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Caster, o Ladrão Honrado.


[Plymouth, Devon, Inglaterra | 10:11AM]

–Você é alguém irresponsável, maluco, jamais terá um futuro que preste, Trevor! - Disse Joseph Crimson visivelmente irritado, o homem, na faixa do meio século de idade era meu pai. Cabelos ralos e com o tom avermelhado que acabei herdando do mesmo. A forma como balançava aquele maldito cachimbo pra lá e pra cá sempre me irritou.

– Você não sabe de nada que se passa aqui! Você nem vive mais entre nós! A minha mãe fez bem em te dispensar, porque você é, e sempre foi um inú-

Senti meu corpo cair lentamente com uma descarga de uma tremenda força em meu rosto, meu pai havia me dado um tapa tão forte que eu caí no chão. Pus a mão no local da agressão, e era como se meu rosto estivesse em chamas. Lentamente fitei o piso de mármore da minha sala evitando contato com aquele ser nojento.

– Se retire daqui... Por favor, antes que minha mãe chegue. - Falei num tom baixo, quase um sussurro enquanto tentava me levantar.

– T-Trevor, meu filho... Me desculpe, eu não... – Tentou se desculpar enquanto colocava sua mão em meu ombro para me ajudar a sair do piso gelado.

– SAIA DAQUI! VÁ EMBORA! – Gritei retirando bruscamente seu braço de meu ombro.

O mesmo se direcionou cabisbaixo até a porta da cozinha, dando uma última olhada para trás antes de fechar a porta. Sentei-me no sofá e voltei a analisar o local que ainda queimava em meu rosto. Já havia três anos que ele e minha mãe haviam se separado, e desde então, minha relação com ele é a pior possível. Toda vez que nós estamos juntos, a discussão é algo certo, segundo meu pai, eu sou alguém que está destinado a permanecer pra sempre na loja de games onde eu trabalho. "Data Game Shop", uma loja europeia famosa de games. Eu sou um vendedor em uma das três filiais Inglesas, e a única em Devon.

Ouvi a porta da cozinha abrir-se novamente, pensei em me levantar para ver se era ele vindo para se desculpar novamente, mas desisti, estava cansado demais para isso.

– Querido, voltei. – Anunciou minha mãe entrando pela mesma porta da cozinha. Elizabeth possuía cabelos negros ondulados e olhos marrom avermelhados que eu havia herdado dela.

Minha mãe entrou na sala, pôs algumas sacolas sobre a mesa e se sentou no sofá junto a mim, levantando minhas pernas e colocando sobre seu colo.

– Querido, o que é isso? – Passou a mão em meu rosto.

– Nada... – Respondi virando meu rosto.

– Trevor... Foi ele não foi? Eu o vi sair daqui, e o evitei.

– Mas eu mereci, eu falei besteira.

– Mas ele não tem o direito de lhe bater! – Minha mãe me pôs entre seus braços, como fazia desde que eu era criança, e começou a sussurrar em meu ouvido. - O seu pai nos machucou muito filho, mas não precisa ser inimigo dele também, nós nos separamos, mas, você não precisa tomar as minhas dores toda vez.

– Eu sei mãe, mas ele sempre quer se desculpar. – Me retirei de seu abraço. – Depois de tudo que ele fez, você ainda quer que eu não o trate desse jeito?

– Mas querido...

– Chega mãe, já estou cansado dele, e de tudo, eu não sei como a senhora ainda consegue conversar com ele depois daquele dia! – Levantei do sofá com um semblante raivoso e fui em direção ao meu quarto batendo a porta com força.

– Trevor, não fique assim querido... – Falou batendo em minha porta.

– Mãe, me deixa por favor. – Respondi sentando em minha cama.

Minha mãe deu um pequeno suspiro. – Tudo bem... Eu irei até na casa de uma amiga minha, qualquer coisa me ligue, tudo bem?

– Tudo bem, até mais tarde. – Falei com um pouco de desdém.

Deitei em minha cama e me pus a observar melhor meu quarto. Meu computador que havia ganho de um concurso da empresa, os diversos pôsteres de variados jogos no quais eu sou fanático, Action Figures, jogos, entre outros itens que eu havia adquirido na loja em que trabalho. Lógico que os gerentes não sabem de tais itens. Quando meu pagamento é cortado por algum motivo, sempre arrumo um modo de me “reembolsar” de uma maneira “justa”. Sempre que notavam que algum item estava em falta, eu dava a desculpa que algum daqueles geeks enlouquecidos possam ter roubado de alguma maneira sem que eu tenha visto, e eles sempre caem na mesma ladainha.

