Negativo. Essa passou a ser a minha escolha.— Ele respondeu antes de chegarmos ao chão e aquela queda me fez doer os ossos. Sentia gosto de sangue. Procurei Chiru ao redor e vislumbrei uma cena chocante: seu coração estava trespassado por aquela enorme espada do homem chamado Suigetsu. Seu peito esguichava sangue.

Depois de 5 anos, sua missão está completa, garoto. Você também é descartável. Que pena, não?— Falou o de olhos arroxeados. A poeira baixou e os 2 shinobis se distanciaram de nós, quando o de cabelos brancos parou me observando:

Você sobreviveu. Orochimaru-sama tinha razão: os Uzumakis são mesmo especiais.— Sumiram os dois na floresta.

Caminhei a passos lentos para perto de Chiru. Me ajoelhei e ficamos cara a cara. Não conseguia chorar. Havia tanto sangue. Sua cabeça encostou em meu ombro e seu corpo pesava sobre o meu.

Essa foi a minha escolha, Karin. Não foram eles que decidiram me matar, fui eu quem decidi morrer... — As coisas não tinham de ser assim. E agora ele me diz que foi escolha dele morrer por mim? Eu não conseguia derramar uma lágrima, estava zangada! Seu chakra estava sumindo, estava morrendo.

Chiru...— chamei-o – eu sinto um sentimento bom quando estou com você, eu acho que descobri o que é.— Sorri, querendo chorar. – Uma sensação que me perseguiu até hoje desde que nos tornamos amigos. As pessoas dizem que sua liberdade pode ser tirada de você, ao passo que o conhecimento não. Bom, você me deu ambos, sabia? Eu queria... queria que elas me explicassem o porquê de eu ter me sentido livre entre grades durante 5 anos, O PORQUÊ DE MESMO PRESA E FAZENDO O QUE NÃO QUERIA, ME SENTIA A PESSOA MAIS LIBERTA DO MUNDO... SERÁ QUE ISSO PODE SER EXPLICADO? — Uma lágrima rolou sobre minha face. – Aquela sensação se chamava liberdade. Eu me sentia leve e feliz. Você me fez ser livre enquanto tudo ao nosso redor insistia em fazer ser o contrário. — Pus a mão em sua nuca, abraçando-o.

Karin, sua boba... não use verbos no passado. Você continuará livre.— Sussurrou uma última frase:

Porque eu sempre soube que tem um pouco de mim em você.

[...]

Tinha 15 anos e aquela havia sido a cicatriz mais profunda que tinha conseguido. Que pedaço seu vive em mim? Certamente é o que não me fazia chorar, um que havia transformado o ódio no meu coração em esperança. E a dor que esperava sentir não batia em meu peito. Eu queria demonstrar meu sofrimento, eu queria que cada átomo de meu corpo chorasse de tristeza. Sussurrava ao pé de seu ouvido, sorrindo e abraçando-o:

Eu sei que você pode me ouvir.— Sentia seu sangue empapar minhas vestes. – Eu serei livre.— Foi a última coisa que lhe disse. [...]

Em uma fração de segundo, o tempo parou e ficou ali comigo, olhando Chiru morto: obrigada por me fazer entender... não queria mais chorar, não queria mais demonstrar... porque você tem razão, meu amigo, tudo de bom que vivemos, todas as lembranças boas são mais fortes que as ruins.

[...]

Após o ocorrido, me juntara à Orochimaru. Em nenhum momento pensava que ele havia sido o causador da morte de Chiru ou lhe havia dado créditos por isso. Este deixou bem claro que era sua escolha e eu queria honrá-la vivendo o resto de minha vida da maneira que eu sempre quis. Ser livre do mundo e das pessoas... como se consegue isso? Eu ainda não sei. Mas eu tenho esse objetivo. Pode parecer bobagem, mas eu nunca esquecerei dos sonhos que tivemos nem daquela sensação maravilhosa que ele me fazia sentir. E que agora, vive dentro de mim. Agora tudo me fazia lembrar meus pais e Chiru: o ar puro, o vento que açoitava minha face, meus cabelos vermelhos, principalmente, e aquelas mordidas que um dia já salvaram a vida de meu amigo. Eu tive vários motivos para odiar esse poder. E agora não é diferente. Mas eu havia entendido que era capaz de devolver a vida de alguém através de mordidas em minha carne, mesmo em troca de minha própria dor... É essa dor que sinto que já protegeu a vida de quem amo, portanto jamais odiarei esse poder.

Olhava para minhas pernas, para meus braços, barriga, cochas, mãos e sentia pequenas ondulações causadas pelas cicatrizes. Eu era mais forte! [...] Todos os dias, enquanto estava ali, ia visitar o túmulo de Chiru. Conversar, gargalhar e respirar aquele ar que tantas vezes também havia enchido aqueles pulmões. “As pessoas são injustas e sempre querem tirar vantagem de você”, foi o que lhe disse na última vez que o havia visitado. Eu estava vestida com um short curto, uma camisa de mangas curtas e um casaco verde roubado que me fazia lembrar aqueles olhos verdes. Seu túmulo era no alto de um penhasco com a vista para uma floresta enorme. Também havia feito uma promessa a ele naquele dia...

Estava sentada perto da cruz quando levantava e saia a caminhar de costas para ela, deixando para trás cinco anos e um amigo perdido, uma kunai cravada na terra e uma mecha de cabelos vermelhos. Eu nunca havia me sentido tão viva antes. “Eu prometo à você: ninguém jamais nos tirará nossa liberdade, meu amigo.” Olhava para o céu. As nuvens estavam carregadas. Começara a chover. As gotas machucavam meus olhos e se misturavam com a lágrima que acabava de cair.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.