Quinze

POV do Stiles

–Tudo bem. -Comecei, falando em voz baixa -O que você realmente fez e por que se interessou em vir para cá?

–Certo. -O garoto pegara seu pingente e começou a tateá-lo, misteriosamente -Confesso que não vim pra essa sala só por ter ficado em detenção. Menti apenas sobre a primeira parte. Que pessoa ficaria de detenção só por ter esquecido alguns livros?

–Verdade. -Tive que concordar. Essa foi a primeira coisa que me fizera perguntar aquilo.

–E fiquei interessado em saber mais sobre esse sonho. Quer dizer... como uma pessoa sonharia comigo sem nem ter me conhecido antes?

–É a pergunta que fiquei fazendo a mim mesmo hoje. -Sussurrei, para não chamar a atenção do professor -Bem, vamos deixar isso um pouco de lado, tá?

–Claro. -Falou tranquilamente.

–Ah, acabei de lembrar de mais uma pergunta. -Falei.

–Pode mandar.

–É sobre seu sobrenome. -Ele me olhou meio envergonhado.

–Ah! O de sempre... -Suspirou -"Que pessoa no mundo tem 'Crespo' como sobrenome?" ou "Esperava mais do nome de uma carinha bonita como a sua!" -Gabou, me fazendo rir -Ou até "Normalmente, os canadenses têm sobrenomes mais refinados.". É, você não é primeira pessoa a notar o quão estranho "Crespo" soa.

–Não, não é isso! -Aproveitei para falar mais alto. O sr. Dalton saíra da sala para tomar seu café. Fiquei mal por ele ter interpretado a questão dessa forma -É só que ele me parece familiar...

–Sério? -Arqueou as sobrancelhas -Conhece alguém da minha família? Meus pais nunca falaram sobre algum "Stilinski".

Decidi falar a verdade.

–Bem, eu tenho um amigo chamado Darren Shan. -Fiz uma breve pausa, olhando para os lados -Ele tinha um amigo chamado Sam Crespo. Lembrei-me na hora dele quando disse seu nome.

O garoto estava imóvel. Não sei se era impressão minha, mas seus lábios tremiam.

–D-Darren Shan? -Ele continuava atônito. Podia certamente dizer que estava pior do que Lydia e Kira, depois de terem o pesadelo -Então era desse homem que minha mãe sempre falava? Esse era o amigo do meu irmão? -Simon estava apavorado. Falava o nome de Darren com dor.

–Então Sam é mesmo seu irmão... -Simon tentou disfarçar, mas vi nitidamente uma lágrima percorrendo seu pálido rosto.

–E-ele era meu irmão mais velho. -Se contorceu -Eu era uma criança, enquanto Sam estava lá com seus 13 anos ou algo assim. Não me lembro muito dele. Minha mãe dizia que Samuel era sapeca e que vivia em busca de suas mini aventuras. -Deu um sorriso triste.

–Foi assim como conheceu Darren? -Perguntei, tentando encaixar o meio-vampiro no relato.

–Não conheço esse Darren -Pronunciou a última palavra com desgosto -Faz uns 12 anos que não escuto esse nome. Uma das coisas que soube dele, é que era amigo de Sam e que foi o responsável pela morte do meu irmão!

–Não foi! -Droga. Não deveria ter falado isso.

–Como sabe?

–Esquece, acho que eu...

–Eu preciso saber, Stiles! -Simon segurou na gola da minha camisa com força, interrompendo minha fala. Tinha que mentir. Não poderia dizer que uma aberração chamada "Homem-Lobo" do Circo dos Horrores tinha aberto sua barriga e comido alguns de seus órgãos, como Darren Shan falara para todos nós na delegacia. Além disso, pelo que Shan falou, ele foi obrigado por Crepsley a beber o sangue do pobre Sam -que já estava morto. Darren tinha que escolher entre isso ou sua própria morte.

Mesmo que Simon acreditasse em mim, ficaria deprimido em saber da verdadeira história.

–Seu irmão foi morto por um... assassino em série. -Criei a nova versão -Darren Shan viu o corpo dele no chão, perto de uma arma. Chegou no momento errado e alguns policiais desconfiaram que ele havia matado Sam.

Fiz uma pausa, procurando desvendar sua expressão facial.

–Não é possível! -Afirmou, olhando para o chão -Eu não entendo, Stiles. Como posso aceitar isso depois de tantos anos recebendo apenas uma afirmação? -Olhou para mim dessa vez -E como pode saber tanto sobre esse Darren Shan?

Precisei mentir de novo. Se meu cérebro pudesse falar, talvez estaria dizendo que esse é um plano completamente idiota.

–Meu pai é um policial. -Iniciei -Gostava muito de curiar seus arquivos que trazia do trabalho. Mesmo sem poder revelá-los para mim, eu olhava-os escondido dele.

–Continue. -Pediu, depois de eu ter parado.

–Um dia, encontrei o anexo de um cara chamado Darren Shan. Ele era um adolescente na época e fora preso por assassinato. Mas ele ocupava um lugar diferente na lista do meu pai. -Expliquei para ele como meu pai supostamente organizava seus casos.

Tinha uma pasta para acusados, outra de cúmplices, outra para casos extras e outra para "supostos inocentes". Menti dizendo que Darren se encontrava nessa última lista, o que chamaria minha atenção.

–Vi que esse cara -Falei como se não conhecesse Darren Shan -poderia ser um inocente e coloquei essa ideia na cabeça. Depois de vários anos, soube que meu pai havia soltado Shan pelo mesmo motivo que eu te falei. Ele apenas chegou na hora errada, de maneira resumida. Era apenas um inocente.

Simon ficou pensativo, mas decidiu engolir tudo o que falei. Mudamos de assunto. Parti para as atividades que gosta de realizar, dos seriados que gostava de assistir... tenho que admitir: ele tem um ótimo gosto.

–Muito bem. -Sr. Dalton se pronunciou pela primeira vez, depois de 1 hora e 55 minutos -Estão liberados daqui a cinco minutos. Vou sair logo. Preciso resolver algumas coisas. Espero que tenha aprendido a lição, sr. Stilinski.

–Nada de conversas paralelas durante a aula. Sim, sim, entendido, capitão. -Fiz um gesto que marinheiros e sargentos faziam para seus comandantes.

–E sr. Crespo! -Se dirigiu ao meu novo amigo.

–Sim, sr. Dalton?

–Espero não encontrá-lo aqui de novo.

–Não irá acontecer tão cedo, senhor. -Sorriu.