Olhei para a minha mesa de trabalho e peguei o capacete de realidade virtual, que ironicamente foi a única coisa que eu paguei com o meu dinheiro naquela loja. Assim que os itens chegaram até na loja da minha cidade, guardei um em caso de um reembolso, porém fui notado antes de guardar o item, mas logo dei a desculpa de que eu estava de olho neste jogo desde sua fase beta. E recebi a aprovação de compra-lo antes de todos na loja. Me custou um pouco, mas valeu e MUITO a pena. Pus o meu Nerve Gear, e deitei-me novamente, fechei meus olhos e deu um leve sorriso. Pois logo eu estaria no meu verdadeiro mundo, no mundo que eu sempre quis estar, no mundo, onde eu poderia ser um Herói.

Capítulo IX:
Caster, o Ladrão Honrado.

Senti meu corpo com uma dor meio incômoda, e notei que estava encima de uma de lençóis sujos. É, certamente eu estava no hotel em que havia me hospedado em Castorian. Sem meus trajes de luta, estava vestindo somente uma calça leve de algodão, quando senti meu cabelo grudar em meu rosto. Para ser mais exato, meu corpo inteiro estava grudando graças ao suor.

– Argh, esses lençóis não são limpos faz quantos anos?! – Reclamei enquanto me levantava da cama e me espreguiçava lentamente. – Hmm, preciso de um banho.

Olhei para os lados a procura de um banheiro, mas fora em vão. Sem me preocupar em trocar de roupa, desci as escadas do estabelecimento, e me senti em uma casa assombrada digna de filmes de terror. As escadas rangiam mais do que tudo naquele lugar, as paredes de madeira estavam podres, o teto pingava, teias de aranha em tudo quanto era canto.

– Gatuna maldita... Se não fosse por ela eu não teria de dormir aqui. – Falei ao vento enquanto procurava um banheiro naquela espelunca.

– Com licença, mas, poderia me dizer aonde fica o banheiro? – Perguntei a uma senhora que estava no balcão velho e empoeirado. A mesma apontou para uma porta riscada e cheia de furos, porém mínimos, o que impossibilitava de ver se havia alguém dentro do banheiro ou não. – Obrigado... Eu acho.

Bati na porta e não recebi nenhuma resposta. Tentei entrar mas a maçaneta não girava, o banheiro estava trancado. Impaciente, decidi esperar um pouco. Passaram-se dez, quinze, trinta minutos, e nada da pessoa responder, minha paciência passou dos limites quando ouvi baixos gemidos vindo do banheiro.

– Ei, tem alguém ai?! – Gritei, batendo na porta.

– Ah vá a merda, não vê que estamos ocupados?! Vá procurar outro banheiro! – Gritou uma voz masculina do banheiro.

Senti meu rosto queimar de raiva, uma veia pulsava em minha testa. Sem pestanejar, peguei minha Combat Cross do inventário.

– Ah... É realmente uma pena que eu tenha que estrear você desta maneira. – Indaguei, num movimento rápido e circular, quebrei a porta ao meio e terminei com um chute jogando os escombros ao chão. E lá estava o homem e outra mulher, fazendo obscenidades.

– Saiam daqui, se não quiserem morrer. – Falei com uma voz em fúria, fazendo o casal sair do banheiro as pressas.

– Merda. – Falei em tédio com um olhar chateado. O banheiro estava em um estado deplorável, era sujeira para tudo quanto é lado, o chão estava enlameado, o vaso quebrado, não sei como aquele casal conseguiu... Ah deixa pra lá.

Paguei a senhora no balcão, e fui embora daquele lugar caindo aos pedaços. Segui em direção ao centro da cidade, procurando por algum banheiro que preste, enquanto caminhava, notei que muitos olhavam para mim com uma cara estranha. Foi ai que notei que estava somente com a calça de algodão.

– Ora vamos, até parece que nunca viram ninguém usando calças! – Gritei na praça central de Castorian, arrancando risos de várias pessoas. Sentei-me em um banco qualquer e observei o mapa, havia me lembrado de uma cachoeira que se situava ao lado de Roswell. – Hmm, não é uma má ideia. – Falei fechando o mapa e seguindo adiante, decidindo ir a pé, afinal, seria bom ir treinando no caminho.

Quando cheguei, vi o quanto era belo o lugar. As rochas possuíam fragmentos de safira, que bem, eram impossíveis de serem retiradas por fazerem parte do cenário, a cachoeira também era enorme, suas águas cristalinas caiam lentamente e uma espuma era formada no lago tão cristalino que era possível de se ver o fundo do mesmo. Não tardei de retirar o resto das minhas vestimentas e cair dentro daquela água gelada. A beleza daquilo tudo me fez pensar novamente se isso tudo era um jogo, era algo incrível demais. Me pus a boiar e sentir meu corpo relaxar. Depois de um banho tomado, comecei a treinar, tentando cortar o fluxo da água. Até que fui interrompido por um sinal de mensagem particular.

– Uhm? Uma mensagem pessoal? – Perguntei parando meu treino e abrindo a mensagem.

