FusionTale

Especial: Encontro de Papyrus


FusionTale - Especial: Encontro de Papyrus

Papyrus encarou-se no espelho mais uma vez. Seus olhos apertados a procurar algum defeito no reflexo que tinha a frente, encarando-o de volta exatamente da mesma maneira.

A roupa estava bem posta no lugar, cachecol perfeitamente enroscado em seu pescoço combinando com os detalhes vermelhos de sua jaqueta branca, destacando-se das demais peças. Será que teria usado perfume de mais ou estava em uma boa quantidade? Talvez deveria jogar o cabelo para trás? Ou seria de mais? Ele deveria escolher uma roupa mais formal? Ou aquela descontraída estava boa?

Com um suspiro desanimado, demasiado atípico de sua personalidade, o enorme rapaz saiu do banheiro. Suas mãos tatearam seus bolsos tentando recordar-se de tudo que estava a carregar e se não havia esquecido nada em sua pressa para se arrumar.

Carteira? Presente.

Dinheiro? Certo.

Celular? Não... Espera... Bolso de trás da calça, certo.

Ele estava pronto, ou pelo menos esperava que estivesse pronto e apresentável. Não que fosse muito difícil, ele era o Grande Papyrus, afinal! Sua simples presença já era o suficiente para ofuscar qualquer outra pessoa no lugar, independente do que usasse! Mas ainda assim... Estávamos falando de um encontro com Mettaton. A grande estrela Mettaton! Como ser apresentável para alguém que poderia ser tão grandioso quanto o próprio Grande Papyrus? Como ele poderia estar preparado para encontrar-se com seu ídolo?

Obviamente já tiveram alguns outros encontros antes, desde que Frisk havia formado seu primeiro encontro oficial ambos tinham se tornado um pouco mais... Íntimos? É, talvez essa fosse a palavra. Amigos em comum ajudavam a se ver mais constantemente também, mas dessa vez parecia ter algum ponto diferente. Papyrus não saberia dizer ao certo o que era, no entanto Mettaton havia afirmado que era algo importante então apenas supôs que deveria estar mais apresentável do que de costume.

O fato era que Papyrus gostava de Mettaton mais do que como um amigo e era normal, nessas condições, querer impressionar e chamar a atenção da dita pessoa. E poderia não aparentar, com suas insinuações comumente egocêntricas, mas Papyrus era um rapaz inseguro para emoções afetivas. Talvez por sua pouca experiência com o assunto, tanto pela ingenuidade quanto pela insistente interferência de seu irmão mais velho quando o assunto era relacionamento. O ponto era que Pap não queria estragar, da maneira que for, a construção de seu relacionamento com Mettaton.

Se seu irmão não fizesse esse favor por ele antes...

Com um respirar profundo Papyrus saiu do banheiro e, por fim, de seu quarto. Ele tentou manter seu nervosismo baixo enquanto descia as escadas, botas mantendo o ritmo entre calmo e apressado, ansioso. Ele conseguiu ver Sans sentado no sofá logo que chegou ao primeiro andar da casa, sapatos jogados a qualquer canto da sala enquanto sua própria posição parecia desconfortável de tão relaxada, sorriso no rosto a assistir um programa qualquer na televisão. Pap duvidava até mesmo que ele estava a prestar qualquer tipo de atenção, dificilmente mantendo os olhos abertos.

— SANS. - chamou, os olhos azuis de seu irmão finalmente indo parar em sua pessoa. Novamente Papyrus notou suas olheiras, o cansaço encoberto pelo enorme sorriso e pose despreocupada. Milagrosamente ele estava em casa depois de seu trabalho, era bem normal que desaparecesse durante as tardes ou noites para fazer sabe se lá o que. Pap havia desistido de perguntar há muito tempo, seu irmão insistia em manter o segredo, não significando que deixou de se preocupar. Com um suspiro o mais alto dos irmãos continuou: - ESTOU SAINDO. NÃO SEI QUE HORAS IREI VOLTAR ENTÃO GOSTARIA QUE LAVASSE SUA ROUPA PELO MENOS DESTA VEZ! E NÃO SE ESQUEÇA DAS SUAS MEIAS!

— Claro, Pap. Mas, por curiosidade, onde vai? Espera, passou perfume?

— EU, O GRANDE PAPYRUS, TENHO UM ENCONTRO COM METTATON NO SHOPPING HOJE. - informou com um enorme sorriso sendo desenhado em seu rosto, um leve rosado tomando suas bochechas. Sans tentou evitar a contração em seu próprio rosto, mantendo o sorriso constante. Pap o encarou sabendo, cenho se franzindo enquanto as mãos paravam no quadril. - E VOCÊ VAI FICAR AQUI, SEM ME SEGUIR, SEM INTERFERIR, QUIETINHO EM CASA FAZENDO SUAS TAREFAS, ENTENDEU?

