–Annie, venha aqui um minuto – Chamou Alice quebrando o silêncio do lugar.

A garota ruiva continuava agachada, com seu rosto encostado na camisa suja de um dos corpos mortos. Jake, John e Caio ainda não tinham voltado, e todas as garotas pareciam concentradas em seus próprios pensamentos de reflexão. Alice parecia incomodada com a adolescente de cabelos avermelhados.

Annie se aproximou de Alice sem pressa, a jovem garota de cabelos castanhos sussurrou algo em seu ouvido. A arqueira se afastou e trocou olhares com Alice, logo se virou e abriu a boca pra dizer algo, mas fechou mudando de ideia. O vento forte chegou ao terraço, agitando os cabelos ondulados da jovem arqueira, ela amarrou o cabeço de qualquer jeito e pegou seu arco. Depois disso, entrou na porta que levava ao interior do prédio.

Emily se encostou ao canto de uma das grades e dormiu apoiada em seus joelhos. Karine se levantou e andou até a ruiva.

–Qual seu nome? – Disse a bailarina preocupada.

–Maya. – Disse a jovem se desencostando da camisa.

Karine sorriu e se apresentou logo as duas começaram a conversar. Alice se sentou ao lado de Emily e ficou observando as duas conversarem silenciosamente. Karine contou tudo sobre seus amigos e deixou Maya totalmente informada da situação.

A ruiva parecia interessada na parte da resistência de cada sobrevivente, mas todo o tempo se manteve calma e quieta.

Escadas do prédio.

Annie descia cada degrau apressada, até que bateu sua cabeça em algo e caiu para trás.

–Loirinha, está com fome? – Disse o garoto com o gancho em uma das mãos.

–John, gente. A garota, ela, Karine...

–Calma Annie. – Disse Jake segurando uma das mãos dela e ajudando-a a levantar. – Continue.

–Karine me disse que ela não é o que parece. – A arqueira parou e pareceu tentar colocar seus pensamentos em ordem. – Ela disse que a ruiva está mentindo sobre a história que contou.

–Como ela sabe? – Disse Caio ajeitando os óculos.

–Não sei, ela só sabe. – Disse Annie confusa.

O grupo decidiu conversar sobre o assunto apenas no terraço, junto aos outros. Quando chegaram Maya pareceu assustada com John, observando seu gancho brilhando a luz do sol, como se ele fosse rasgar sua garganta a qualquer momento.

Karine se levantou e informou seus amigos sobre a conversa com Maya. Todos comeram os sanduiches e pizzas furtados nas geladeiras do prédio, até o último pedaço, que foi decidido por pedra papel e tesoura.

–Encontraram muitos deles dentro do prédio? – Indagou Emily a ninguém em especial.

–Parece que a maioria das pessoas fugiu, então tem poucos no prédio. – Respondeu Jake.

–Ótimo! Então podemos isola-lo e ficar aqui por anos. –Disse Karine animada com a conversa.

–Aqui não é seguro, as paredes são frágeis, tem muitas janelas baixas, não tem muros protegendo o lugar, péssima ideia, péssima. – Disse Maya incomodada.

Todos trocaram olhares inquietos, tendo noção da informação de Alice.

–Maya, pode me esclarecer o que aconteceu contigo nesses últimos dias?

Maya olhou pros lados inquieta, e pareceu relembrar tudo, logo saiam lágrimas dos olhos da ruiva.

–Confesse que está mentindo. – Disse Alice encarando as lágrimas de Maya como sinal de fraqueza.

–Alice! Ela não está bem, ela não tem culpa do que aconteceu! – Disse Karine levantando do chão.

–Vai ficar do lado dela? – Perguntou Alice agitada. – Você nem a conhece!

–Ela é uma boa pessoa. – Respondeu a bailarina.

–Como pode ter tanta certeza Alice? – Disse Jake inquieto.

–Eu, sei quando mentem, fiz teatro...

–Só por que fez dois meses no teatro não quer dizer que conhece todo mundo! – Gritou a bailarina nervosa.

