A facilidade com que o rumo das coisas estava sendo seguido, tal como a adaptação de Elsa à constância de Hans ao seu cotidiano desde seu encontro mais impulsivo, estava a assustando. Deveria ser um sacrifício, no entanto, tudo até então soava mais saboroso, e não menos pecaminoso, do que absurdo. Ela deveria estar preocupada em reprimir a cada vez que bolava pretextos, embora jamais os encarasse como tais, para solicitar o calor daquele homem. Deveria preocupar-se em restringi-lo apenas a um ajudante, ou companheiro em curto prazo, em vez de enxerga-lo como a pessoa mais próxima dela depois de Anna. A rainha inclusive pôde observar melhor os resultados positivos de esgueirar-se com o príncipe em jardins, e salas vazias após dias carregados de pressão por parte dos reis e duques mais impacientes que a exigiam cada vez mais que, segundo eles, os libertasse de seus domínios, sem contar a necessidade cada vez maior de conter Anna.

Oh Anna. Elsa sabia o quanto sua irmã menor estava lutando internamente para não abordá-la sobre todos os sinais que ela vinha manifestando, tanto através do clima, quanto a atitudes espasmódicas que a mais velha não poderia encobrir. A monarca quase se sentiu perfurada pelo olhar estreito e ferino de sua caçula sobre suas costas quando, em uma das tardes em um encontro familiar que ambas denominaram “Hora do Chocolate”, Elsa vacilou em divagar silenciosamente sobre a forma como Hans lidava com ela, e sobre o quanto suas mãos eram habilidosas e gentis, o que maculou sua imparcialidade em uma mulher totalmente legível. Anna imediatamente a encarou com a costumeira malícia, sem, no entanto apontar o quanto ela parecia humanamente quente, e corada, e fora um alívio não haver a menção das expressões débeis e do morder inconsciente dos lábios. – Elsa? Está tudo bem? Ela limitou-se em perguntar, e a loira platinada usou do mesmo discurso sobre ser apenas preocupação com os hóspedes, discurso este que mal convencia a ela mesma, tampouco à flamejante ruiva ao seu lado, que apenas respondeu com um murmúrio enigmático ao passo que a mulher se levantava da mesa de chá do jardim e, de costas, deixava a brisa da tarde levar seu rubor para longe, certa de que estava sendo calculosamente observada por uma Anna um tanto aborrecida. Ela não tinha muito tempo com sua irmã, Anna era sua criança por questões claras de afeição, e era repugnante o fato de que estava subestimando-a assim como advertiu certa vez para que Hans não fizesse. Anna não era uma garotinha, era uma mulher adorável tanto quanto esperta, e enganá-la de forma tão descuidada era como subestimar sua inteligência, era como desrespeitá-la.

A facilidade com que o rumo das coisas estava sendo seguido, tal como a adaptação de Elsa à constância de Hans ao seu cotidiano desde seu encontro mais impulsivo, estava a assustando. E isto, por sua vez, não se tratava da consequência automática do processo de aquecimento em si, mas apenas do que Elsa achava que jamais poderia sentir devido a isso. Aceitar a atração existente entre ambos tornou-se a menor de suas realizações, quando a dependência dele e um fundo de desespero que a consumia sempre que imaginava o dia em que tudo acabasse e ela não mais tivesse seus lábios, cheiros e carícias, a despertou para o seu arsenal de conflitos.

Assim como Elsa não tardou a retirá-lo do patamar de odioso usurpador para encaixá-lo como sócio, ela não pôde ajudar-se quando já o estava vendo como uma das melhores companhias a que vinha tendo, em todos os aspectos, e não só por conta das ondas de êxtase que a tomavam enquanto ele a prensava contra paredes e findava suas tensões, e sim, pela forma como ambos foram tornando-se cada vez mais íntimos, alcançando um ponto onde desabafar seus medos e suas curiosidades durantes as conversas extremamente agradáveis tornou-se algo natural.

Os olhos da rainha brilharam além do motivo claro das lágrimas correntes, na noite em que finalmente notou o quanto a simples presença dele era agradável, para não dizer necessária. Após brevemente insistir pela indefinida vez com Anna sobre a inexistência de estar escondendo algo, a mais nova a surpreendeu com o baque estrondoso da lateral de seu punho batendo contra a mesa violentamente, fazendo suas taças tombarem ao passo que Elsa reagiu estalando a madeira com um gelo involuntário.

