Naomi.

Estava me arrumando para ir ao colégio, quando ouço a campainha da casa.

— Naomi... – ouço a voz de Lucy, nossa babá – O Michael tá entrando.

Destranquei a porta do meu quarto e comecei a ajeitar meu cabelo.

— Oi. – ele disse se encostando-se à parede do meu quarto.

Encarei meu amigo. Ele usava a farda oficial do colégio, camisa branca com o símbolo da escola e calça preta.

— O que foi? – perguntei ao notar sua expressão cansada.

— Eu não sei se quero ir ao colégio hoje e encarar Luke. – Mike falou.

— Achei que quem fosse falar isso seria a Lay. Mas por que está com medo?

— Ontem eu contei para a Layse, sem querer, que Luke era afim dela. Agora sinto que traí um amigo, mesmo que esse amigo tenha se mostrado ser um idiota ultimamente. – Michael bufou e se jogou em minha cama.

— Clifford! Nós não podíamos falar, Luke pediu segredo. – falei, enquanto prendia meu cabelo numa fitinha azul. - E embora ele tenha sido um idiota, segredo é segredo. A Lay é minha melhor amiga, conto tudo para ela, mas quando me pedem um segredo eu guardo até dela.

— Eu sei, mas eu não podia vê aquela situação toda entre os dois e não fazer nada.

— Acho que falar não adiantou muita coisa. – dei de ombros. – A Layse só ficou mais confusa.

— Por que eu ficaria mais confusa? – minha amiga perguntou entrando no quarto de supetão.

— Ora, vai me dizer que não ficou confusa quando Michael contou que Luke gostava de você? – perguntei, pegando minha mochila rosa do cabide.

Minha amiga mordeu o lábio, cruzou os braços sobre a camisa branca, depois puxou sua saia preta para baixo.

— Gostava? Não gosta mais? – Lay perguntou com a voz aparentemente desapontada.

— Depois d ele se afastar do nada e passar a agir que nem um idiota, é difícil que ele ainda goste – Mas...

— Nós vamos nos atrasar. Daqui há 20 minutos bate o sinal do colégio e nós ainda estamos aqui. – Mike interrompeu minha amiga.

E eu agradeci, não queria que Layse colocasse mais expectativas em Luke, para no final sair machucada.

***

Fomos andando para o colégio. A parte estranha foi quando Mike e Calum disseram que ainda iriam com Luke. Então, depois que pegamos Calum em casa fomos juntos até a esquina da casa do Hemmings e eu e minha amiga passamos a ir sozinhas para escola.

Quero dizer, se olhássemos para trás podíamos vê os meninos e de quebra ainda conseguíamos ouvir quando eles falavam alto.

Em certo momento vi Lay olhar para trás. Ela rapidamente voltou o rosto para frente e segurou sua boca enquanto uma lágrima solitária escorria.

Se ela soubesse que estava doendo da mesma forma em mim...

Estendi a mão para minha amiga e ela a apertou.

— Vamos ficar bem. – garanti.

Ela assentiu.

— O QUÊ? – ouvimos Luke gritar – Você não pode! Eu gostei primeiro! Eu pensei que a odiasse!

Um deles murmurou algo.

— Eu... Fique longe! Quem... Eu... Ah! DEIXA ELA EM PAZ! Você... Você não pode.

Pensei em virar para trás quando eu e minha amiga nos encaramos confusos, mas podia estragar tudo e eles passassem a falar mais baixo.

— Oi meninas! – a voz de Calum pareceu mais próxima.

Viramos e ele se colocou entre eu e Lay nos abraçando de lado.

— Já disse que te odeio hoje, Layse? – perguntou.

— Não. Você na verdade não falou nada comigo hoje e nem ontem.

Olhei com o cenho franzido para meu primo e notei seus olhos brilhando enquanto encarava minha amiga.

— Então eu devo dizer que seu cabelo fica irritantemente bonito quando está solto e que te odeio com todas as minhas forças. – ele se aproximou e beijou o rosto da minha amiga.

Assustada, ela se afastou saindo do abraço de Calum e questionou:

— Desde quando você me elogia, Cal?

— O que eu disse? – ele parecia confuso.

— Que o cabelo dela é irritantemente bonito. – falei.

— Bonito? – ele franziu o cenho – Quis dizer ridículo.

Arregalei os olhos e vi a tristeza no olhar da minha amiga.

— Claro. – ela murmurou e saiu andando mais a frente.

— Seu idiota. – dei um empurrão nele – Você estava indo bem e estragou tudo. Ela já está triste por causa do Luke e você ainda diz que o cabelo dela é ridículo!

— Ai. – ele passou a mão onde tinha empurrado – Você não viu que ela estranhou o elogio? Por isso me fiz de desentendido.

