Alison,

Na segunda vez em que nos vimos foi meio estranho, mas era uma prévia de tudo o que iria acontecer. Eu me lembro de uns pequenos detalhes e provavelmente esqueço de coisas importantes, mas eu sempre me esforço para manter tudo em minha mente quando o assunto é você. Mais ou menos duas semanas depois de ter te encontrado naquele bar, confesso que havia pensado em você nesse tempo, mas eu tentava ao máximo não criar esperanças, nem me importar muito com algo insignificante, porque eu sempre fui assim, achando que todas as pessoas iriam mudar minha vida de algum jeito, bom, você mudou. Mas naquele dia era só eu saindo da escola em um dia normal, exceto pelo fato de que uma garota loira estava sentada no banco em frente a entrada do colégio. Algumas pessoas paravam para falar com você, e recebiam aquele sorriso como resposta, e naquele dia por alguns segundos você foi tudo o que eu conseguia ver. Uma pequena boneca frágil tomando toda a minha atenção.

Boneca frágil. Era isso o que você parecia, prestes a quebrar a qualquer minuto. Era como se você fosse de plástico, ou de porcelana, insensível por fora e vazia por dentro, porque tinha aprendido a ser assim. Parecia frágil, mas aguentava coisas demais para receber tal adjetivo. Será que algum dia irei te entender? As vezes era perigoso o quanto você parecia charmosa, era um toque a mais para suas enganações.

Mas naquele dia eu vi você olhar para mim, abrir aquele sorriso e ir até a minha direção, me deixando mais uma vez paralisada, me fazendo sentir imponente, acho que se você fizesse isso agora, hoje, eu teria a mesma reação. Então me abraçou e depositou um beijo em minha bochecha, naquela hora demorei para perceber que era um cumprimento. Mas quando eu te olhava só conseguia imaginar o quanto você parecia incrível, parecia tão segura de si, carregando aquele semblante bom no rosto mas andando com a maldade impregnada nos passos, e eu só pensava em como eu gostava daquilo, daquele jeito, daquela ideia que eu tinha sobre você.

Recebi alguns olhares estranhos quando saímos em direção a algum lugar qualquer, mas aquelas pessoas não me importavam mais. Eu parei de me importar com eles do mesmo jeito de que eles nunca se importaram comigo, porque ao contrário de você nenhum deles tinham se preocupado comigo, porque eu sempre vivi comigo mesma, me consolava se precisasse, tentava me alegrar diaramente, dividia segredos mentalmente, sem a ajuda de ninguém, porque ninguém se importava, ninguém se preocupava. Eu só vivia comigo, minha monótomia, os julgamentos das pessoas que nunca ajudavam, e uma raiva pessoal de tudo em minha volta. Alison, depois de você tudo virou confusão, mas se eu disesse que não gostei disso eu estaria mentindo.

Mas naquele dia eu não estava pensando em nada disso, eu não sabia o porque de você ter ido até mim, ou como conseguiu saber onde eu estudava, até hoje não sei, mas pra ser sincera eu não me preocupo em saber. Mas nós simplesmente estavamos lá, andando, eu imaginava que sem rumo, você me perguntava coisas como em um questíonario e eu respondia como se fosse minha obrigação. Então paramos e sentamos a beira do rio embaixo de uma árvore e eu te perguntei:

– Por quê está falando comigo?

– Porque você é diferente de mim.

–Diferente como?

–Em todos os sentidos, e eu quero te fazer igual. – Disse e sorriu. Sorriu porque seu sorriso era a resposta para tudo, aquele sorriso em conjunto com os olhos pequenininhos e as bochechas levantadas, aquele sorriso que podia significar coisas demais para uma coisa só. E toda vez que você sorria eu sorria junto, achava que combinava. Deve ser por isso que desde que você se foi eu não sorrio mais, porque o meu era consequência do seu e sem você não tem mais nada. Nem sorriso, nem passeio, nem as festas, nem as descobertas, você se foi e tudo que deixou para trás foi a confusão.

Eu só queria ter uma chance de dizer que mesmo com essas tantas coisas largadas eu te amo do mesmo jeito.

Com saudades, dúvidas e confusão,

Lúcia.