Niko caminhou em direção á uma das mesas do jardim, a garrafa de Whisky ainda em mãos, se sentou.

“Porque você está assim” A pergunta de sua mãe ainda ecoava em sua cabeça.

Ele sabia exatamente quando havia se tornado a pessoa que era agora, mas pensar sobre os motivos ainda era uma coisa dolorosa até para se pensar.

Niko começou a tomar doses generosas virando a garrafa várias e várias vezes, ele sentia o liquido queimar sua garganta, mas ele não se importava, esse desconforto, essa dor nem se comparava ...

— Não, agora não... – Sua mão apertava cada vez mais forte a garrafa.

Após algum tempo bebendo Niko já estava um tanto quanto desnorteado, ele não era dos mais fortes quando se tratava de engerir álcool, mas ele havia se tornado uma válvula de escape. Se há alguns anos atrás alguém lhe dissesse que ele usaria o álcool como forma de esquecer suas dores ele não acreditaria. Mas ali estava ele sentado á uma mesa tendo como companhia apenas uma garrafa de Whisky pela metade.

Niko costumava ser uma pessoa mais agradável, sempre disposto a ajudar qualquer um que pedisse. Ele confiava tão rápido nas pessoas que chegava até mesmo á pensar que seus olhos só conseguiam enxergar o lado bom das delas. E esse era o seu problema, confiar demais, sua ingenuidade e bondade dava a plena liberdade para os outros o fazerem sofrer.

Mas isso mudou desde o dia em que seu coração foi quebrado de uma forma tão irreversível que quando Niko se recuperou já não era mais o mesmo, ele mudou o seu jeito de ser e prometeu que nunca mais confiaria, nunca mais se importaria, ele criou um muro em seu coração bloqueando cada sentimento que poderia ter relacionado ao amor.

O álcool, as festas noturnas, a libertinagem que se permitiu viver e os relacionamentos que não duravam mais que uma noite faziam parte desse novo Niko que ele tinha criado. Relacionamentos sem amor e apego era os únicos que ele se permitia ter.

Niko ouviu passos se aproximando, estava pronto para ouvir as reprovações de seus pais ou de qualquer membro da família que achasse que tinha o direito de tirar satisfações com ele. Niko se debruçou sobre a mesa escondendo seu rosto entre os braços, com sorte quem quer que fosse pensaria que ele estava dormindo após beber muito e iria embora.

Mas nenhuma voz veio, após alguns segundos tudo que o loiro ouviu foi um estalo sobre a mesa. Niko levantou o olhar e se deparou com um copo na outra ponta mesa e na cadeira o rapaz que havia visto mais cedo no jardim.

— Se importa? - Perguntou Félix apontando para a garrafa.

— Me importo.

Félix sorriu, pois não sabia dizer se Niko já estava bêbado o suficiente para dizer tal coisa ou se aquele era mesmo o seu jeito de ser.

— Você aqui curtindo um belo céu estrelado, tomando um dos Whiskys mais caros enquanto todos lá dentro ainda estão tentando processar tudo o que você fez.

— É um dom, tento aproveitar a vida o maximo que posso.

— Vem cá, criatura... - Félix pegou a garrafa para se servir, ignorando totalmente a recusa que o rapaz havia feito sobre compartilhar sua bebida. - você fez aquele show todo pra quê? Só pra irritar seus pais?... Olha se esse era o seu objetivo, você conseguiu com êxito.

— ó criatura... - Disse o loiro imitando o jeito dele de falar. - em primeiro lugar...

Niko pegou a garrafa de volta das mãos dele.

— Eu não lhe devo satisfações do que eu faço ou deixo de fazer.

— Genioso... - Félix deu um sorriso de pura frustração, porque era tão difícil ter uma conversa civilizada com aquele rapaz?

Quando o viu de longe, sozinho, sentado naquela mesa, ele parecia tão triste e indefeso, mas foi só se aproximar que percebeu que mesmo assim Niko não era do tipo de pessoa que deixava suas defesas caírem. Félix não entendia muito bem o porquê de sua curiosidade ser tão forte quando se tratava do dono dos olhos verdes, mas de certa forma talvez fosse porque Niko não se deixava irritar com facilidade mesmo quando Félix soltava uma de suas piadas de mal gosto, pelo contrario ele rebatia os comentários ácidos de Félix com outros mais sarcásticos e irônicos. O jeito dele o deixava maluco, o irritava profundamente, mas ao mesmo tempo seu interesse por desvendá-lo crescia cada vez mais. Era empolgante.

