Fábulas de Sangue
Bigby
Havia algo estranho com aquela fábula. Bigby a conhecia apenas de nome, e era a primeira vez que encarava e conversava com A Cigarra. Mas mesmo assim sentia algo nada natural nos modos dela. Com glamour ela era uma mulher de quarenta e tantos anos, magrinha e de olhos vivos. Vestia um chalé marrom, bem puído, calça jeans vários números acima de sua numeração, e os cabelos num rabo de cavalo frouxo. E continuava a contar aquela história sem pé nem cabeça.
— Isso não faz sentido, Dona Cigarra. — reclamou o xerife lobo baforando seu cigarro pelo escritório escuro, constantemente fendendo a tabaco. — Como viu Cachinhos Dourados se ela está morta?
— Eu a vi, sei que vi.
— E na Fazenda ainda. Cachinhos foi banida da Fazenda e uma magia severa protege todo o território contra sua entrada... se ela estivesse viva. Branca e eu nos encarregamos de ela não estar mais viva.
— Eu vi! Sei que vi! — insistiu a Cigarra.
— Porque não avisar Rosa Vermelha então? Porque vir para cá, gastar dinheiro com glamour, somente para vir relatar isso a Cidade das Fábulas?
O olhar da Cigarra vagueou vacilante pelo rosto dele. “Ali está sua mentira, fábula! Não esperava que a famigerada Cachinhos Dourados não estivesse mais em nosso convívio. Se revele logo a farsa que é!”.
— Não veio da fazenda? Não é? — Bigby rosnou.
O corpo já se preparava para ação. Depois da comercialização das poções ilegais, onde uma fábula podia parecer-se com a outra, ele desconfiava até de seu rosto cansado no espelho. Aquilo diante dele bem poderia ser algum enviado do Adversário tentando mais um de seus truques.
— Precisa acreditar em mim. — a mulher insistiu.
— Conte uma história mais convincente.
— Não há. — disse firmemente, apoiando-se na mesa de modo desafiante.
A batida na porta interrompeu a análise do xerife. Havia algo em Cigarra que o fez pensar, mas o momento passou com a batida. Irritado, mandou quem quer que fosse entrar, e deparou-se com o Garoto Azul e seu topete loiro.
— Bigby, estão te chamando lá no gabinete da prefeitura.
— Ora, estou trabalhando. — respondeu exasperado.
— Estou apenas passando o recado. — o evasivo garoto deu de ombros — Foi a Branca quem requisitou você.
Continuou parado na porta feito um maldito entregador de recados que era, e isso deu oportunidade para Cigarra se levantar.
— Obrigada por nada, Sr. Bigby. — disse a mulher com desdém.
— Ainda não terminamos. — ele soou autoritário. — Espere aqui.
— Tenho outras coisas que fazer.
— Ah, eu sei, cantar, cantar e cantar. — debochou — Escute aqui. Sou o xerife da cidade das fábulas e estou mandando a senhorita sentar sua bunda magrela nessa cadeira e ficar aí até eu voltar.
Ele contornou a mesa, ajeitou a gravata que estava meio frouxa no colarinho e encaminhou-se para porta.
— Está me indiciando, Seu Lobo?
— Se não me obedecer, sim.
Fechou a porta com um estrondo e deu ordens expressas para Garoto Azul.
— E você fica aqui na porta. Não deixa essa fábula sair dali de dentro. Tem algo cheirando muito mal em torno dela e pretendo descobrir o que é.
Fale com o autor