— Claro como cristal, Bro. Já avisou a Gaster? - Papyrus encarou seu irmão com receio. Ele sabia que Sans era bem capaz de realmente segui-lo, sempre o fazia. Não era fácil esquecer as outras vezes em que Sans interferiu em seus encontros passados, tanto de forma indireta como de forma direta. Muitas vezes terminando com relações que nem ao menos haviam começado.

— PAI FICOU SABENDO ONTEM. SE ESTIVESSE AQUI JÁ PODERIA ESTAR SABENDO. - Papyrus cruzou os braços, rosto de aspecto frustrado e irritado voltado para longe da visão de seu irmão.

Ouch!

E como aquela frase havia doido! Sans podia sentir seus pecados esgueirando-se por suas costas e pesando seus ombros, coração descendo para o estomago enquanto tentava quase inutilmente evitar alguma reação visível de desgosto. Todavia, assim como o esperado, era difícil. Suas mãos apertaram-se contra o estofado do sofá, sorriso ainda mantido no rosto apesar de tudo.

Sans não tinha muitas escolhas, ele sabia disso, sabia que deveria abrir mão de muitos detalhes com sua família. Mas tais detalhes sacrificados sendo esfregados em seu rosto era mais doloroso do que realmente pudesse engolir.

— Desculpe, Bro. Tentarei estar presente da próxima. - Pap encarou seu irmão pelo canto do olho, sentindo-se um pouco culpado por ter acusado de tal maneira precipitada as atitudes de Sans. E se fosse um assunto realmente importante? E se Pap estivesse apenas sendo egoísta por querer seu irmão mais presente em casa? Ele não sabia o que Sans fazia de sua vida longe do trabalho e de casa.

Amargamente, Papyrus reparou, que não sabia muito sobre seu próprio irmão. Se o perguntassem qual era a comida favorita de Sans, sim, Papyrus saberia responder. Entretanto, ele não saberia dizer o que Sans mais gostava de fazer, quais eram seus hobbys e amizades. Não sabia dizer quais eram suas vontades e anseios para o futuro, não saberia nem ao menos falar se Sans tinha algum lugar na cidade o qual gostava de ir. Era como se... Seu irmão fosse um completo estranho. Moravam juntos, mas não conversavam entre eles.

Obviamente eles tinham suas conversas ocasionais, suas discussões costumeiras por conta dos trocadilhos ou preguiça de Sans. Era culpa de Pap por querer mais contato com seu irmão? Mais participação em sua vida? Sans empurrava todos para fora como se... Como se não fosse digno de nenhum deles.

— ISSO NÃO IMPORTA AGORA. - Papyrus suspirou, as mãos recaindo ao lado de seu corpo novamente. - BEM, EU VOU INDO E VOCÊ VAI FICAR AQUI. QUANDO EU VOLTAR QUERO VER SUAS TAREFAS FEITAS!

A porta se fechou minutos depois e quase imediatamente Sans saltou para fora do sofá, jogou-se dentro de uma calça jeans e calçou os sapatos, nem ao menos preocupando-se em amarrá-los enquanto apressava-se para a porta. Quando estava quase saindo gritou para seu pai no andar de cima que não estaria em casa. Segundos depois estava na rua, teletransportando para os lugares mais próximos de seu irmão e ainda assim longe de sua visão.

Nunca que ele deixaria Pap sozinho com aquela estrela escandalosa!

Gaster, ainda em seu escritório no andar de cima, também sendo descrito como seu quarto, apesar de quase nunca utilizar da cama poucos passos de sua mesa, sorriu inconscientemente ao escutar a confusão. Ele sabia que era inútil tentar impedir Sans de ir atrás do irmão, era um instinto que ele havia desenvolvido depois de anos protegendo o pequeno Pap de tudo que o mundo poderia oferecer. Gaster ainda recordava-se da vez em que teve que ir a escola de Pap e Sans por conta de uma briga que os dois haviam se metido.

Gaster havia ficado desesperado na época. Sans tinha apenas um de HP, qualquer golpe poderia levá-lo a morte, mas quando chegou, nem ele nem Papyrus estavam feridos, o mais velho ainda mantinha-se com o rosto emburrado, braços cruzados e bochechas infladas. Pap estava agarrado a ele, chorando como um louco, sem conseguir dizer qualquer palavra conexa durante todo o resto do dia.

Aparentemente alguns garotos haviam insistido em implicar com Papyrus porque ele era muito pequeno e magro na época, Sans havia interferido, levando cada um dos valentões ao hospital. Gaster nunca havia calculado a força da magia exagerada de seu filho até então, nem Sans e nem Papyrus haviam sido atingidos por um golpe se quer durante toda a confusão, mesmo que um ou dois dos garotos tivessem magia também. Sans orquestrou toda a confusão para que Papyrus estivesse seguro, ele mesmo parecia não ter se colocado na conta e foi sorte que havia saído ileso.