– Olha, eu tenho sido muito paciente, eu não quero realmente invadir o seu espaço e fazer o papel da irmã pentelha... – Sibilou a mais jovem, enquanto apertava os olhos processando a dor do baque, assim como a da exclusão resgatada, enquanto Elsa ainda tentava recuperar-se das palpitações e da forma como as circunstâncias esboçaram em sua face que era muita ingenuidade ter prosseguido em abusar dos limites de sua irmãzinha, e brincar com ela como esteve fazendo até então era uma péssima forma de recuperar o tempo que perderam antes dos portões abrirem-se novamente. – Mas, pensei que fôssemos melhores amigas, e que confiasse em mim para contar o que fosse. Elsie, por favor, eu sei que há alguma coisa que não quer falar... Eu conto tudo a você, mas não sei por que, você não quer fazer o mesmo comigo. – Ela queria tanto compartilhar com sua melhor amiga tudo o que vinha sentindo e descobrindo dentro de si, tal como a atração de crescimento ameaçador que sentia por um certo homem, no entanto, apenas podia sufocar tudo em seu interior e embora a princesa implorasse para ser a ouvinte de sua irmã, ela devia poupá-la da surpresa desagradável que seria caso fosse descoberta. Mais uma vez, estava excluindo Anna para o próprio bem da mesma, uma atitude que ela havia abominado verbalmente tendo Kristoff e Olaf como testemunha.

– Anna... – Tudo o que lhe restara fora suplicar, abrir a boca enquanto inspirava sonoramente, com a vontade louca de contar a tormenta de sentimentos que lhe perpassavam, e ser ouvida de bom grado, deixando a moça fazer parte de sua vida como sempre quis. A princesa, dotada de uma esperança altamente renovável, chegou a amansar-se, e arregalar os olhos em expectativa, antes de exibir uma carranca ainda maior ao perceber que sua irmã não pronunciaria qualquer declaração. – Estou tentando proteger você. – Chiou envergonhada e já com a voz embargada, em uma careta frente à consciência de que isto não só tiraria Anna de seu encalço, como também a magoaria. Assentindo ironicamente para a rainha a sua frente, ela se levantou de forma repentina, levando sua cadeira a ranger estridente atrás de si.

– O que mais me faz rir, sua majestade, é que age como se fosse algo preocupante, e o que mais tenho visto é você sorrir para o vento. – Emitiu em meio a um riso fraco enquanto as pálpebras da rainha pesavam em amargura. – Mas está tudo bem. Você está no seu direito. Apenas... – Ela suspirou esgotada, já não mais virada para sua irmã, no intuito de esconder as lágrimas persistentes que a outra há muito havia notado. Antes de continuar. – Apenas não espere que desta vez eu vá bater na sua porta e chamá-la para construir bonecos de neve. – A passos duros e largos, Anna apressou-se até a porta, encontrando Gerda no caminho, que a tudo observou desde o barulho dos talheres pulando sobre a mesa após o murro, e tentou abordá-la tomando-a pelo braço enquanto insistia para que ficasse e saboreasse a sobremesa, mas fora ignorada pelo desvencilhar da princesa que bateu a porta com um estrondo.

Elsa manteve-se em choque, e a amável senhora conteve-se de consolá-la até o momento em que ela tomou seu tempo, e os incessantes soluços ecoaram por todo o lugar. Anna era a destruição emocional da moça, excluí-la e repetir seus erros passados com ela a fragilizavam mais do que qualquer coisa. Trêmula e repleta de calafrios, a rainha reclinou-se sobre a superfície de madeira à sua frente, enquanto toda a culpa que vinha repreendendo a fim de poupar-se, a preencheu de uma só vez, levando seu estômago a afundar em uma repulsa enorme a si mesma. Inconsolável, ela sussurrou um pedido de desculpas que ninguém ouviria, enquanto suas mãos abarcavam seus lados na tentativa fútil de se sustentar, até ter sentido um real suporte vindo de Gerda. Não mais suportando assistir sua filha-de-leite daquela forma, logo a abraçou emitindo promessas de que a princesa voltaria para ela em breve, embora ambas soubessem de que a ama guardava o questionamento sobre o porquê da jovem não encerrar tal situação revelando de uma vez quem era o seu amante secreto.

