Jasmin

Beleza e Sensualidade

Abriu os olhos e piscou confusa. Parecia em transe, sentindo uma das pernas sendo erguidas pelo amigo de infância. Fabinho parecia querer tudo de uma vez. Todos os anos de questões sobre quem eles eram e o que de fato queriam... Tudo por terra ao tocar Giane.

Um desastre de proporções bíblicas esperando para acontecer... Ambos sabiam que não eram exatamente o certo um para o outro, mas ali estavam os dois reagindo da melhor maneira e buscando conforto na fricção dos corpos.

De corpos que sempre juraram não desejar, Giane pensou tendo seus gemidos engolidos pelos lábios de Fabinho.

Fabinho. O nome de seu possível amante - ela não queria pensar nisso nesse instante por mais que seu corpo gritasse para que ela cedesse - a fez juntar forças e se afastar.

— O que estamos fazendo? - ela perguntou com os cabelos desgrenhados e os lábios avermelhados.

— Você veio se oferecer para mim, maloqueira. Eu não fui atrás de nada. - Fabinho lembrou tentando recuperar o fôlego. Um explodiria o outro. - Não que eu não tenha curtido esse seu recém descoberto tesão por mim.

— Eu... eu cometi um erro. - Giane parecia ter saído de um feitiço que a fazia tremer. - Eu não devia ter vindo aqui.

— Por que veio? - ele perguntou e ela o encarou por alguns segundos como se precisasse de foco.

— Eu caí no buraco de coelho da minha mente. Me peguei pensando que talvez fosse o certo... Você e eu. - ela murmurou.

— Você sabe a verdade, jamais seremos certos um para o outro. - ele lembrou e notou os ombros dela se encolherem em vergonha. - Mas nós não precisamos ser.

— Eu não vou ser mais uma idiota na fila da putaria, Fraldinha. - Giane comentou revirando os olhos. - Você sabe que eu...

Estou me guardando para o meu grande amor, o Bento!— ele afinou a voz imitando a amiga. - Novidades, gracinha: primeiro, você não se guardou e segundo, não deveria pensar desse jeito. Muito século passado.

— EU SEI QUE ELE NUNCA VAI ME AMAR! VOCÊ ACHA QUE EU NÃO SEI? - os olhos cheios de lágrimas, a expressão de dor.

— Ele te ama, Giane. - Fabinho afirmou e foi seu nome que fez Giane soltar todo o ar dos pulmões. Giane soava tão doce nos lábios de alguém que mal conseguia suportar! - Só não do jeito que você quer.

Do jeito que Fabinho disse, Giane piscou pensando se talvez ele soubesse como ela se sentia. Quem seria tal mulher? Quem faria uma pessoa como ele desejar ser amado e não corresponder?

Ela sabia muito bem a resposta e se odiava um pouco por isso.

— Desculpa por te atacar. - ela disse depois de um tempo e ele traçou padrões com dedos em seu rosto a encarando com um sorriso delicado.

— Eu vou contar para todo mundo. - ele disse e ela começou a dar tapas em seus braços. - Para de me bater! Não fui eu quem atacou uma pessoa inocente! Você vem no meu quarto me enche de esperanças de não passar essa noite fria sozinho e reclama quando eu decido contar?

A gargalhada de Fabinho era estranhamente reconfortante.

— Ninguém vai acreditar em você! - ela disse enquanto ele a encarava por um segundo e tirava uma fotografia de seu rosto confuso.

— Agora vão. - Giane se jogou em seus braços tentando tirar o celular de suas mãos, fazendo com que Fabinho desse alguns passos para trás para recuperar o equilíbrio.

O que ambos não contavam era com Irene abrindo a porta do quarto de Fabinho e o encontrando com Giane nos braços.

— Estou interrompendo alguma coisa? - a mãe de Fabinho perguntou com um sorriso travesso nos lábios. Nessas horas Giane via o que Fabinho puxara da mãe.

— Estou sendo atacado por uma maloqueira, mãe. Chama a polícia. - Fabinho se defendeu enquanto Giane se soltava de seus braços de maneira descoordenada. A vergonha que sentiam vendia um sentimento que não queriam visitar.

— Não acho que você precise ou queira se salvar, meu filho. - Irene corou. - Só cuidado. Não quero ser avó tão cedo.

Ela saiu fechando a porta.

— Sua mãe acha que nós estamos transando. - Giane afirmou se sentindo sem chão. - Todo mundo acha que nós estamos transando.

— Vai oferecer para tornar realidade os rumores? - ele perguntou apoiando o corpo na porta do quarto.

— Fabinho... - ela parecia confusa. - Será...

Giane não precisava completar sua sentença.

— Não pensa nisso. Pra quê? Não precisamos disso na cabeça, maloqueira. - a suavidade de seu tom parecia estranhamente natural e fora da realidade. - Você sabe que sempre vamos ser assim.

— Pensei que tinha apagado da memória... Mas é como uma memória muscular e você sabe...

