A cidade era linda, disso o elfo não podia reclamar.

Á noite as luzes deixavam a cidade bem bonita. Os dois passeavam pelo mercado e por jardins. Muitos olhavam para os dois de forma meio curiosa e outros certa repugnância. E admiração, mas estes eram de alguns homens para a garota. Galkün não podia negar que Elva era bonita, ela tinha uma beleza diferente. Talvez fosse sua marca brilhante na testa.

–Gostaria de comer alguma coisa? Talvez um piquenique noturno? O comércio noturno é diferente do diurno, tem algumas coisas aqui que vai adorar provar.

–Ficaria honrado.

Então logo os dois estavam comendo várias coisas diferentes em um parque que havia na cidade.

–Isso é muito bom, que bebida é? – ele perguntou.

–Hidromel. Bebida que os anões trazem para serem vendidas. Os dragões gostam bastante. Seraphine provavelmente gostaria bastante.

–Vou levar um pouco para ela.

–Eles têm medo de mim, sabe... – ela disse deixando a comida de lado. – Não gostam de chegar perto de mim por medo de que eu revele seus medos ou use isso contra eles.

–Como? – o elfo perguntou confuso.

–É a minha habilidade. Quando eu era um bebê, quando os Varden ainda se escondiam nas montanhas minha babá pediu á Eragon que me protegesse. Ele recitou um encantamento na língua antiga, porém ao invés de dizer “que eu estivesse protegida do infortuno” disse “que eu seja um escudo do infortuno” então eu basicamente posso ver todos os medos e os problemas das pessoas. Saphira tocou minha testa e esta marca apareceu. Antes eu tinha o impulso de ajudar cada um na minha frente, mas Eragon retirou isso.

–Você sabe dos meus medos? – ele perguntou ligeiramente impressionado e receoso.

–Sei. Eu posso ver de todos, é isso que faz todos me temerem.

–Ah... – ele não sabia bem o que pensar.

–Não falarei para ninguém, não se preocupe, nem usarei isso contra você.

Ela parecia mesmo cansada. Talvez não fosse fácil viver perto de pessoas que sempre terão medo de você.

–Já pensou em ser Cavaleira?

–Já, mas isso eu não posso.

–Porque não?

–Eragon me teme, não tem medo. Ele é muito mais forte que eu e poderia sim me matar, mas ele teme que eu me volte contra ele, ou tente algo contra Alagaësia. Isso é algo que sempre vai acontecer, todos vão ter medo ou receio de mim. Nunca toquei em nenhum ovo, teria uma grande probabilidade de um deles se romper.

–Sinto muito. – ele murmurou.

Eles voltaram para o castelo. Seraphine estava deitada perto de uma das entradas. Nem Thorn nem Eally estava por perto, devem ter ido namorar, isso se dragões fizessem isso. O dragão negro gostou bastante da bebida.

–É um belo dragão. – Elva deu um sorriso mínimo.

Obrigada. O dragão respondeu feliz.

–Se precisar de algo, qualquer um dos dois, qualquer coisa, me chamem. Sempre estarei por perto, mas se quiserem me visitar, meu quarto é o último do corredor do terceiro andar.

–Obrigado Elva. – o elfo sorriu e a garota se foi.

As semanas seguiram calmas, ou quase. Galkün lutava com Murtagh várias vezes, assim como com Nasuada quando ela tinha tempo. Ele tentava decidir se deveria ir para a Nova Ordem dos Cavaleiros, mas aos poucos ia se apegando a Murtagh como se fosse seu irmão. Isso preocupava-o, mas o outro Cavaleiro parecia não se importar com essa aproximação. E também tinha Elva. O elfo não sabia bem o que sentir em relação á garota, só que se importava bastante, e talvez o entendesse. Houve um dia em que a garota chegou sorridente para ele.

–Nasuada, depois de conviver bastante comigo, acabou por achar um modo de não me deixar ver seus medos sabe... de um modo que é sutil e ela nem precisa fazer força para se esconder de mim. Mas ontem... eu pude ver em rápidos segundos.

–Hmm... – o elfo não entendia bem.

–Venha! – ela o pegou pela mão e os dois começaram a correr pelos jardins do castelo.

Ela o puxou para trás de um arbusto. Eles espionaram – ele não sabia se tinha outro nome para isso – a Rainha em um pequeno lago. Ela estava com Murtagh, e aquilo parecia um momento bem íntimo para Galkün, ele até ficou meio envergonhado por ver aquilo, principalmente quando os dois começaram a se beijar.

–Acho que não devíamos estar vendo isso. – ele falou baixo.

Elva riu. O elfo nunca a vira rindo. Talvez Elva nunca risse, mas ela ficava tão linda rindo...

–Sabe o quão difícil é a vida amorosa da Rainha? Muitos não sabem mas ela sempre amou muito Murtagh. Mas ele foi embora e a deixou sozinha... então ela tentou seguir em frente, procurar pretendentes, e olha que não faltaram, mas...

–Ela não o esqueceu?

–Não, e não ajudou ela ter virado Cavaleira. Acho que nenhum homem comum quer envelhecer e ver sua esposa continuar jovem, não é? Murtagh daria um bom Rei, em minha opinião... mas isso vai depender dele. É disso que ela tem medo, de que ele vá embora e não volte.

–Mas ele vai voltar... não vai?

–Disso eu não sei. Talvez o povo não goste dele, sabe, pelo que ele fez no passado, e ele teme muito isso, pode trazer problemas á Nasuada. Mas eu torço pelos dois. – ela sorriu.

Galkün pensou na felicidade dos dois, e quis ir sozinho para a Ordem, assim Murtagh poderia ficar, mas Glaedr não gostou exatamente da ideia, afinal, Galkün estaria se forçando a fazer isso pelo bem dos outros. Um dia ele meio que surtou e foi falar com Elva.

–Como eu vou poder confiar no cara que matou meu pai, minha irmã e fez isso contigo?! Me diga!

Ela o encarou calmamente.

–Eragon fez o que ninguém teve coragem de fazer. Ele restaurou o que seu pai destruiu, ele nos salvou de Galbatorix e restaurou os Cavaleiros. Ele é um herói.

Como sempre Elva sabia o que dizer. Ele suspirou derrotado.

–Sua irmã foi uma heroína. Ela sabe que tu terás uma chance de vida melhor do que ter que vingar sua família toda. Ela acreditou em você. Honre-a.

Mas ele já estava convencido.