– E depois que ele saiu da casa de vocês, onde ele ficou? – Félix perguntou sem acreditar que o pai de Niko era tão duro e cruel quanto o seu, a mãe de Niko continuou falando enquanto retirava as xícaras da mesa.

– Ninguém sabe, eu já perguntei para as irmãs dele se ele tinha contado alguma coisa sobre isso para elas, mas não. Nem Anna que é a mais chegada nele sabe me dizer. Eu acho que ele nunca falou sobre isso com ninguém... Depois que Marcelo não o aceitou de volta... Meu Nicolas ficou por volta de um ano longe de casa.

– Ele ficou longe de vocês por um ano? – Félix perguntou espantado, nunca passou por sua cabeça que Niko tenha ficado tanto tempo longe da família. Para ele o loiro tinha tido uma discussão feia com o pai e foi expulso, o que era verdade, mas tinha imaginado que a mãe o tinha trazido de volta para casa pouco tempo depois.

– Ele nunca deu noticias nesse tempo que ficou fora de casa?

– De vez em quando ele ligava para casa para falar comigo e com as irmãs, mas nunca dizia onde estava... Ele apenas falava que estava bem e que não era para eu me preocupar. - A senhora retornou ao seu lugar á frente de Félix na mesa. - Agora me diga meu filho, como uma mãe não ia se preocupar na minha situação?

– Deve ter sido difícil para a senhora também.

– Muito... Nicolas é teimoso que nem o pai, na primeira ligação que ele fez quem atendeu foi Anna. E ela sem querer disse que eu e Marcelo tivemos uma discussão feia por causa dele, e que meu marido tinha ameaçado sair de casa se ele voltasse... e também que eu tinha falado que era eu que ia sair se ele não voltasse. No final de tudo quem não quis voltar foi o Nicolas. Imagina só, o coitadinho disse que não queria atrapalhar a vida da gente... disse que era melhor ficar por longe. - Os olhos delas brilhavam com as lágrimas que se formavam, Félix segurou em sua mão.

– Nós tentamos convencer ele á voltar... mas como eu disse ele é igualzinho ao pai... teimoso. Eu só sei que quando eu consegui o trazer de volta para casa ele já estava assim, diferente do Nicolas que tinha ido embora.

– Então ninguém sabe o motivo de tanta mudança?

– Não... ele não fala sobre o tempo que esteve longe da gente, e quando tentamos conversar sobre isso ele dá um jeito de mudar de assunto. Ele apenas voltou assim do jeito que ele ta agora...

– Como à senhora o encontrou?

– Tudo foi tão rápido, que eu até hoje não entendi muitas coisas que aconteceu naquele dia. Tudo começou quando um homem ligou para casa dizendo que o meu Nicolas estava em um hospital internado, ele apenas disse isso, me deu nome e endereço do lugar e desligou... eu fui correndo até lá. Quando Anna e eu chegamos, tudo o que a gente soube é que aquele mesmo homem que nos ligou o deixou lá e foi embora. Quando eu vi o meu filho ali dormindo naquele quarto de hospital me deu um alivio tão grande. Apesar de o médico ter me tido que ele tava todo machucado, com lesões por todo o corpo... Eu estava feliz por ter encontrado ele, por te-lo de volta comigo... apesar da insatisfação do pai eu o levei para casa. Ele já tinha ficado muito tempo longe de nós.

– Pra ter mudado dessa forma ele deve ter sofrido nesse período que ficou longe, com certeza ele não estava bem como falava que estava. – Félix disse com um semblante triste ao pensar nas coisas ruins que teriam acontecido com Niko.

– Com certeza.

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Niko sentiu um leve sopro perto de seu rosto, aquele hálito fresco insistia em querer acordá-lo. Pouco a pouco ele despertava do mundo dos sonhos para ser recepcionado por um lindo sorriso do moreno perfeitamente arrumado deitado ao seu lado.

– Oi, dorminhoco. Olha eu nunca conheci alguém que gosta tanto de dormir como você. – Félix sorria e acariciava os cabelos loiros de Niko.

– Que horas são? – O loiro perguntou se sentando na cama sem muito animo para sair dela.