— Claro que ela estranhou! – exclamei observando minha amiga mais a frente – Você sempre faz de tudo para encher o saco dela!

— Só quero que ela pense em mim, mesmo que seja de maneira negativa. – ele murmurou baixinho passando a mão no seu cabelo já maior.

— Seu grande idiota! – falei – Você está caidinho por ela, mas não aceita.

— Claro que não! É aquela velha atração por quem odiamos! – afirmou.

— Vai me dizer que não fica lembrando do nosso primeiro dia aqui, quando vocês perderam o bv juntos? – perguntei maliciosa.

— Claro que não! Foi nojento! E a partir daí que começamos a nos odiar. Não tenta forçar algo que não existe, Naomi.

Dei de ombros rindo e olhei para trás.

Mike acenou e eu sorri em resposta. Luke encarava o chão.

— Vai me contar o que aconteceu ali atrás?

— Eu só contei uma coisa que não deveria. – murmurou – Não deveria mesmo.

— O quê? – tentei estudar a expressão do meu primo.

— Deixa pra lá. Vou tentar me redimir com a Lay. – ele deu um passo a frente, mas segurei seu pulso.

— Pensei que a odiasse.

— Por isso. – ele puxou seu braço – Preciso que ela continue me odiando.

Ele correu até alcançar minha amiga.

Observei os dois.

Calum disse algo, minha amiga riu e o empurrou. Ele falou sério e ela assentiu.

Está mais do que claro que Calum gosta da minha melhor amiga.

As vezes só queria que houvesse alguém interessado em mim...

Estamos no último ano do ensino médio. Daqui a pouco cada um vai fazer sua faculdade - apesar de os meninos falarem direto que vão fazer sucesso com a banda antes do fim das aulas, mesmo sem um baterista, e que irão nos sustentar - e eu ainda estou aqui, sem nunca ter beijado ninguém.

Layse insiste que é melhor eu esperar para perder com alguém importante e especial, não como ela que perdeu em uma aposta ridícula com o Calum.

Mas as vezes isso me incomoda muito.

Meu primo e minha amiga estavam prontos para atravessarem quando a porta da Vox se abre e um rapaz com o sorriso mais lindo que já vi sai e fala com a Lay.

Ela sorri, diz alguma coisa e atravessa.

O rapaz cruza os braços a observando, então vira o olhar para mim quando estou chegando próximo à faixa.

— Oi. – ele diz para mim.

— Oi. – coro.

Ele ri e fecha a porta de vidro da Locadora & Lanchonete.

O dia passa normalmente. Quando a última aula finalmente chega, eu e Layse nos acomodamos uma ao lado da outra e engolimos em seco quando Luke entra na sala.

Sem nem sequer nos olhar, ele sentou em uma das cadeiras da frente e assim que o sinal tocou, saiu correndo.

Os meninos gravarão algum vídeo hoje, deve ser por isso.

Minha amiga olha para mim, sorri e diz que está indo para a Vox trabalhar.

Me sentindo estranhamente sozinha e expulsando alguns pensamentos ruins sobre minha falecida irmã, como sempre acontece quando Layse não está comigo, corro com a mochila nas costas atrás de Michael.

O encontrei tirando uma foto ridícula do Calum no jardim do colégio.

— Ei Nam! – meu primo chamou – Você pode ser nossa fotógrafa hoje? Temos que atualizar nossas fãs...

Contive uma gargalhada.

— No dia que tiverem fãs, eu danço que nem louca no meio do shopping.

— Eu vou cobrar isso. – ouvi a voz de Luke atrás de mim.

Olhei para ele confusa.

— Pensei que me odiasse. – deixei escapar.

— Não odeio. – ele deu de obro e me olhou como se eu fosse louca.

— Cadê a Lay? – Mike perguntou.

— Trabalhando. – expliquei e vi Luke me encarar confuso, mas ele não perguntou nada.

— Você vai tirar foto nossa ou não? – Calum questionou.

— Não. – disse ajeitando meu cabelo esperando eles implorarem.

— Deixa que eu tiro. – Mike disse – Luke sobre em cima do Calum.

— O quê?

— Só sobe.

Cruzei os braços me contendo para não rir e notando que seja lá qual foi a desavença do Cal e do Luke, antes do início da aula hoje, já passou.

Como queria que fosse assim entre Luke, Layse e eu.

Com certa dificuldade Mike tirou uma foto bonitinha até e depois fomos embora.

Luke tentou puxar assunto, mas quando o encarei com raiva ele parou.

— Que droga. – Mike disse quando estávamos passando pelo portão do colégio – Temos que arranjar um baterista até a próxima semana!

Uma luz se acendeu na minha mente.

— Ontem, quando estávamos voltando para casa, a Lay falou que o colega de trabalho dela toca bateria. – disse.

— Nome e idade. – Mike pediu.

