Fúria dos Deuses

Mesmo o Diabo tem sua versão da história


Desviei do golpe, sem a mínima dificuldade, tentado logo depois atacar pela esquerda. Ele bloqueou meu ataque e tentou me desarmar, porém não conseguiu. Ele sorriu, subindo o olhar para meu rosto, enquanto nossas espadas estavam cruzadas.

- Parece que andou treinando. - Ele começou a fazer movimentos mais rápidos, mais intensos. Eu desviava, girava, atacava, defendia. Não exatamente nessa ordem.

- É. Preciso me preparar já que existem idiota que querem acabar com o mundo. - Falei, com um toque de sarcasmo, enquanto atacava.

- Ninguém que acabar com o mundo, Sabidinha. Queremos reconstruí-lo. Um lugar melhor, sem fome, miséria. Sem os Olimpianos e seus erros incontestáveis. - Chuck disse em um tom convincente, mas me foquei na batalha. Lembrei de todos os movimentos que podia. Reuni toda a minha força. - Por que lutar tanto? Você sabe que não pode me vencer. - É, talvez eu soubesse. Talvez aquela voz gritando no meu sub consciente não fosse pessimista, fosse apenas realista. Mas eu não cairia de joelhos e curvaria meu pescoço para que ele o cortasse.

- Pode se surpreender. - Girei o corpo e o golpeei com a minha espada. Ele se defendeu, mas eu fiz algo que nunca imaginei que conseguiria. Eu o desarmei. Tentei o derrubar, mas não consegui. A arma deslizava para longe. Ele não conseguiria pegar a espada sem me dar as costas. E eu o mataria.

- É, você realmente andou treinando. - Ele parou, sorrindo torto. Parado na minha frente, completamente indefeso. Estendi a arma, pronta para cortar sua garganta, mas aparentemente eu não era a única que havia aprendido alguns truques. Ele estendeu a mão e agarrou a minha espada, pela lâmina. Sua face se contorceu em dor, mas ele a agarrou, não permitindo que eu fizesse nenhum movimento. Uma gota de sangue pingou no chão. Eu o olhei, um tanto pasma. O sorriso de Chuck se abriu, e eu olhei para Anaklusmos. Algo diferente nela. Um pequeno raio amarelo a girava, e eu fiquei imóvel. Ele era tão rápido que, antes que eu notasse, estava no cabo, atingindo minha mão. No inicio, não senti nada. Mas minhas mãos começaram a formigar e meu coração acelerou. Uma dor intensa dominou meus músculos. Era como se eu estivesse queimando. Ordenei minha pernas a pararem de tremer. Mas logo a espada havia caido das minhas mãos trêmulas e fracas. Eu senti uma descarga elétrica mais forte e gritei. Caí no chão.

- Você... é um... - Gritei, a dor me consumindo de novo. - Fraco! - Respirei com dificuldade, lutando para manter os olhos abertos. Ele não revidou minha acusação. Estendeu a mão, com o sangue escorrendo, na minha direção. Vários raios me cercaram, como uma... cela. Aos poucos, os raios começaram a flutuar e o chão desapareceu debaixo de mim. Era como uma cela eletrocutada. Ele começou a andar, e minhas prisão o seguiu. Ele andava devagar despreocupado. Algumas ondas de dor ainda percorriam meu corpo, e eu me limitava a grunir baixo quando isso acontecia.

- Então, como vai o acampamento? - O descarado teve a coragem de perguntar. Eu não respondi. Outra sensação ruim a percorreu, mais forte. - Ah, o choque ainda. - Ele suspirou. - Deve passar daqui alguns minutos, e continuará bem se for uma boa garota. - Não resisti. Bufei e revirei os olhos. Ele olhou para cima, com o cenho franzido. - Voto de silêncio? - Não respondi. - Sabe que não vai durar muito tempo.

- Não é um voto de silêncio. - Falei entredentes. - Não sou obrigada a falar com um traidor.

- Traidor? Contra o Olimpo? Não seja imbecil, Waldorf. Tenho meus motivos para isso. - Ele rugiu, controlado, como se quisesse apenas que as palavras saissem indiferentes, sem sucesso.

- Que motivo seria bom o suficiente para dar as costas para o próprio pai? - Ele abaixou os olhos. Vi suas mãos se fecharem com mais força em torno do cabo da espada.