– São exatamente... – Félix olhou para seu relógio de pulso. – 11:19.

Com a resposta do moreno Niko se jogou na cama junto dos travesseiros e se cobriu totalmente com o cobertor.

– Mas o que é isso criatura? Vamos levanta... - Félix se levantou o chamando.

– Não... ainda é muito cedo.

– Cedo? ta brincando né?

– Pra mim ta cedo... além do mais ta fazendo um frio essa manhã, ótimo pra ficar o dia todo na cama.

– Bem que ela me disse que seria difícil te tirar da cama.

Félix falou em um tom de voz bem baixo para que o loiro não o escutasse, mas Niko escutou parte de suas reclamações e ainda debaixo dos lençóis perguntou.

– Quem disse o que?

– Hã? Nada... esquece. Vamos criaturinha... – Félix procurou os pés dele debaixo das cobertas e puxou tentando tirá-lo da cama.

– To com sono... me deixa mais um pouquinho aqui, não seja mal Félix... Tá com pressa porque?

– Eu quero te levar em um restaurante. Mas antes quero passar no hotel que eu estou hospedado. – Niko descobriu apenas a cabeça para olhá-lo.

– Pra quê?

– Pra buscar as minhas coisas que tem lá, porque eu acho que agora você vai me deixar ficar aqui não é?

– Vou... mas você tem certeza que quer trocar seu lindo quarto de um hotel de luxo por esse?

– Vou trocar... sabe por quê?

– Não, por quê?

– Porque lá não tem uma coisa que tem aqui...

– Ahh... e o que é?

– Lá não tem um loirinho lindo como você...

– Hum eu to valendo tanto assim?

– Tá.

Félix viu que Niko estava se ajeitando novamente na cama para voltar a dormir, então teve uma idéia.

– Um loirinho lindo e... – O moreno puxou as cobertas que cobriam Niko, deixando à mostra as costas do loiro que havia dormido apenas com a calça de seu pijama. Félix se jogou em cima dele. - Muito preguiçoso.

– Ahh sai... para de ficar pulando em cima de mim, eu quero dormir mais... - Protestava Niko.

– Não paro...

– Você é um chato sabia?

– Sou um chato mesmo, mas você me adora demais. - Félix beijava o pescoço dele, que mesmo reclamando gostava dos beijos.

– E ainda por cima é convencido... quem disse que eu te adoro tanto assim?

– Ninguém, eu sei que sim.

Félix saiu de cima dele e se deitou ao seu lado para observar aquele rosto angelical que ainda estava com uma aparência sonolenta.

– Você não vai mesmo levantar dessa cama?

Félix perguntou sorrindo, o loiro apenas balançou a cabeça afirmando que não e voltou a fechar os olhos. Félix aceitou sua derrota, como a mãe dele havia dito Niko era teimoso... quando estava decidido a fazer ou não uma coisa ele conseguia. Ele viu que Niko começará a ficar com frio por está descoberto e sem camisa, ele pegou o edredom e o cobriu. Félix se levantou para deixá-lo dormir sossegado, porém Niko o chamou.

– Félix...

– Oi?

– Fica aqui comigo? – Félix sorriu com o jeito dengoso que Niko o pedirá.

– Claro...

Félix tirou os sapatos e o cinto para ficar mais confortável, se aproximou do loiro e o puxou para junto dele. Niko repousou o rosto em seu peito, se encolhendo em seus braços.

– O que eu me pergunto é... – ele deu uma pausa para pensar se havia alguma resposta para sua pergunta. – como uma pessoa seria capaz de desistir de alguém como você?

– O que? Eu não ouvi. – Félix se deu conta que havia pensado alto demais.

– Não é nada. – Fez um carinho no rosto dele. – eu pensei alto demais.

Félix já havia fechado os olhos quando sentiu uma mão do loiro abrindo os botões de sua camisa. Niko foi abrindo um por um até o último, depois de abrir a camisa dele Niko apenas repousou o rosto novamente só que agora ele sentia a pele macia de Félix contra seu rosto, apertando mais a cintura dele com seu braço.