Talvez devesse culpar sua esposa por toda essa proteção exagerada que o mais velho de seus filhos dava para o menor. Foi uma promessa que os dois fizeram afinal, Papyrus era muito fraco e inocente quando mais novo para proteger a si mesmo, e mesmo que tivesse crescido para se tornar um rapaz mais forte e preparado para enfrentar o mundo, ainda continuava sendo ingênuo. Todavia Gaster nunca poderia realmente culpar sua falecida esposa, principalmente ao encarar seu retrato como fazia naquele momento.

Ela foi o anjo que lhe deu uma família e apesar de ter partido cedo de mais para aproveitar perfeitamente cada momento com ela, Gaster sabia, ou pelo menos esperava, que ela tivesse sido feliz nos momento que tiveram.

Ele suspirou, deixando o retrato novamente sobre sua mesa. Ele tinha trabalho a terminar e sabia que quando seus garotos voltassem a paz que tinha na casa com toda certeza não duraria. Papyrus sempre conseguia encontrar os esconderijos de seu irmão quando ele o estava seguindo. Dessa vez também não deveria ser diferente.

O shopping estava localizado no centro da cidade, Snowdin era um bairro mais próximo das periferias e distanciado por alguns quilômetros do bairro de New Home. Normalmente teria que se atravessar Waterfell, um dos braços do bairro de Hotland, que tinha uma minúscula parte ainda ligada as periferias, e, só então, chegar a New Home. No entanto, Papyrus não gostava muito de atravessar por Walterfell, o transito era terrível e, como ele estava a dirigir seu carro, não seria aconselhável para chegar a tempo. Por tal, ele decidiu por dar a volta por Hotland. Não era aconselhado, afinal, Hotland era um bairro que conseguia conectar os outros três, sendo distante apenas das Ruínas, interligadas a Snowdin.

Se ele estivesse a pé, seria sim uma preocupação, mas como se encontrava de carro as ruas vazias do bairro seriam perfeitas para chegar a tempo para seu encontro.

Sans se teletransportou direto para o shopping. Ele havia trocado de jaqueta, a azul que usava era muito conhecida por Papyrus para não chamar-lhe a atenção. De todas as que tinha uma ele pouco usava, talvez porque ela não alcançava-lhe os quadris e mantinha-se como um colete a alcançar o começo de sua cintura. Ele puxou o capuz por sobre a cabeça, mãos foram aos bolsos da calça e esperou ver seu irmão aparecer desde a entrada do shopping.

Não demorou muito, da forma desesperada como seu irmão dirigia, minutos seguintes ele estava a estacionar em um derrapar bem visível de pneus em uma das vagas livres do estacionamento. Sans riu para si mesmo ao observar, ele recordava-se da primeira vez que havia pego uma carona com Pap, apenas para agradar seu irmão nos primeiros dias que havia conseguido sua carteira.

Sans nunca mais deixou de usar seus atalhos depois, forçado a uma carona com Pap apenas quando extremamente necessário. Ele jurava que seus ossos quase saltaram para fora de sua pele e deram jus a insinuação de seu sobrenome.

Alegremente seu irmão saiu do carro e, com suas enormes passadas rápidas, ele dirigiu-se para dentro da enorme construção abarrotada de lojas. Sans encolheu-se em um canto afastado, cabeça baixa para esconder o rosto conhecido enquanto seu irmão atravessava a porta cantarolando alegremente.

Com cautela e em uma distância razoável, segui-o até a praça de alimentação. Sans conseguia fazer-se esquecer quando queria, ninguém em toda a multidão que o rodeava chegava a repará-lo, tentando manter sempre o jeito descontraído de andar. Ele sentou-se em um mesa afastada da que o próprio Papyrus havia se acomodado, encarando ansiosamente o relógio em seu pulso sem reparar na observação constante de seu irmão mais velho. Sans nunca entendia como seu irmão conseguia repará-lo sendo tão distraído, mas não importava, dessa vez não ia acontecer.

Pap, por sua vez, sentia-se nervoso. Ele sabia que tinha chegado vários minutos mais cedo do que o programado, no entanto, ele não queria se atrasar. Minutos depois ele sentiu seu coração falhar algumas batidas quando a imagem de Mettaton apareceu a sua frente, esbaforido e apressado. Seus belos olhos estavam encobertos no momento por enormes óculos escuros, cabelo amassado debaixo de uma touca roxa com detalhes pretos. Estava a usar um moletom roxo, justo, destacando bem sua cintura fina, somada a calça negra que usava destacando o largo quadril, largo de mais para realmente assemelhar-se com o de um homem, dariam a impressão de que se tratava de uma bela mulher. Em seus pés, botas roxas que quase alcançavam-lhe os joelhos, rosto maquiado de forma leve, tornando-o mais afeminado do que realmente aparentava.

