Girls Talk Boys

Get Out My Head


Naomi

— Bom dia. Animada para o novo semestre? – Lucy perguntou assim que eu pus os pés na cozinha.

— Bom dia. – alisei minha saia e puxei uma cadeira – Um pouco. Não vejo a hora de terminar esse ano escolar.

— Passa tão rápido. Um dia desses nós estávamos vindo para a Austrália, agora em um ano e meio vocês já se formam... – minha ex-babá disse pensativa.

Afirmei silenciosamente, derramando um pouco de café na minha xícara.

— A Layse está demorando. – olhei para o relógio de parede.

— Ela já está vindo. – um Calum risonho surgiu na cozinha.

— Como entrou aqui? – perguntei franzindo o cenho.

— Lay pediu para que eu viesse ontem a noite, depois que vocês dormiram. – ele explicou se sentando ao me lado na maior naturalidade.

Olhei para Lucy tão surpresa quanto eu.

— Vocês dormiram juntos? – questionei.

— Ah, sim. – ele pescou uma maçã da fruteira e mordeu naturalmente.

— Nós só dormimos. – Lay garantiu aparecendo completamente arrumada – Desculpem, mas eu precisava desse idiota, não estava conseguindo dormir.

Meu primo sorriu convencido.

— Ok, eu acho que vou na casa do Wilson. Boa aula para vocês. – Lucy balançou a cabeça de um lado para o outro e saiu pegando sua bolsa.

— Essa é a hora que você diz aquilo para a sua melhor amiga... – Calum passou a mão pelas costas da namorada que se sentou ao seu lado.

— Calum! – ela ralhou.

— Me conta, Lay. – pedi respirando fundo.

Sabia que vinha algo importante por aí.

Minha amiga suspirou, pegou uma xícara e serviu seu próprio café.

— Eu quero falar com o Gregory. – ela sussurrou.

— O quê? – arregalei os olhos – Não, você não vai fazer isso!

— Eu não tive pai, Naomi! – ela apontou para si mesmo – Eu tenho parte dele no meu corpo e eu sei que ele é mau, mas...

— Mas nada! Você não vai!

— Naomi, tenha calma. – Calum pediu e o encarei incrédula.

— Você tá do lado dela?

— Eu falei com o Ashton e ele vai comigo. – ela tentou argumentar – Você mesmo disse que eu tinha que pensar nele!

— O QUÊ? O Ash não me contou isso! E dane-se o que falei antes.

— Talvez ele não tenha falado nada porque desde que começaram a namorar vocês só ficam se beijando o tempo todo! – Cal disse e eu corei.

— Não é hora pra isso, Naomi. Só preciso que não me impeça de ir. – Lay olhou para mim nervosa.

Respirei fundo.

— Ele vai te machucar, Lay. Você viu tudo o que ele fez...

— O Gregory é meu pai, Nam. – vi uma lágrima escorrer por seu rosto – Eu quero conhecê-lo. Não preciso da sua permissão, mas queria seu apoio.

— Ok. – cedi.

Não falamos mais nada, apenas terminamos de comer e fomos para a escola.

Pelo menos lá, podíamos agir normalmente.

***

— Você e seu irmão saíram mesmo da Vox? – Luke perguntou para Layse enquanto andávamos pelo corredor do colégio.

— Ash e eu decidimos que era melhor assim. Eu preciso me concentrar em entrar na universidade e ele precisa se concentrar na banda. – ela explicou.

Meu coração acelerou só de pensar na universidade. Não podemos mais negar que a hora de escolher o que queremos para o resto das nossas vidas está chegando!

— Ai meu Deus! – exclamei – O que eu vou fazer da minha vida?

Luke revirou os olhos.

— Você é rica, Naomi, para com essa besteira. – meu amigo disse.

Rimos.

— É como antigamente. – Layse notou – Só nós três andando pela escola.

— Não. – Luke disse – É melhor.

Ele apontou para o portão do colégio, onde Michael, Calum, Ashton e até mesmo Lydia, nos aguardavam.

Sorrimos uns para os outros e fomos até nossos amigos.

— Vamos, crianças? – Ash balançou as chaves do carro.

Ele sempre vinha pegar os meninos para irem ensaiar ou gravar vídeos para o Youtube.

Os meninos entraram no carro, e ficamos eu, Layse e Lydia na frente do colégio.

— Eles foram e nem nos beijaram. – Lydia brincou.

— Não se fazem mais garotos como antigamente. – Layse respondeu em uma voz engraçada.

Olhei para as duas garotas e uma ideia surgiu em minha mente.

***

— Esse esmalte é maravilhoso, Nam. – Lydia mostrou suas unhas que agora estão num tom de azul.

— Eu só uso essa marca. – respondi enquanto fazia uma trança em Layse.

— Maravilhoso foi a Naomi ter a ideia de fazer uma tarde das meninas. – Layse me olhou pelo espelho.