Félix apenas sorria meigamente ao ver aquela criaturinha daquele jeito, tão desprotegido se agarrando a ele. Em seu intimo Félix desejava ter o conhecido anos antes para poder abraçá-lo desse mesmo jeito em todos os momentos em que ele se sentiu abandonado.

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Depois de muitas tentativas Félix conseguiu tirar Niko da cama dizendo que ainda queria levá-lo para almoçar em um restaurante. Enquanto Niko tomava banho, Félix ficou na sala. Ele se sentou no sofá, ficou ali por um bom tempo pensando nas coisas que a mãe de Niko havia falado.

Félix queria saber o que aconteceu com Niko no tempo que ficou longe de casa, e sabia que só ele poderia contar essa parte da historia... mas faria o que a mãe dele pediu, ia esperar que ele tomasse a iniciativa de lhe contar.

Félix perdeu as esperanças de saber sobre o assunto, se Niko nem mesmo contou para sua própria mãe e para sua irmã Anna seria muito difícil se abrir para ele. Enquanto um turbilhão de coisas passava por sua cabeça Félix viu ali na pequena mesinha a sua frente o caderninho de Niko que ele havia lido em um outro dia.

Da primeira vez que o tinha lido ele não conseguia ligar o caderno ao dono, em um primeiro momento Félix pensou que aquele caderno não pertencia ao loiro por ver que a personalidade de quem escreveu aqueles versos românticos não se encaixava no Niko que ele havia conhecido. Só que depois de tudo que ouviu da mãe dele, uma coisa fazia sentido naqueles versos, eles eram a única coisa que tinham restado daquele Niko doce e ingênuo.

Depois do banho Niko procurou por Félix, e o encontrou na sala lendo seu caderno de poesias.

– Você era bem romântico não é mesmo? – Félix sorriu para ele.

– Me lembre de queimar esse caderno quando a gente voltar. – Disse se sentando no sofá de frente para ele.

– Por quê? Tem cada poema bonitinho aqui.

– Eu escrevi isso em um momento da minha vida que eu quero esquecer.

Niko notou que Félix o olhava de uma maneira diferente. O olhar dele era tão intenso que teve que desvia seus olhos dos dele, foi então que viu uma mala no canto da sala.

– E essa mala? Você foi ao Hotel enquanto eu dormia. - Niko apontou para o objeto, só nesse momento Félix deixou de olhá-lo.

– Não... essa mala é sua.

– Minha?

– É... sua mãe que trouxe.

– Minha mãe? – Disse incrédulo tentando processar o que acabou de ouvir, Félix e sua mãe se encontraram?

– O que ela disse?

– Nada demais, só perguntou por você e como eu disse que ainda estava dormindo ela não deixou eu te acordar.

– Hum, foi só isso mesmo? Ela não falou mais nada?

– Não, bom ela me perguntou se eu era seu namorado. – disse sorrindo.

– E o que você respondeu?

– Que ainda não, que nós estávamos nos acertando.

– E por que você fez isso? Você sabe que não é verdade.

– E o que você queria que eu dissesse? Não Senhora eu sou apenas um ficante do seu filho, eu conheço ele á um dia só.

Félix fez uma piada porque queria esconder do loiro a conversa que teve com ela, assim como ela havia lhe pedido. Niko pegou a almofada que estava ao seu lado e jogou nele.

– É melhor a gente ir, eu to morrendo de fome.

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Depois do almoço Félix decidiu levar Niko ao shopping, enquanto eles caminhavam o loiro comentou.

– Eu gosto mais quando você usa roupas minhas. – Niko fala sorrindo ao olhar as roupas elegantes com que Félix andava pelo shopping.

– Eu prefiro os meus terninhos de grife, do que... - Ele interrompeu a frase ao perceber que o que diria não seria agradável para Niko.

– Do que, o quê?

– E melhor deixar pra lá criatura, você não vai querer saber o que eu acho das suas roupas.

– Eu quero, o que você acha? – Niko parou em sua frente com as mãos na cintura o impedindo de continuar andando.

– Niko você pode até ser de família rica, mas se veste que nem um sem teto.

– Ah você ta querendo dizer que eu não sei me vestir bem?