Mettaton estava novamente em seu disfarce de mulher. Não que Papyrus realmente se importasse, o homem ficavam lindo de qualquer maneira a seus olhos.

— Desculpe, Pap Dear. Eu não te fiz esperar muito, fiz? Aconteceu um problema de ultima hora e tive que deixar Alphys para cuidar disso para mim enquanto vinha aqui e eu fiquei preocupado de não chegar a tempo e... - Papyrus soltou uma leve gargalhada, puxando a mão do pobre homem a sua frente para que ele finalmente pudesse se sentar e descansar na cadeira a seu lado.

— NÃO SE PREOCUPE, METTA. - alguns encontros atrás, Mettaton e Papyrus chegaram a conclusão, devido a alguns infortúnios, que Papyrus deveria referir-se a ele por algum tipo de apelido. A voz de Pap inconscientemente era demasiadamente alta e chamava a atenção, dizer o nome de uma famosa estrela de televisão em tais condições não era a melhor das ideias. - EU, O GRANDE PAPYRUS, ESPERARIA O DIA INTEIRO SE REALMENTE FOSSE NECESSÁRIO. AGORA, PROCURE SE ACALMAR E ENTÃO VEREMOS ALGO PARA COMERMOS. NÃO É TÃO BOA QUANTO MINHA COMIDA, E EU SEI COMO VOCÊ QUERIA ESPERIMENTÁ-LA, MAS AINDA ASSIM PODERÁ DISTRAIR-NOS ENQUANTO NÃO COMEÇA A CESSÃO.

— Oh, Pap Dear, você é um doce. - o moreno depositou um singelo e casto beijo na bochecha de seu companheiro, rindo divertido ao ver o rosto vermelho que havia ficado o pobre albino encabulado. - Agora, Dear, o que vai querer comer?

Em uma mesa mais distante Sans observava com atenção, um lanche qualquer sobre sua mesa o qual quase não prestava atenção, praticamente intocado. Em todo o momento ele manteve-se atento ao casal, seu rosto escondido por debaixo do capuz procurando sempre manter a discrição. Ele não se sentiria incomodado com o afeto entre os dois, seu maior problema estava na preocupação de que alguma coisa pudesse vir a acontecer com Pap.

Alguém lhe cutucou o braço, causando-lhe um sobressalto que prontamente o fez corar como nunca. Ele tinha a impressão que teria caído da cadeira se não tivesse tido a sorte de manter-se equilibrado. Seus olhos azuis então recaíram-se sobre a pessoa sentada a seu lado, rosto sorridente em sua direção enquanto tentava conter as gargalhadas que evidentemente queriam escapar. Sans ainda tentava controlar seu coração no momento que finalmente identificou quem seria.

"Devo perguntar o que um homem bonito como você faz sozinho ou podemos pular essas formalidades e você me contar porque parece estar dando uma de espião?" flertou Frisk, sorriso divertido em seu rosto.

Qualquer um que não prestasse atenção diria que Frisk era um garoto naquela ocasião. Ela trajava um blusão largo, listrado, calças igualmente folgadas e desleixadas com botas de inverno que facilmente poderiam ser confundidas com os modelos masculinos. Sobre o topo de sua cabeça estava um gorro que alongava-se nas laterais e tampava-lhe tanto as orelhas como as laterais do rosto, seu cabelo embolando-se na parte da frente de seu rosto, amassado pela touca. Ela sorria divertida, observando-o com seus belos e tentadores olhos dourados.

— Não me mate do coração, sweetheart. O que faz aqui? - Frisk sorriu, devorando um pouco do lanche quase intocado do rapaz. Um hambúrguer frio continuava a ser um hambúrguer.

"Dando uma volta com Blooky e Tinn. Eles estão sentados a algumas mesas daqui."

— E como sabia que era eu? - obviamente a garota não poderia dizer que era porque reconheceu sua jaqueta de alguns dos universos a qual ela sonhava e faziam agora parte daquele em que viviam. Ao invés disso ela simplesmente deu de ombros, dando mais uma mordida no hambúrguer que tinha em mãos. - Por algum motivo você continua esbarrando em mim nos lugares. Estou começando a achar que somos almas interligadas a acabar juntos.

"Não sabia que poderia ser tão romântico! Estou impressionada." zombou a garota com uma gargalhada divertida, dessa vez procurando tomar um pouco do refrigerante que ainda se mantinha esquecido na mesa. "Agora, por que você está aqui sozinho? Você tem uma namorada, saia com ela."

— Estou em missão.

