John Ferrars e Richard Adler eram funcionários de confiança do Estado inglês. Em virtude das constantes interações sociais que dividiam, seus filhos, Maximilliam e Carole, se conheciam desde a mais tenra idade.

O rapaz Ferrars sempre fora muito bem apessoado, bonito, alto e simpático, embora esta última virtude se manifestasse com mais ressalvas que as anteriores. Carole, por sua vez, sempre tivera beleza mediana, mas seu jeito de ser (alegria, curiosidade, vontade de aprender e conforto perante os desconhecidos) compensava qualquer falha do aspecto externo.

John Ferrars fora atrás das terras prussianas havia cinco anos e, apesar de as responsabilidades serem diferentes para homens e mulheres, Maximilliam era apenas dois anos mais velho que Carole.

Nunca foram grandes amigos, embora conversassem sem muitos problemas e se conhecessem de maneira satisfatória. Quando Maximilliam fora embora, porém, Carole se sentiu diferente, como se alguma parte dela houvesse sumido.

Neste momento, a moça percebeu: nutria uma paixão adolescente e platônica pelo colega de infância. Quando tal sentimento bate à porta dos jovens, há uma atitude característica: a aproximação às grandes histórias da literatura.

Carole, então, devorou as maiores histórias de amor e as maiores tragédias, sempre buscando nos livros o que lhe faltava no coração. Apesar de romântica, a moça era sensata: ilusões com um amor platônico não deveriam influenciar em sua vida.

A febre pelas histórias começara a diminuir somente nas proximidades de 1861. O baile na casa dos Dashwood, todavia, reacendeu uma série de labaredas controladas e extintas.

Ao rever Maximilliam no baile, Carole não tivera coragem de se aproximar, de conversar. Antes, relacionava-se com o rapaz sem ter ideia de seus reais sentimentos; agora que os conhecia, porém, não poderia se arriscar, a tentação seria absurda. Em uma sociedade tão notável pelos arranjos de interesses e matrimônios, uma declaração desajeitada poderia arruiná-la para sempre.

Voltou sua atenção aos livros, sempre procurando o que não poderia ter na vida real. Foi em Orgulho & Preconceito, romance inglês publicado em 1813, que Carole encontrou o que tanto encontrava: Mr. Darcy, o "herói" do livro, poderia não ser loiro ou ter olhos verdes, mas seus atributos psicológicos se assemelhavam tanto a Maximilliam que Carole logo se apaixonou pelo personagem.

Passou um ano inteiro escondendo estes sentimentos de outras pessoas, permitindo que sua imaginação e seu coração voassem no momento em que fosse para a cama. Dormia pensando em Darcy, acordava pensando em Darcy, a alegoria que escolhera para representar Maximilliam.

Em 1862, outro baile na casa dos Dashwood. Ficou nervosa, é verdade, mas nada a impediu de caprichar ainda mais em suas vestes e adornos. Nada precisaria acontecer: Carole só queria ser notada pelo rapaz.

Ao chegar ao baile, Maximilliam e sua família lá estavam. Um lampejo de reconhecimento passou pelos olhos no rapaz, mas ele nada disse, nem fez menção de se aproximar.

A família Ferrars aproximou-se dos Adler.

- Boa noite, queridos! - Cumprimentou Lily Ferrars, a mãe de Maximilliam. Os patriarcas já estavam entretidos com outros assuntos, restou somente à mulher beijar a face de cada um dos convidados. Ao chegar em Carole, porém, ela se demorou um pouco mais: assim que alcançou-lhe o ouvido, sussurrou: - Por que não conversa um pouco com Maximilliam?

A moça ficou vermelha, roxa, rosa, multicolorida com aquela insinuação. Será que fora tão transparente? Será que Maximilliam se interessava por ela? Seu coração disparou e ela só pôde se afastar o quanto antes dali.

- Carole! - Britany acercou-se dela e deu-lhe três beijinhos no rosto. - Como você está?

Deram uma volta pelo salão em silêncio.

- Lily Ferrars sugeriu que eu conversasse com Maximilliam.

- Mesmo? - Britany estava surpresa e até um pouco chocada, mas feliz, pois desconfiava dos interesses da amiga há algum tempo. - E por que não segue o conselho?

A senhorita Adler olhou para o horizonte.

- Estou acalmando meu coração! - Pararam perto de uma viga. - O que faço, Brit? Estou tão nervosa! Vou me atrapalhar e não conseguirei falar nada!

Britany deu de ombros.

- Pare de ser ingênua, Carole. Simplesmente continue tão extrovertida e falante como sempre. Se ele gostar, que bom; Se não, paciência.

A moça concordou, mas nada conseguia parar aquela palpitação em seu peito.

Tendo finalmente parado de transpirar/gaguejar, Carole acercou-se timidamente de Maximilliam.

- Boa noite, Sr. Ferrars!

Um sorriso tomou os olhos do rapaz, embora sua expressão se mantivesse inalterada.

- Senhorita Adler. - Beijou-lhe a mão. - Há muito tempo que não nos vemos.

- De fato, há pouco mais de cinco anos. - Maldisse mentalmente aquele deslize. Maximilliam iria pensar que ela contara os dias! - O tempo da Inglaterra ainda o agrada?

- Muitíssimo. - O rapaz era tímido, mas vê-lo falar era um deleite para Carole. Sentira falta daquela voz. - Nada como o lar.

- Concordo plenamente, Sr. Nosso lar é onde o coração está.

Piegas, piegas! Carole metia os pés pelas mãos.

Um sorriso discreto passou pelos lábios do rapaz.

Conversaram mais amenidades por algumas horas, mas logo precisaram se separar.

Ao chegar a casa, Carole jogou-se na cama. Estava extasiada, voava de prazer.

Não achava que fosse possível, mas Maximilliam Ferrars conseguira conquistá-la ainda mais.