Niko entrou no quarto e ficou surpreso ao ver que Félix ainda estava do mesmo jeito de quando o havia deixado para terminar de se arrumar.

– Vamos Félix, eu já terminei de me arrumar há uns quinze minutos atrás e você ainda ta aí?

Niko o apressou, por que mesmo Félix tendo entrado junto com ele no chuveiro e saído ao mesmo tempo, o moreno ainda estava apenas vestido com a calça e não tinha se decidido qual de suas camisas usaria. Félix havia colocado três camisas perfeitamente arrumadas sobre a cama e analisava cada uma delas para ver qual combinaria melhor com a calça que estava usando e também para se ir à praia.

– Eu não sei qual delas usar. – Ele falou olhando para Niko em um pedido mudo para que o loiro o ajudasse a se decidir.

– Usa qualquer uma, são todas lindas. – Disse Niko se jogando na cama, o que fez Félix levar as mãos á cabeça.

– O que foi? – Ele perguntou sorrindo da expressão do outro.

Félix apontou para as camisas que estavam do lado dele na cama.

– E?

– Você quase se jogou em cima delas criatura, era só o que me faltava sair por aí todo amarrotado. – Félix disse enquanto passava a mão em uma das peças que estava um pouco desarrumada pelo balanço que a cama fez quando Niko se jogou nela.

– Nossa... você é pior que as minhas irmãs quando o assunto é escolher uma roupa para sair. – Ele brincou.

Félix percorreu com os olhos a roupa que Niko usava de cima a baixo.

– Pelo menos eu sei escolher uma roupa adequada para ir aos lugares.

– Ta bom! Lá vamos nós de novo, o que tem de errado com a roupa que eu estou usando Félix?

– O que tem de errado? Seria bem mais fácil fazer uma lista do que tem de certo, porque com certeza seria pouca coisa. - Niko semicerrou os olhos e Félix continuava sua analise. - Primeiramente essa roupa não é do tipo que se usa para ir á praia Niko.

– E tem tipo?

– Claro que tem! Por exemplo, você não vai à praia num dia de sol com um casaco para o frio né?

– Mas isso não é um casaco.

– Só que essa camisa é bem parecida com um, não acha? Sem contar que tem esse capuz que deixa tudo mais...

– Mais o que? Hein boneco Ken da moda?

– Mais sem noção... Macky lanche feliz. – Retrucou Félix sorrindo ao ver a expressão dele, sabia que Niko se irritava quando ele mencionava qualquer coisa sobre o que ele comia.

– Isso foi golpe baixo Félix, você é um mandão sabia? Além de querer escolher o que eu visto, ainda quer controlar as coisas que eu como.

– Eu não tenho culpa de você não saber escolher as coisas certas.

– Eu gosto dessa camisa e eu vou sair com ela, ponto final. Ela é tão bonitinha não sei por que não gosta... E eu amo o meu capuz.

Niko para evidenciar o que dizia puxou o capuz para colocar em sua cabeça, Félix balançava a cabeça tentando parecer o mais reprovador possível, mas como sempre acabava sorrindo. O loiro era assim o que se podia fazer? Afinal de contas aquele era o jeito dele e isso era um dos motivos pelo qual o amava. Sim o amava! A duvida de amar ou não Niko era algo que ficou distante.

Amar ele era a coisa que tinha de mais certa em sua vida e não restava duvida alguma disso.

– E você? Quando vai se decidir qual dessas camisas usar? – Félix voltou à atenção para as peças arrumadas na cama.

– É o apocalipse perguntar isso para você, mas... qual dessas você acha mais bonita?

– Essa aqui. – Niko apontou para a camisa branca que estava no meio das outras duas.

– Tem certeza? Não acha melhor essa outra aqui?

– Então ta... usa essa aí.

Niko viu que apesar daquela pequena conversa de qual seria a melhor a se usar, Félix ainda continuava indeciso. Foi então que o loiro teve uma idéia que fez um sorriso travesso brotar em seu rosto, o que não passou despercebido por Félix.

– O que foi hein? Porque ta com esse sorrisinho de quem vai aprontar alguma coisa? – Félix já o conhecia o suficiente para saber o que aquele sorriso significava, era o que ele fazia quando tinha uma idéia em mente.

