Game of Swords

The Betrayal of the Century


Anastasia correu mais depressa para desgosto do seu irmão mais novo, Liam. Ele gritava para que ela corresse mais devagar mas Anastasia simplesmente ria. Eles eram os príncipes do reino do Norte, o único que continuava independentemente apesar das tentativas do rei de Contumbria. Contumbria era a maior nação conhecido no mundo. Antigamente, todos eram reinos independentemente mas nos últimos anos, haviam sido conquistados por um só rei. A razão pela qual eles ainda não haviam conseguido conquistar o norte era pelos seus diferentes costumes. No norte toda a gente era livre. Obviamente tinham algumas leis e um rei que os governava mas eles eram livre para acreditarem no Deus que quisessem, para casarem com quem quisessem, para fornicar com quem quisessem… Isto chocava os outros reinos e causava até uma certa inveja. Mas a independência tinha os seus contras também. O reino tinha de ser autossustentável e com os invernos a durarem cada vez mais tempo e as colheitas a ficarem cada vez mais fracas, o rei Wogan teve de arranjar uma solução para permitir a sobrevivência do seu povo.

Anastasia parou abruptamente quando, do alto da colina, viu a comitiva do rei de Contumbria chegar ao seu castelo. Ela nunca tinha visto os soldados de Contumbria mas ficou encantada com tantas armaduras douradas, um contraste das armaduras negras que o seu pai e os seus lordes usavam. Liam parou ao lado de Anastasia e perguntou:

— Quem são eles?

— É o rei que o pai nos falou.- explicou Anastasia.

Liam continuou a olhar espantado para a grande comitiva. Anastasia ouviu passos atrás de si e virou-se apenas para encontrar o seu melhor amigo Dylan.

— O teu pai disse-me para vos virar procurar.- começou Dylan.- Ele quer-vos com ele para quando o rei John chegar.

Anastasia fez sinal a Liam para que voltassem para o castelo. O caminho até lá foi feito em silêncio uma vez que todos ainda estavam estupefactos com a comitiva do rei. Ao chegar lá, Anastasia foi recebida pela sua loba, Syrix. Syrix era uma das crias dos lobos dos seus pais. A outra cria era o irmão de Syrix, Thor. Tal como Anastasia e Liam, Syrix e Thor eram irmãos e iriam acompanhar os jovens príncipes tal como os seus pais faziam. Anastasia abraçou Syrix. Syrix ainda era apenas uma pequena loba mas quando crescesse iria ser temida por todos os homens.

— Vais torna-la mansa se continuares assim.- disse o rei Wogan para a sua filha que acariciava a loba.

Anastasia olhou para o seu pai e sorriu. O seu pai era o seu herói. Ela largou Syrix que foi a correr de volta para o canil. O seu pai conduziu-a e a Liam para onde se encontrava a sua mãe esperando pela comitiva do rei John.

— Anastasia, tás toda suja.- reclamou a sua mãe, rainha Anna, olhando para a vestes da sua filha.

— Ela está linda.- defendeu-a o seu pai.

A sua mãe sorriu e revirou os olhos.

Anastasia viu Dylan do outro lado da multidão. Dylan era o seu melhor amigo desde que ela se lembrava. Ele era um órfão que os seus pais tinham acolhido e que trabalhava para eles. Dylan era o acompanhante de Anastasia em todas as ocasiões e o seu pai brincava sempre dizendo que um dia eles iriam casar. Anastasia reagia sempre com nojo a isto. Dylan era como se fosse o seu irmão, para ela era o mesmo que casar com Liam. Duplo nojo.

A comitiva do rei John foi finalmente anunciada. Anastasia endireitou as costas como a mãe lhe estava constantemente a dizer para fazer. Uma carruagem parou mesmo à sua frente e de lá saiu um homem com uma postura ereta e com um ar que Anastasia não gostou. Aquele era o rei John. Em seguida saiu a rainha segurando um bebé e depois apareceram dois rapazes com a mesma idade de Anastasia. Um deles lançou-lhe um olhar penetrante que Anastasia achou que nunca mais iria esquecer. O seu pai foi até ao rei e cumprimentou-o. O rei John fez o mesmo mas não pareceu muito convincente, quase como se não considerasse o rei Wogan um igual.

