POV do Stiles

—O que está... acontecendo? -Perguntei, sem forças. Por um breve momento, ignorei o fato de Steve estar bem na minha frente. Aceitei sua ajuda quando estendeu a mão para me puxar do lugar que antes eu estava.

—Ah, Stiles... -Suspirou -Vamos pensar um pouco. Sei que é inteligente. Sabe muito bem o que eu fiz para você.

"O que ele fez para mim". Fiquei pensando nisso, mas era estranho. Não conseguia lembrar de muitas coisas. Esperava que o garoto pudesse me recordar.

—Quer saber? -Disse, fazendo uma pequena incisão em um de seus dedos com sua unha pontuda e resistente -Vamos refrescar sua memória. -Depois disso, Steve apertou o lugar que acabara de machucar e espirrou uma gota de seu sangue na minha boca. Involuntariamente, engoli.

Algo de diferente aconteceu. Eu fui capaz de ver alguns flashes, como se fossem lembranças.

Vi Steve repetir várias vezes a mesma frase: "Aqui está nosso presente", meus amigos me olhando assustadoramente (ou será que olhavam para o garoto de cabelos brancos?).

Vi Scott gritar meu nome, enquanto eu caia miseravelmente no solo frio. Percebi, antes disso, que a boca de Steve estava ensanguentada. Espera, era o meu sangue! Ele me mordeu e por isso eu havia caído. Steve Leonard era um meio-vampixiita!

Mas aí, notei uma coisa que não lembrava de ter testemunhado (não se assemelhava a uma memória). Avistei um cemitério rodeado de várias figuras de preto. Consegui reconhecer muitas delas. Era a alcateia do Scott.

—"Por que você tinha que nos deixar agora, Stiles?" -Era o alfa gritando e de joelhos, como se estivesse com dor -"Por que agora?"

"Não, Scott!" -Tentei argumentar, mas minha voz estava abafada, quase reprimida -"Eu estou bem aqui!" -Sabia que ele não poderia me ver, mas insisti.

Outra pessoa se aproximou de mim. Era meu pai. Ele... ele estava chorando?

—"Vou sentir sua falta, filho." -Meu coração se apertava cada vez mais. Senti uma lágrima quente, recém formada, abrir caminho no meu rosto. -"Nunca se esqueça que eu sempre vou te amar."

"P-pai, não..." -Tentei alcançar sua mão, numa tentantiva falha. Como se eu fosse um fantasma, minha mão atravessou a sua. Fiquei atônito.

De repente, dois homens começaram a cobrir um caixote, o lugar onde eu estava. Gritei o máximo que pude, mas sempre saía um sussurro.

Acordei, finalmente, notando que ainda estava choramingando, como um filhote de cachorro abandonado.

—V-você! -Gaguejei, não de medo (minha voz estava firme, por sinal), mas de cólera -Você me mordeu! Me matou!

—Agora você se lembra! -Deu um sorriso malicioso, satisfeito com o que eu disse.

—O que você fez? -Gritei, ainda exigindo uma resposta decente vinda dele -Por que a minha garganta doi tanto?!

Steve Leonard se sentou e admirou com seu jeito único uma pequena flor branca. Ele fechou os olhos e a aspirou.

—Bem, Stiles. -Suspirou -Consegue ver essa flor branca? -Perguntou, olhando discretamente para mim.

—Claro que sim. Não sou cego -Respondi, secamente. Não pretendia ter nenhum laço com o garoto. Nunca mais.

—Você é como o botão dela. -Fiquei sem entender, mas explicou -Um novo ser... frágil... quase inexistente...

—O que quer dizer com isso? -Pedi.

—Eu lhe transformei, Stilinski. -Com um simples e rápido movimento, o meio-vampixiita esmagou a rosa e a jogou no chão, assim como fizera comigo, quando eu ainda estava vivo -Você agora é meu assistente, meu submisso!

—O quê? Como assim "assistente"?

—Ainda não vê, Stiles? -O garoto abriu ambos braços, como se quisesse eu fosse abraça-lo -Sabe por que sente essa dor? É por causa do seu apetite.

—Como?!

—Você sente fome, só não percebe ainda. -Continuou -E enquanto você não se alimentar, essa dor vai ficar cada vez maior e insuportável, disso eu lhe garanto. Já passei pela mesma situação há uns 11 anos. -Pausou -Vai precisar de sangue humano, agora que é um meio-vampixiita, assim como eu.

No momento, senti como se tivesse levado um forte soco no estômago. Aquilo me machucou de certa forma. Eu não era mais humano. Não era mais o antigo Stiles Stilinski. E tudo isso por causa do garoto meio-vampixiita.

—Não...-Falei num sussurro -eu não quero isso pra mim! Eu não quero ser um monstro! -Segurei minha cabeça, cobrindo meus ouvidos, como se não quisesse ouvir mais nada, além da minha própria respiração -Não vou ficar do seu lado.

