Gert and Chase- Uma noite de compras
Capítulo 1
Fugir não era uma coisa glamorosa e a cidade de Phoenix provava isso, os becos escuros, o lixo entulhado na parte suburbana, os cachorros moribundos e os traficantes não passavam uma boa imagem ao lugar. Gert sabia essa que era a realidade das pessoas que não haviam nascido em uma família economicamente estável como a dela, mas seu senso justiceiro fazia com que ficasse muito incomodada com a situação.
Um trovão forte ecoou na viela escura pela qual passavam.
— Parece que vai chover- Chase comentou olhando para o céu.
— Concluiu pelas nuvens pretas ou suas luvas também são meteorológicas? – Respondeu cortando a conversa.
Chase respirou fundo, as vezes era difícil controlar a raiva perto de Gertrude, principalmente quando sabia que as péssimas respostas dadas por ela não eram só propositais, como também um simples mecanismo de defesa.
— Vou anotar isso para uma próxima atualização, alguma outra sugestão?
— Não, nenhuma.
— Gert, qual o problema? É tão ruim assim passar um tempo comigo?
— Só quando eu estou sendo acusada de envolvimento em um....
— É isso que te chateia? Porque não é só você sabe, eu sinto saudade de casa, dos meus pais.
— Eles são assassinos Chase, não sinto falta deles, minha família está comigo, Molly, Old Lace...
— Nico, Karolina, Alex, eu.
Ela fez menção a falar, mas mudou de ideia e segundos depois formulou uma pergunta.
— Você poderia ter escolhido qualquer outra pessoa para te ajudar com essas compras, porque eu, Chase?
— Porque eu gosto da sua companhia, claro, quando não tenta me afastar assim.
Uma rajada forte de vento os atravessou e Gert se abraçou, a noite estava gelada e nebulosa, o que dava um pouco mais de conforto para que saíssem pelas ruas com pouco disfarce, Chase por exemplo usava sobretudo e uma touca e Gert prendera o cabelo em um coque no topo da cabeça, os cabelos roxos pareciam negros com a falta de claridade, vestia uma capa preta que tinha pegado emprestado de Nico que a ela um ar místico.
Os dois passaram o resto do caminho em um silêncio desconfortável.
Porém, assim que avistou o letreiro neon do supermercado, as mãos da garota começaram a tremer, era pavoroso pensar em ir para cadeia e pior ainda, cogitar a possibilidade de voltar a morar com os pais e se alguém ali os reconhecesse? Esse pavor crescia dentro dela a cada dia, tinha que se livrar desse sentimento e que forma melhor do que descontar em Chase? Entendeu como era uma imbecil.
— Desculpa por ser assim- Disse ela baixinho controlando a respiração, era difícil demais fazer aquilo- Eu ando irritada, confusa, com medo....
Chase segurou a mão dela e os dois entrelaçaram os dedos depois de um tempo.
— Tudo bem, não vou deixar que nada te aconteça.
Assim que entraram Chase tirou um papel do bolso.
Eles tinham uma lista:
Frutas
Vegetais
Chips
Água
Isqueiro
Lenços Umedecidos
— Não acha que deveríamos comprar um ou dois frangos para Old Lace?
— Minha garota é esperta, ela tem caçado ratazanas de noite, a independência feminina reina- Respondeu esboçando um sorriso, o primeiro do dia.
— Não discutirei mais sobre as refeições da sua garota- Disse levantando as mãos- Mas e quanto a nossa? O que acha de comprarmos um vinho?
— Uma péssima influência para Molly- Gert retrucou- O Alex também não vai gostar.
— Podemos tomar só nós dois, sozinhos, juntos- Sugeriu.
A garota sentiu o rosto corar um pouco, percebeu só então que andavam como um casal pelos corredores do comércio.
— Alex não conseguiu esse dinheiro para gastarmos assim Chase.
— E se eu fizer o vinho sair de graça? Toparia tomar ele comigo?
— Vai seduzir uma caixa? Porque usar mulheres é opressor e significa rebaixa-las a amebas que podem ser facilmente influenciadas por um cara bonitão, sou totalmente contra.
— Bonitão?