Já em seus aposentos, sozinha, após Gerda tê-la praticamente forçado a tomar um forte chá de camomila, ouviu as conhecidas batidas de Hans em sua porta, as quais ela não respondeu, submergindo entre a enorme camada de travesseiros até que nem mesmo o barulho de passos retirando-se fosse possível de se ouvir. No entanto, seria muita estupidez acreditar que alguém petulante como ele se deixaria barrar por uma porta.

– Se as portas não se abrirem, use as janelas. – Fora o comentário clichê entonado com o humor satírico característico de um Hans sussurrante e perigoso ao pé de seu ouvido, que quase a denunciou de seu sono fingido. Não fosse por seu abatimento emocional, seu frisar seria maior o suficiente para fazê-la entregar-se a mais um pretexto, ainda mais com os avanços do príncipe de perseguir seu pescoço e envolver sua cintura, já comumente sem necessidade de permissões. Até que, em uma risada, o rapaz concluiu. – Eu certamente deveria ensinar isto a Anna. – E percebendo que suas carícias não foram retribuídas, e que Elsa havia prendido sua respiração e entoado um pequeno gemido de desconforto, ele tocou o ombro femíneo em preocupação, notando a frieza predominante no quarto pela primeira vez desde que entrou. – Oh, acho que falei besteira... – Admitiu o rapaz em tom de desculpas, chiando ofensas a si mesmo enquanto aguardava uma reação por parte da moça. – Elsa?... – Sem respostas. Quando estava prestes a ser chamada a atenção novamente, a rainha manifestou-se de modo a assustá-lo diante da força com que ela exalou em agonia.

– Anna... – Arquejou, antes de expirar agudamente e as finas mãos cobrirem a expressão facial de desgosto. Hans travou onde estava, assumindo um semblante de profunda compreensão, enquanto escorregava para a borda da cama e Elsa virava-se novamente para o lado, sussurrando que já não podia suportar magoar sua irmã como estava fazendo, e que se sentia imunda. O homem cogitou deixá-la só, sem importuná-la, afinal, ela não estava em condições de conversar ou de ao menos deixar-se ser aquecida, e obviamente não convinha ao momento ser hostil. Até que um soluço infantil, que serviu como o estilhaçar da imagem que ele tinha de uma Elsa que tudo pode aguentar, o levou a encher-se de uma sensação conhecida e rara, que esta mesma Elsa o despertou uma vez. Ele queria cuidar dela. Embolada, ela parecia um bebê, e aparentava ter tomado consciência desde que seus fracos pedidos para que ele se retirasse se tornaram constantes. E por mais que os preceitos individualistas predominantes em sua criação o julgassem um fraco pelo que faria posteriormente, suas mãos pediram que ele pegasse aquela fragilidade e a embalasse em seus braços, afinal, isto também era calor, um calor que nenhum dos dois conheceu muito bem. E ele o fez.

Elsa sessou levemente suas lamúrias ao sentir-se ser envolvida com um cuidado estrangeiro por baixo das dobras dos joelhos e do pescoço. E antes que manifestasse sua surpresa além do olhar avermelhado e cintilante arregalar-se, ela já estava em seu colo, sustentada em um abraço frouxo e sua rigidez instantânea fez seus músculos tremerem de forma bizarra.

– O que...? – Começou Elsa em uma tentativa de expressar o quão estranho e surpreendente fora tal atitude.

Shh... – Ele a calou enquanto enrugava a testa e os olhos fechavam, assumindo expressões faciais de um verdadeiro apreciador, concentrado apenas em seu tato. Elsa tentou não demonstrar sua estranheza, tampouco respirou sonoramente ou soluçou enquanto permanecia vibrando, observando-o atender ao pedido de suas próprias mãos e iniciar um afago tão sereno quanto o que seu espírito passou a ficar assim que ele a teve nos braços. – Está frio aqui. – Murmurou ao passo que seu aperto estreitou-se mais em torno dela, levando-a a finalmente retribuir, certa de que ele não precisaria ser sincero sobre estar se importando tanto. Hans era um cavalheiro antes e depois de entrarem em combustão, assim garantia que a monarca se acalmasse. Desta vez, havia outra razão, e a comunicação era tão sobrenatural que ele também não se preocuparia em ser mais específico, pois estava seguro de que ela o entendia.