– Félix você gosta dessas três camisas e elas combinariam perfeitamente com a calça que você ta usando? Não importa qual delas né?

– Sim, por quê? – Perguntou desconfiado.

– Bom porque eu vou facilitar as coisas para você... - Niko que estava bem próximo das camisas, se sentou na cama e com as mãos ele amarrotou duas das três camisas que Félix não conseguia escolher e deixou apenas uma intacta sendo essa à única que ele iria usar por está perfeita.

– Prontinho Félix! Agora você já pode escolher... Bom eu não sei muita coisa sobre moda, mas eu acho que a que ficaria melhor é a branca.

– Isso foi jogo sujo, sabe que eu devia fazer com você... – Félix foi até ele na cama se deitou em cima dele o obrigando a se deitar também. – Eu devia fazer o mesmo como essa roupa que você ta usando.

– Faz, eu não me importo. – Rebateu o desafiando. - Você que sairia perdendo por andar do lado de um cara tão desarrumado como eu.

– Seria o apocalipse. – Félix falou sorrindo, pois Niko tinha razão.

Félix aproveitou a proximidade de seus rostos para beijá-lo, já estava com a mão por dentro da camisa dele quando foram interrompidos pelo toque do celular de Niko que vinha da sala.

– Meu celular ta tocando.

– Jura? De tão alto que o som é eu achei que era um alarme de incêndio! Não tem um toque mais discreto para colocar nele não?

– Se fosse um alarme de incêndio com certeza seria por causa desse fogo que você tem, sai de cima de mim Félix. – Niko o empurrou levemente para que ele saísse de cima dele, fazendo-o cair em cima da única camisa que não estava amarrotada.

Niko saiu do quarto e se direcionou a sala para ver quem estava ligando, mas mesmo longe do quarto pode ouvir Félix reclamando.

– Mas é o apocalipse Niko.

Ainda com um sorriso no rosto o loiro foi até o aparelho que agora apenas vibrava em cima da mesinha da sala.

– Alô. – Sua voz ainda estava sobre o efeito do sorriso, e Anna pode perceber a felicidade do irmão.

– Nossa a que se deve toda essa felicidade? - Perguntou empolgada com a alegria dele.

– Irmãzinha... até que enfim me ligou né.

– Não desconversa maninho.

– Como assim não desconversar? Por acaso eu não posso ficar feliz sem ter um motivo?

– Quem é ele?

Anna perguntou com um sorrisinho no rosto, dessa vez ela foi mais direta, deixando Niko atordoado e sem ter o que dizer. Mais cedo ela havia ligado para a mãe e ela contou sobre o rapaz que tinha encontrado no apartamento do irmão.

No começo Anna achou que era só um daqueles casos passageiros que Niko tinha que não duravam mais de uma noite. Mas quando a mãe contou sobre a conversa que tiveram e que ele já estava com Niko desde sua festa de noivado arruinada, lhe passou pela cabeça que aquele era o relacionamento mais duradouro que o irmão já tivera em anos. Sem contar que ao que sua mãe disse o rapaz estava apaixonado por Niko.

Ela estava feliz, há muito tempo desde a volta dele para casa ela tentava o fazer conseguir encontrar alguém legal que o amasse de verdade, porém todos seus esforços eram em vão porque Niko nunca deixava uma relação ir para algo mais sério.

– Deixa eu adivinhar, Dona Maria? – Não existia outra forma de Anna saber de Félix se não fosse por sua mãe.

– Exato, ela me contou e eu quero detalhes?

– Detalhes de que? Eu posso saber? – Niko falou sem jeito e pode ouvir a risada dela do outro lado.

– Não responda a minha pergunta com outra pergunta Niko, me diz quem é ele?

– Você não o conhece, talvez tenha visto ele na sua festa, só que provavelmente não vai se lembrar. Mas não é nada sério, amanhã inclusive... – ele suspirou antes de completar o que dizia. – ele vai embora e eu nunca mais vou ver ele.

– Eu senti uma pontinha de tristeza na sua voz. – Falou Anna notando a aparente tristeza na voz dele.