Frisk ergueu uma sobrancelha em desconfiança, olhos divagando na mesma direção na qual o viu olhar tão atentamente antes. Seu sorriso se alargou e quase em pequenos saltos ela foi para o lado do casal poucos metros de onde estavam. Desesperado Sans tentou impedi-la, mas ela era mais rápida, usar sua magia chamaria mais atenção e ele não poderia arriscar. Encolhendo-se em sua cadeira ele apenas esperou, torcendo para que Frisk não acabasse por dedurar o que estava a fazer.

— FRISK! WOWIE, QUE COINCIDÊNCIA ENCONTRÁ-LA AQUI! - Sans ouviu seu irmão exclamar, sua voz era conseguia ser ouvida claramente de onde estava. Frisk moveu as mãos com alegria. Sans não conseguia identificar o que ela estava falando, ela estava de costas para ele e por tal era difícil identificar os movimentos que fazia. - F-FRISK! V-VOCÊ SABE... N-NÓS NÃO... E-EU... E-ELE... NYEH!

Sans tentou conter uma gargalhada ao ver seu irmão entrando em colapso, vermelho como um tomate, mãos ao rosto agora jogado sobre a mesa. Ele sempre seria seu pequeno irmão mais novo.

— Frisk, Darling, não faça meu companheiro tão constrangido, deixe essa exclusividade apenas para mim. Pap Dear é um doce quando está com vergonha. - outro gemido engasgado de Papyrus e uma nova gargalhada de Frisk. - Agora Darling, você não veio aqui junto com Sans, veio?

Sans precisou de todo seu autocontrole para não ter uma reação exagerada e chamativa. Seu rosto em um vermelho vivo felizmente encoberto pelo capuz o qual ainda usava, mesmo de onde estava era possível ver o sorriso tanto desconfiado como divertido no rosto de Mettaton. Definitivamente, se não fosse amigo de Frisk e possível paquera de Papyrus, Sans não duvidaria nem um segundo em acertar-lhe um soco. Sua paciência ia ao limite com ele, não da mesma forma como era Chara, ela conseguia retirá-lo facilmente de seu limite com apenas uma encarada. Mettaton era apenas o tipo de cara que parecia perceber tudo ao seu redor com apenas um olhar.

Principalmente se tratando de assuntos românticos. Sans poderia facilmente dizer que ele já havia notado sua atração por Frisk. Definitivamente nada legal.

Frisk novamente agitou as mãos.

— Não me diga que não notou, darling! Ele arruma todo tipo de desculpa para te ver. - o rosto de Sans passou de branco para vermelho no lapso de um mero segundo. Ele não poderia desmentir tal afirmação, porém. Quanto mais perto de Frisk ele ficava, mais desculpas ele arrumava para tê-la por perto. O projeto era bom, mas não era como se desse para ter toda sua atenção para ele o tempo todo como ele realmente queria. Frisk agitou as mãos novamente. - Não sinta-se tão acuada, Frisk. Apenas estou preocupado. Se ele sente algo por você eu sei que não vai ser nada comparado ao que você irá sentir caso retribua. Você sempre tem o problema de amar de mais, seu pobre coraçãozinho tem espaço até para as mais vis das criaturas.

Sans se manteve a escutar. Não era como se ele não tivesse entendido o que Mettaton queria dizer. Sans sabia seus próprios defeitos e pecados, sabia quem era e o que fez, ele não precisava de ninguém para esfregar seus erros em sua cara, mas novamente ele entendia as preocupações do amigo de Frisk. Ela parecia o tipo de pessoa que não se daria pela metade em um relacionamento, enquanto Sans... Bom todas suas experiências já deixavam bem claro como ele agia.

Mas ele nunca...

— MESMO AMANDO MEU IRMÃO, FRISK, DEVO CONCORDAR COM METTA. EM QUESTÃO DE AMOR, FORA DO CIRCULO FAMILIAR, EU NÃO SEI SE ELE PODE ENVOLVER-SE MUITO. SANS É... FECHADO. NEM EU MESMO CONSEGUIRIA TE DIZER COM COMPLETA CERTEZA QUE ELE AINDA TEM ALGUMA PREOCUPAÇÃO COMIGO E COM NOSSO PAI.

Sabe o doloroso sentimento de sentir-se destruído por dentro? De perceber o que outras pessoas pensavam sobre você e não gostar nem um pouco do que ouviu? Sans nunca se sentiu tão miserável como naquele momento. Sua mão foi parar em seu rosto, cotovelo sobre a mesa enquanto encurvava-se sobre si mesmo, uma de suas mãos indo até o peito, um brilho azul fosco escapando por debaixo da camisa branca a qual usava.

Durante todo esse tempo ele nunca tinha questionado-se o tempo em que se manteve afastado para plantar essa duvida nos sentimentos de seu irmão. E já não sabia mais se deveria rir ou chorar de sua situação, afinal não poderia culpar Pap por pensar assim. A culpa foi toda sua.