- Há quatro anos atrás, eu morava em Los Angeles, com minha mãe e meu irmão, Jordan. Nós eramos gêmeos, mas no tínhamos um genio parecido. Sempre fui mais largado, irresponsável. - Ele sorriu. - Já Jordan era o exemplo da familia. Mesmo assim, nos davamos bem. Eu o admirava. Ele era um bom garoto, um bom irmão. Mas aos treze ano, as coisas começaram a mudar. - Ele suspirou. - Fomos reclamados, mas eu não sabia o que aquela águia que apareceu na minha cabeça e do meu irmão no meio da aula de geometria significava. Minha mãe nunca foi muito presente, e demorei para descobrir Grover, meu sátiro. Mesmo sendo o mais experiente, ele teve dificuldades no nosso transporte: sempre há mais monstros que o normal atrás de um filho dos Três Grandes, dois juntos então... - Eu o observava, atenta e curiosa. Seus olhos eram tristes e caidos. Ele encarava o chão, como se as lembranças dolorosas invadissem sua mente e ele quisesse que elas recuassem. - Estavam quase em Nova York, quando Grover finalmente explicou toda a história. Eu fiquei mais animado do que deveria, e Jordan se indignou. "Ele demorou 13 anos para vir nos procurar?", eu lembro que ele gritava indignado. "Qual é cara, nosso pai é um deus!" eu tentava o animar, mas ele parecia não querer ouvir. Ele me olhou com raiva "E desde quando isso é bom?". Quando chegamos em Nova York, era de madrugada. As coisas se complicaram. Monstros estavam na frente do Empire State, aos montes. Eles tentavam invadir o prédio, mas desistiram quando nos viram. Eu não sabia o que estava acontecendo. Era novo, estava confuso, com a adrenalina a flor da pele. Mas Jordan pareceu raciocinar mais rápido que eu. Ele roubou a espada de Grover e correu até a porta. "Temos que entrar no prédio e avisar Zeus, isso é um ataque". As palavras de Jordan faziam sentido, mas eu não sabia se valeria a pena quando alguns dos monstros, como dracaenaes e ciplopes, começaram a pular em cima dele. Ele se virou bem, mas era apenas um semideus novato que mal sabia pegar uma espada, quanto mais usá-la. Comecei a entrar em pânico. Eu pensei em várias maneiras de ajudar, Grover estava tocando algo que deixava os monstros confusos. Nosso única chance era entrar no Olimpo. Aquilo era óbvio, até para mim. Então eu olhei para cima, fechei os olhos e me concentrei. Pedi ajuda a Zeus, rezei da maneira mais convincente e sincera que pude. Olhei para as portas, ainda fechadas. Olhei para o céu, aberto, as estrelas brilhando. Nada aconteceu, Blair. E eu olhava para meu irmão, desesperado, tentando lutar. Ele sangrava enquanto as dracaenaes riam. Elas o mataram. Eu tive que ver os olhos dele sendo arrancados e os pulsos cortados. Ele sofreu tanto... - Chuck engoliu seco. - E Zeus, meu próprio pai, não fez nada. Não moveu um dedo. Deixou o filho ser morto. Eu tive sorte: Estava cego de fúria, e para um filho de Zeus é a melhor coisa para uma batalha. Lutei tanto, mas não lembro dos detalhes. Só lembro de manter os olhos fixos no corpo ensanguentado do meu meu irmão. - Fechei os olhos, sem saber o que dizer. Era algo doloroso, e pro um minuto pensei o que eu teria feito. Seria fácil me revoltar sabendo que meu irmão morreu por causa de alguém. Maneei a cabeça.

- Eu sinto muito. - Falei, em um tom tão baixo que jurava que ele não podia escutar.

- Mas meu pai não sente. Ainda. - Fui solta no chão, ainda atrás das grades. Olhei para os lados, sem acreditar. Vários espíritos andavam de um lado a outro, observando mapas, consertando armas, sorrindo. Reconheci alguém: Napoleão, e seu chapéu escandaloso. Meus coração começou a palpitar e meus olhos se arregalaram. - Bem vinda ao centro de operação de Cronos no Mundo Inferior. Realmente acha que o Olimpo tem chances? - Chuck disse com um sorriso sarcástico.