– Impressão sua Anna. – Ele tentou disfarçar.

– Eu não sou impressora para ter impressão Niko...

– Olha só ta aprendendo demais comigo... Pode parar ouviu? Só eu posso falar assim.

– Por que ele vai embora? – Anna ao contrario da mãe e de qualquer outra pessoa, sabia lidar com esse novo Niko. Todo assunto que ele não queria falar ou não se sentia confortável para dizer ele a enchia de perguntas para evitar responder as delas. Mas com o tempo ela soube lidar com esse jeito novo dele, o segredo era insistir para obter a resposta que queria. – Estou esperando...

– Porque ele tem que ir, estou convencido de que vai ser melhor assim. Eu posso está sendo um completo idiota, mas... eu vou seguir a razão dessa vez porque o coração sempre deu errado.

– Meu irmão... – Ela ia começar um discurso já conhecido para Niko, ele resolveu interrompe-la.

– Eu não quero falar sobre isso Anna, por favor... – Ele pediu de uma maneira quase que suplicante que ela não pode fazer outra coisa além de atender a seu pedido.

– Tudo bem... só vou dizer uma coisa Niko. Quando se trata de alguém especial o coração sempre é o certo.

– Eu achava que o Eron era especial e você viu no que deu.

– Mas eu não achava, já esse outro rapaz sei lá... eu to gostando dele sem nem conhecê-lo, deve ser um sinal...

– Sim, um sinal de que você ta se intrometendo demais nos meus relacionamentos amorosos.

– Ahh quer dizer que você assume que é um relacionamento amoroso! Tirando as três últimas palavras de amoroso fica apenas amor... então você o ama.

– Chega ta... Parou.

– Tudo bem! Não ta mais aqui quem falou. E porque você não me ligou hein?

– Eu tava ocupado e...

– Ocupado é? Até imagino com o que... ele deve ser muito bom já que não o mandou embora como sempre você faz... – Ela falou com um sorriso malicioso.

– ANNA.

– Ai ta bom, parei.

– Às vezes eu me esqueço que você já não é mais aquela garotinha para quem eu contava historinhas para dormir.

– O tempo passa rápido demais Niko, por isso não é bom desperdiçá-lo, nem se proibir de certas coisas maravilhosas dessa vida. Mas mudando de assunto, eu só liguei mesmo para saber como você ta? – A voz dela mudou, agora era um pouco mais triste e preocupada.

– Eu to ótimo, por quê? – Niko estranhou a preocupação dela, não tinha ideia do que a estava preocupando.

– Eu falei com a mamãe e ela me contou que... que o papai...

– Que o papai me expulsou de novo de casa? – Niko caminhou até a janela e a abriu para sentir a brisa que passava por ali, o céu estava perfeito e o sol estava á poucas horas de sumir no horizonte. – Bom isso já era esperado não é mesmo? Papai já não suportava me vê naquela casa e eu acho que é até melhor assim. Ele lá e eu aqui, com a sua saída as coisas ficariam mais tensas do que já estavam se eu ficasse lá... foi melhor assim.

– Eu sinto muito Niko... se eu soubesse que isso prejudicaria você dessa maneira, eu jamais teria ido embora.- Niko sentiu uma pontada de culpa na voz dela, então tentou confortá-la.

– Para com isso Anna, você está feliz não está? – Ele perguntou categoricamente.

– Niko...

– Você está feliz? – A interrompeu e perguntou novamente.

– Eu to...

– É isso o mais importante, sua felicidade. Foi por sua felicidade que eu fiz tudo aquilo e se você ta feliz, as coisas estão do jeito que eu quero. E eu estou bem... e se eu não estivesse daria um jeito de ficar.

– Ainda bem, eu não me perdoaria se a minha felicidade custasse a sua...

Os dois permaneceram em silêncio, Anna pensou no que havia falado e chegou à conclusão de que se sua felicidade custasse a dele, ele faria o que fez do mesmo jeito sem se importa o que isso lhe causaria. O irmão era assim, sempre pensava nos outros antes de si mesmo e aquele discurso todo de não se importar com ninguém era da boca pra fora.