E ainda assim decidiu sorrir, um sorriso amargo e grande desenhado no rosto cansado. Por instantes ele se esqueceu porque estava ali, o motivo de ter atravessado quase metade da cidade. Ele sentiu-se tão desnorteado agora, como se apenas naquele momento o balde de água fria da realidade o tivesse acertado e agora não saberia dizer mais para onde deveria ir. E era tão engraçado, tão fodidamente engraçado pensar que apenas depois de dezesseis anos ele ia começar a sentir as consequências tão dolorosamente.

Delicadas mãos tocaram-lhe a que estava a sustentar seu rosto, retirando-a do lugar. Olhos dourados preocupados agora o fitavam com melancolia, preocupação e ressentimento. Ela tentou sorrir para ele, mas saiu fraco. Frisk tentava com todas as suas forças imaginar-se no lugar de Sans, caso um de seus irmãos duvidasse do amor que nutria por cada um deles. Ela se sentiria derrotada, definitivamente. E para Sans, que tanto apresso tinha por seu irmão, ouvir tais palavras deveriam tê-lo destroçado.

— Hehe acho que escutei o que não queria não é mesmo, sweetheart? - ele brincou, mãos bagunçando-lhe os cabelos, sorriso amargo em seu rosto tentando acobertar a tristeza que deveria estar engolindo. Frisk apertou sua mão em um ato preocupado. - Ops! Parece que Pap e a estrela extravagante estão se movendo. Eu tenho que ir, sweetheart, minha missão ainda não acabou.

Frisk o observou se afastar, rosto ainda encoberto pelo capuz, mantendo a distancia entre Pap e Mettaton. Ela sabia que ele não estava bem e mais do que nunca ela estava preocupada. Frisk havia repreendido Papyrus pelo que ele disse e apesar de ter percebido seu arrependimento foi complicado abaixar sua raiva naquele momento. Sans mataria por seu irmão, ela tinha certeza disso, tanto como suas memórias poderiam organizar de vários universos diferentes. Pap não poderia dizer coisas como aquelas, talvez Sans não demonstrava, mas nem ao menos Chara era boa com demonstração sentimental e Frisk ainda sabia que, bem no fundo, ela sentia um grande apresso por ela. Sans era da mesma maneira.

Frisk ainda apenas supunha sobre o auto-ódio que Sans sentia para com ele mesmo, era uma suposição que vinha de experiências de outros universos, uma característica que deveria ter se fundido e aflorado nessa. Ele não poderia estar sozinho agora, ela sabia e estava determinada a ir atrás dele, interferir por mais que não quisesse. Ele precisava de alguém a seu lado agora.

Mandando uma breve mensagem para Tinn e Blooky ela correu até Sans. Pap e Mettaton estariam indo para o cinema agora e Sans com toda certeza os seguiriam.

Ela o encontrou já dentro do cinema, sentado algumas fileiras atrás da cadeira onde Pap e Mettaton estavam, pose descontraída como era de se esperar de sua pessoa. Frisk tinha comprado dois copos grandes de refrigerante e sem cerimônias sentou-se ao lado de Sans, rosto estoico em uma expressão indiferente, uma das mãos na direção do albino entregando-lhe o corpo.

Nenhum dos dois trocaram uma palavra se quer, o filme começou e a atenção deles difundia-se entre o filme e o casal logo a frente. Frisk ainda assim insistiu em segurar a mão do albino, apertando com carinho em uma demonstração de força. Não soltou em nenhum momento do filme.

Pap e Mettaton formavam um casal fofo, não existia aquele que poderia negar ao observá-los juntos. Durante o filme Pap manteve-se com um braço envolta do ombro do moreno a seu lado que graciosamente deitava-se no ombro do companheiro. Frisk poderia facilmente imaginar o enorme sorriso de ambos, cada um tentando conter a alegria que sentiam em seus corações.

Mettaton era um homem que, apesar de expressivo, não conseguia separar facilmente suas reações de gostar verdadeiramente de uma pessoa e simplesmente gostar dela como um amigo. Depois de alguns anos com ele, Frisk passou a perceber quais eram as leves mudanças que tinham entre uma situação e outra e poderia facilmente afirmar que Papyrus era o primeiro caso.

Pap era mais aberto, por sua vez. Era bem fácil de ver quando ele era um amigo ou quando queria se tornar algo mais. Tanto que com Frisk ele nunca gaguejava, nunca embolava-se em suas palavras e sempre mantinha a pose, tratando-a como a irmãzinha que nunca teve, embalando-a em carinhos e conselhos que Frisk tinha o costume de receber de seus irmãos. Mas com Mettaton toda a cena mudava de figura e Pap já não conseguia colocar-se em frases inteiras sem gaguejar, seu rosto constantemente ia para um vermelho escuro e era muito comum vê-lo a tomar um cuidado extremo em suas atitudes quase como se estivesse a pisar em ovos, tentando ser exatamente o que a pessoa queria que ele fosse.

