Ao contar para Félix como Gustavo perdeu a vida para protegê-lo, Niko se calou por um longo tempo, seu olhar perdido entre as águas, como se buscasse nelas forças para continuar contando o que aconteceu após saber da morte do melhor amigo. Já haviam se passado quatro anos desde a morte dele, mas Niko ainda conhecia muito bem cada sentimento que sentiu em seu coração no dia em que Edgar entrou naquele quarto e lhe contou que Gustavo, ao contrario dele, não havia resistido quando chegou ao hospital.

Ali sentado do lado dele, Félix acompanhava seu silêncio, pois não conseguia falar algo sensato naquele momento. O que podia dizer naquele momento já havia sido dito, o “Eu sinto muito Niko” era a única frase reconfortante que ele poderia encontrar nos segundos que se transcorreram. Apesar da vontade enorme de tomá-lo em seus braços para um abraço protetor, Félix se conteve, pois o loiro apesar de chegar a um momento trágico de sua historia não havia baixado a guarda nenhuma vez sequer.

Niko desde o inicio até o momento em que estavam não havia derramado nenhuma única lagrima, nem mesmo quando contou sobre a morte de Gustavo. Ele estava sendo forte e Félix via o quanto ele se esforçava para continuar assim até o fim. Por isso evitou abraçá-lo, sabia que se o fizesse ele ia desmoronar em lagrimas das quais estava lutando fielmente para conte-las.

– Você o amava? – Félix perguntou por fim, quebrando o silêncio entre eles.

– Amava... – Ele respondeu após um breve sorriso. Niko agora olhava para sua própria mão que desenhava algo qualquer na areia. Depois de um longo suspiro cansado ele continuou. - Mas não do jeito que ele merecia ser amado. – Completou.

Niko viu uma sombra de confusão naqueles olhos negros que tanto adorava, então explicou mais claramente.

– Ele gostava de mim, eu via isso... eu sentia, mas eu tinha medo... e ele sabia disso e me compreendia. Ele me ajudou de todas as formas que poderia ter ajudado, me fazia sorrir quando eu tinha apenas motivos para chorar. Se eu usasse toda a minha vida para agradecê-lo ainda sim seria pouco... – Sua voz falhou, respirou fundo antes de continuar. - ele deu tudo de si para mim Félix... e eu dei tão pouco em troca. E quando eu pensei que o Gustavo já tinha me dado tudo que poderia me dar... ele deu a própria vida. Ele morreu por minha causa.

– Antes de começar a me contar sobre o seu passado você me disse que não conseguia se perdoar por algo, se for por isso... Niko você está sendo duro demais consigo mesmo.

– Ele morreu por minha culpa... - Niko depois de muito tempo desabafou o que realmente sentia.

Félix se moveu para ficar de frente para ele, Niko mantinha a cabeça baixa.

– Ei olha para mim... – Pediu, mas seu pedido não foi atendido, Niko virou o rosto para o outro lado evitando olhar nos olhos do moreno a sua frente.

– Foi minha culpa. – Repetiu com a voz baixa e tremula, aquele assunto ainda lhe doía muito e por esse motivo nunca havia contado sobre Gustavo á ninguém.

– Não foi por sua culpa, hey... – Félix colocou a mão em seu rosto e o puxou gentilmente para que ele olhasse em seus olhos – Não foi sua culpa.

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Logo depois de saber da morte do amigo, Niko ficou calado e inerte, o único movimento que havia nele eram os de suas lagrimas escorrendo por seu rosto. Edgar ficou preocupado com a reação dele, pois Niko não respondia a seu chamado, apenas chorava com o olhar perdido.

Quando viu o estado de choque em que ele se encontrava Edgar se arrependeu profundamente de ter lhe contado naquele momento, mas já era tarde demais, as palavras já haviam escapado de sua boca. E como poderia conte-las? Edgar não estava em seu melhor estado emocional.

Edgar chamou a enfermeira para ver se o amigo estava bem e foi aí que tudo piorou, a aparente calma e o sofrimento contido foram trocados por soluços altos e o nome de Gustavo era chamado insistentemente por ele, às coisas pioraram ainda mais quando Niko descobriu que ficará desacordado por três dias seguidos e que Gustavo já havia sido enterrado.

Aquilo não poderia está acontecendo, aquilo não poderia ter acontecido com Gustavo, não poderia ter acontecido justamente com ele. Era o pensamento que martelava na cabeça de cachos loiros.