— Suas majestades, sejam bem-vindos ao norte.- disse o rei Wogan sorrindo.- Como foi a viagem?

— Tenho a certeza que terá valido a pena.- respondeu o rei John com um sorriso sinistro no rosto.

— Talvez pudéssemos dirigir-nos até à minha sala do concelho para discutirmos as propostas.- propôs Wogan.

— Temos tempo de discutir isso durante o festim de hoje à noite.- retrucou o outro rei, apontando para que um dos empregados o levasse até aos seus aposentos.

Após a saída do rei John, Wogan puxou o seu melhor amigo e principal conselheiro à parte.

— Preciso que faças algo por mim.- pediu Wogan.

— Qualquer coisa, sua majestade.- respondeu Joseph preocupado.

— Preciso que pegues na tua filha e no Liam e que o leves para fora daqui.- contou Wogan com um tom preocupado.

— Mas para onde?- perguntou Joseph que começara a temer o que estava por vir.

— Não interessa.- disse Wogan.- Só não contes a ninguém.

Joseph assentiu e foi preparar tudo para a sua fuga.

O rei reparou na sua esposa a olhar para ele com um semblante preocupado. Ele foi até ela, deu-lhe um beijo na testa e disse-lhe:

— Não te preocupes.

No outro canto do pátio reparou que ambos os seus filhos estavam a treinar o arco e flecha. Anastasia riu quando Liam voltou a falhar o alvo. Wogan foi até lá e o seu filho correu até ele.

— Pai, podes-me ensinar a usar o arco?- perguntou ele. Liam tinha apenas dez anos mas Wogan já lhe prometera ensinar tudo o que sabia sobre lutar.

— Outro dia, filho.- começou Wogan.- Agora preciso que arranjes algumas coisas para uma viagem.

— Porquê é que eu tenho de ir?- perguntou Liam desiludido. Ele também queria estar no banquete com o rei.

— Porque é importante que alguém da família vá.- disse Wogan tentando dar a volta à situação.

— Porquê é que não vai a Saskia?- perguntou Liam referindo-se à sua irmã mais velha.

— Porque tu és meu filho.- disse o rei mais sério.- E um dia serás rei do Norte.

Liam assentiu desanimado e foi fazer o que o pai lhe mandara. Wogan olhou para os seus filhos enquanto eles se afastavam para se preparem para as suas tarefas e desejou com todas as suas forças que aquela não fosse a última vez que os vira.

O general do rei John entrou nos seus aposentos sem grandes cerimónias.

— Está tudo pronto para logo?- perguntou o rei.

— Os soldados estão nas suas posições e sabem o que têm de fazer.- respondeu o general.

John assentiu. Há imenso tempo que estava à espera disto. O norte era o único pedaço do reino que ele não reinava e isso deixava-o descontente. Mas o seu plano iria mudar isso.

— Pode ir general.- comandou ele.

Após a saída do general, entrou a sua esposa. O casamento de John tinha sido por razões políticas e, dado isto, ele não sentia qualquer tipo de amor pela sua esposa. Ela não tinha a ambição dele e também possuía um coração bondoso demais para uma consorte de um rei como ele.

— Toma conta das crianças.- ordenou ele.

— O que vais fazer?- perguntou ela preocupada com o plano do seu marido. Ela conhecia-o e à sua ambição desmedida.

— Vou acabar com a linhagem dos reis do norte.- respondeu ele com um ar sombrio que assustou a sua esposa.

Wogan bateu à porta do quarto da sua filha. Ao entrar pôde ver as criadas enlaçando o seu cabelo.

— Vais ser o centro das atenções, meu amor.- disse ele acariciando a sua filha.

— Obrigado pai.- respondeu ela com um imenso sorriso no rosto.

— Não te atrases.- pediu o rei antes de deixar os aposentos da sua filha e caminhar para o banquete.