— Ainda mais quando eu tenho uma certa antipatia pela Lydia. – sussurei só para que minha melhor amiga ouvisse, o que ela pensava – Ela não parece ser tão má.

Lay me olhou surpresa.

— Eu posso vê os famosos biquínis brasileiros? – Lydia pediu olhando para meu closet.

Layse e eu a olhamos estranho.

— É que eu li numa revista que eles são bem ousados, nunca vi um, e já que vocês são brasileiras... – ela explicou assim que percebeu a nossa careta.

Nós rimos.

Fui até meu closet e joguei as peças em cima da cama.

— Olha esse preto, que lindo! – Lydia analisava a peça – Eu tenho que comprar algo assim.

— Quando for no Brasil, já sabe... – Layse disse.

— A gente evita usá-los aqui, digamos que vocês não são acostumados com isso. – eu ri pegando a calcinha do biquíni vermelho.

— A Lucy disse que eu podia entrar. – Ashton falou entrando no quarto, arregalando os olhos em seguida.

— Meu Deus! – exclamei jogando a peça que eu segurava.

— São só biquínis... – Lydia murmurou sem entender.

— Naomi é tímida. – Layse explicou rindo.

— Desculpa, meninas. – Ash riu – O ensaio acabou e os meninos e eu viemos para o apartamento do Mike, aí vim chamar vocês para assistirmos um filme.

O garoto se aproximou de Layse a abraçou de costas, beijando o rosto da irmã.

Incrível como em pouco tempo o carinho que eles nutrem um pelo o outro aumentou e o jeito que os dois parecem se adorar.

— Eu sei que você quer dá outro tipo de beijo na Naomi. – Lay riu quando seu irmão se afastou dela.

— Vamos até o apartamento do Mike? – Lydia sorriu maliciosa para Layse e assim as duas saíram.

— Eu nem te dei um beijo hoje. – Ashton se aproximou de mim.

— Você pode dar quantos quiser agora. – dei de ombros envergonhada.

Ashton segurou cautelosamente minha cintura, aproximou nossos rostos, em seguida colou nossos lábios.

Meus braços foram parar em sua nuca e as dele subiram e desceram pelo meu tronco. Em questão de segundos o beijo se tornou urgente, e meu corpo se chocou contra o colchão.

Ash começou alternar os beijos entre meu pescoço e boca, me deixando completamente arrepiada.

Mesmo nervosa, passei minhas mãos por toda a sua costa e em resposta, ele mordeu levemente a pele sensível do meu pescoço.

— Ash... – sussurei, sentindo como se meu coração fosse sair do meu corpo.

— Essa com certeza será considerada uma das partes que eu mais amo no seu corpo. – ele murmurou contra meu pescoço.

— Vai ficar marcado! – ri um pouco nervosa.

— Agora vai. – ele sussurrou.

Em seguida recebi outra mordida no mesmo lugar.

— Eu posso? – perguntei sem jeito.

— Pode o quê? – Ashton dessa vez me encarou.

— Fazer a mesma coisa em você.

Ele pareceu surpreso e se jogou para o espaço vazio da cama ao meu lado se sentando.

— Claro.

Sem graça, me sentei, aproximei nossos corpos e sem saber o que fazer beijei levemente seu pescoço.

— Meu dvd queimou. Vocês querem ir à sorvet... – a voz de Michael ecoou pelo quarto.

Ashton automaticamente me afastou dele e eu fiquei completamente corada.

— Desculpa atrapalhar o casal. Eu só vim chamar vocês para ir à sorveteria com o pessoal, mas claramente vocês preferem coisas quentes... – meu amigo apontou para o meu pescoço.

Passei a mão pelo rosto.

— Michael, não é o que você tá pensando.

— Então o que é? – Ashton e Mike perguntaram juntos.

Sem me dar direito de resposta, Michael saiu furioso.

Olhei para Ashton em seguida para a porta e corri atrás do Clifford.

— MICHAEL CLIFFORD! – gritei enquanto o garoto andava pelo corredor do apartamento como se não me escutasse.

O vi fechar a porta do lugar, mas não parei por ali, abri a porta, não consegui mais conter aquela confusão de sentimentos em meu peito e solucei:

— Mike, por favor...

O meu amigo parou e virou me encarando surpreso.

— Vamos resolver isso... – apontei para nós dois sentindo as lágrimas escorrerem.

Da última vez que eu tinha tentando me conciliar com Michael, ele apareceu com uma namorada, me beijou, brigamos e em seguida eu estava nos braços de Ash.

— Resolver o quê, Naomi? – ele esbravejou – Você estava na maior pegação com o Ashton e eu estou namorando com a Lydia. O que você quer?

— Ainda... Eu ainda quero ser sua amiga... – murmurei.

Ele riu seco.

Eu sei que fui longe demais, mas se Michael dissesse que ainda nutria algum sentimento por mim, eu voltava atrás, mas no último dia de 2011, ele deixou bem claro não querer nada comigo.