Niko não obedecia à enfermeira quando ela pedia para ficar calmo e não se mexer muito, pois não estava totalmente recuperado para fazer o esforço de tentar se mover, muito menos se levantar sozinho. Por fim ele só se acalmou quando foi sedado.

Ao acordar Niko exigiu ver Edgar novamente e para evitar que ele ficasse alterado como antes o médico resolveu atender á seu pedido.

Edgar entrou e os olhos verdes e desolados se fixaram rapidamente nele.

– Eu ainda acho que você devia ter se recuperado um pouco mais antes de dar seu depoimento aos policiais. – Edgar disse ao entrar no quarto logo após o policial que pegou o depoimento de Niko sair.

– Quanto mais rápido eu der meu depoimento mais rápido aqueles... – Sua garganta travou ao lembrar-se de Alexandre, o pivô de tudo. – espero que apodreçam na cadeia. – Sua voz exalava dor e raiva.

Edgar sorriu tristemente.

– O que foi? – Perguntou Niko ao ver a expressão dele.

– Me desculpa Niko, mas eu não acredito que eles vão ficar por muito tempo atrás das grades.

– Como assim? Eles mataram o Gus.

Edgar pegou uma cadeira e se sentou ao lado da cama, ele estava esgotado e isso era tão visível. Depois de três longos dias esperando que Niko acordasse bem e um pouco mais recuperado, Edgar ainda estava muito abalado com a morte do outro amigo e a dor que sentiu em organizar o enterro dele, no qual só compareceu ele e dona Joana, sua vizinha, foi o que deixou tudo pior.

Gustavo não tinha nenhum parente que Edgar pudesse ligar para avisar sobre sua morte, seu coração ficou apertado ao pensar em como ele era um rapaz sozinho e o quanto ele com certeza sofreu ao ter a família que teve.

E por falar em família, ainda havia sua própria da qual estava passando por dificuldades.

– Meu amigo... Você acredita mesmo que eles ficaram presos? – Disse Edgar sem esperanças de que os assassinos de Gustavo pagassem por sua morte.

– Eu espero que sim Edgar... eles mataram o Gus e passar o resto da vida miserável deles atrás das grades era o mínimo que eles mereciam.

– Niko... – Edgar passou a mão no rosto tentando espantar o cansaço. - Gustavo era um garoto de classe baixa, não tinha família, o pai acusado e preso por matar a própria mãe... Enquanto eles, bem eles são filhos dos caras que estão entre os mais ricos desse país... eu ficaria surpreso deles ficarem uma semana na cadeia. Eu ouvi dizer que o advogado do Alexandre estava usando a desculpa de que foi em legitima defesa.

– Isso é mentira... me diz como pode ser em legítima defesa o Gus ter apanhado de quatro pessoas?

– Eu sei... mas o Gustavo bateu neles também e eles como não são bobos nem nada usaram isso a favor. Também estão usando a desculpa de que o Gustavo era um cara violento igual o pai dele foi... – Edgar suspirou, provavelmente a morte do amigo ficaria por isso mesmo.

– O Gus não é nem um pouco parecido com o pai. – Falou Niko furioso.

– Eu sei meu amigo... eu sei. O Gustavo está longe de ser igual ao pai... ele morreu sendo um herói, ele te salvou... Bem diferente daquele crápula do pai dele.

Niko pensou no que ele havia dito e aquilo encheu seu coração de um sentimento que sabia que não devia está ali.

– A culpa é minha Edgar... Ele morreu por minha causa. - Niko falou desolado. - Foi minha culpa.

Deitado naquela cama de hospital, ele começou a se martirizar constantemente ao repetir incessantemente que se sentia culpado. Edgar olhou para ele incrédulo, não acreditava no que estava ouvindo, sua cabeça estava latejando com a montanha de coisas que estavam lhe acontecendo. Niko estava se recuperando, sua família estava com problemas, tinha perdido um grande amigo e agora isso, Niko estava se culpando pela morte de Gustavo.

– Não... Não foi sua culpa Niko. – Edgar disse, mas Niko estava tão afundado na própria dor que nada do que o amigo dissesse iria o fazer se sentir melhor.

– Eu ajudei aquele homem, foi eu que mexi com aquele maldito do Alexandre, era eu que estava sendo perseguido... foi por mim que o Gus se meteu no meio deles... – Ao falar o nome dele mais lagrimas despencaram de seus olhos. – ele morreu para me ajudar... a culpa é minha.

