Four and Four - Steps of Tomorrow

Capítulo 3 - Decisões no fim do dia


(Trilha Sonora: DJ Earworm Mashup - United State of Pop 2012 (Shine Brighter) clique aqui)

Pov Mônica

Cheguei em casa um tanto desesperada e , literalmente, correndo. Quando mostrei o bilhete para os meus pais eles olharam e disseram simplesmente que iam pensar. Isso não era o suficiente para mim.

– Pensar? – questionei arqueando a sobrancelha. – Vocês já me deixaram ir pra um acampamento, Japão e até uma excursão espacial! E agora vão fazer manha por que eu vou pra um acampamento aqui do lado?

– Você não etá entendendo mocinha. – minha mãe me repreendeu. – É justamente por causa dessas loucuras que não queremos te mandar para essas viagens. Parece até que você atraí problemas quando pisa fora do Limoeiro.

– Para ser sincera, eu atraio problemas mesmo se ficar presa em uma bolha em casa.

– Olha só como você está falando conosco mocinha. – meu pai finalmente entrou na conversa.

– Eu sei que querem apenas o melhor para mim, mas eu já estou com quase 16 anos, vocês precisam entender que está na hora de me preocupar mais com o meu próprio futuro!

Um silêncio constrangedor tomou conta do lugar.

– Eu quero ir... – sussurrei quebrei o silêncio. – Só espero que levem isso em conta quando forem decidir.

Subi correndo para o meu quarto e peguei o meu celular. Entrei no WhatsApp e alterei o nome do grupo que havia nós quatro para: "A saga do Acampamento". Se bem conheço os pais dos meus amigos já até imagino quais tenham sido as reações e decisões deles...

[ilovecoelhos] ~ Mônica

E aí? O que os seus pais falaram do acampamento?

[CincoFios] ~ Cebola

Bom...

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Pov Merida

Apesar de estar bem animada com o acampamento, acabei prosseguindo com a minha rotineira ida ao clube de hipismo para praticar um pouco com meu querido cavalo, Angus. Ele é meu fiel amigo e companheiro.

– Merida! – escutei uma voz familiar atrás de mim.

– O que está fazendo aqui Soluço?

– Deixou cair isto. – ele colocou em minhas mãos uma pulseira. Haviam três ursinhos nela, era meu pequeno xodozinho, mas apesar disso vivia perdendo-a. – Sei como você surta toda vez que monta no Angus, olga para o pulso e não encontra isso. O que por sinal acontece mais vezes do que o esperado.

Rolei os olhos um pouco indignada e frustrada por ele estar certo. Gostaria de não perder isso tantas vezes...

– Nunca mais vou perder isso. – murmurei um pouco irritada tentando colocar a pulseira.

– Duvido. – Soluço falou com uma risada.

– Isso é um desafio? – o questionei com meu tipico olhar competitivo.

– Talvez. – devolveu com um sorriso de canto.

– Ok então, meu caro amigo. Vou fazer questão de jogar na sua cara que não perdi mais isso.

– Vou esperar pra ver. Agradeceria se conseguisse, me pouparia muitas caminhadas até aqui para te devolver.

Algo brincou no meu estômago. Era estranho admitir, mas eu já estava acostumada com as constantes vindas dele... Poderia até dizer que eu gostava disso, me dava uma estranha força no treinamento.

– Bom... Vou indo. – ele avisou se voltando para a saída do clube. – Espero não ter que voltar aqui de novo.

Ouvi sua risada gostosa e me encolhi um pouco com a vergonha prévia de que acabaria perdendo a pulseira de novo e teria meu orgulho ferido. Então foi como se uma luz cruzasse sua mente.

– Soluço, espera.

– Huh?

– Já decidiu se vai ir pro acampamento?

– Não.

– E porque não? – indaguei um pouco confusa. – Quer dizer... Entre todos nós acho que você é o que mais se encaixa com isso. É o que mais se preocupa com o futuro e essa é uma oportunidade única.

– Tudo bem. Vou pensar no caso.

– Soluço... – o puxei pelo braço. – Sei como você anda mal esses dias, se estivar com qualquer problema, conte comigo.

– Eu sei... – ele rolou os olhos estressado me deixando com raiva. Estou aqui tentando ajudar ele e a criatura faz isso? Não tenho a maior das paciências, e ele sabe disso. – Mas e quanto a você mocinha? Decidiu?

– Sim. – falei com um ar vitorioso.

– E o que te levou a isso? – questionou com um sorriso brincalhão.

– Minha mãe quer me casar, e se eu quero que ela desista definitivamente dessa ideia louca, então tenho que mostrar que me importo com o futuro e sei o que fazer.

– Pensei que ela tinha desistido disso depois do... Han... Enfim.

– Ela tinha. Mas voltou há algumas semanas.

– Sinto muito por você, imagino o quanto está querendo matar alguém agora.