Joseph levava a sua filha numa mão e o príncipe noutra. Eles estavam prestes a sair do canil real pois Liam ordenara que o seu lobo Thor fosse com ele na viagem. E Joseph sabia que não podia negar tamanho pedido. Joseph estava prestes a sair pelo átrio em direção ao grande portão quando avistou uma quantidade invulgar de soldados do rei John na porta da sala de banquetes. Ele pode ver quando um monte deles trancou a porta de modo a que mais ninguém pudesse sair. Joseph teve de resistir à vontade de correr e avisar o rei que tudo aquilo era uma emboscada mas sabia que a sua missão era muito mais importante: proteger o futuro rei. Joseph virou-se tão abruptamente que a sua filha foi contra si.

— Vamos, não podemos sair por aqui.- disse ele dirigindo as crianças para a porta dentro do castelo.

— O que se passa?- perguntou Liam.

Joseph ignorou-o e continuou a empurra-lo em direção à cozinha. Ele sabia que a única forma de conseguir sair do castelo era por aquela que nenhum dos soldados sabia que existia: os tunéis. Joseph empurrou uma parede e uma porta secreta abriu-se revelando o que parecia ser um interminável corredor de escuridão. Joseph acendeu uma tocha e empurrou as crianças para dentro do túnel fechando a porta atrás de si. A maior jornada da sua vida tinha agora começado.

Wogan sentou-se ao lado do rei John, dizendo:

— Acho que é hora de começar a fazer negócios.

O rei John riu como se tivesse já tudo pensado e disse:

— Eu só vejo uma maneira de uma união entre nós.

Wogan franziu a testa. Cada vez mais acreditava que o rei John não era de confiança e cada vez mais se arrependia de o ter convidado para a sua casa. Mas ele decidiu que o melhor que poderia fazer era ouvi-lo e, por isso, fez sinal para que ele apresentasse a sua proposta.

— Que melhor maneira de fazer aliança do que um casamento entre os nossos filhos?

Wogan pensou no assunto. Sempre tinha defendido que os seus filhos eram livres para casar com alguém que amassem verdadeiramente e naquele momento sentia-se dividido entre essa promessa e a promessa de fazer todos os possíveis pelo seu povo.

— Entre quem?- perguntou Wogan tentando dissuadir o rei.

— A tua filha Anastasia e o meu segundo filho mais velho Damon.

Wogan refletiu sobre o assunto. A proposta do rei não fazia qualquer sentido. Nem Anastasia nem Damon estavam destinados a ser reis. Então qual seria a verdadeira razão daquela união?

— Nenhum deles vai ser rei.- percebeu Wogan.

— Por isso mesmo, é a união perfeita para os teus objetivos.- retrucou o rei John sorrindo de forma enigmática.

Nesse mesmo momento, Saskia entrou no salão parecendo mais bonita que nunca. Wogan sabia que estava a sacrificar a felicidade dela e não sabia se o conseguia fazer. Mas ele próprio tinha sido pressionado numa aliança matrimonial e havia encontrado amor e felicidade. Enquanto Wogan se debatia, o rei John mandava os seus conselheiros trazerem o contrato. Wogan olhou para o contrato. Era a única forma de prevenir que o seu povo morresse à fome. Ele olhou uma última vez para Saskia que lhe sorriu. Ele sorriu de volta. Antes que mudasse de ideias, Wogan assinou o contrato devolvendo-o ao rei John. John colocou-se de pé e apertou a mão de Wogan dizendo:

— Longa vida ao norte.

Uma seta vinda de lado nenhum acertou Wogan no peito fazendo com que ele caísse de joelhos.

Saskia olhou com horror quando uma seta acertou no peito do seu pai. No momento seguinte, ela pode ver todos os seus guardas terem as gargantas cortadas por guardas do rei John. Ela olhou para a sua mãe que tentou correr em socorro do seu pai mas em vão pois dois guardas de grandes dimensões prenderam-na contra o chão. O seu pai ergueu-se e o coração de Saskia encheu-se de esperança.

— O rei do Norte ergue-se mais uma vez.- gozou o rei John.