– Esse seu pensamento não é coerente Niko. – Falou Edgar.

– Claro que é... - Insistiu Niko.

– Ok então... se é assim que você quer ver as coisas, coloca a culpa em mim... – Edgar disse e Niko olhou para ele, um misto de surpresa e confusão preenchia o verde de seus olhos. Com a voz firme Edgar disse:

– Coloca a culpa em mim... foi eu que levei você para minha casa... Foi eu que ajudei você, eu coloquei você nas nossas vidas.

Niko pensou no que ele acabará de dizer e concluiu.

– Você não tem culpa de ter me ajudado... você fez isso porque é uma pessoa boa... a culpa não é sua.

– Nem sua, você ajudou aquele homem porque é uma pessoa boa. – Edgar falou fazendo-o se calar e perceber que aquele conceito que estava usando para se culpar era falho.

O silencio se instalou naquele quarto deixando cada um com seus pensamentos, Edgar se recostou na cadeira tentando aliviar o cansaço que sentia por todo seu corpo e também o de sua alma.

– Eu queria ter ido ao enterro dele. – Lamentou Niko.

– Se você estivesse acordado no dia, mesmo assim não poderia ir... o médico nunca te daria alta. E você ainda está muito mal era para você ficar em total repouso, está falando comigo de teimoso...

– Como você está Edgar? - Perguntou Niko.

– Preocupado...

– Sua família?

– Sim.

– Eles ligaram de novo?

– Ligaram e dessa vez eu não vou poder adiar a minha ida até eles.

– Você vai embora?

– Eu preciso... - Edgar viu a expressão de tristeza do amigo. - vai ser melhor assim Niko. Pensa comigo... como seria doloroso para nós dois voltar para minha casa e a cada minuto lembrar de como ela era animada com a presença do Gus.

– Você tem razão... você merece rever sua família e tentar amenizar um pouco a dor da perda.

– Antes de ir eu preciso te dar uma coisa.

Edgar retirou do bolso a correntinha que Gustavo pretendia dar para Niko no dia de seu aniversário.

– O que é isso? – Perguntou o loiro.

– Gustavo ia te dar no seu aniversário. - Niko sorriu emocionado.

– Então era esse o presente que ele escondeu de mim naquele dia... – Niko sorriu ao lembrar-se.

– Eu quase não consegui achá-la, a casa dele é uma bagunça.

Os dois sorriram e Niko pegou a correntinha das mãos de Edgar.

– É linda, vou guardar para sempre comigo.

Niko apertou a corrente de prata em sua mão e a levou até o peito. Enquanto a segurava fortemente contra seu peito Edgar falou:

– Niko eu preciso dizer algo importante. – Edgar segurou em sua mão livre. – Antes de entrar aqui eu liguei para sua mãe... Ela ta vindo para cá.

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Anna abriu cuidadosamente a porta do quarto de Niko, não queria acordá-lo caso estivesse dormindo. Após Niko receber alta do hospital, a mãe e ele próprio decidiram não retornar logo para casa, acharam melhor ficarem hospedados em um hotel por um tempo antes de enfrentar o pai de Niko que com certeza não ficaria nada feliz em saber que o loiro voltaria para casa contra sua vontade.

Anna e a mãe dividiam o mesmo quarto e Niko ficou sozinho no outro logo ao lado. O hotel era luxuoso e o quarto onde Niko estava era enorme, bem diferente do que ele já estava acostumado a dormir na casa de Edgar.

Niko estava acordado e para a surpresa da irmã ele já estava de pé.

– Niko... você ainda não pode fazer o esforço de ficar de pé. – Falou em tom reprovador.

– Eu estou bem Anna...

– Não... não está não! Vem senta aqui... – Anna puxou uma cadeira para perto dele e praticamente obrigou-o a sentar-se.

– Você e a mamãe estão me tratando como uma criança.

– De certa forma você parece uma... fica teimando em querer fazer o que ainda não pode.

Niko não deu muita atenção à recriminação dela, continuava olhando insistentemente para o dia lá fora pela janela de seu quarto.

– No que você esta pensando hein?

– Na minha vida...

– O que aconteceu Niko? Você não vai mesmo contar pra mim?

– Não quero falar sobre isso Anna...

– Por quê?