– Você falou com a mamãe? – Perguntou ela.

– Não, desde o dia em que eu contei para o pai e para mãe que tinha te ajudado a ir embora com o Lucas eu não vi nem falei com eles. A mamãe veio aqui ontem deixar as minhas coisas, mas nem quis falar comigo, simplesmente veio e foi embora.

Niko disse tristemente o que fez o coração dela ficar apertado, por que por mais que ele dissesse que estava bem ela não se sentia menos culpada. Aquela tristeza na voz dele era, de certa forma, culpa dela e isso a deixava mal.

Além do que, estava notando que a voz de seu irmão estava mais calma e serena como nunca tinha escutado em muito tempo. Não sabia se era porque ele estava triste com a mãe ou se aquele rapaz de certa forma mexeu com ele e fez despertar sentimentos há muito tempo adormecidos. Niko sempre falava de um jeito espontâneo, até nos seus piores momentos ele não deixava de brincar e fazer alguma piada aparentemente fingindo não se importar com o próprio sofrimento.

– Nossa isso talvez seja sério mesmo... – Anna deixou escapar o pequeno comentário.

– Pois é! Eu pensei que nossa mãe entenderia, mas nem ela ficou do meu lado...

Anna agradeceu aos céus por ele ter entendido errado o seu comentário, ao falar aquilo ela estava se referindo aos possíveis sentimentos que ele sentia por Félix e não a mãe que não havia falado com ele. Uma das coisas que sua mãe deixou bem clara para ela era que Félix estava apaixonado por Niko, porém não sabia se o filho sentia o mesmo.

– Maninho não fica assim, como eu disse, eu falei com a mamãe e ela não está zangada com você.

– Que bom. – A tristeza ainda estava com ele e ela percebeu.

– Niko... Se você precisar eu vou sempre está aqui para te ouvir.

– Eu sei.

Ela o conhecia e isso lhe possibilitava identificar que sim Niko estava apaixonado, mas como estava negando essa paixão por medo de uma possível decepção, ele nunca admitiria isso.

Niko escutou um barulho vindo do quarto.

– Anna eu tenho que desligar, porque agora eu tenho que sair.

– Tudo bem, mas amanhã me liga viu? – Ela o intimou.

– Ok... Se cuida.

Ele desligou o celular e como Félix não veio, ele foi até o quarto. O moreno estava guardando algo dentro de uma das gavetas do criado-mudo, Niko não conseguiu ver o que era.

– O que você está escondendo aí hein? – Ele perguntou sorrindo e recebeu um sorriso de volta.

– Amanhã você pode vê... vamos.

Félix pegou a chave do carro e antes de sair do quarto deu um beijo suave no loiro o fazendo suspirar pelo gesto de carinho. Niko não conseguia entender porque ficava tão surpreso com coisas tão simples que ele fazia.

Até um simples encostar de lábios o fazia suspirar de uma maneira tão intensa. Depois que Félix saiu, o deixando sozinho no quarto, Niko ficou parado apenas observando a gaveta fechada a sua frente, se perguntando o que ele teria colocado ali dentro.

Sua curiosidade era imensa, então se aproximou da gaveta e pôs a mão em seu puxador pronto para abri-la. Porém parou sua ação após abrir alguns centímetros, pois ouviu a voz de Félix do outro cômodo.

– Deixa de ser curioso Niko. – Félix gritou da sala. – Amanhã criaturinha.

Niko sorriu, estava convivendo com Félix há tão pouco tempo, mas ele já conhecia pequenos detalhes da sua personalidade. Fechou o pouco que tinha aberto da gaveta e foi atrás dele.

Já dentro do carro a caminho da praia Niko ainda insistiu para que Félix lhe contasse o que tinha colocado dentro daquela gaveta, porém ele se negou a falar e disse que ficaria de olho nela para que Niko não a abrisse antes da hora. Por mais que tentasse Niko não conseguia convencer ele a contar, o loiro então abaixou o vidro da janela do carro obrigando Félix a desligar o ar-condicionado e fazer o mesmo.

Niko ficou olhando a paisagem do lado de fora ignorando completamente Félix, que por sua vez, apenas sorria da atitude infantil dele de mostrar que não estava nem um pouco contente de não ter conseguido o que queria.