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De: Down of Vampires
Para: Caster Belmont

Ouviram-se relatos de um ataque causado por um ser desconhecido, a nossa guilda fora selecionada para verificar o acontecido. Como todos estão ocupados em outra missões, nós líderes da Down of Vampires, pedimos a sua urgência na base da guilda.

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– “Estranho eles pedirem para ir até a guilda, eu poderia muito bem ir direto até as coordenadas. Mas tudo bem, se é o que pediram...” – Pensei colocando meus equipamentos novamente.

Segui em direção a Roswell, a única guilda situada ali era a nossa. A famosa guilda Down of Vampires, conhecida por destruir oito boss e abrir oito cidades consecutivamente. Perdendo apenas para a Army of Zero que já abriu 11. A sede da nossa guilda era um castelo negro, com cinco andares, e com quatro torres de guarda, acima de cada uma, a bandeira da guilda balançava com os ventos vindos do sul, vários guardas vigiavam o perímetro caso algum espertinho viesse a invadir. Entrei pelo portão principal, saudei os guardas e entrei, como lá dentro era bem escuro, a cada passo uma tocha acendia, liberando umas chamas azuis bem incomuns, em seu centro, uma tábula prateada e canecos de cerveja, com seus respectivos donos: Os Caçadores de Monstros. Eu sou um deles, e costumo me gabar bastante disso.
Afinal, quanto mais monstros matar, mais chances de virar um herói!

– E então, o líder está? – Falei me sentando em uma cadeira, e pondo os pés sobre a tábula com alguns desenhos esculpidos em seu centro.

– Caster, cadê os seus modos? – Disse Mary, a bartender. Além de sua linda aparência, ela possuía uma enorme força. Seus olhos azuis safira se assemelhavam com seus cabelos da mesma cor, com um corte curto e uma franja dividida por uma presilha de morcego.

– Oh Mary, como está? – Falei lhe abraçando pela cintura.

– A-Ah tome mais cuidado, quase derrubo cerveja em você! – Falou equilibrando os canecos de cerveja na bandeja de prata.

– Hah, eu não ficaria muito feliz com isso. – Sorri para a mesma que se escapou do meu abraço e foi para o balcão de bebidas.

– Oh é mesmo, já ia me esquecendo do que vim fazer aqui. – Falei me levantando da mesa, arrancando olhares duvidosos sobre mim. Não dei a mínima e subi as escadas de madeira escura, cheguei até uma porta que se aproximava aos três metros e meio, bati em suas maçanetas de argola, e abri vorazmente.

– Mandaram me chamar? – Anunciei minha entrada enquanto me aproximava da grande mesa negra sobre passos rápidos. Parei em frente dos mestres de guilda que aparentavam estar em reunião.

– Existe uma coisa chamada bons modos. E seria muito bom você poder utiliza-la agora, senhor Caster Belmont. – Falou o vice líder arrumando seus óculos enfeitados com uns acessórios brancos e negros. Seus cabelos longos e escuros tampavam metade de seu rosto que quase não era visto pelo gesto que o mesmo fazia com as mãos juntas sobre o rosto. Apenas seu olho esquerdo era visto, demonstrando sua bela íris escarlate.

Deixe-o, a sua força compensa seus péssimos modos temporários. – Falou o líder com uma faixa em sua cabeça, seus cabelos eram da cor negra com alguns fios grisalhos, assim como seu cabelo, sua barba seguia a mesma regra de coloração, seus olhos negros eram inexpressivos, uma cicatriz vertical escapava de seu tapa-olho, que pousava sobre seu olho direito, provavelmente fora removido, mas quem liga? O homem se levantou e veio em minha direção.

– Caster Belmont... Porque você decidiu entrar nesta guilda? – Perguntou enquanto andava de um lado para o outro puxando sua barba, sem olhar para mim.

– Ah, digamos que era a guilda que mais combinava comigo talvez? – Falei coçando o queixo.

– Hmm, pois bem, isso não importa. Sua missão será a seguinte...

Após ouvir o protocolo da missão, me senti decidido que iria me dar bem, e quem sabe até me tornar uma patente ainda melhor na guilda não é?

– Ok então, vou indo. – Anunciei saindo da sala fechando a porta com um estrondo alto.

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– Como esse cara me irrita. – Falou o vice líder mais novo com cabelos dourados e olhos castanhos, seu cabelo era partido para trás, preso por uma tiara negra. Sua aparência era um pouco feminina, mas não tanto para se duvidar de seu sexo.

– Acalme-se, tenho certeza que ele não voltará da mesma maneira depois dessa pequena missão... Isso se ele voltar. – Respondeu o líder caolho fitando a porta de madeira em sua frente.

– Mas você sabe o que irá acontecer se falhar, certo Brock? – Perguntou o vice líder de orbes escarlates.

– Claro, e é por isso que eu tenho certeza que essa missão será a prova de falhas. Caster Belmont morrerá!