– Porque ainda dói muito, por que dói mais que qualquer um desses hematomas que tenho no corpo.

Anna viu que o irmão apertava em suas mãos um pequeno pedaço de papel.

– O que é isso?

– É um endereço... – Os olhos verdes se iluminaram ao pensar em algo. – Anna você poderia me levar nele?

– Não... nem pensar, você ainda não pode sair. Lembra o que o doutor disse? Você tem que ficar em repouso para se recuperar mais rápido.

– Por favor, maninha! Eu preciso ir nesse lugar antes de voltarmos para casa.

Anna suspirou contrariada, seu olhar passando por todo o quarto até pousar na cadeira de rodas que Niko tinha usado para voltar do hospital.

– Ok... tudo bem! Eu vou nela. – Niko disse. – Faço o que você quiser, mas, por favor, eu preciso mesmo ir aqui.

– Eu não sei Niko...

– Por favor. – Niko esticou a mão lhe entregando o endereço do lugar que queria ser levado.

O coração de Anna amoleceu ao ver onde o irmão queria tanto ir.

– Tudo bem eu te levo... mas mamãe vai me matar quando souber.

– Ela não precisa saber.

Ao entardecer eles entraram no lugar, haviam muitas flores por toda a parte e o cheiro delas era predominante. Anna foi empurrando a cadeira de rodas segundo as ordens de Niko. O loiro usava óculos escuros para se proteger da luz do sol e também para esconder as lagrimas caso não às conseguisse controlar ao chegar onde queria.

– É aqui Anna... Aqui.

Anna parou a cadeira e o deixou de frente de onde ele tinha mandado, depois de ficar em silencio ela finalmente falou:

– Quem é Gustavo? – Perguntou ao ler o nome escrito na lapide que estava em sua frente.

– Um amigo... – Niko se levantou vagarosamente com a ajuda dela e depositou a flor que segurava perto do retrato de Gustavo que ficava em cima de seu tumulo. – Um grande amigo.

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– Pois é dona Joana eu vim aqui para perguntar se a senhora tem noticias do Edgar? – Falou Niko após terminar de tomar o café que ela havia lhe servido.

– Não meu filho, já faz meses que eu não me comunico com ele.

– Eu também... eu to preocupado com ele. Queria saber como ele está...

– Eu não tenho noticias dele tanto quanto você.

– Que pena, a senhora pode me dar o numero do seu telefone? Eu vou deixar o meu com a senhora também caso ele apareça por aqui.

– Tudo bem.

Enquanto ela escrevia o numero em um papel Niko ouviu uma voz conhecida lá fora na rua. Ele foi até a janela ver se o dono dela era mesmo quem estava pensando.

– Eu não to acreditando no que meus olhos estão vendo... é ele. – Niko falou cerrando os punhos.

– Ele quem? – A senhora foi até ele ver o que o loiro estava vendo. – Ah sim, quase todo dia ele passa por aqui, namora com a mulher dessa casa que ele estacionou o carro.

– Eu não acredito que esse desgraçado já está solto...

– E você esperava que ele ficasse na cadeia por muito tempo? Quando se é rico você consegue tudo, ouvi dizer que a culpa da morte do Gustavo caiu tudo nas costas dos outros rapazes que andavam com ele.

– Os outros só faziam o que ele mandava... ele mais do que ninguém merecia ficar um bom tempo preso.- Niko viu Alexandre passando um pano na lateral de seu carro, como se fosse possível deixá-lo mais brilhante do que já estava. - Olha só como ele sorrir e idolatra aquele carro... aposto que ele ama mais o carro do que a própria namorada.

– E é um belo carro...

– Esse é simplesmente um dos mais caros que existe... com certeza recebeu de presente do papaizinho.

– A namorada dele, me disse que ele mesmo comprou esse carro com o dinheiro que economizava desde que era um garoto.

– Dinheiro dado pelo pai aposto.

– Com certeza sim... ele não tem cara de quem trabalha pra conseguir as coisas.

Um sorriso maroto brotou nos labios rasados de Niko quando um ideia louca passou por sua cabeça. Em outros tempos nunca levaria essa ideia adiante, mas agora ele era outro, havia mudado muito.

– Dona Joana a senhora tem uma garrafa de álcool?

– Tenho, porquê?

– A senhora poderia pega-la para mim?