Niko não falava como se sentia sobre tudo o que tinha acontecido, então o moreno apenas tentava adivinhar.

— Você odeia sua irmã é isso? Quis estragar a festa dela por pura diversão hein? Confessa. Por isso você fez aquele show todo de tirar a roupa...

— Show esse que você não tirava os olhos.

— Até parece que era só eu que estava olhando... - Felix se recostou na cadeira. - Me parece que você estava bem disposto a prender a atenção de todos só pra você.

— Se você diz.

Niko sorriu e ofereceu a garrafa para Félix que prontamente aceitou.

— O que você pretendia com isso??

— Pra um cara que não é bisbilhoteiro você até que é bem interessado nos assuntos que diz respeito á outros.

— Se não quiser responder tudo bem, mas quando eu sai lá de dentro eles estavam procurando por sua irmã, parece que ela sumiu... A coitada deve ta chorando em algum canto por aí.

— Se tem uma coisa que minha irmãzinha não está fazendo agora essa coisa é chorar... bom talvez de felicidade. Ela deve estar linda e sorridente com o amor da vida dela.

— Hã? Mas o noivo dela estava procurando por ela também. – Afirmou Félix.

— Não tô falando desse sujeito, minha irmã destesta ele, estou falando do Lucas. O rapaz que ela realmente ama, ela fugiu com ele. - Felix o olhou surpreso. - O que? Você acha mesmo que eu armei aquele circo todo só pra irritar meus pais. Você é tão ingênuo Khoury.

— Eu?? Ingênuo?... Por favor, não me ofenda dessa maneira. Bom, não me culpe por pensar que você fosse do tipo rebelde sem causa.

— Pensou errado. - Afirmou.

— Então você fez tudo por causa do amor que sua irmã sente por esse tal de Lucas? - A curiosidade de Félix simplesmente não acabavam, nem suas perguntas.

— Apesar de achar que esse tipo de amor é só uma doce ilusão e que só serve pra fazer as pessoas sofrerem, sim eu fiz.

— Você não acredita no amor?

— Eu não acredito que ele dure... - Afirmou com o olhar distante.

Os dois permaneceram em silêncio por alguns segundos até Félix quebrar o gelo.

— Você é tão estranho. - Félix definitivamente não conseguia entendê-lo.

Niko não pode conter o riso, aquilo poderia ser mais uma provocação dele, mas não era. Félix realmente falou com toda a sinceridade.

— Já me falaram que eu sou muitas coisas, que eu sou louco, desorientado, mimado, sem noção, ovelha negra da família, mas... Estranho, foi à primeira vez.

— Você é estranho e de certa forma um mistério, não consigo desvendar o que se passa debaixo desses cachinhos loiros... E isso me irrita... Mas eu confesso que gosto de tentar descobrir.

Niko o encarava com aqueles olhos verdes hipnotizantes, ficou assim por um bom tempo até que isso começou incomodar Felix, que se ajeitou desconfortavelmente na cadeira.

— O que foi criatura? Ta me olhando assim por quê?

— Me leva pra longe daqui Khoury.

— Oi??

— Me tira daqui, eu não quero passar a noite toda ouvindo meus pais dizendo que eu sou uma decepção, não quero ver eles se perguntando o que fizeram de errado pra merecer um filho como eu.

— E pra onde você quer ir Nicolas? - Perguntou.

— Niko... Pode me chamar de Niko.

— Então Niko... - Félix se debruçou sobre a mesa. - Pra onde você quer ir?

O loiro também se apoiou na mesa, chegando mais perto, o que fez a distancia que havia entre ambos diminuir drasticamente.

— Só me leva pra qualquer lugar longe daqui.

Félix sorriu.

— Acho que esse Whisky afetou sua cabeça, você tá pedindo pra um cara que você nem conhece direito pra te levar pra qualquer lugar?

— Você me parece ser confiável.

— Confiável?

— Bom, se por um acaso eu estiver errado, só digo uma coisa... eu sei artes marciais. - Afirmou sorrindo.

— Você é uma pessoa adorável sabia...

— Estranho e adorável... Você não é muito bom em dar adjetivos para as pessoas. E então? Não vai me responder?

— Sim, eu te levo... Tem certeza que não quer escolher o lugar?

— Confio no seu bom gosto... Pra onde você for... eu vou.