Fragment of Ice

Montado em sua fiel égua, o bruxo de Rívia sentia o sol do meio dia lhe queimar a nuca, enquanto o suor quente escorria pela sua pele por debaixo de seu surrado gibão. Ignorando o desconforto criado pelo calor, o homem se deixava se perder nas lembranças de momentos atrás.

A imagem do pequeno gavião negro repousando nas delicadas e pálidas mãos dela o assombrava.

Lembrar-se daquele curto bico, salientemente curvado anunciar “A verdade é um fragmento de gelo.” o intrigava. A ave mágica relatou que o que estava em seu coração era apenas uma maldição, não era amor, ou qualquer outro sentimento. É apenas um maldito fragmento de gelo.

“Sentimentos.” Ele refletiu brevemente em completo silêncio, enquanto guiava o cavalo com cuidado pela estrada de terra. Sabia que a maioria de suas emoções haviam desaparecido, um efeito colateral dos inúmeros mutagênicos que ele fora submetido quando criança. Todavia se recusava a aceitar que não poderia sentir coisa alguma. Especialmente por ela.

Ela era linda. Perfeita. Em suas diversas imperfeições, ele encontrou uma beleza exótica. Em sua personalidade forte e independente, encontrou o desejo de estar sempre junto dela. Completamente fascinado por uma feiticeira tão complexa quanto a mistura do preto e do branco.

Franzindo o cenho, Geralt recordou-se das palavras do grande dragão dourado, Villentretenmerth, para Yennefer: “Vocês foram feitos um para o outro, você e o bruxo.” No momento, ficara estranhamente contente com a franqueza do belo e lendário ser, mas os últimos eventos o faziam duvidar daquelas palavras sinceras.

Ela o havia traído. Se deitado com um feiticeiro de uma cidadezinha nojenta enquanto ele, por míseras moedas, precisava mergulhar no lixo para conseguir matar um maldito zeugl, um monstro feito de enormes e fortes tentáculos, e dono de ameaçadores dentes afiados. Uma abominação que lembrava a mistura de um polvo com uma piranha gigante.

Contudo não conseguia odiá-la ou esquecê-la. Não importava o quanto fugisse. Mesmo que galopasse para o outro lado do mundo, sabia que ela o encontraria. Sabia que não conseguiria evitar aquele sedutor e perigoso olhar violeta, que não teria forças para escapar daquele delicioso e característico cheiro de lilás e groselha e sabia que, mesmo não querendo, desejaria estar com ela caso avistasse a sua formosa figura caminhar no horizonte, sempre vestida nas cores extremas do yin e yang.

“Maldito desejo.” Murmurava a grave voz do bruxo, lembrando-se de quando a conheceu. Em meio ao caos causado pelo furioso djinn, a única imagem que chamava a atenção de seus dourados olhos de gato era a silhueta de Yen. Tão assustadoramente bela em meio a destruição. Um paradoxo encarnado em uma mulher. Estava tão encantado, que em voz alta desejou ao djinn que seu destino estivesse ligado ao dela. Desejou que sempre estivessem juntos.

“Talvez esse seja o tal fragmento de gelo...” Pensou o bruxo. Um desejo transformado em maldição, em obsessão. Uma atração artificial, que conseguia cegá-lo perante seus poucos sentimentos. E o confundir sobre o que realmente sentia por Yennefer de Vengerberg.