Naomi.

Como Mike coincidentemente vive no apartamento ao lado da nossa casa, viemos juntos e ele aproveitou para dá uma visita ao bolinhos da Lucy, nossa babá e ex-governanta da família Hood no Brasil.

Infelizmente quando entramos não tinha cheiro algum de bolinhos na casa e não sei se por isso, mas Layse começou a soluçar alto e lagrimar muito assim que sentou no sofá.

Olhei pra ela confusa. Até que vi seu corpo começar a tremer.

— Ai meu Deus! Lucy! Traga o remédio! Ela tá tendo um ataque! – gritei me ajoelhando na frente da Lay.

Ela balançou a cabeça de um lado para outro como se negasse algo, enquanto lágrimas não paravam de escorrer por seu rosto.

— Ai meu Deus! – murmurei tentando segurar seus pulsos, mas estranhamente ela estava forte o bastante para me impedir.

— Naomi. – ouvi Michael chamar.

— Agora não, Mike. Chama a Lucy. LUCY!

— Naomi. – o loiro tentou falar mais uma vez.

— Ela tá tendo um ataque! LUCY!

— Naomi. – o garoto puxou meu ombro – Eu acho que ela só está chorando.

Olhei para minha amiga e ela assentiu colocando a mão no rosto.

— Ah. – disse extremamente sem graça.

Desde sempre venho cuidando da Layse e às vezes acabo exagerando, mas é que tenho tanto medo.

Michael se sentou ao lado da minha amiga no sofá marrom e a abraçou.

Eles nunca foram tão próximos, mas isso não significa que não se gostem.

— Está tudo bem. Ok? O Luke logo vai se arrepender e vai te pedir perdão. – ele disse quando a Lay deitou em seu ombro.

— Ahn? O que o Luke tem a ver com isso? – acabei sentando no chão mesmo.

— El-el–ele foi um idi–idi–idiota. – Lay disse em meio aos soluços.

— O que ele fez? – Mike e eu perguntamos juntos.

Meu amigo parecia já saber de algo.

— Foi no aeroporto. Não é? – lembrei do rosto esquisito dos dois.

Bem que achei estranho eles não estarem abraçados como sempre ficavam.

Olhando fixamente para a parede branco-gelo da sala, minha amiga contou cada detalhe de sua conversa com o Hemmings.

— Ele não... O Luke nunca faria isso, Lay. – falei rindo incrédula.

Com certeza é uma brincadeira deles dois. Eles amam brincar comigo.

— Eu sei que ele se afastou desde que o Calum viajou, mas era porque ele estava ocupado... Não... Ele não pode fazer isso.

— Ele fez. – Layse murmurou.

— Olha, tem que ter alguma coisa muito errado. O Luke gosta muito de você... – Michael olhou para minha amiga e tratou de continuar – E de você também, Naomi.

— Mas o Luke... Ele gosta de... Da gente. – quase revelei o segredo de Luke.

É aquela história clichê. Amigo apaixonado pela melhor amiga.

Por isso não faz sentido.

Vi uma série de emoções se passarem no rosto da minha amiga.

Ela se levantou sorrindo para o Mike.

Um sorriso estranho.

Um sorriso assustador.

— Tudo bem. – ela murmurou enxugando as suas lágrimas.

— Layse? – perguntei visivelmente surpresa.

— Estou bem, Nam. Me distrair não vai ser problema. – riu seca ao se referir a distrações, já que ela sofre TDAH.

Minha amiga se levantou e foi em direção ao corredor, entrando no seu quarto.

— O que você vai fazer? – Michael perguntou para mim mexendo no seu cabelo loiro colado na testa.

Ele provavelmente percebeu a raiva entrando em cada poro do meu corpo.

— Luke vai se arrepender! Ainda não sei o que fazer, mas ele vai sair dessa machucado também! – afirmei com um sorriso no rosto.

— Esse seu sorriso foi estranho! – Michael falou me olhando assustado.

Dei de ombros.

Antes que eu pudesse pensar melhor no meu plano de vingança, ouço meu celular tocar.

Tiro o aparelho de um dos bolsos laterais que meu vestido possuía e atendo sem olhar quem era.

"Fala pra Lucy pôr mais dois pratos, porque eu e Mali estamos indo almoçar com vocês!"

Reconheci instantaneamente a voz de meu primo.

