Levantei-me sonolenta e fui para o banheiro, a musica que tocava no quarto de Candice indicava que ela devia estar acordada se arrumando há umas duas horas. Já estava até acostumada a acordar mais tarde que ela, porque a garota se trancava no banheiro e ficava lá duas horas.

Fiz minha higiene matinal e voltei pro meu quarto pensando no que vestiria. Claro que o de sempre:

Uma calça jeans velha, meu all star gasto, minha camiseta preta e uma camisa xadrez vermelha, meus cabelos sempre ficavam soltos e não uso maquiagem nem que me obriguem.

Antes de tomar café dei uma passada no tão bagunçado quarto da minha mãe e recuperei meus fones, escola sem fones de ouvido? Nem pensar.

– Pensei que tinha morrido lá em cima! – Candice reclamou – hoje é nosso primeiro dia e você vai assim?! – ela me observava incrédula – Vá trocar esses trapos já!

– Melhor ir com meus “trapos” do que ir parecendo uma boneca Polly. - rebati.

– O que eu disse ontem? – minha mãe reclamou nos servindo panquecas, nós não respondemos a ela e ficamos em silêncio. Nós nunca conversávamos de manhã. É compreensível.

Enquanto comia recebi uma mensagem da Mônica:

Olá minha nerd favorita. Tudo Bem? Espero que sim.

Eu, Fred e Julie estamos mortinhos de saudades suas, espero que você também esteja.

Espero que você se dê bem na escola nova, não arrume amigos porque não quero concorrência.

Um beijo e boa sorte.

Soltei um mínimo riso e tratei logo de responder:

Você sabe que não estou bem, queria estar ai zoando o Fred por gostar da Can.

Também estou com muita saudade, queria que mamãe perdesse o emprego para eu voltar.

Não quero me dar bem, quero voltar. E eu não vou arrumar amigos novos. Você sabe que não.

Ps:( não me chame de egoísta por querer que ela perca o emprego, mas preciso voltar) Beijos da Nanda.

– Vamos Nanda! – mamãe me chamou abrindo a porta para Candice. Peguei minha mochila que estava jogada em um canto qualquer da sala e sai, me deparei com dois carros o da mamãe e uma camionete velha e vermelha.

– Não brinca mãe! – eu disse me aproximando dela.

– Você merece! – ela ergueu a chave me lançando uma piscadinha, peguei as chaves e entrei na camionete, a ligando em seguida.

– O que? Eu não vou com essa coisa velha. - Candice reclamou com minha mãe.

– E quem disse que você iria? - rebati apreciando o ronco do motor.

– Nanda! – minha mãe disse em tom de censura- Candice – ela se virou para minha irmã – ou vai com ela ou vai de ônibus.

– Droga de vida! – minha irmã disse entrando na camionete.

– Boa Sorte no trabalho mãe! – disse a ela.

– Boa Sorte na escola! – ela respondeu.

É vou precisar.

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– Eu não te conheço e não tenho ligação alguma com você! – minha irmã disse enquanto nós saiamos do estacionamento da escola.

– Nosso sobrenome é pura coincidência. – disse sarcástica enquanto ela se afastava rapidamente de mim.

Quando sai do estacionamento me deparei com uma multidão de alunos, todos separados por seus grupinhos:

As Populares, os Jogadores de Futebol, os Atores e Dançarinos, os Músicos, os Nerds, os Drogados, os Valentões e o grupo de PESSOAS QUE NÃO PERTENCEM A NENHUM GRUPO.

Que no caso é o meu grupo. A escola era realmente grande e as letras no topo dela formavam Yesterville Academy.

“Que nome original” pensei enquanto entrava pelas portas da escola. Lá dentro o corretor estava cheio e tumultuado, várias pessoas me olhavam e encaravam. Algumas cochichavam algo, o que me incomodou.

Não tive dificuldades para achar a diretoria, quando cheguei minha irmã estava saindo com um papel em mãos. Ela tentou sair correndo, mas eu a segurei.

– Tome cuidado Can, aqui não é Cavencity!

– Eu sei e boa sorte pra você também. – ela disse se soltando e sumindo no meio da multidão de alunos.

Entrei na diretoria e lá havia uma mulher sentada, percebi que era a secretária da diretora.

– O que quer senhorita? – ela perguntou não desviando os olhos do computador.

– Sou a aluna nova. – respondi.

– Outra?- ela perguntou mais para si mesma do que para mim – Pode entrar.

Foi o que fiz, andei em direção a porta onde estava escrito “Diretora Blaut”.

– Com licença senhora Blaut. – eu disse educadamente.

– Você deve ser a irmã da senhorita Candice? – fiz que sim com a cabeça – sente-se. – ela ordenou e eu me sentei. – Primeiro seja bem vinda à escola!

– Obrigada.

– Bom aqui esta seu horário – ela me entregou um papel – o andar da sua primeira aula fica lá em cima.

– Está bem. – eu disse me levantando e indo para a porta.

– Ah! Perdoe-me por esquecer, no intervalo irei mandar Carrie a garota responsável pelas boas vindas, ela lhe dirá as regras e lhe mostrara a escola.

Concordei com a cabeça e sai, não havia mais ninguém no corredor então presumi que o sinal já havia batido. Ela falou que fica lá em cima então deve ser o segundo ou terceiro andar.

Passei por várias salas até entender a lógica da escola, o primeiro andar era para primeiro ano, o segundo para segundo e o ultimo para terceiro. Minha sala era a numero 38, ao chegar a frente dela dei três batidas na porta e abri.

– Com licença professora. – a sala que falava até agora se calou e ficaram me olhando dos pés a cabeça.

– Olá senhorita Johann me disseram que viria entre, por favor. – eu entrei meio sem jeito, afinal todos estavam com os olhos cravados sobre mim. – Se apresente.

– O que? – eu perguntei e minha voz saiu mais fina do que eu planejava, fazendo com que alguns alunos rissem.

– Todo o aluno que chega aqui tem que se apresentar, e a senhorita não seria diferente.

– Está bem. – eu falei respirando um pouco descompassada, mas me acalmei – Meu nome é Fernanda Elizabeth Johann, vim de Cavencity, tenho uma paixão absurda por livros e violino.

– Que ótimo uma estudiosa, é isso que estamos precisando – a professora sorriu – meu nome é Jane Dewes dou aula de Gramática, pode se sentar onde quiser.

Onde quiser? Só havia uma carteira, que ficava na frente.

Ela começou a aula mais chata do mundo sobre números primos, qual é? Isso ai é matéria para ensino fundamental. Estava ansiosa para fazer uma daquelas expressões que ocupam a folha toda do caderno.

50 minutos depois o sinal soou e estávamos liberados para um intervalo de 10 minutos, depois que a professora saiu não demorou muito para o bando de animais... quer dizer "alunos" saírem correndo dali.

Fui a ultima e estava na porta da sala quando me lembrei dos meus fones, voltei para buscá-los e andei apressada de volta para a saída.

O que foi um grande erro meu.

"Pa!" eu voltei para trás com algo ou melhor alguém sobre mim me levando para o chão.

– Sai de cima de mim idiota! - eu disse olhando para os olhos castanhos que me encaravam.