— Não sei se é o que ela falou antes de entrar na escola quando estava com você Calum.

— Ela o chamou de Ash. – Calum deu de ombros olhando em direção à Vox.

— Ele mesmo! Ashton!

Luke e Mike encararam Calum.

— Ele parece ser no máximo dois anos mais velho.

— Que opção temos? – Luke deu de ombros – Obrigada, Nam.

Assenti para não ser completamente mal-educada.

— O que fazemos então? – Mike tirou a mecha do meu cabelo que caiu no olho – Vamos na Vox e chamamos ele do nada?

— Por que não? – questionou Calum já atravessando a rua.

— Nunca imaginei os Losers como a gente entrando na Vox. – Mike riu sem jeito.

— Isso até fazermos sucesso. – Luke garantiu.

Entramos e logo vimos alguns alunos escolhendo filmes e no fim do local, muito mais gente que o esperado lanchando.

Vi Layse atendendo anotando o pedido de cada mesa, enquanto Ashton colocava alguns salgados no micro-ondas para esquentá-los.

Para não prejudicarmos o trabalho de ninguém, nos sentamos em uma mesa e percebi Cal e Luke babarem por Lay atendendo a mesa dos jogadores da escola.

Ela riu de algo que um deles disse e colocou o cabelo atrás da orelha assentindo.

— Gente. Parem de fuzilar o menino pelo o olhar, ele tem 3x o tamanho de vocês dois juntos. - Mike disse.

Eu ri e o Clifford me encarou de um jeito único, como se me adorasse.

— Toca aqui. – falei levantando a mão.

Fizemos um high-five e minha amiga finalmente nos viu.

Ela sorriu o máximo que pode, mas pelo olhar me perguntou o que eu estava fazendo com Luke.

"Ele pirou!", transmiti pelo olhar.

— O que vão querer, galera? – ela perguntou pegando a caneta de sua farda de trabalho que consistia numa camisa com o slogan do lugar, uma calça jeans e um avental.

— Aquele maravilhoso ali. – soltei só então notando que estava encarando Ashton pegando um refrigerante do congelador.

— É. – Calum concordou e todos olhamos confusos para ele, quer dizer, quase todos, já que Mike me olhava com uma cara estranha.

— Queremos falar com o tal Ashton. É verdade que ele sabe tocar bateria?

— Sim. – Lay afirmou – Ele é incrível.

— Você já o ouviu tocando? – Luke perguntou cheio de ciúmes.

— Acho que isso não é da sua conta. – ela murmurou e em seguida olhou para o resto de nós – Ashton é bom em tudo o que faz, podem acreditar.

— Em tudo? – Calum perguntou desesperado demais.

Eu e Mike rimos.

— Sim. – Layse respondeu inocente.

— Ah. – meu primo assentiu triste.

— Então, queremos chamar o Ashton para a banda.

Minha amiga fez uma careta.

— Vocês tem dinheiro para comprar algo?

Olhamos um para o outro e dissemos em coro:

— Não.

— Só podem ficar aqui se comprarem algo e nenhum funcionário pode conversar com o cliente.

— Que burocracia. – murmurei.

— Você é rica, Naomi. – Luke falou – Deve ter dinheiro para um refrigerante, pelo menos.

— Sinto muito, gastei tudo no almoço hoje. – falei.

— Eu posso dá para vocês o número dele e vcs ligam ou mandam mensagem. Que tal? – Lay escreveu algo no bloquinho – Agora saiam antes que vocês tenham um problema, ou até eu mesma.

Ela saiu e foi atender outra mesa de um jeito completamente profissional. Seja lá o que minha amiga for ser, ela será a melhor.

Guardei o número do garoto, que acenou para mim quando estávamos saindo e fomos para casa.

Michael e eu chegamos na porta de nossos apartamentos e ele me abraçou forte, acariciou meu cabelo e beijou meu rosto como sempre, antes de dizer:

— Até mais, linda.

Eu sorri e ele abriu a porta para entrar em casa.

— Ah! Mike! – chamei.

No mesmo instante ele pulou para fora de casa.

— O que foi? – perguntou com um olhar estranho.

— O número do Ashton. – tirei do bolso da camisa e entreguei a ele – Acho melhor mandar mensagem o quanto antes.

— Ah. Claro. – ele pareceu triste.

Sorri e dei um beijo em seu rosto correndo para dentro de casa.

Assim que entrei notei Lucy rindo maliciosa.

— Quando vai dá uma chance para esse garoto, filha?

— O quê? Ele me vê como amiga, assim como o vejo, Lucy. – ri e pendurei minha mochila no cabide para casacos.

— Não sei você. – minha babá sorriu – Esse menino te ama.

— Claro, como amiga.

— Não, Naomi. O Michael te ama daquele jeito especial que nada no mundo compra. Ele te ama de verdade.

[...]