“Vocês são caras-de-pau!", respondi rindo, “Nem sei se ela tá aqui, quando achei que a Lay tava tendo um ataque, gritei e ela nem apareceu!”

"Ei! Eu ouvi isso!", Mali gritou no telefone por eu ter chamado eles de caras-de-pau.

“O quê? A Layse tá bem?”, Calum pareceu a ponto de entrar em desespero.

“Por que não assume logo que ama ela?”, minha prima perguntou para o irmão.

“Por que ela me odeia!”, ele respondeu.

“Ai meu Deus!”, falei.

“E eu também odeio ela!”, tratou de explicar.

“Sabemos, sabemos.”, murmurei, “Mas enfim, estarei esperando vocês.”

"Ah, avisa para o Michael que nós vamos ensaiar hoje. Luke disse que vai se atrasar."

"NÃO! VOCÊS NÃO VÃO ENSAIAR AQUI! MUITO MENOS O HEMMINGS!", protestei rapidamente sentindo toda a raiva voltar.

Ele não tinha vergonha na cara?

Depois do que fez para minha amiga ainda tinha a ousadia de pisar na casa dela também.

"Qual é, Naomi? Nós ensaiamos aí e você nunca reclamou, por que isso agora?"

"Porque só agora Luke se mostrou um completo idiota. Estou falando sério, não me apareça com ele aqui ou eu não evitarei de estrangula-lo!", disse por fim e desliguei.

Levantei do chão e sentei ao lado de Mike no sofá que me olhava um tanto quanto confuso.

Cruzei os braços e tentei pensar em alguma forma de fazer Luke se tocar.

Até que algo surgiu em minha mente.

— Mike, me ajuda? – me virei para ele que mexia no celular.

— Em quê? – franziu o cenho largando o aparelho na perna.

— A fazer Luke pagar. Não vai ser nada pesado, até porque eu sei que vocês são amigos, só quero que você confirme. – juntei minhas mãos.

— Não sei, Nam. Eu admito que quando não conhecia Luke eu o detestava, mas agora ele se tornou um dos meus melhores amigos, então não me parece certo...

Revirei os olhos.

— Mas eu que apresentei vocês. Você também é meu amigo. Me ajuda! – mexi o braço do garoto.

— Não adianta. Eu não vou ser desleal com um amigo meu! – Mike protestou se soltando de meus braços.

— Então vai lá com seu amiguinho. Só que quando ele te chutar assim como fez com a Layse e comigo, não reclame! – falei chateada e de forma infantil.

Mas qual é? O que Luke fez foi muita idiotice! Como assim ele disse que não tinha sido nosso amigo? E tudo o que vivemos? Isso não conta?

— Você é tão mimada às vezes! E conheço Luke, sei que ele teve um bom e assustador motivo para ter que fazer isso. Achei que você conhecesse melhor os seus amigos... – Michael soltou se levantando do sofá.

— Eu só não posso deixar que ele machuque a mim e a minha melhor amiga saindo como se nada estivesse acontecendo. Achei que você conhecesse os meus motivos...

Mike se aproximou da porta, balançou a cabeça como se negasse algo e saiu chateado.

Naquele momento eu já não conseguia segurar as lágrimas que estavam presas desde o momento que me decepcionei com Luke mais cedo.

Fui até a cozinha e como já esperava, a encontrei vazia com um bilhete da Lucy dizendo que foi ao mercado.

Passei pela porta do quarto da Layse e não ouvi nenhum soluço. Ela estava assustadoramente bem.

Finalmente, voltei para sala e me deitei no sofá, deixando as lágrimas escorrerem mais facilmente.

Fiquei bons minutos naquela posição chorando, até que ouço a porta de casa ser aberta.

Rapidamente me sento no sofá e passo a mão no rosto na tentativa de quem quer que fosse não perceber que eu estava chorando.

— CHEGAMOS! – Calum gritou junto da irmã balançando a cópia da chave de casa que eu tinha.

— Calem a boca! – respondi jogando uma almofada bege neles.

— Que amor você. – minha prima riu.

Mali ficou me encarando por algum instante até falar:

— Naomi, por que você está chorando? O que houve?

Abaixei minha cabeça mordendo o lábio.

— NAM, ME FALA AGORA! – Calum pulou ao meu lado.

— É uma longa história, e no momento não estou querendo contar.

Do jeito que minha prima era, não duvidava que ela fosse até a casa de Luke e lhe desse uns tapas após descobrir que ele era babaca.

