Fragrance

Diga-me a verdade. Eu imploro à você.


Eu sabia que seria difícil encontrar algum ser competente para trabalhar comigo. Eu não tinha o melhor humor ou personalidade, mas eu levava meu trabalho realmente à sério e não aceitava nenhum tipo de erro por menor que fosse.

Adentrei aquele auditório sem força alguma. Já era a terceira vez e não aparecia um único que me satisfizesse. Eu não queria uma secretária. Elas falam demais e se preocupam em se olhar no espelho ao invés de trabalhar.

Passei meus olhos rapidamente por aqueles homens acomodados e em um dos cantos, encontrei um rosto completamente familiar, por mais que estivesse um pouco mais velho e com o cabelo escurecido.

Eu nunca me esqueceria dele. Podiam se passar anos e mais anos, casos e mais casos, que eu nunca acharia alguém tão perfeito para mim como ele. Kaya era único. Parecia tão recente o nosso primeiro encontro. Foi algo tão inesperado que eu nem consigo acreditar que meu amor era realmente correspondido.

Na primeira vez que ele passou pelos portões da escola junto com um amigo também vestindo roupas femininas, eu sabia que ele era diferente. Diferente em relação a mim. Eu não gostava de me aproximar ou ficar jogando minhas emoções e sentimentos para qualquer um que passasse, mas para ele eu queria. Queria me entregar em uma bandeja com flores em volta.

Eu não podia deixar passar despercebido. Eu tinha que dizer algo a ele e por fim, brinquei com suas roupas e ele foi mais ríspido do que eu esperava, mas não me magoou. Eu estava feliz o suficiente para não me importar.

As horas foram se passando e Kaya também passava perfeitamente por cada teste. Em alguns momentos, eu não sabia se ele estava realmente indo bem, ou se eu quem o via como superior em meio de todos os outros.

A prova final, que era tão ou mais idiota que todas as outras, iniciou e antes disso, eu tive certeza que ele se lembrava de mim. A forma como se esquivou quando segurei em seu ombro para falar dos sapatos de salto ou quando perguntei se já não nos conhecíamos e seus olhos marejaram.

Tão sensível e importante. Eu nunca queria tê-lo deixado, mas naquela época tudo era complicado. Eu era o melhor jogador do time e ele era o melhor namorado do mundo indo torcer por mim a cada jogo, mas começou a ser perceptível demais e meu treinador contou o que estava acontecendo para meus pais. Minha mãe entendeu e disse que me apoiaria em qualquer coisa na vida, mas meu pai me bateu inúmeras vezes e nos obrigou a mudar de cidade antes que a fama de “um filho viadinho” fosse se espalhando.

Não consegui me despedir. Não consegui nem olhar em seu rosto por uma última vez, mas estava diante dele novamente, e tentaria, de todas as formas, tê-lo como eu sempre quis.

Não havia bolinhas espalhadas. Não havia nada. Era uma prova para ver como os participantes reagiriam ao fracasso e também uma ótima oportunidade para procurar por ele em algum lugar mais reservado no meio daquelas árvores altas.

Marquei bem o caminho que ele fez e esperei algum tempo a fim de não deixar tudo tão exposto. Comecei a caminhar até ver a pontinha de um vestido encostada-se a uma árvore. Fiz um pouco mais de barulho para ter certeza que ele se levantaria. Era medroso e disso eu sabia muito bem. Quando dormimos juntos em um acampamento da escola, ele se encolheu todo em meu colo deixando lágrimas escorrerem por ter ouvido um barulho de alguém na tentativa de abrir a janela de seu quarto.

Aquelas pequenas coisas que ele fazia e que me deixava mais apaixonado. Aquela pequena declaração que ele fez logo após termos nos entregado um ao outro. Após termos nos tornado um só na antiga casa dos meus avós. Um sorriso largo apareceu em meus lábios quando lembrei disso e caminhei para mais perto encontrando o menor de olhos fechados e bem encolhido em pé com as costas no tronco largo.

Em silêncio, deixei meu braços passarem ao lado de sua cabeça e as mãos espalmarem na superfície. Uni meus lábios ao dele lentamente iniciando um beijo calmo que foi se tornando mais intenso conforme eu apertava o meu corpo contra o dele. Suas mãos corresponderam abraçando-me e sua língua explorava a minha cavidade.

Aquele gosto. Aquela sensação e aquela fragrância que exalava somente do corpo dele e de ninguém mais. Eu o amava... Ainda amo.

–Mana... –Pronunciou-se assim que o beijo fora cessado por uma sequência de selos curtos.

A voz dele saindo assim tão baixa me deixava arrepiado. Deixava-me totalmente desesperado pela expectativa de saber o que ele diria, se fugiria ou se daria um tapa na minha cara. Ele parecia previsível antigamente, mas agora, eu sentia como se não soubesse nada daquele novo Kaya.

–Hai. –Foi a maior frase que consegui formar.

–Não me beije de novo se não for ficar comigo para sempre desta vez. –O olhar era sério e os braços estavam cruzados em frente ao corpo pedindo para que eu pensasse antes de tomar qualquer atitude. –Sei que teremos tempo o suficiente mais tarde para que me conte os motivos de ter me deixado, mas agora, precisa tomar uma nova decisão e já aviso, não terá outra chance depois.

Eu não o conhecia mais. Ele estava tão forte e certo das coisas que dizia que não pude deixar de me surpreender e ficar orgulhoso. Eu ainda era o mesmo que corava com cada elogio sincero que ele me dizia e nunca conseguia corresponder com as palavras que não se formavam do jeito que eu queria.

Segurei em seus antebraços descruzando-os e deixando que estes caíssem ao lado de seu corpo. Deixei uma de minhas mãos segurar na lateral do seu rosto e acariciar a pele branca e macia. Suas pernas estavam em meio às minhas e meu corpo o apertava contra a mesma árvore alta. Eu sentia sua respiração falhar algumas vezes ao bater em minhas bochechas.

O beijei como se estivesse cuidando da mais bela rosa presente no mundo. Beijei-o tentando passar todas as coisas e sentimentos que estavam dentro da minha mente e do meu corpo durante esses quinze anos. Eu precisava fazê-lo entender que eu estava arrependido e que mudaria tudo se fosse possível.

Na verdade, acho que não. Aquele reencontro estava sendo delicioso.

Nos separamos quando o ar foi necessário e eu não precisava de mais nada naquele momento. Seu sorriso me valia à vida. Valia-me qualquer vaga de emprego ou qualquer idiota correndo atrás de bolinhas que não existiam. Eu queria ir embora e levá-lo junto.

Segurei em sua mão e passei a correr puxando-o junto. Kaya ria como se ainda estivéssemos no colegial. Ria da mesma forma que fazia quando eu me sujava com sorvete ou com farinha quando tentamos fazer cookies em sua casa. Ria daquela forma deliciosa de uma criança.

–Yuni... –Falei com a recepcionista da empresa pelo celular. –Preciso fazer algo importante agora e não posso terminar essas entrevistas.

–Mas senhor... Já é a terceira ou quarta vez...

–Eu já disse. Estou ocupado. Cuide disso, onegai. –E desliguei.

Kaya lançou-me um olhar mortal quando se sentou no banco ao lado do meu dentro do carro.

–É assim que lida com as suas responsabilidades? –Perguntou colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha sem desviar o olhar do meu.

–Minha responsabilidade agora é cuidar de você.

E arranquei rumando a minha casa tendo um moreno de cabelos curtos ao meu lado, completamente corado e sorrindo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.