Enquanto ela ia pegar o que Niko havia pedido, o loiro acendeu um cigarro e continuava olhando pela janela observando Alexandre alisando o belo Porsche 918 Spyder vermelho. Alexandre entrou na casa da namorada e Niko sorriu ainda mais, parecia que tudo estava indo conforme ele queria.

– Aqui está.

– Obrigado.

– O que você pretende fazer? – A velha senhora olhou para Niko, que tinha um sorrisinho nos lábios, olhou para o carro na rua e voltou a olhar para ele. – Não... você não pretende...

– Sim eu pretendo... – Niko olhou para o pequeno fogo na ponta de seu cigarro. - E se acidentalmente meu cigarro cair no carro cheio de alcool dele?

– E como explicar o carro cheio de acool?

– Acidentalmente joguei alcool nele também. - Seu sorriso aumentou já se divertindo antecipadamente com o provável desespero de Alexandre ao ver seu carro em chamas.

– E se ele te ver fazendo isso, ele vai te denunciar pra policia Niko.

– Acho que ele vai está muito ocupado com a namorada dele.

Antes de chegar a porta Niko sentiu uma mão segurar seu braço.

– Meu filho... – Dona Joana olhou profundamente em seus olhos. - fazer isso não vai trazer o Gustavo de volta... e nem vai amenizar a dor que você está sentindo.

– Mas com certeza vai ser divertido demais ver o desespero dele ao ver seu belo carrinho pegando fogo... Tocar fogo vai até ser a melhor opção... talvez ele aproveite o fogo para fazer sinal de fumaça para chamar a papaizinho dele.

Apesar de querer muito, Niko não ficou para ver o espetáculo que seria ver Alexandre desesperado pelo carro em chamas.

Niko, antes de pegar o caminho de volta para casa, foi até o lugar que Gustavo havia lhe levado uma vez.

Estava o mesmo silêncio, a mesma calma, as luzes da cidade a sua frente e talvez até as mesmas estrelas acima de sua cabeça. Porém uma coisa faltava ali... a presença daquele que tinha lhe apresentado um lugar tão apaixonante como aquele. Niko se sentou perto da mesma arvore que havia ficado horas e horas conversando com Gustavo, as pontas de cigarros que ele havia fumado naquela noite ainda estava ali jogadas no gramado verde.

– Às vezes eu me pergunto como você consegue... – Niko falou como se o amigo pudesse ouvi-lo. – como você pode ter me dado tanto e se contentado com tão pouco. Meu amigo você é que era bom demais pra mim... era mais do que eu merecia. - Niko fechou os olhos e as lembranças daquela noite que esteve ali com ele veio em sua cabeça.

– Sabe Niko... – Gustavo falou quando deu um tempo para seus dedos se recuperarem das cordas do violão. - Eu quero que você me prometa uma coisa...

– O que? – Niko perguntou sorridente.

– Eu sei que eu sou menos do que você merece e...

– Isso não é verdade Gus. – Niko o interrompeu.

Gustavo sorriu e colocou o violão no chão.

– Me deixe ver, você é um garoto que sonha em ter seu próprio restaurante, está batalhando por isso, você tem um objetivo e eu... bem, eu só sou um cara que gasta o que ganha com bebidas, cigarros e festas...

– Mas é uma ótima pessoa... um ótimo amigo.

Gustavo pegou o maço de cigarros e antes de retirar um Niko pegou o maço de suas mãos.

– Que graça tem ficar soprando essa fumaçinha o dia todo hein? – Niko perguntou sorrindo e sorriu mais ainda quando Gustavo tentou pegar o maço de sua mão e não conseguiu.

– Me dá Niko... não se mexe na carteira de cigarros de um homem. – Disse Gus entrando na brincadeira tentando novamente pegá-los das mãos do loiro.

– Quantos você já fumou hoje? Quatro? Cinco? Dez? – falou Niko esticando a mão para Gustavo não conseguir alcançá-los.

– Me dá isso aqui Niko... não me obrigue a pegar pesado com você.

– Toma cuidado Gus eu sei me defender.

– To morrendo de medo. – Disse sarcasticamente tentando pegar novamente, mas Niko foi mais rápido que ele. - Ahh não vai me dá mocinho?

– Não. - Niko disse o desafiando.

Gustavo se jogou em cima dele fazendo o loiro cair deitado na grama, Niko ainda tentou não deixá-lo pegar, mas na posição em que se encontrava era impossível.