–Quer saber, fica ai com ela então! – Disse Alice saindo nervosa.

Caio se levantou sério olhou para Karine. A bailarina abaixou a cabeça, e Caio balançou a sua para os lados como sinal de desaprovação.

Karine estendeu a mão para Caio em um sinal para ele ficar, mas o jovem já havia saído pela porta também.

–Eu, não quero isso, por favor, não quero que se separem. – Disse Maya nervosa.

Karine olhou para a porta, com a esperança que Alice voltasse sorrindo e dizendo ‘’brincadeirinha’’.

Kátia indecisa apenas olhou Karine. John pareceu estar secando Maya, mas no fundo, o jovem loiro estava analisando ela, tentando entender Maya do jeito que Alice entendeu.

–Me desculpe te fazer passar por isso Maya, vou resolver. – Disse a bailarina correndo para dentro do prédio.

Maya olhou para baixo. O grupo parecia tomado por uma onde de silêncio que não passava.

Escadas do prédio.

Karine corria cansada descendo as escadas, lembrou-se do machucado apenas quando ele começou a doer, mas continuou, queria alcançar sua amiga o mais rápido possível. Quando se deu conta, estava em um corredor escuro, ouvia murmúrios de vários lugares a sua volta, um local cheio de portas que levavam as residências. A jovem bailarina hesitou, por um momento quase deixou se tomar pelo medo. Lembrou-se de Alice, e Caio. Logo correu para frente, sem saber para onde estava indo.

Olhou em todos os corredores do andar onde estava, desceu e não encontrou nada também, estava ficando desesperada ‘’onde eles estão?’’ ‘’por favor, estejam bem’’.

–Alice! Caio!

Ninguém havia respondido. Logo se tornou a repetir os nomes várias vezes, até que começou a abrir todas as casas destrancadas.

Nada.

–Por favor, RESPONDAM!

A jovem ouviu barulhos vindos da porta de saída de emergência. Tomada por um sentimento de felicidade correu e abriu. Sua expressão se fechou, tornou-se a gritar nomes. Até que ouviu alguns gritos agudos, que estavam ficando baixos, algo estava se alimentando dela, ela sentia os dentes beliscando suas pernas até rasgar. Sem dúvida os gritos eram de Alice.

‘’Que bom que você está bem’’ pensou Karine sorrindo até seus olhos não conseguirem mais continuar abertos.

–Aguente firme! Você vai ficar bem! Eu juro! – Dizia Alice rouca.

Eram três errantes, Caio dominado pelo ódio jogou um deles no chão e pisou com todas as suas forças na cabeça dele, repetindo o ato até ver que a cabeça abriu. Os outros dois continuavam tentando se alimentar de Karine, até que Alice rasgou o pescoço de um com uma faca e Caio cuidou do outro.

A amiga pegou a mão de Karine e tocou os dedos no pulso gelado do corpo. Não ouviu batida alguma, mas parecia não desistir. Colocou o ouvido na região do coração de Karine.

–Silêncio Caio! – Dizia Alice como se Caio estivesse fazendo algum barulho ou falando algo.

O jovem tirou os óculos e sentiu várias lágrimas escorrerem do rosto, sua perna estava totalmente ensanguentada e ele sentia suas mãos tremerem.

–Acabou para ela Alice. Ela com certeza tá em um local melhor agora.

–Você é outro mentiroso. – Dizia Alice molhando o rosto de Karine com suas lágrimas.

Caio se abaixou e olhou sério para Alice. Ela parecia estar louca, insana, totalmente fora do normal.

–Ei, ela morreu por nós não é, não vamos ficar aqui e morrer também...

–Justamente! Ela morreu por nós! – Gritou Alice desesperada.

A jovem se agachou e sussurrou no ouvido da amiga ‘’sua morte não será em vão, vou cuidar de Maya’’. Por um momento Alice sentiu como se alguém tivesse sussurrado um agradecimento no seu ouvido, se levantou e se juntou a Caio, voltando para o terraço sem pressa.