— Então pare de chorar desse jeito, porque parece que você está desesperada pois gosta de mim e não quer assumir! – seus olhos estavam ilegíveis.

— Eu... – tentei falar – Eu gosto, você é meu amigo!

Vi os ombros de Mike abaixarem e quase imaginei que ele ainda sentia algo, porém, estava mais do que claro que a tal paixão dele não era tão grande assim.

— Só... Só me dê um tempo, Naomi. – foi a última coisa que ele disse antes de abrir a porta de seu apartamento.

Fiquei ali no meio do corredor com inúmeros sentimentos me atingindo.

— Você está sendo mimada. – uma voz que eu conheço bem surgiu e falou – E injusta comigo.

— Desculpe. – sussurrei querendo sumir.

Ashton se pôs ao meu lado e ficou calado por um bom tempo.

— Você ainda gosta dele? – ele perguntou enfim.

— Como sabe que eu...

— Está bem claro. – seu tom soou triste.

— Desculpa, Ash... – murmurei – Mas eu também gosto de você.

— Como gosta que é o problema. – ele olhou para o chão – Se quiser terminar nosso namoro de duas semanas, tudo bem.

— Não! – finalmente o encarei e segurei sua mão – Eu não quero terminar.

— Mas termine se estiver sendo realmente injusta comigo, não quero que fiquemos juntos se não gosta de mim.

— Eu gosto. – afirmei – Só fico triste pelo Mike, não quero que nossa amizade acabe.

— NAOMI! NAOMI! – ouvi Mike gritando e seus passos altos vindo em direção a porta da sua casa.

Dei um passo para a frente e Ashton também.

— Rápido! A Layse tá tendo um ataque! – ele disse abrindo a porta.

Ashton e eu seguimos meu amigo e correndo fomos até o quarto dele, onde minha amiga estava encolhida no chão com muitas lágrimas acumuladas nos olhos.

Todos os meus amigos e até mesmo a mãe do Michael, estavam ao redor da Layse.

Calum chorava muito, como se pudesse sentir a dor dela.

— Saiam de perto! – ordenei.

Layse começou a lagrimar e respirava com dificuldade murmurando alguma coisa impossível de entender.

Me ajoelhei a sua frente e acariciei seu cabelo ondulado.

— Está tudo bem. – comecei – Todos estamos aqui pra te manter segura. Ok?

Ela tremia mais que o normal e abaixou a cabeça soluçando.

— Ei... – chamei – Tenta respirar, Lay... Você consegue.

De repente ela abriu a mão e me entregou seu celular aberto em uma página de algum jornal online.

Confusa peguei o objeto e encarei a página aberta de um jornal.

A manchete dizia "Homem é atropelado por motorista bêbado e morre".

Mas isso não era tudo. Em alta resolução havia uma foto atual do pai biológico de Layse e Ashton.

— Gregory. – Lay disse um pouco mais alto e percebi que todo esse tempo a única coisa que ela repetia era o nome desse homem.

Levantei e encarei os outros no quarto.

— Por que está pálida? – Michael me encarou – Ela melhorou?

— Não é um ataque... – murmurei e Luke franziu o cenho – Ela viu uma notícia no jornal.

— Que notícia? – Sra. Clifford perguntou.

O som da campainha da casa soou e a mulher saiu do quarto prometendo que voltaria.

— Loirinha? – Calum disse olhando para sua namorada no chão – Olhe para mim, meu amor.

Layse murmurou algo e Cal passou por mim se ajoelhando na frente dela.

— O que disse? – ele questionou.

— Não me chame de amor! – ela falou um pouco mais alto, tentando parar de chorar.

Percebi Luke e Ashton respirarem aliviados.

— Que notícia, Naomi? – Mike, insistiu.

— Gre-gregory morreu. – anunciei.

O silêncio que se seguiu foi horrível.

— Crianças? – tia Karen apareceu – A Lucy está aqui e acabou de dizer que o Gregory...

— Faleceu. – Ashton completou se sentando na cama e puxando o celular de mim lendo a notícia.

Mike foi até ele e apertou seu ombro oferecendo conforto ao amigo.

Calum abraçou a sua noiva e Luke olhou para mim de olhos arregalados.

— Eu preciso vê o corpo. – Layse disse decidida se levantando da cama.

— Não! – eu e Lydia falamos ao mesmo tempo.

— Agora não é a hora, Lay. – Calum tentou ajudar.

— E quando vai ser? Quando ele for enterrado? Eu vou, ele era mau, mas era meu pai! – minha amiga passou pela porta do quarto sem esperar qualquer reação nossa.

— Espera por mim. – Ashton gritou – Eu também quero vê-lo.

Olhei para meu primo e juntos compartilhamos o mesmo pensamento: Nós iríamos atrás deles.

— Fiquem aqui e torçam para dar tudo certo. – olhei uma última vez para quem estava no quarto.

Calum segurou minha mão e fomos atrás deles.

[...]