— Naomi, me desculpa. Eu não deveria ter falado aquilo e... – Michael falou alto entrando em casa que ainda tinha a porta aberta – É só que você foi bem infantil, convenhamos...

Obviamente, ele não tinha visto que Mali e Calum estavam ao meu lado.

Sua expressão foi cômica ao ver que eu não estava sozinha.

— Foi você que fez a Naomi chorar? Mike te conheço desde que você tinha uns 10 anos, mas isso não me impede de te dar uns puxões de orelha! – Mali advertiu indo em direção ao Clifford.

Calum cruzou os braços e alternou os olhares entre mim e o amigo.

Michael abriu a boca para protestar, mas eu respondi.

— Não. Estou chorando por outro motivo, deixe as orelhas de Mike em paz! – passei a mão no rosto e me levantei.

Minha prima olhou desconfiada para mim e o loiro, e marchou até a cozinha com o irmão em seu encalço, provavelmente para nos deixarem sozinhos.

— Me desculpa, Nam. Eu te conheço tão bem que sei que você ama e se importa com os amigos. - Mike me puxou para um abraço. – Você estava chorando por mim?

— Se ache menos, Gordon! – ri e o apertei chutando a porta para fecha-la.

— Foi o lance com Luke, não é?

Assenti com a cabeça.

— E-eu vou ajudar vocês. – Michael cochichou no meu ouvido.

***

Já havia passado duas semanas desde todo o ocorrido com Luke.

Layse já não tocava no nome dele, e nem chorava, embora eu soubesse que ela estava decepcionada.

Eu chorei apenas naquele dia e a partir dali prometi que não derramaria uma lágrima sequer por quem não merecia.

Além de Michael, Calum foi o único a saber o que houve.

Todos esses pensamentos corriam soltos em minha mente, enquanto eu assistia um episódio de Bob Esponja, sentada no sofá, com meu pijama azul.

— O que você acha dessa roupa para uma entrevista de emprego? – Layse perguntou parando em frente à TV.

— Entrevista de quê? Você vai insistir nessa de trabalhar? Não precisa! – Bombardeei minha amiga.

— Naomi, eu agradeço tudo o que sua família fez por mim, mas eu preciso me sustentar. O dinheiro que mamãe manda para minhas despesas infelizmente, não dá nem pra metade, e eu acho inapropriado vocês cobrirem minhas contas. - Lay disse alisando a sua camisa preta. – Eu estou apresentável?

Suspirei.

A mãe de Layse tinha começado a trabalhar no lugar de Lucy na minha casa no Brasil e mandava pare do salário para a filha comprar os remédios, infelizmente, é verdade, o dinheiro não supria nem metade do valor dos remédios, quanto mais os outros gastos.

— Você está bem apresentável! Se eles não te contrarem são uns idiotas! – falei analisando sua roupa, que se resumia numa camisa básica preta, uma calça jeans e uma sapatilha azul.

— Obrigada. Estou bem nervosa, mas, Ashton me garantiu que eu vou ser contratada.

Franzi o cenho e mudei o canal da tv.

— Quem é Ashton?

— Um menino que conheci do aeroporto. – ela deu de ombros.

— Pensei que estava conversando com o Luke no aeroporto. – soltei e coloquei a mão na boca a tampando como se isso pudesse mudar o que eu falei – Desculpa.

— Tudo bem. – ela murmurou e seus olhos perderam o brilho – Fo-foi antes, eu esbarrei nele e o achei conhecido, até que fui comprar um chiclete na Vox e o encontrei lá trabalhando.

Vox é um legar legal que fica em frente da escola, onde só os populares da escola vão alugar filmes, cds ou lanchar.

— Então você pretende trabalhar na Locadora & Lanchonete Vox?

Minha amiga assentiu.

— Então ao menos solte o cabelo, garota! Você não vai trabalhar em um escritório, vai trabalhar na Vox!

Isso fez com que as tempestades em seu olhar dispersasse e ela riu soltando seu rabo de cavalo e alguns cachos grossos se formaram.

O dourado dos cabelos de Layse contrastavam muito bem com sua pele pálida.

— Esse Ashton foi legal em te falar que tinha um emprego para você. – comentei querendo saber detalhes do garoto – E desde quando você passou a ir na Locadora?

— Sim, ele é muito legal. – Lay falou saindo da sala e aumentando o tom para que eu ainda ouvisse ela de seu quarto – Corrigindo: Lanchonete e Locadora. Passei a ir para comprar chiclete lá.