— Dois corpos atraídos um pela gravidade do outro. - ele comentou. Frequentemente ele tinha essa conversa em sua mente e suspeitava que ela também pesava os argumentos há anos. Ambos sabiam que um dia teriam que conversar sobre aquele acontecimento. - Somos parecidos e completamente opostos e...

Os lábios dela cobriram os seus mais uma vez e Fabinho suspirou pela delicadeza do contato.

— Desse jeito, me faz pensar que você quer algo de mim. - o coração palpitando, ele torcia para que ela não pudesse ouvir.

— Às vezes eu acho que não quero nada que venha de você. Outras vezes...

— Eu entendo.

Ele sabia que ele não iria amá-la do jeito que ela merecia. Ela merecia flores e carinhos e alguém que admirasse seu espírito... Ele era quebrado demais para poder oferecer um amor como que ela secretamente sonhava.

Decidiu destruir a bolha de talvez - se odiaria por isso mais tarde como todas as outras vezes.

— Eu preciso de um favor. - disse e viu ela entender a deixa de que não eram mais quase-amantes e sim pseudo-inimigos novamente e revirou os olhos.

— O que é dessa vez? - ela perguntou cruzando os braços.

— Vem fazer o teste. - ele sabia que seria mais um dos momentos em que ele seria o único responsável pela corrupção de Giane. Ela também sabia e bufou. - Você é linda, sua idiota! Não deixa outras pessoas te fazerem esquecer quão atraente você é.

— E o que eu ganho com isso? - ela perguntou sem paciência para rodeios e frases que, para ela, eram mentiras brancas sem sentido.

— Grana? Independência? Um namorado? - ele sugeriu e viu Giane morder os lábios com um sorriso debochado. - Sabia que estava na seca!

— Porque quero que se eu te oferecesse você já estaria nu naquela cama! - ela lembrou e seu sorriso se tornou ainda mais debochado, como se fosse possível.

— Ué, mas eu sou uma, como você diz?, pessoa de baixa moral que não se importa com quem transa desde que transe com alguém. - ele não negou a afirmação de Giane, mas também não disse para ela que ele aceitaria condições para tê-la nos braços.

Não daria tanto poder para alguém como ela.

- Sei lá, às vezes eu fico pensando como seria ter alguém ao meu lado que quisesse estar. - deu de ombros. - Não sei explicar.

— Não precisa. Você nunca foi boa com esse negócio de palavras e sentimentos mesmo. - sorriu. - Mas, sério, pensa nisso. Nunca se sabe onde isso pode te levar. Você não vai ser bonita para sempre.

Ela pareceu se sentir confortada pelo seu comentário ácido. Um Fabinho clássico, ela diria.

— Prometo pensar. É estranho. - admitiu sem graça.

— É claro que é. Por isso você devia tentar. De verdade. - ele riu maleficamente. - Ou eu posso mostrar para todo mundo o estrago que fiz na virgenzinha da Casa Verde... - seu sorriso se iluminou como se tivesse percebido algo naquele instante. - Oooops.

Ela se jogou mais uma vez em seus braços pronta para lutar.

Ele preferia a dinâmica dos dois assim.

Ou pelo menos era o que dizia para si mesmo.

x

Estava sonolenta. Passou a noite revirando na cama e se sentindo confusa com o ocorrido durante a noite. Tudo parecia um sonho confuso em que inimigo se torna amante e amante se torna irmão.

Os pesadelos que tivera não ajudavam.

Naquela manhã, Fabinho lhe mandou o contato de um fotógrafo e ela encarava o número de telefone como se um presidente pronto para dar uma declaração de guerra.

No meio de seu caos mental, a falta de autoconfiança fez com que encarasse Wesley e perguntasse:

— Wesley, eu sou bonita?

O funcionário engasgou com a pergunta inesperada. Ele a encarou como se olhasse um animalzinho ferido.

— Claro que é. - afirmou rapidamente e ela parecia mais em conflito ainda.

— Do tipo modelo bonita ou pessoa decente bonita? - perguntou mais uma vez e se arrependeu assim que as palavras saíram de sua boca. - Esquece. - ordenou com uma expressão que deixava bem claro a necessidade de se esquecer.

Ela não esqueceu e se encontrou cercada de jasmins, com seu macacão de trabalho em um estúdio de fotografia em que o fotógrafo a encarava como se ela fosse a mais bela das criaturas.

Fotógrafos e modelos muitas das vezes se envolvem, ela sabia. É uma relação com a beleza que os cerca e que produzem. Tudo parece delicado e perfeito porque eles fazem questão.

Não foi uma surpresa quando foi convidada para um café pelo adorável fotógrafo, mas não entendeu o que a fez dizer:

— É que eu tenho namorado. O Fabinho, conhece?

Ao explicar porque não poderia sair com Caio.

Talvez ela tenha contado essa mentira vezes demais que elas tenham se tornado realidade. Talvez ela estivesse ficando louca. Talvez ela estivesse mantendo consistência dentro da história de verdades e mentiras que se tornara sua vida.

Talvez ela realmente desejasse que Fabinho a escolhesse.