– Hahá consegui... – Gustavo sorria, ele se sentou sobre a cintura do loiro o impedindo de sair dali. – 1 á 0 para Gustavo.

– Ok conseguiu o que queria, agora já pode sair de cima de mim. – Ele dizia tentando sair de baixo dele, mas Gustavo não se moveu apenas acendeu o cigarro que queria acender antes dele ter o impedido.

– Que tentar? – Gustavo ofereceu o cigarro deixando perto da boca do loiro.

– Não... não sei fazer isso. A única coisa que vai acontecer é que eu vou me engasgar com a fumaça.

– É bem fácil... olha. – O moreno mostrou com se fazia e logo em seguida soprou a fumaça em cima de Niko fazendo este torci e se abanar.

– Daqui a pouco eu vou começar a te confundir com uma chaminé.

– Fingi que você é o papai Noel e entra nela.

Após um tempo Niko entendeu o que ele quis dizer com aquilo, o sorriso malicioso nos lábios dele o ajudou a entender o duplo sentido daquela frase.

– Ai Gustavo sai fora... - Niko não conteve o sorriso. - para com isso, sai de cima de mim.

Gustavo se curvou sobre ele o que fez Niko parar simultaneamente de se mexer. O moreno soprou vagarosamente à fumaça de sua boca nos lábios entreabertos dele.

– Acho que você bebeu um pouquinho demais. – Niko sussurrou, o rosto dele estava tão perto do seu, podia sentir o cheiro da bebida misturada com cigarro.

– Isso sempre me acontece.

– O que você quer?

– Apenas um beijo.

– Eu já te beijei... nem devia ter beijado.

– Aquilo não foi um beijo, foi uma tortura.

– Uma tortura?

– Foi um leve encostar de lábios que tortura qualquer cara apaixonado... é tipo pênalti da decisão que bate na trave.

– Eu não to pronto pra um relacionamento.

– É só um beijo, eu prometo.

– Gus você bebeu, não está raciocinando bem... anda levanta. – Niko bateu levemente em suas pernas que estavam uma em cada lado de seu corpo o prendendo.

– Você não vai me beijar mesmo? – Dizia Gustavo colocando as mãos na cintura.

– Não.

Gustavo não deu a mínima para a reposta dele, se curvou novamente e beijou seus lábios, sem nenhum aviso ou pedido de permissão, ansiava por aquilo mais que tudo e já havia controlado essa vontade tempo demais. Aquele primeiro beijo que Niko lhe deu foi uma pequena amostra do paraíso, precisava de mais ou enlouqueceria.

No começo o loiro hesitou, mas em seguida se entregou aquele beijo tão caloroso dado pelo amigo, embora ainda achasse que era errado.

Gustavo saiu de cima dele e se deitou ao seu lado no gramado.

– Esse é o melhor dia da minha vida... – Gustavo falou quase que gritou ao vento aquelas palavras, Niko colocou a mão no próprio rosto o escondendo, não acreditava que aquilo havia acontecido de novo.

– E eu to morrendo de vergonha. – Niko sorriu ainda com as mãos no rosto.

– De que? Por quê?

– Porque você é meu melhor amigo... e isso não devia acontecer.

– Bobagem... eu ainda vou continuar sendo seu amigo, não precisa mudar nada.

– Com certeza muda alguma coisa sim... vamos mudar de assunto.

– Ok, vamos voltar ao assunto em que estávamos... afinal qual era mesmo o assunto que estávamos?

– Você tava querendo me fazer prometer algo.

Niko se sentou e Gustavo continuou ali deitado enquanto falava.

– Ah sim... eu quero que você me prometa que... - Niko o olhou e ficou calado escutando atentamente, o tom de voz dele havia ficado mais sério. - Quando você abrir espaço no seu coração para alguém, quando você amar alguém... quando decidir ficar com um cara ou até mesmo comigo, o que provavelmente não vai acontecer... – O loiro sorriu, ele não conseguia de forma alguma se manter falando serio por muito tempo. - eu quero que você prometa que... nunca... nunca mais vai deixar alguém destruir o seu coração como o Eron destruiu, porque você não merece isso. – Gus olhou intensamente em seus olhos. – Me promete?

Niko abriu os olhos.

– Eu prometo Gus. – Ele disse, o vento frio levando suas palavras para longe... mas elas nunca sairiam de seu coração. Nunca mais deixaria alguém magoá-lo como Eron fez.