Ambos permaneceram em silêncio até que olhos e mentes protestassem por um descanso mais profundo, ao tempo que se adaptavam a um novo tipo de sensação prazerosa, que os oferecia um perigo extremamente maior do que as demais. Afinal, era preocupante o modo como a rainha relaxou gradualmente sobre o peitoral masculino, e aninhou-se como uma criança que expõe suas fraquezas e pede por proteção, e mais inquietante a forma como as respirações passaram a falhar diante da sensação de um contato corporal jamais experimentado de tal feitio, sem estarem inflamados em labaredas, e sim acalentados com uma pequena chama igualmente poderosa. Ao final, Hans a colocou de volta e embora soubesse que ela não precisava, cobriu-a e desejou que tivesse uma boa noite de sono, Elsa estava esgotada demais para responder além de um suspiro grogue que o homem optou por interpretar como sendo uma forma de agradecimento por tê-la ajudado, e que ainda sim fora a mais sincera e talvez a única que recebeu em toda sua vida, mal sabendo que estava certo, e que a rainha pela primeira vez o pediu um beijo nos lábios, mesmo que secretamente enquanto esperava de olhos fechados que os beiços de seu escudeiro escorregassem para onde queria. Desde então, ambos conceberam que jamais estiveram tão próximos. Este fora o aquecimento necessário para devolver à rainha o equilíbrio habitual de que precisava para não entrar em colapso com seu dom.

Anna não a ignorou por muito tempo, no entanto, como Elsa temia, a caçula apenas cedeu às tentativas de reconciliação quando sua irmã mais velha admitiu relutante que estava “retribuindo um flerte”, o que logo a jovem princesa emendou com o arremate de que isto influenciava na magia da irmã. Assim, fê-la prometer que se daria por satisfeita até que ela estivesse pronta para revelar toda a situação, assegurando que não demoraria, embora ciente da forma como a princesa era sorrateiramente perseverante.

Não tardou o ocaso em que Anna agitou-se nas costas de sua irmã, escovando e trançando habilmente os fios loiros em um ritual pré-repouso, na contenção de romper-se em dúvidas. Esperando apenas um incentivo da mais velha que perguntou por que ela estava tão calada, a ruiva, entre pedidos de desculpas, perguntou como o cortejador da rainha era.

– Uh, bem... Eu sei que não posso saber do físico, então é claro que não estou querendo saber, não que eu não queira realmente... Eu só não vou pedir agora porque sei qual será a resposta. – Divagava a caçula nervosamente, torcendo os fios platinados entre os dedos, e divertindo a rainha até o momento em que, após pausar e acalmar-se para continuar de forma mais direta, roubou a mais profunda timidez da irmã. – Eu apenas quero saber como ele é... Quando estão sozinhos. Oh, e não negue que já estiveram ou eu fico de mal! Você anda tão quente que eu não posso deixar especular. – Concluiu a mais nova secretamente, observando Elsa arquear à sua frente, e imaginando um rubor gritante na face de sua irmã, parou bruscamente o trançado para retomá-lo o mais lento possível, poupando a rainha de ter que encará-la enquanto falasse.

Elsa mordeu o lábio um tanto temerosa naquela madrugada, enquanto liberava sua respiração aos poucos, sentindo os ombros e o peito tremerem em resposta, e limpando a garganta, decidiu permitir-se atender à pergunta de sua irmã menor, além de usufruir da perfeita ocasião para esvaziar seu baú amarrotado de segredos que pediam para serem compartilhados com alguém antes que ela enlouquecesse. Basta ter cautela para não falar o que não se deve, advertiu-se e pôs-se de olhos fechados, concentrando-se em recordar seus encontros mais recentes com o príncipe, a fim de descrever a forma como ele a aquecia.

– Pois bem, ele é muito... Uh, na verdade ele possui uma habilidade enorme de saber como deve agir comigo em cada ocasião. – Iniciou a monarca, encolhendo os ombros. – Ele pode ser gentil e impetuoso, mas sempre preocupado em me agradar. – Elsa comprimiu mais o lábio entre dentes, tomada por uma alegria desconhecida diante do que aquela situação estava levando-a a recordar, e logo mal pôde conter o acelerar de sua expiração moldando-se em um riso silencioso, que Anna acompanhou enquanto suspirava ansiosa por mais.

– E... Como ele a toca? Como ele a beija? – Pediu a mais nova, ignorando qualquer calafrio que percorreu em ambas diante da indiscrição de suas palavras, naquele momento cômico cuja sensação de implosão eufórica ultrapassava inclusive seus episódios de traquinagens na cozinha do castelo. Elsa apenas pôde intensificar seus tons carmesins enquanto praticamente miava o nome da irmã, repreendendo-a antes de prosseguir.

