Alison,

Lembra daquele dia em que fomos felizes? Eu lembro. Você estava sorrindo tanto! Sorrindo de verdade, não aqueles sorrisos mecânicos que costumava dar, e em consequência eu sorria também. Você chegou em minha casa, era tardezinha e o sol estava quase se pondo, gritou por mim com uma voz que já dizia tudo, estava animada, na mesma hora eu desci para ver o que era e você sem nem perguntar nada saiu me puxando pela mão. Tinha aquela aura de felicidade tão grande que irradiava para todos os cantos. Naquele dia corremos por aquela rua que parecia infinita, cada uma com um sorriso infantil no rosto, você feliz por algo que eu nem sabia o que era e até hoje não sei, e eu feliz por você. Sua felicidade era meu ponto de inspiração, um quadro abstrato representando a confusão, confusão que me confundia e que me fazia feliz, quando eu estava com você só tinha vontade de sorrir, mesmo que ás vezes as ocasiões não combinassem muito com sorrisos.

Depois de finalmente parar de correr eu te olhei, os cabelos loiros quase cacheados por cima do rosto e os olhos cor de mel brilhando.

–Acabou. – Foi o que você disse.

–Acabou o quê?

–Tudo, sem preocupações agora. – E sorriu. Eu não havia entendido na época, não entendo agora, mas quem se importa? Você estava sorrindo, dividindo seu momento de felicidade comigo, sem ninguém para atrapalhar ou sem nenhuma droga. Entre tantas pessoas em que poderia escolher você veio até mim, num momento único e completamente feliz, como no começo de tudo. Naquele dia eu imaginei que pelo menos você se importava comigo, espero que se importe agora.

Corremos mais um pouco até debaixo daquela árvore em que fomos quando viramos amigas, você se deitou no chão, um pouco cansada, e me puxou para deitar em seu lado. A felicidade teve um gosto estranho e diferente, eu estava com receio daquilo acabar e você perdida em tudo que te prendia. Eu queria eternizar aquilo, parar no tempo, só morar debaixo daquela árvore, respirar daquele ar e viver o resto da minha vida com aquela garota, naquele dia, a garota era você, Alison. Então eu te vi virar para mim com um meio sorriso no rosto e dizer:

–Obrigada. – E me beijou. Não o primeiro, nem o último, mas o único com um gosto de felicidade e sem resquício de incerteza. Sua mão estava em meu rosto, sempre eu meu rosto, nossos beijos eram mais sentimentais, nunca estávamos preocupadas com o ato em si e sim no que ele passaria uma para a outra. Os seus beijos passavam para mim todas as sensações do mundo, eu me sentia especial, mais próxima de você, me sentia adorada, amada, sentia como se todas minhas inseguranças morressem. Acho que é por isso que sempre gostei de te beijar, eu me sentia como se fosse a única em sua vida, como se uma parte especial sua estivesse destinada só a mim.

Aquele dia teve gosto de felicidade, a tristeza foi só uma ideia muito distante de nós, uma ideia que não nos passou pela cabeça em momento algum naquele dia, não nos atrapalhou nos sorrisos e nem nos beijos.

São dias assim que nós dão vontade de continuar, vivemos buscando dias como esses e morreremos desse mesmo jeito. O fato de eu ter passado aquele dia com você o fez mais especial ainda. Estávamos felizes por motivos que eu nem sabia, mas ainda sim felizes, e foi isso que tornou o dia mais lindo ainda, minha felicidade existia só porque a sua existia também, juntamos nossos fios de tristeza que haviam se arrebentado e formamos um cordão de felicidade. Uma felicidade passageira, pequena e simples, mas que preencheu nossos corações de um jeito arrebatador. Posso não me lembrar de todos os detalhes ou da sensação, mas enquanto eu viver usarei esse dia como inspiração, o dia em que sorrimos verdadeiramente. Alison, quero que saiba que eu trocaria tudo para ter um dia com você assim de novo.

Com saudades, dúvidas, confusão, leveza, mais saudades e felicidade,

Lúcia.