Levantei e sentei na cama dela. Ela me olhou e soltou um suspiro.

– Acho que não vai entender.

– Se você tentar me explicar.

Ela foi até a porta, trancou-a e depois sentou na cama junto à mim.

– Bom, eu tenho uma...uma...

– Uma o quê? Fala logo! - Comecei a ficar nervoso.

– Uma doença.

– Que doença? - Levei um susto.

– HIV. - Eu levei um susto e fiquei de pé.

– Sua...sua...pu- Olhei para ela que estava com a cabeça baixa e pensei em tudo que tinha escutado de Clarissa. - Você não pegou desse jeito né?

– Não... - Ela levantou a cabeça.

– Como isso aconteceu? - Voltei a sentar na cama.

– Eu tinha um amigo, alguns anos atrás, que tinha essa doença e eu não. Estávamos brincando e tropeçamos feio e fizemos um machucado super grande no joelho, mas ele também tinha ralado os braços. Eu estava menos machucada do que ele então fui ajudá-lo e... - Ela se encolheu.

– Mas como uma criança tinha Aids?

– A mãe dele teve depois que ele nasceu, mas ele ainda mamava no peito.

Fiquei parado sem saber o que falar. Tudo iria mudar depois daquele dia. Seria tudo tão diferente.

– Desculpa a reação, mas é que é tudo tão...

– Anormal. - Ela me interrompeu.

– ...Novo. - Terminei minha frase e me aproximei dela.

– Não, não fique perto de mim. Eu sei que você tem medo de pegar e eu sei que eu fui burra o suficiente para deixar que você se aproximasse de mim. É que...eu sou precisava conhecer alguém novo, mas eu sabia que uma hora você iria descobrir. - Ela fez uma pausa e com uma voz de choro continuou. - Eu tenho tanto medo. Parece que acabei de cair em um mundo vazio e não poderei ser amada por ninguém.

– No meio do nada, ainda existirá alguém para te amar. Você nunca será a única pessoa do mundo. Nunca deixarei você cair. Sofie, apenas confie em mim. - Abracei ela e ela começou a chorar.

Meu telefone tocou. Clarissa. Tirei a bateria do celular pra ninguém me perturbar.

– Troca de roupa, tá ficando frio. - Falei pra ela.

Ela levantou, foi no banheiro e tomou banho. Voltou vestindo uma blusa branca simples, uma calça estampa preta e branca, calçando uma bota que aparentava ser masculina e, nos braços, uma pulseira do Jake.

– Vamos? - Ela chamou.

– Aonde?

– Tomar café. Onde mais? - Ela pegou o casaco e saímos em direção ao Starbucks. Estava muito frio.

Quando entramos na loja um sino soou e todos olharam para nós. Um ar quente bateu na gente e isso foi bom demais. Sentamos em uma das mesas do fundão e logo uma garçonete veio nos atender.

– Um Frappuccino Mocha na garrafa por favor. - Sofie pediu e olhou para mim.

– Um chocolate clássico, para mim. - Acompanhei com os olhos a saída da funcionária e Sofie começou a rir. - Que foi?

– Você é muio cara de pau. - Ela me bateu de leve, se apoiando na mesa.

Nossos pedidos tinham chegado. Sofie bebeu um gole do Frappuccino e pegou o celular para ver alguma coisa. Aproveitando a distração, peguei o Frappuccino dela e dei um gole. Sabia que ela ia ficar doida.

– Ei, "cê" ta louco? Quer morrer? - Ela puxou o Frappuccino da minha boca.