– Ele possui mãos brutas, mas... Eu encontro problemas para conter minha garganta quando elas estão sobre mim, e... Ainda sim, devo dizer que são inacreditavelmente serenas... – Murmurou a rainha timidamente, perdendo-se ao passo que seus dedos não se detiveram parados e vagueavam sobre seus braços.

– Oh, e o beijo? Fale sobre o beijo. – Encorajou Anna ferozmente empolgada, aconchegando-se à enorme trança da irmã, e no meio do processo, arrancando uma risada de cócegas, a qual ela retribuiu com um abraço, antes de voltar para trás novamente. Os ombros de Elsa caíram.

– Eu não sei bem como falar sobre os lábios dele... São inconstantes sabe, é como se estivessem adorando os meus de todas as formas que podem. Ora são famintos, ora eu sinto como se estivesse experimentando um sabor novo de trufa de chocolate pela primeira vez. – Respondeu Elsa sugando o lábio inferior, sentindo que Anna já havia findado seu penteado, e provavelmente estava apenas admirando-a e devorando seu aparente romance como adorava fazer com seus livros favoritos.

– Oh, Elsie, você fala tão apaixonadamente... Eu não vejo a hora de conhecê-lo. – Desperta pela declaração da princesa, Elsa forcejou para concentrar seu nervosismo apenas nas palpitações, em vez de guinar-se e escancarar o horror que tinha a tal ideia.

– B-bem, vejo que... Vejo que já terminou aí atrás. Então, vamos dormir? – Gaguejante, a rainha usou de sua facilidade em redirecionamentos, para por um fim no que ela repetiu mentalmente ser a única e última conversa sobre o assunto.

Elsa custou a dormir. Nunca lhe veio à tona de forma tão detalhada o que sentia diante dele. Afinal, jamais expôs a si mesma tais informações, não até emergir em um transe inconsequente e proclamar palavra por palavra para sua irmã. Naquela noite, Elsa não parou de ouvir a si mesma, os fantasmas de suas descrições dos lábios e toques daquele homem gritavam em seu juízo, mas apenas um a manteve tão acordada, uma palavra proferida por sua irmã: apaixonadamente. Se havia paixão no modo como ela falava, logo seria proveniente da sua fonte crescente de uma vívida atração, e isto era uma verdade há muito aceita. No entanto, a intriga lhe consumia frente ao fato de que Anna referia-se de forma mais romântica quando exibiu tal comentário. Para Elsa, sempre estava havendo o começo de algo novo dentro de si. Inicialmente fora o início de um sacrifício, que se converteu para o de um processo agradável, que por sua vez passou a ser também uma atração, e agora, uma sensação intrusa estava desafiando suas certezas mais firmes, e ela apenas rezava para que isto não fosse o princípio de algo. Pois se alguma coisa fosse iniciada, sabia que não havia como parar.

Há corredores de distância dali, alguém se encontrava ainda mais agitado. Um príncipe, entediado por passar a maior parte de sua estadia trancado, o que o ofereceu uma colher de chá do que poderia ter sentido Elsa em seu isolamento, e o fazia arrepiar-se diante da sensação que deveria suprir a falta de acalento que ela não teve, e torcer o nariz em algo que jamais identificaria ser ciúme enquanto pensava que Anna provavelmente já fazia isso, e que estava sendo retribuída pela rainha sem que esta última sentisse culpa, como quando estava com ele, mesmo que se esforçasse para deixá-la confortável. Sua única companhia, além do álcool, era a Noite de Almirante, um conto de um livro que ele escolhera apressadamente enquanto escapava para a biblioteca a procura de histórias para se distrair, e até então jamais se apegara a romances onde mulheres põem homens em seus calcanhares, não fazia parte de sua filosofia continuar de frente para quem o virasse as costas, até dar-se conta de que seu estado era diferente desde que se tornou necessário para sua rainha. E assim como o marinheiro, ele passou a desinibir-se do ato de contar o tempo para vê-la e degustar de sua presença. Torcia em seu subconsciente que fosse necessário novamente, que a pele fosca pedisse pelo brilho de sua saliva, e os lábios vermelhos se deixassem ser descoloridos. Há corredores de distância dali, alguém não tardaria a ser tomado por uma inquietude, tal como determinação em ter o que queria. Alguém tinha planos, além de sentimentos confusos à espera de uma confirmação.