– Não faz essa carinha. – Félix desviou o olhar por alguns instantes da estrada para olhar para ele que continuava o ignorando. – Vai doer tanto assim esperar até amanhã?

Niko se recostou no banco, mas continuava olhando para fora. Félix esticou uma mão e fez uma leve caricia no pescoço dele, Niko continuava calado.

– Psiu... – Félix o chamou e ele o olhou ainda contrariado, o que fez Félix sorrir. – Não fica assim, amanhã você vai saber o que é. Mas não cria uma expectativa muito grande não por que... – Ele deu uma pausa. – Não é nada de muito extraordinário e desconhecido para você.

– Se não é porque não me deixou ver.

– Porque é para você ver só amanhã...

– Mas amanhã você não vai estar no apartamento. – Niko ressaltou.

– Exatamente. – Félix concluiu.

Eles passaram apenas mais alguns instantes na estrada até chegar aonde queriam, Félix queria parar em qualquer ponto da praia, porém Niko disse que queria que fossem ao mesmo local onde eles estiveram na primeira noite. Quando Félix perguntou por que, ele apenas disse que era uma área mais afastada e calma da praia onde ficavam poucas pessoas e eles teriam mais sossego para conversar.

Ao descerem do carro Niko foi até o mar na frente de Félix como da primeira vez, porém ele não correu com tinha feito antes. Ele estava descalço e com as pernas da calças enroladas quase até o joelho, Félix fez o mesmo deixando os sapatos dentro do carro. Antes mesmo de Félix chegar onde Niko estava o loiro foi para outra direção, Niko seguiu em direção á algumas pedras que ficavam na beira da praia.

Era na verdade uma rocha enorme um pouco mais alta que eles, subir ali seria quase que impossível se não tivesse as pedras menores em torno dela. Niko subiu nas pedras menores como se fossem degraus até chegar ao topo da pedra maior, ele se sentou lá e olhou para Félix que estava á alguns metros de distancia molhando os pés na água.

O sol ainda estava completamente inteiro no céu lançando seus raios de luz pelas águas, Niko estava encantado com aquela visão e aquele momento só foi quebrado quando ouviu a voz de Félix reclamando.

– Eu devo ter feito chapinha nos cabelos de Maria Madalena para ter que subir aí em cima. – Niko olhou para baixo e viu Félix com as mãos na cintura.

– Eu pensei que seria melhor do que sentar na areia e estragar a sua roupa de grife. – Observou Niko com um sorriso travesso. – E por falar nisso você ficou lindo com essa camisa branca.

– Obrigado, eu sei... – Félix começou a subir para se sentar ao lado dele. – Eu sou lindo com qualquer roupa... e principalmente sem elas. – Niko que olhava para ele balançou a cabeça sorrindo.

– Convencido.

Félix finalmente chegou até ele.

Félix continuou reclamando um pouco mais sobre como as águas batiam nas pedras e respigava neles os molhando. Porém Niko nem deu atenção ao que ele dizia, pois estava extasiado com a visão natural á sua frente. Félix também não ficou indiferente ao espetáculo que era ver o sol refletido nas águas, quando se deu conta de como o dia estava lindo ao seu redor as reclamações desapareceram rapidamente.

Depois de alguns minutos e admiração ele desviou sua atenção do sol para observar outra coisa que com certeza estava brilhando tanto quanto ele ou até mais. E não demorou muito para ver o que queria, Niko finalmente o encarou e ele pode ver aqueles olhos mais vivos e brilhantes como nunca, aquele verde dos olhos do loiro o fez suspirar apaixonado.

Félix não conseguiu resistir á vontade de beijá-lo, e assim o fez. O beijo foi calmo, mas podia sentir a energia forte e impactante que ele causava em seu corpo. Após o beijo ele pode ver um singelo sorriso no rosto de Niko antes dele se aconchegar em seus braços. Permaneceram assim por longos minutos apenas curtindo o momento.

– O que você acha de mim Félix? – Aquela pergunta foi tão inesperada que Félix precisou de tempo para formular uma boa reposta.