Durante alguns momentos Frisk poderia vê-los a conversar baixinho, rosto próximos e perfil sorridente. Mettaton com o costume de deixar Pap constrangido enquanto o próprio Papyrus parecia não se dar conta de sua mania de sempre tentar manter o moreno tão próximo como poderia. O carinho entre ambos parecia chamar muito mais a atenção de Frisk do que o próprio filme em si.

Do lado de fora, depois da arrastada uma hora e meia dentro da sala escura, seguiram o casal até uma sala de jogos. Vídeo Games espalhados para todos os lados com todos os tipos de temas variados. O sorriso carinhoso de Sans não escapou de sua vista enquanto ele mantinha-se focado na atividade dos dois homens em um jogo de dança. Pap era definitivamente desajeitado para esse tipo de coisa.

Demorou cerca de uma hora para que os dois saíssem, mãos dadas e enormes sorrisos no rosto, respiração ainda agitada pelos diversos jogos que haviam escolhido e a empolgação em cada um deles.

"Eles parecem felizes" Frisk comentou, ainda em sua brincadeira de espião junto a Sans.

— Bastante. - a voz de Sans soou como um suspiro melancólico. Frisk ergueu o olhar apenas para deparar-se com um sorriso amargo. - Talvez eu realmente deva parar de me preocupar tanto. Talvez Pap seria mais feliz com ele do que me ter por perto...

A morena inflou o peito, fez uma parada brusca e forçou o albino a parar também. Com um movimento rápido de mãos ela acertou ambas as palmas em cada lado do rosto do rapaz, um estalo alto e dolorido ressoando pelo lugar. Sans encarou-a com surpresa, a dor trazendo-o de volta de seus pensamentos depressivos enquanto encarava o cenho profundamente franzido da garota a sua frente.

"Nunca mais fale isso! Você ama Pap mais do que ama sua própria vida! E tenho certeza que Pap também te amo de igual maneira." Frisk assinava com pressa, mãos agitando-se pelo ar sustentando o olhar surpreso do rapaz a sua frente. "Apenas porque teve um desentendimento entre os dois não deve se deixar abalar. Pap não ficaria nada feliz se você não estivesse mais perto dele! Tenho certeza que ele iria até os confins da terra para que você voltasse."

Sans teria mentido se falasse que tais palavras não o motivaram. Um pequeno sorriso agradecido surgiu em seu rosto corado pelo tapa que havia levado e então suspirou. Aquela garota sim conseguia fazê-lo sentir-se melhor.

— Obrigado, sweetheart. Acho que realmente precisava disso. - Frisk sorriu radiante, percebendo a mudança no humor de seu companheiro. - Mas da próxima tente bater um pouco mais leve. Ou vai me fazer sentir um pouco tapado.

Frisk bufou em um riso contido, ambos seguindo o caminho pelo qual pensaram ter visto Mettaton e Papyrus seguir. Em sua rápida conversa eles haviam perdido os dois de vista, ainda assim, bastou uma ligeira curva para esquerda entre as bifurcações de corredores do shopping para encontrá-los sentados em um banco qualquer espalhado pelo corredor alongado e largo. Em um salto tanto Sans como Frisk sentaram-se em um dos bancos, pelo menos alguns metros de distância, bloqueados por uma enorme planta enfeitando as laterais de cada acento de madeira.

— VOCÊ QUERIA ME DIZER ALGO IMPORTANTE? - era a voz de Pap, tão alta como sempre. Sans e Frisk ouviram com atenção.

— Sim, Pap. É apenas... Eu não sei como começar... - Mettaton parecia verdadeiramente encabulado.

— NÃO PRECISA SENTIR-SE NERVOSO, ESTAREI ESPERANDO PARA OUVIR O QUE QUER QUE SEJA! - Pap afirmou com orgulho, peito estufado e enorme sorriso no rosto, leve corado nas maças do rosto. Inconscientemente Sans e Frisk aproximaram-se do limite do banco para escutar, basicamente apoiados um no outro.

— Bem... Já faz um tempo que estamos saindo e... Eu... Quero dizer, tem um tempo que eu não sinto mais como se quero ser seu amigo. - Sans e Frisk prenderam a respiração, quase conseguindo escutar o pobre coração de Papyrus se partir. Frisk sentiu a mão de Sans apertar seu ombro e tudo que conseguiu fazer foi colocar sua própria por cima da dele, em um sinal para esperar a continuação da fala de seu amigo. - É por isso que eu queria saber se... Você gostaria de ser meu... Uhun... Namorado.