—Você não tem escolha, Stiles! -O garoto estava furioso -É um recém-criado e eu sou seu criador! Vai precisar de mim até para se alimentar!

—Vá embora! -Vociferei -Isso é só um sonho. Eu estou completamente bem. -Repeti isso, esperando que meu cérebro processasse a mensagem.

Com alguns segundos de impaciência, até que enfim Steve falou.

—Tudo bem. Que você se ferre!-Riu como de costume -E que assim seja.

Sua voz foi a última coisa que ouvi. O monstro desapareceu da minha vista, deixando-me só, ao lado do meu caixão, no lugar onde eu havia sido enterrado.

"R.I.P. M. 'Stiles' Stilinski" -Comecei a ler a lápide próxima de um um profundo buraco. Liam iria gostar daqui -"Um filho, um heroi, um amigo para a vida inteira. Descanse em paz"

Aquilo não podia ser real. Por que isso tudo estava acontecendo comigo?

Precisaria encontrar com meus amigos. Mas como iria fazê-lo, se eles me viram dentro de um caixão? Eu estava morto para eles, literalmente.

Decidi então agir cautelosamente. Não poderia chegar no centro da cidade de Beacon Hills e me expor. Iria espionar a alcateia, tendo um cuidado maior com Darren Shan e seu mentor, dois vampiros experientes e que tinha a certeza que poderiam sentir meu cheiro.

O que Steve Leonard tinha dito mesmo? Alguns vampiros conseguiam disfarçar sua fragrância. Talvez isso pudesse funcionar! Só preciso descobrir como.

Mas enquanto a dor? Será que o meu "criador" falara a verdade? Será que eu teria que beber sangue humano pra fazer com que esse sofrimento acabe? Não. Vou ignorar isso, talvez funcione. Só espero que o garoto esteja errado, não quero matar ninguém. Não sou um assassino e nunca vou ser.

***

POV do Larten

Estava com meu assistente e seu sobrinho numa floresta próxima a de Beacon Hills, quando subitamente sinto um cheiro estranho e repugnante. Chamei os dois garotos.

—Darren. Darius, venham pra cá. -Sussurrei. Os dois me obedeceram, apesar de o meu assistente, sendo curioso, querer saber o motivo.

—O que foi? -Darren se manifestou -O que aconteceu? Assim que o meio-vampiro falou, notei que algo me fez perder o odor.

—Acho que não estamos sozinhos. -Indaguei, ainda confuso por ter perdido o rastro -Senti um cheiro diferente, mas logo o perdi.

—Wow. Que pena. -Falou sem nenhuma emoção. Notei uma pontada de culpa em seu rosto. Darren procurou desviar o olhar.

—O que foi, tio Shan? Você está tão esquisito. -Gostaria de perguntar isso, mas fiquei feliz por Darius ter feito o questionamento por mim.

—N-nada. -Quase não ouvi sua voz. Inspirei e então notei o problema.

—Darren. -Eu o chamei.

—Sim? -Meu assistente respondeu, ainda fracamente.

—Tire a camisa. -Assim que falei, o garoto olhou para mim incrédulo e com desgosto.

—Desculpe? Eu ouvi errado? -Disse, erguendo as sobrancelhas -Você não pode simplesmente pedir algo como iss...

—Darren. Tire a porcaria de sua camisa, agora! -Gritei. Acredito que meu olhar amedrontador disse tudo o que eu gostaria de expressar.

O adolescente finalmente se rendeu, me obedeceu. Quando tirou a camisa, reparei que minha hipótese estava correta: Darren tinha se machucado. O ferimento se estendeu do seu peito até o abdômen.

—Droga, garoto. Onde conseguiu isso? -Perguntei, sabendo que ele tinha escondido o largo corte de mim.

—Não faço a mínima ideia. -Respondeu -Só descansei por uns instantes e acordei com isso em mim. -Apontou para o corte.

—Talvez você foi atacado enquanto dormia, não? -Darius sugeriu.

—Não, não. -O assistente ficou confuso -Mas lembro-me de ter tido um pesadelo (por isso, acordei). Uma sombra gorda me segurou e fez um largo arranhão em mim, muito semelhante a esse.

Congelei, não querendo fazer a pergunta que estava pensando. Mas mesmo assim, a fiz.

—E essa figura... como ela era? -O garoto ficou pensativo e começou a falar vagarosamente.

—Ele tinha um terno. Usava um par de óculos redondos e botas amarelas. -Parou. Acho que estava recordando da verdadeira identidade do ser estranho -Ele portava um pingente de relógio com o formato de um... coração. -Seus olhos se arregalaram. Tinha descoberto quem era a figura e eu também.

—Está pensando o mesmo que eu? -Perguntei, preocupado.

—Desmond Tino... Sr. Tino... Era meu pai. -Sussurrou, levantando-se da pedra onde tinha se aconchegado por alguns instantes -Era Des Tino!