– No começo, quando eu te conheci eu vi uma pessoa segura de si, mas com o tempo também percebi o quanto você é inseguro. Você parece não querer se importa com os outros ou pelo menos tenta passar essa impressão, mas é perceptível que você se importa até demais e você sabe disso, e para provar o que eu to falando e só pegar como exemplo aquele dia na praça quando você ajudou aquele sem teto. Você se importa tanto e é por isso que antes de ficar com alguém você bebe tanto para não se lembrar da pessoa e assim fica mais fácil de mandá-la embora, você sabe que se não for assim você não teria a coragem para fazer isso ou se sentirá mal por fazer isso. Foi o que aconteceu comigo você não bebeu tanto e quando eu ia me levantar para sair você não deixou...

– Eu tenho outra teoria para isso... – Niko falou se ajeitando para ficar de uma maneira mais confortável no colo dele.

– Que eu sou bom de cama, essa eu já sei... – Félix brincou.

– Bobo... continua antes que isso vire uma outra conversa. – Niko não questionou o que ele dissera, pois havia um fundo de verdade. Félix não lhe dava só prazer, ele lhe dava uma coisa que há muito tempo não recebia de um companheiro: amor. Ele dava amor e nunca exigiu nada em troca, até quando disse que estava apaixonado não exigiu uma reposta. De alguma forma aquilo o encantava.

– É um pouco difícil dizer o que eu acho de você por que... – Félix passeava a mão no braço dele enquanto falava. – geralmente eu tenho a impressão de que você não é totalmente você quando está comigo, não sei... – Ele deu uma pausa longa, e depois de suspiro continuou. – às vezes acho que está faltando algo, seus olhos dizem muita coisa só que eu não consigo saber o que é.

– E os olhos dizem alguma coisa? – Niko perguntou brincando, mas Félix o respondeu sério.

– Dizem que os olhos são o espelho da alma. Muita coisa aconteceu com você Niko e isso fez você mudar.

– Talvez sim... – Concordou Niko se afastando dos braços dele para olhar em seus olhos. – Félix eu... – Ele o olhou de uma maneira que Félix decifrou que ele já estava pronto para lhe contar tudo. - Eu preciso saber em que parte a minha mãe parou para poder continuar. - Félix o olhou surpreso, e isso fez Niko sorrir. – Eu conheço a dona Maria, ela contaria a historia dela e a dos filhos para qualquer estranho que a deixasse falar. Eu puxei para ele nesse quesito e isso não foi nada bom para mim.

– Então desde o começo você sabia da conversa que eu tive com ela?

– Não, quando você me disse que vocês mal se falaram eu acreditei mesmo estranhando. Mas quando Anna ligou hoje para mim e disse que a nossa mãe tinha falado sobre você para ela, eu tive a certeza de que vocês tinham conversado e muito.

– Ela é mulher incrível. – Félix comentou.

– Eu sei, e foi por ela que eu aguentei ficar em casa mesmo com meu pai deixando bem claro que a minha presença era indesejada.

– Ela me contou sobre o Eron e como ele foi covarde de ter te abandonado daquela forma. Me contou também sobre seu pai não ter deixado você voltar para casa mesmo estando com o coração partido e precisando do apoio das pessoas que amava, também me disse que ela não pode impedir porque estava viajando e que quando voltou você já estava longe de casa. Que manteve contato com ela, mas se recusava a voltar por que...

– Eu achava que isso ia destruir o casamento dos meus pais. – Completou Niko com a voz triste e o olhar distante. – Eu sabia que se eu voltasse ia acontecer uma briga feia entre eles dois, o melhor que eu podia fazer era ficar longe, conhecia meu pai e sabia que de jeito nenhum ele me deixaria voltar.

– Ela me contou tudo até onde sabia.

– Então ta faltando a parte de onde eu fiquei por quase um ano e a parte de como eu fui parar em um hospital.

– Sim... – Félix confirmou.

– Eu nunca falei sobre isso com alguém nem mesmo com a minha irmã. O desabafo vai ser grande Félix.

Félix segurou carinhosamente no ombro dele.

– Desabafa por que eu to aqui para te ouvir.