— Quem disse isso? – Retrucou ela.
— Você disse.
— Me prova.
— Não preciso, você sabe que disse e eu ouvi dizer, Já basta.
— Como vai fazer uma garrafa de vinho sair de graça?
— Tenho meus métodos que não envolvem sedução, mas farei só se valer a pena, só se aceitar passar um tempo comigo Gert.
Mesmo contra a vontade outro sorriso surgiu em seu rosto, Chase se sentia vitorioso.
— Vou acreditar que isso significa um sim.
— Se não envolver nada ilegal ou extremamente patriarcal eu aceito.
Foi a vez de ele abrir um sorriso, um daqueles bem bobos mesmo.
.....
— Certo, eu pego a fila do caixa e você me espera na porta- Instruiu ele.
— Devo me preparar para correr? – Perguntou Gert.
— Se prepare para beber comigo.
Ela assentiu e fez o que ele havia pedido.
Enquanto a fila para o caixa seguia, Chase parou um tempo para fitar Gert, a garota estava de cara fechada e braços cruzados, batia a perna impacientemente no chão e bufava de leve, ela tinha um gênio forte encantador, uma beleza que ele não conseguia ignorar, estava perdidamente apaixonado por ela, era um idiota e não sabia o que fazer.
— Próximo- Chamou a caixa.
Chase passou os itens da lista primeiro e ficou segurando a garrafa de vinho na mão.
— Senhor, vai levar a garrafa?
— Bom, na verdade eu pensei que poderia me ajudar.
— Com o que? – A mulher perguntou curiosa.
— Tenho dinheiro apenas para as comidas, mas tem essa garota.... Aquela ali fora- Apontou ele- Quero impressionar ela.
— Desculpe, mas vai ter que impressionar ela com as frutas.
— Hey, olha... Marisol- Disse olhando para o crachá dela- Eu observei o livro que mantém no seu colo, O fim das eras é um romance não é?
— isso, é sim.
— Sendo amante de romance, não quer apoiar o começo de um? Eu só quero passar um tempo bom com ela, tomar um vinho, dar a ela um momento bom para se lembrar.
— Garoto você nem ao menos parece ter idade para beber, pode me mostrar sua identidade?
O coração de Chase gelou.
— Minha identidade? Perdi semana passada.
— Certo, então largue essa garrafa- Pediu ela- Agora.
Ele abaixou a cabeça demonstrando certa tristeza e deu o dinheiro contado para as compras, Marisol colocou tudo em sacolas e antes de entrega-las, pegou sua carteira e tirou 20 dólares dela.
— Leva a garota para tomar um café, é mais a cara dela.
— É sério?
— É sério, eu gosto de romance.
— Obrigado, muito obrigado.
Chase Stein se sentia vitorioso, guardou as sacolas dentro de sua mochila junto com suas fistgonas e foi em direção a garota emburrada de braços cruzados.
— Temos dinheiro para um café.
— Eu tenho apetite por café.
— Ótimo.
......
— Que esquisito.
— O que?
— É estranho me sentir segura.
Estavam sentados em frente a um laguinho, o vento ricocheteava em suas roupas e o frio era harmonizado por seus cappuccinos, as luzes da cidade os iluminavam e o assovio das rajadas de ar era música.
— É bom saber que te proporciono esse sentimento- Chase respondeu passando uma de suas mãos ao redor da cintura de Gert.
— Não disse que me sentia assim por sua causa- Respondeu chegando mais perto dele.
— Nunca precisou dizer.
— Chase você é a pessoa mais convencida que já conheci, sabia?
— A mais atraente também?
De fato ele era.
— Defina atração, esse é um termo muito pessoal- Disse escapando do assunto- Eu poderia falar sobre a relação de tudo isso com a beleza e os padrões estabelecidos pela sociedade e como isso influência diretamente nos seus gostos sexuais e na sua libido por certos corpos.
— Não faço a mínima ideia do que quis dizer com isso.
— Se quiser, eu posso desenhar para você.
— Não, seria entediante do mesmo jeito.
— Você se entedia fácil com o que não entende, não é mesmo?