Por instantes Pap não respondeu, deixando apenas os sons já existente de outras pessoas no shopping enchessem o lugar. Era um dia relativamente tranquilo de movimentação no lugar e apenas algumas pessoas passavam aqui e ali. Demorou alguns segundos a mais para finalmente o cérebro de Papyrus reagir ao que havia acabado de ouvir.

— W-WOWIE! CLARO! OBVIAMENTE EU ADORARIA! DEUSES, ISSO É... WOWIE!

A mão de Sans soltou aliviada o ombro de Frisk que sorria carinhosamente para a cena a sua frente. O beijo entre os dois seguiu-se tão perfeitamente profundo, iniciado por Mettaton que com um movimento apressando no meio de toda a tagarelice alegre de Papyrus o puxou por seu cachecol e selou o compromisso da melhor maneira possível.

Frisk não demorou nem mesmo um segundo para retirar seu celular do bolso e tirar uma foto. Um suave gargalhada escapou de sua garganta enquanto observava divertida o casal embolando-se em um abraço apertado.

— Acho que já não tenho mais nada para fazer aqui. Quer uma carona para casa, sweetheart? - Sans sussurrou, mais próximo do que ela imaginaria que ele estivesse. Com o coração a mil e a respiração presa em sua garganta ela concordou, sem nem ao menos querer imaginar qual era o estado de seu rosto naquele momento.

Em um piscar de olhos já não estavam mais no shopping e sim fora dele. Frisk conseguia reconhecer o caminho que lhe levaria para casa e questionou-se porque Sans simplesmente não teria os levado direto para lá. Talvez o dito preguiçoso não quisesse gastar sua exuberante magia? Mas não seria bem mais fácil do que andar?

— Droga. - ela o ouviu praguejar, poucos instantes antes de ser puxada para um pequeno espaço atrás de um vazo de planta exuberantemente crescido, facilmente acobertando os dois. A confusão inicial passou rápido o problema mesmo foi dar-se conta que ela estava mais próxima de Sans do que realmente deveria, corpos pregados a dividir o pequeno espaço que lhe era disponível. O próprio rapaz não a encarava, seus olhos estavam focados em uma pequena brecha entre as folhas das plantas. - Melhor momento para encontrá-la, com toda certeza! De todas as horas...

Frisk espiou como pôde o que Sans estaria vendo. Aquela não era a namorada dele? Por que ele estava se escondendo dela?

— Eu sinceramente não quero ouvir a ladainha dela hoje. - ele resmungou, quase como se estivesse a escutar seus pensamentos. Frisk ergueu o rosto, apenas para deparar-se não muito distante do rosto do próprio albino logo acima. Ele suspirou e Frisk conseguiu sentir perfeitamente o hálito quente acertar sua pele, causando-lhe arrepios. - Você está bem sweet... Heart...

A ultima palavra saiu picada, finalmente percebendo a proximidade em que estavam.

Quanto tempo passaram apenas a se encarar daquela maneira? Quanto mais permaneceriam assim? Apesar da situação constrangedora nenhum dos dois queria realmente se mover, mas o céu escurecia-se rápido e Sans sabia que Frisk deveria voltar para casa. Se sua irmã descobrisse que ele a mantinha fora por tanto tempo com toda certeza ele não teria que apenas escutar todos os tipos de linguajares depravados como também teria que sentir a raiva dele. E definitivamente, por mais que por Frisk parecia valer a pena, ele não queria provocar Chara.

Em instantes eles encontravam-se na frente da porta da casa de Frisk, com espaço suficiente para separarem-se e poder respirar sem sentir que estavam a roubar o ar um do outro. Sans tinha a pretensão de caminhar, apesar de sua preguiça, apenas para passar mais tempo com Frisk, mas agora ele não poderia mais arriscar.

Oh bem, ele inventaria outra desculpa em outro dia.

— Bem... - ele pigarreou, completamente constrangido, sentido seu rosto arder enquanto afastava-se da garota. Droga, a distancia não lhe agradou nem um pouco. - Está entregue, sweetheart.

"Quer entrar para comer alguma coisa?" Frisk ofereceu, sorriso carinhoso e constrangido em seu rosto.

— Obrigado, mas acho que vou passar. Se Pap não me ver em casa vai suspeitar e... - antes que ele pudesse terminar seu celular vibrou. Com um olhar de desculpas para Frisk, Sans o pegou e avaliou a mensagem que havia recebido, rosto escurecendo segundos depois. Frisk espiou um pouco gargalhando com o que leu.

A mensagem era de Pap e dizia exatamente as seguintes palavras:

*Não vou dormir em casa hoje, então faça suas tarefas até amanhã! Nyehe!*

— Acho que vou aceitar sua oferta, sweetheart. - Frisk não conseguiu conter a gargalhada que escapou, abrindo a porta logo em seguida.

Sans estava com um estranha vontade de arrumar uma briga com Chara agora, apenas para poder descarregar sua magia...