— Você sempre comprou no colégio. – estranhei – Por acaso está afim do tal Ashton?

— NÃO! CLARO QUE NÃO! – ela se exaltou e derrubou alguma coisa – Ele é muito legal e muito bonito, mas não foi por causa dele que passei a ir comprar chiclete em outro lugar.

Levantei e fui até a porta do seu quarto, a encontrando ajuntando sua maquiagem no chão.

— Quebrou? – perguntei cruzando os braços.

— Não. – murmurou colocando em cima da sua penteadeira.

— Por que você passou a ir na Vox, Layse?

— MENINAS, VOLTEI! – Lucy gritou fechando a porta do apartamento.

Todo sábado nossa babá passava a manhã toda e parte da tarde fazendo comprar para a nossa casa. Era isso que tinha acontecido no dia que o Calum voltou par a Austrália.

A senhora acima do peso, de cabelos brancos e por quem nutro um amor incondicional se pôs ao meu lado e observando Layse, perguntou:

— Aonde você vai?

E ela novamente explicou tudo para Lucy. Eu entendi que até então a minha pergunta não ia ser respondida, mas eu daria um jeito e descobriria o motivo da minha amiga passar a frequentar a Vox, nem de chiclete ela gostava tanto assim...

Quando Layse saiu, nossa “babá” me disse que ia ficar na cozinha para fazer um prato com nome difícil que demorava horas, até tentei dizer que as comidas congeladas estão aí para não desperdiçarmos tempo, mas ela não me ouviu.

Para não ficar sozinha, resolvi ir na casa do Mike, então calcei minha sandália e saí do nosso apartamento e bati na porta ao lado.

— Bom dia, sra. Clifford. – disse sorridente ao ver a mãe de Mike. – O Michael já acordou?

No sábado ele é capaz de dormir o dia todo.

— Bom dia, filha. – Karen respondeu – Sim, dessa vez ele acordou na hora do almoço, e está mexendo no computador. Pode ir lá com ele.

— Você quer os biscoitos que acabei de preparar? – ela ofereceu – Posso levar no quarto para vocês.

— Desde que a senhora não conte para Lucy que comi outros biscoitos eu não seja dela...

A mão do Michael riu e assentiu.

Os nossos apartamentos eram quase iguais, só mudavam a decoração, por exemplo, meu sofá fica no espaço equivalente onde fica a televisão dos Cliffords, já o quarto de Mike fica no lugar compatível ao quarto da Layse.

A porta do quarto de meu amigo estava entreaberta, então abri a mesma cautelosamente.

— Boa tarde, Gordon! – falei.

— Eu odeio esse nome.

Notei que ele usava uma camisa preta e fones de ouvido.

Eu dei de ombros e perguntei me aproximando da tela:

— O que você anda fazendo tão cedo no computador?

— Estou ajeitando o canal da banda no YouTube e respondendo alguns comentários. – Mike ajeitou sua franja.

— Você deveria cortar esse franjão. Vive caindo no seu olho e te atrapalhando. – imitei o gesto que ele fazia quando seu cabelo caia no rosto.

Recebi uma careta.

— Ele me dá mais estilo. Me sinto bem.

— Se é assim. – levantei as mãos.

— Cadê a Lay? – Mike perguntou ajeitando a franja de novo.

Eu me segurei para não rir da sua mania.

— Foi na Vox para uma entrevista de emprego.

— Mas e a escola? – o loiro apontou para uma cadeira azul ao seu lado.

Me sentei.

— Ela pegaria no expediente das 15:00 às 19:00 horas. Dá pra conciliar.

Ele concordou com a cabeça.

O celular de Michael tocou.

— É o Calum. – ele disse olhando para a tela. – Alô? Você quer que eu vá para a casa de Luke agora? Mas...

Senti uma dor ao ouvir o nome de Luke.

— AI MEU DEUS! ISSO É MUITO BOM, CARA! – Mike gritou ao meu lado ainda no telefone.

Olhei confusa e em seguida ele desligou de olhos arregalados.

— Parece que ligaram para Luke e temos um show agendado para daqui duas semanas! – meu amigo falou empolgado.

Ao ver o sorriso estampado em seu rosto, o abracei.

Aquele era o sonho deles, e finalmente estava acontecendo.

— Só tem um problema... Vamos precisar de um baterista e não temos um. – passou a mão pela cabeça.