— Com tudo não- Falou apertando um pouco a cintura dela- Mas, se eu estivesse em uma sala sozinho com você a última coisa que eu iria querer era aprender sobre o patriarcado, tem tantas coisas mais interessantes para se fazer.
Gert sentiu as bochechas queimarem mais uma vez, uma parte dela queria beija-lo e a outra dar a ele uma resposta atravessada, decidiu não fazer nenhum dos dois, encostou a cabeça em seu peito e ficou ouvindo seus batimentos, rápidos, fortes, intensos, ficaram ali deste jeito por um tempo.
— Acho melhor irmos- Chase falou assim que um raio rasgou o céu a cima deles.
E de repente era tudo o que ela não queria fazer, era tão bom tocar o corpo dele, sentir o cheiro, abraçar, ter ele ali só para ela.
— Como eu faço para ficarmos assim para sempre? – Perguntou impulsivamente.
O garoto fixou o olhar na parte que conseguia enxergar dela com clareza, a pele branca quase morena, os cabelos roxos, o óculos meio sujo.
— É só me deixar ficar e eu prometo, não vou te deixar nunca.
Gert largou o copo ainda meio cheio de café no chão e se pôs na frente dele, os olhos grudados nos seus, a respiração próxima, os cheiros se misturando.
— Fica comigo.
Ele nem se importou em onde jogava o resto do café, passou os braços ao redor da garota e a puxou para um beijo, as mãos dela envolveram seu pescoço e o trouxeram para mais perto, trovões se expandiam pelo céu e os dois não pensavam mais em nada, queriam um ao outro, precisavam um do outro.
A chuva começou a cair, mas nenhum dos dois se moveu, Chase acariciava o rosto dela limpando as gotas que caiam, foi ai que Gert abriu os olhos e viu.
— Chase- Sussurrou pousando a cabeça no ombro dele- Tem alguém nos observando.
— Tem certeza?
— Absoluta.
— Continue falando comigo- Respondeu baixinho- Preciso que mantenha a calma.
— Não vou te um ataque aqui, não se preocupe- Disse se levantando irritada- Não é tudo o que eu sei fazer.
— Está brava comigo?
— Vem logo Chase, está chovendo forte e eu definitivamente não preciso de um resfriado.
Eles começaram andando rápido, depois correram, estavam adquirindo prática nisso, viravam a cada segundo e lá estava uma sombra encapuzada os seguindo tranquilamente, os dois entraram em um beco, Chase abriu a mochila com rapidez, Gert pegou os óculos dele e procurou pelo perseguidor.
— Ele sabe que estamos aqui, coloque logo essas luvas, temos que derruba-lo.
Se posicionaram rente a parede do beco e ficaram na espreita, alguns moradores de rua que estavam deitados por ali ficaram intrigados.
— Ele está vindo.
As fistgonas já estavam preparadas para disparar, quando a pessoa em questão passou tranquilamente pela rua os ignorando no beco.
— Acho que ele não está nos seguindo- Chase começou.
— Acha que é paranoia minha? Que eu sou doida?
— Um pouco bipolar com certeza.
— Quando não se tem coisas boas para falar é melhor ficar quieto sabe.
— Você compreende que é sempre a primeira a atacar, não é?
— Talvez você não tenha percebido que na maior parte das vezes eu só respondo aos estímulos que me são dados.
— Mais uma vez sem sentido.
— Mais uma vez depreciando minha inteligência.
— Jamais, só respondendo a altura mesmo.
E bingo, ela se viu desarmada.
— Ficamos mais uns dois minutos aqui e vamos para nosso cortiço, ok? – Mudou de assunto.
— Sim senhora.
O tempo passou mais depressa do que esperavam e como a rua estava sem movimento algum seguiram até o esconderijo.
Duas batidas seguidas, três batidas seguidas, um batida.
Molly abriu a porta, o rosto claramente aliviado.
— Estávamos para mandar Nico e o cajado atrás de vocês!
— Finalmente chegaram, mas que droga! Pensamos que tinham sido pegos- Nico falou se levantando de um colchão que estava jogado no chão.
— Porque demoraram tanto?
Eles se entreolharam e Chase soube o que responder.
— Porque Wilder, a fila do caixa estava imensa.
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