– Não, não sabe. Você não sabe aproveitar o corpinho lindo que Deus te deu usando roupas que combinam com você.

Apesar de tentar manter uma feição de raiva com o que Félix dizia de suas roupas, Niko não se controlava e sorria.

– Eu quase tive um AVC quando fui ver seu guarda-roupa para pegar uma roupa emprestada.

– Engraçadinho... pra falar a verdade eu nem me importo com o que as pessoas pensam sobre mim, muito menos sobre o que eu visto.

– Eu seu que dizem que o importante é o que somos por dentro, mas não custa nada deixar o que a gente tem por fora divinamente lindo, não é? Quer saber de uma coisa, vamos aproveitar que nós estamos em um shopping. – Niko se surpreendeu quando o moreno pegou em sua mão e o puxou para entrar em uma loja. – Vem que eu vou comprar roupas novas pra você.

Os dois passearam pelo shopping entrando em algumas lojas, sempre que Niko escolhia qualquer coisa Félix dizia que não combinava com ele, que era brega demais ou simplesmente olhava e balançava a cabeça negando. Félix fez Niko experimentar varias roupas e só escolhia as que a seu ver era perfeita para ele, mas isso era muito difícil já que os dois tinham gostos super diferentes.

– Que graça tem as roupas serem pra mim se eu não posso escolher. – Niko dizia olhando para algumas jaquetas que tinha gostado, mas que Félix tinha reprovado.

– Acontece que você não sabe escolher criatura.

– Eu quero escolher uma roupa que eu me sinta confortável, as que você me fez experimentar não tinha nada a ver comigo.

– Porque você não experimenta essas daqui. – Félix estava com algumas camisas e jaquetas que tinha escolhido.

– Parece que você ta escolhendo roupas pra eu ir á um velório, pra que tanta roupa preta Félix? – Dizia sorrindo enquanto entrava no provador.

– Preto é a cor da elegância, melhor do que sair por aí parecendo um arco-íris.

Depois de alguns minutos Niko o chamou de dentro do provador.

– Félix...

– O que foi?

– Eu preciso de uma ajudinha aqui.

– E essa agora. – Félix um pouco constrangido olhou pros lado pra vê se tinha alguém olhando antes de entrar no provador que Niko estava.

– O que foi criatura? – Disse fechando a porta atrás de si, Niko estava rindo.

– O zíper dessa calça ta emperrado, não consigo abrir me ajuda aqui.

– É o apocalipse. – Félix foi até ele e tentou abrir o zíper... – Ta difícil de abrir, o que você fez Niko?

– Eu não fiz nada, nem sempre calça de marca é tão boa assim.

– Já tentou tirar sem abrir?

– Claro que já, não dá.

– Daria se você fosse mais magrinho.

– La vem você de novo falar do meu peso, eu não tenho culpa de você ter escolhido as roupas pelo seu tamanho.

– Se não abrir, eu vou dizer pra vendedora que você gostou tanto da calça que quis sair vestido com ela. – Félix sorria enquanto ainda tentava abrir o zíper.

– Félix.

– Hum?

– Você já transou em algum lugar público?

– Que isso criatura? – Félix arregalou os olhos. – Tá louco, isso ta te deixando animado por acaso?

– Talvez... – Niko colocou os braços ao redor do pescoço dele e o beijou.

– Niko fica quietinho tá... – Félix sussurrou contra sua boca. – assim eu não resisto.

– Não resista.

Niko intensificou mais o beijo, Félix deslizou a mão pelas costas dele por dentro da camisa as deixando avermelhadas com as unhas. Eles caminharam até Félix encostar-se na parede. Niko distribuía beijos pelo pescoço do moreno enquanto abria os botões da camisa dele. O loiro descia com os beijos na medida em que abria os botões, Félix instintivamente jogava a cabeça para trás fechando os olhos.

Niko refez o caminho de seus beijos pelo corpo de Félix até chegar a sua boca onde depositou um beijo ardente o pressionando contra a parede.

– Criatura, me lembre de adicionar isso ao topo da lista de coisas insanas que eu fiz na minha vida.