POV do Darren

Depois de uma noite inteira planejando como resgatar o Sr. Crepsley, fomos descansar. Ainda permanecemos na floresta. Fiquei incomodado com o fato de ter que dormir de manhã (acho que ficaria chamativo para nós três), mas não hesitei e cerrei os olhos.

—Darren...—Um sussurro ecoava em minha cabeça —Shan...

—Quem é?—Gritei, sabendo eu que estava sonhando. Aquilo não podia ser verdade. Aquela paisagem fúnebre não parecia ser real. Parecia mais uma lembrança. Talvez uma memória que eu não gostaria de lembrar, mas veio na minha cabeça como um baque.

—Como ousa, Shan? Pensei que fôssemos amigos! -A voz ficava cada vez mais grossa —Como pôde esquecer do seu melhor amigo?

—S-Steve?—Perguntei, incrédulo ao reconhecer a voz de Steve Leonard.

—Você me traiu, Darren Shan! Traiu seu melhor amigo!—A imagem que antes só possuia voz foi se formando.

—Não.

—Como disse?—Ele pediu numa mistura inusitada de choro e risos.

—Não!—Gritei com convicção —Eu salvei sua estúpida vida! Eu morri por sua causa! Abri mão da minha família por você, Steve! Abri mão da minha humanidade pra te deixar vivo! Como pode ser tão cego?

Não foi eu quem trouxe a aranha venenosa do Crepsley pra casa. —Pausou —Não fui eu o irresponsável! Não sou eu o Senhor "Vou-Roubar-A-Aranha-Do-Vampiro-E-Ver-O-Que-Acontece".—Se dirigiu à minha frente -Você é o culpado de tudo, Shan! Você e o idiota do Vur Horston!

Cale sua boca imunda!

—Vocês todos vão sofrer. Quando eu puser minhas mãos em você, Darren Shan,—Falou meu nome com desgosto -vai implorar que sua morte seja rápida. E adivinha só? Não vai ser. -Pausou para rir feito um louco.

Acordei completamente suado. Passei os dedos sobre meus cabelos úmidos e vi a imagem do pequeno menino próxima a mim.

—Tio Shan! -Chamou -Estou com fome. -Ainda estava processando meu pesadelo. Respirei fundo e dei uma resposta adequeada a Darrius.

—Vamos procurar algo pra você comer. -Baguncei seu cabelo -Chame Vancha. Ele não pode ficar exposto ao sol por muito tempo. E nós precisamos ter cuidado com os humanos.

Vancha descansava sob a sombra de uma extensa árvore. Darrius havia acabado de falar sobre minha ideia e logo se animou.

—Onde vamos conseguir sangue humano na floresta? -O pequeno perguntou pulando.

—Não, não, não! Nada de sangue humano. -Falei -Não precisamos roubar mais holofotes do que já temos. Vamos procurar algum animal.

—Mas não é suficiente para nenhum de nós! -Vancha protestou, praticamente com o mesmo tom que meu sobrinho.

—Sei que não, mas que escolha temos?

—Ficaremos fracos! -Darrius ainda falou.

—Então que fiquemos. -Balbuciei.

Com um grande intervalo de tempo, encontramos um urso. Não sabia que existia esse animal em Beacon Hills. Com um grande salto, nos posicionamos sobre a fera, que tentava rasgar nossa carne, mas não deixamos que ele vencesse.

Finalmente o urso dera seu último suspiro. Antes mesmo de começar a me alimentar, lembrei do reflexo do meu antigo amigo, Steve Leonard e do pesadelo que tive com ele. Fiquei enojado.

—Darren? -O príncipe mais velho me chamara, com a boca já impregnada com o sangue do bicho. O mesmo estava Darrius -Está perdendo toda a diversão!

—Eu passo. -Sussurrei -Perdi a fome.

March se aproximou, deixando a criança se satisfazer sozinha com o animal.

—Você está bem? -Esperei por alguns segundos para finalmente responder.

—Sim. Quer dizer, não. Aah! Não sei... -Fiquei cabisbaixo.

—Fico imaginando o que Crepsley ou Gavner fariam nessa hora...-Murmurou.

—Gavner? Gavner Purl? -Tentei não rir com o comentário, mas falhei. Gavner era um general competente e o melhor amigo do meu mentor. Às vezes parecia um bêbado sem rumo.

—É. Aquele vampiro provavelmente iria forçar o Crepsley a te forçar a comer alguma coisa. Ou a dizer o que está pensando...

—Entendo onde quer chegar. -Vancha queria que eu contasse tudo. Todos os meus problemas. Normalmente, esse seria um cargo ocupado por Evra ou pela grandiosa Madame Truska do circo (a incrível "Mulher Barbada", como é conhecida) ou até por Larten Crepsley.

Resolvi falar do meu sonho. Quem sabe não é uma visão. Vancha escutava atenciosamente, como se estivesse ouvindo uma história.

—Acho que isso significa alguma coisa. -Disse ele. Apenas concordei -Bom, vamos salvar o traseiro do Crepsley primeiro. Depois nos preocupamos com Steve.

—Nossa... -Falei, dando um sorriso malicioso.

—O quê? -Perguntou chateado.

—Parece que alguém tá com saudades do amigo. -Nem me segurei. Dei uma gargalhada, seguida por um gemido de dor por causa de Vancha. Ele tinha cravado um de seus shurikens na minha carne.

—Merda! -Gritei. Consegui sentir o gosto do meu sangue, depois de ter mordido fortemente meus lábios -Por que fez isso?!

—Não mexa com Vancha March, meu amigo de presas. -Sorriu.

Pedi para que colocasse um pouco de sua saliva no ferimento. Tinha quase certeza que sua arma atravessara minha mão, mas nem quis ver.

Chamamos Darrius para perto e apertamos o passo, mas antes ouvi a mesma voz dos meus pesadelos.

Cuidado onde pisa, Shan.—A risada maníaca do Steve pairava sobre minha cabeça como um eco.

—Tudo bem, tio Shan? -O pequeno puxou minha jaqueta, como fizera antes.

—S-sim, Darrius. Vamos ajudar o Crepsley.