— Não se preocupa agora. Vai para a casa do Lu-luke e lá vocês acertam isso. – aconselhei – Deve existir alguém eu toque lá na escola...

***

O horário do jantar estava quase chegando e nada de Layse voltar.

Já estava pegando o telefone e ligando para ela, quando a porta do apartamento foi aberta.

— Você está falando com a nova funcionária da Vox! – ela pôs as mãos no quadril.

— Que ótimo! Parabéns, Lay! – ri a abraçando.

— Vai ser bom trabalhar lá. Fiquei com a parte da lanchonete. O Ash estava me passando o serviço, por isso demorei. – ela disse tirando as sapatilhas.

— Você ficou amiga muito rápido desse garoto hein... – comentei com um pouco de ciúmes.

— Sim, ele é tão simpático que comecei a gostar dele desde que nos esbarramos a primeira vez. – ela foi até o seu quarto e a segui.

— Rolou clima, ou não? – perguntei interessada enquanto ela tirava a camisa.

— NÃO! Eu já disse. O Ashton me trata com total respeito, e sem segundas intenções ou olhares maliciosos, inclusive, se quiser apresento vocês dois.

— Quem sabe? – ri de lado.

Analisando, ele realmente parece legal.

Depois disso Layse e eu fomos até a cozinha para ficar conversando com a Lucy, até que recebemos uma mensagem do meu primo no celular da Lay nos convidando para comermos uma pizza no sótão da sua casa em comemoração ao progresso da banda.

— Não vejo a hora do meu pai me presentear com um carro. – cruzei os braços enquanto esperávamos na parada a espera de um táxi – Espero que ou meus tios ou Mali nos tragam de volta.

— Naomi, você está mal acostumada. No Brasil nunca andou de ônibus e vá por mim é um terror! – Layse murmurou.

— Ei! E daquela vez que fomos de ônibus para o passeio que a nossa antiga escola proporcionou? – arqueei as sobrancelhas.

— Não vale. O ônibus era climatizado, não estava lotado e você não teve que ficar esperando horas para que ele passasse. Você não sabia nem como passar pela catraca – Layse gargalhou.

— Você acha que o Luke vai? – minha amiga abraçou os próprios braços.

Assenti.

Aquele assunto já pairava em nossas mentes, mas não nos atrevemos a falar até agora.

— Não vamos deixar de viver por causa deles. Ok? São nossos amigos também. – segurei a mão de Layse – E já vemos ele todo dia na escola. Estamos preparadas para ignorá-lo.

Concordei e em seguida vi um táxi no fim da rua.

***

— Ah, são vocês. Achei que era o entregador de pizza. – foi exatamente isso que Calum disse quando abriu a porta para mim e Layse.

— Ótima recepção. – murmurei.

— Boa noite pra você também, Hood! – Lay cumprimentou.

— Olá, garota que me ama. – meu primo abraçou Layse e recebeu um tapa no braço.

— Eu sei que você anseia pelo meu amor, Cal, mas não vai conseguir nada desse jeito. – minha amiga alisou a saia do vestido azul.

— E de que jeito eu consigo? – ele perguntou e nós duas arregalamos o olho.

— O quê? – Layse deixou escapar.

— É brincadeira! – meu primo idiota começou a rir – Você ficou mexida! Devia ter filmado isso!

— O Mike já chegou? Cadê a titia e o titio? A Mali está ou saiu com o namorado? – perguntei para tirar atenção do rosto chateado da minha amiga.

— Mike já está aí. Meus pais saíram e Mali saiu com o Scott. – meu primo respondeu começando a andar.

Ao entrar no sótão vi Michael sentado no antigo sofá de meus tios.

— Gatinha! – ele disse entusiasmado e me puxou para um abraço.

— Gordon! –respondi para provoca-lo.

E funcionou, porque Michael fez uma careta e me soltou.

Se ele já odeia o sobrenome, imagina quando descobrir que parece “gordo” em português.

— Ah. Desculpa. – a voz de Layse embargada me fez tirar a atenção de Michael.

Virei e encontrei Luke com o olhar cheio de raiva para Layse.

Ambos estavam na porta do sótão.

O Hemmings disse:

— Saia da frente.

Ele empurrou minha amiga que praticamente caiu em cima do Cal e saiu do lugar.

Realmente não foi uma boa ideia ter vindo aqui e pelo visto a noite vai ser longa.

[...]