Outra seta vinda do nada acertou no seu pai fazendo com que ele caísse novamente de joelhos. Desta vez, Saskia tentou socorre-lo mas um guarda prendeu-a com mais força do que era realmente necessária. Ela pode ver repetidamente o seu pai erguer-se só para ter outra seta a ser lançada em direção ao seu peito. À nona seta, o seu pai já não tinha forças e Saskia reconheceu-o na sua face enquanto ele pronunciava as suas palavras finais. As lágrimas de Saskia escorriam pela sua face e era impossível pará-las. Perante si, estava o seu pai e herói nos seus momentos finais. Ela olhou para a sua mãe buscando qualquer tipo de conforto que não veio. Saskia olhou profundamente nos olhos do seu pai quando ele pronunciou as palavras “eu amo-vos” antes de cair no chão. De alguma maneira, Saskia conseguiu sair do aperto do guarda que a estava a segurar e correu até ao seu pai ajoelhando-se ao seu lado. Ao olhar nos olhos dele, percebeu que ele já tinha partido. Nesse momento, Saskia gritou como nunca tinha feito na vida e as pessoas à sua volta perceberam que aquele era o grito de alguém cuja alma se tinha despedaçado.

Damon escapuliu-se do quarto que partilhava com o seu irmão Francis. Ele estava curioso sobre o festim de negociações que estava a haver e queria ter um vislumbre. Para sua surpresa, o átrio estava cheio de soldados do seu pai e pode ver dezenas de corpos espalhados pelo chão. Ele decidiu esconder-se atrás de uns fardos de palha e tentar perceber o que estava a acontecer. De onde se encontrava, ele pode ver quando um grupo de soldados entrou no que parecia ser o canil real armados com arcos e setas. Ele mexeu-se um pouco do seu esconderijo para que pudesse ter uma melhor visão e pode ver os soldados em ir em direção aos conhecidos lobos do norte. Ele ficou estupefacto com a beleza dos lobos visto que nunca tinha sequer visto um. No momento em que os soldados se aproximaram, os lobos começaram a rosnar e foi aí que a primeira seta foi disparada. Damon olhou com horror para o que estava a acontecer perante os seus olhos. Após matarem os lobos, ele teve de desviar o olhar enquanto um guarda cortava a cabeça de um deles como se fosse algum tipo de caçador de recompensas e a levava consigo. Já em choque, Damon perguntava-se pelo que é que todos os soldados esperavam à porta do salão. E foi então que ele ouviu o pior grito que já tinha ouvido. Os soldados começaram a festejar como se tivessem acabado de ganhar a mais difícil batalha das suas vidas e uma lágrima rolou pela face de Damon. Ele não sabia o porquê de estar a chorar mas sabia que aquele grito tinha mexido com o seu interior de uma maneira que ele julgava impossível.

Ele limpou as lágrimas para que pudesse ver mais claramente tudo o que se passava. Sem aviso, as grandes portas do salão abriram-se e uma mulher e uma rapariga de mais ou menos a sua idade foram arrastadas pelos soldados. Ambas choravam e a mulher gritava para que não magoassem a sua filha. Damon estava vidrado naquela cena quando sentiu uma mão no seu ombro. Ele virou-se assustado e percebeu que se tratava de um soldado do seu pai.

— O meu príncipe devia voltar para os seus aposentos.- disse o soldado.

Damon assentiu dando uma última olhada para a rapariga que tentava lutar para voltar para os braços da sua mãe. Ele sabia que nunca iria esquecer o rosto dela.

Joseph tinha finalmente conseguido sair do palácio quando ouviu um grito seguido de festejos. Ele percebeu rapidamente que o pior tinha acontecido e rezou baixinho pela alma do seu rei e grande amigo.

— É a Saskia.- disse Liam reconhecendo a voz da sua irmã.- Temos de voltar!

Liam tentou voltar pelos túneis mas foi impedido por Joseph.

— A minha irmã está em perigo. Ordeno-te que voltes.- gritou Liam tentando entrar nos túneis.

— Não podemos fazer nada para salvá-la.- disse Joseph olhando profundamente nos olhos de Liam que se encheram de lágrimas.

O menino tentou novamente voltar para o castelo e Joseph não teve outra escolha senão atirá-lo por cima do seu ombro e começar a correr levando a sua filha e o lobo Thor consigo. Joseph corria cada vez para mais longe do castelo enquanto Liam gritava que eles tinham de voltar. Mas Joseph sabia que agora a sua missão de vida era proteger Liam, o futuro rei do norte.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.