Personagens

A campainha tocou e as três pessoas que se encontravam na casa ouviram-na.
–Vou atender, senhores. -Sarah foi para a porta. Ela a abriu e um longo ruído foi gerado. Era ele, Elliot Frankenstein.
–Boa tarde, Sarah. -Ele a cumprimentou. A pobre empregada quase não se mexia. Ela tinha medo dele, isso nunca deixou de existir.
–Boa tarde, senhor Frankenstein. -Ele entrou na casa, onde os filhos já estavam esperando, sentados no grandioso sofá.
–Oi, pai. -Henry foi o primeiro a dirigir a palavra.
–Olá, meu filho. -Deu um abraço nele.
–Oi, papai. -Dessa vez foi Victor. O jovem não sabia o que fazer. Não sabia se olhava para baixo ou se o abraçava, então deixou que o pai tomasse uma iniciativa.
–Oi. -Respondeu, secamente. -Quero falar com você, Victor. -Aquela fala, aquele jeito meio rude... sim, Henry estava errado. Elliot não simpatizava com Victor e vice-versa.
Eles se encaminharam para o escritório, a zona de perigo, quando se trata do pai. Henry estava próximo à porta, escondido. Queria saber se estava certo ou se era ingênuo, em relação ao pai e o seu irmão mais velho.
–Papai, escute... -Victor nem teve a chance de terminar a frase, seu pai o atingiu, com a própria palma da mão firme. O tapa foi tão forte, que Victor caiu no chão, sobre algumas cadeiras.
–Por que não me disse que estava fazendo pesquisas?! -Ele gritou o mais alto possível. A casa parecia estremecer. Pow! Outro tapa. Os lábios do jovem cientista já estavam cortados e gotejando. -O que eu lhe falei?! Já disse para acabar logo com isso! Você nunca será um cientista renomado. -Elliot levantou novamente a mão, mas não conseguiu terminar a ação porque o seu outro filho, o mais querido o interrompeu, se posicionando na sua frente.
–Não, pai! O que está fazendo? -Ele perguntou, confuso.
–Saia da minha frente, Henry! -Ele gritou novamente.
–Não! Vá embora! Não admitimos violência em nossa casa! -Henry tomou coragem para falar isso.
–Não sabe o que está dizendo, Henry. Se soubesse o que o seu irmão faz-
–Vá embora! -Ele repetiu. O pai, apesar de ser a autoridade do lugar, respeitou o filho mais jovem.
–Você está bem? -Henry perguntou ao irmão, caído no chão. Ele sabia que a resposta não seria um "sim", mas não sabia o que fazer, nessa circunstância.
–Sarah, traga uma bolsa de gelo, por favor! -Henry gritou, esperando a empregada. Ela chegou com o pedido do mais jovem e este colocou o gelo nos lábios do irmão, que não conseguia olhar nos seus olhos.
–Victor, o que você fez?-Ele perguntou, sem obter resposta. Sentiu-se obrigado a forçá-lo, então pressionou o gelo, provocando dor.
–Ah! -Gemeu de dor -Isso é injusto! -Declarou.
–Fale!
–Tudo bem... papai não gosta de minhas pesquisas. Isso começou com a minha nova obsessão. -Victor falou, envergonhado.
–Prossiga.
–Ainda se lembra de mamãe? -Ele perguntou. -Lembra o quão triste e solitário fiquei com sua morte?
–Claro, como eu iria me esquecer? Foi terrível, irmão.
–Bem... eu queria ter a oportunidade de dizer a ela que eu a amo. Sei que sempre dizíamos isso, mas não pude dizer-lhe, antes de morrer.
–E você queria trazê-la de volta a vida... -Henry o completou, chegando a uma conclusão.
–Papai não aprovou a ideia, dizendo que a ordem natural não deve ser alterada e já me ameaçou, dizendo que se não parasse, iria acabar com tudo o que fiz, mesmo que não tivesse relação com isso. -Victor colocou as mãos pálidas na testa. Ficou pensando por um breve tempo no que iria dizer ao seu irmão, mas as palavras desobedeciam à ele, e acabavam por não sair de sua boca.
–Victor, eu estou aqui. Será que podemos ter uma conversa de irmão para irmão? -Henry o questionou.
–Acho que não é tão comum irmãos falarem sobre projetos parcialmente homicidas, com fins de estudos. -Victor sorriu, estranhamente.
–Como disse?!
–Meu caro Henry, acompanhe-me.
O jovem o obedeceu, tremendo interna e externamente. Não queria que o irmão soubesse disso.
Eles estavam indo em direção a um porão, que nem mesmo o próprio Henry, que habitava a casa há cerca de 18 anos, sabia de sua existência.
–Aqui -Apontou o cientista, para as várias máquinas e caixas que tinham no lugar -É a minha área de trabalho. Não toque em minhas coisas.
–Meu Deus! Por que nunca me falou disso? Tínhamos um porão cheio de ferramentas para uso própio! E que história é essa de "parcialmente homicida"? -Henry continuou a se preocupar, fazendo com que seu irmão parasse e desse a merecida atenção a ele.
–Henry... lembra do que eu lhe falei há pouco tempo? Sobre a pesquisa que estava realizando? -Perguntou-lhe.
–Sim, claro.
–Ela está me consumindo. Está afetando o meu cérebro! Não quero que saiba e passe pela mesma situação.
–Não quero saber disso, quero saber sobre sua pesquisa! -O cientista suspirou, pensando nas alternativas. Contaria para o seu irmão? Sim.
–Eu criei... uma substância altamente tóxica aos seres vivos. Chama-se Vivificabit.
–Espere, por que criaria algo tóxico para os seres vivos? Quem a usaria? -Henry estranhou novamente.
–Para os mortos, Henry! Não é incrível! -Ele deu o sorriso psicopata de antes, mas ele não era. Estava claro para Henry.
–Está louco, Victor.
–Sim, sim, sim, sim, sim! Louco pela ciência! -Quando viu que estava assustando o irmão, Victor mudou o tom de sua voz e da sua expressão.- Tudo bem, não irei exagerar. Desculpe-me, apenas me exaltei. -E então se acalmou.
–Tudo bem... -Falou vagarosamente. -Como essa substância reage aos seus... "mortos"? -Henry fez sinal de aspas.
–Ela dá a oportunidade dos seres mortos de respirar novamente! Ainda não testei, uma vez que tenho o suficiente pra duas pessoas ou dois animais. Não quero gastá-la com fins inoportunos. Agora vamos sair daqui, sim? Vá falar com Thomas, ele já retornou da viagem.-Henry assentiu e Victor começou a empurrar o irmão, como se ainda estivesse escondendo algo dele.

De fato, estava...