– Você nem imagina. – rolei os olhos e ambos rimos da situação.

– Mas não faça esse tipo de coisa por favor. – ele pediu fitando profundamente meus olhos. – Me prometa que não fará.

– Ok, ok... Eu prometo. – pensei um pouco e uma ideia me veio a mente. – Mas também me prometa que vai pensar direitinho sobre ir para o acampamento.

– Eu já falei que vou pensar Merida.

– Eu sei. Mas quero que me prometa, quero estar certa de que você vai mesmo pensar.

– Chata. – semicerrou os olhos irritado me fazendo rir. – Mas sim, eu prometo.

– Obrigada.

– Já posso ir? – questionou com um sorriso de canto.

– Claro. Até mais.

O observei sair do local e voltei para o estábulo de Angus.

– E então amigo? – ouvi seu relincho em resposta. – Vamos curtir um pouco a velocidade?

*~*~*~*

Quando finalmente cheguei em casa já estava tarde, tanto que o jantar estava pronto. Teria que falar sobre o acampamento durante o jantar mesmo. Subi a escada correndo e fui para o quarto, após um banho troquei de roupa para uma calça confortável e uma blusa moletom.

– Merida! – ouvi a voz da nossa empregada, Maudi. – O jantar está na mesa, desça logo!

– Deveria chamar meus irmãos primeiro isso sim! – gritei em resposta seguindo para a escada.

– Pior que você tem razão. – cruzei com ela, que subia as escadas com um bico nos lábios. Ela não gostava de chamar meus irmãos para o jantar, geralmente ela saá da situação com farinha, cola, tinta, ou qualquer outra coisa que eles fossem capazes de usar para irritá-la.

Quando finalmente estava sentada a mesa com meus pais, mostrei o bilhete eles. Inesperadamente, eles ficaram super animados e começaram a falar um monte de coisa.

– Han... – minha mãe parou, talvez pensando nas palavras corretas. – É realmente uma boa oportunidade, mas... Desde quando você quer estudar no exterior?

– Desde que você voltou com a loucura de querer me casar. – observei os olhos arregalados dela. – Sem ofensa.

– Então você só quer se afastar da gente? – ela gritou um pouco revoltada.

– Não! – gritei me pondo em pé e batendo na mesa com as mãos fechadas. – V-vocês entenderam errado... – notei o quento aquela ação repentina havia sido errada e me sentei um pouco envergonhada e nervosa. – O que eu quero é provar pra vocês que eu posso ser tão independente quento eu quero. Acho, quer dizer, tenho certeza; que você só está com essa ideia maluca porque se preocupa comigo, – de um jeito estranho, mas mesmo assim... – então quero te provar que posso cuidar do meu futuro sozinha.

Ficamos alguns minutos em silêncio e minhas mãos já estavam suando frio de preocupação. Será que minhas palavras pioraram a situação?

– Ok mocinha, – minha mãe quebrou o silêncio com um sorriso. – você me convenceu.

– Nem precisava disso tudo pra mim. Por mim você já ia pra essa viagem hoje mesmo! – meu pai riu alto finalmente se posicionando claramente no assunto.

– Fergus! – minha mãe o repreendeu com uma cotovelada.

Ri da situação e meus pais começaram uma conversa animada cheia de suposições sobre aquilo. Incrível como eles conseguem ser bipolares.

– Isso é incrível! A Merida vai fazer faculdade no exterior! – ok, agora as suposições da minha mãe já estão ido longe demais. Eu ainda tenho que passar 2 meses nesse lugar fazendo sei lá o que, e também ser escolhida por esse povo antes de finalmente ir para a faculdade. Sem falar que ainda tenho o terceiro ano do ensino médio pela frente.

– Do jeito que você é independente, vai se dar super bem lá... – disse meu pai.

Só ouvi até aí. Porque? Bom, porque eu vi meus irmãos aprontando de novo. Eles estavam arrumando um balde de água em cima da porta para que quando alguém abrisse levasse o maior banho. Como eu, meus pais e eles já estávamos aqui... Tinha mais uma pessoa que estava para vir. Era a Maudi!

Uou! Eu acertei! Ela abriu a porta e levou o maior banho! Coitada! Ela realmente não consegue escapar das pegadinhas deles, mas devo admitir que a cara dela está MUITO engraçada mesmo! Ninguém pode ter noção do esforço que eu fiz para não rir - e muito - daquela cena.

Agora todos estão com cara de perplexos, congelados, olhando para nossa querida empregada encharcada a ponto de matar os "pestinhas" e ir para na polícia. Segundos depois meus irmãos já estão sentados em seus lugares com cara de inocentes... Não têm nem vergonha na cara. Meus garotos! Mas minha mãe já sabe que foi eles pois está olhando para os pobres coitados com a típica cara de: "vocês estão muito ferrados"... E lá vem sermão...

– Bom... – peguei meu prato e levantei sindo correndo. – Eu vou subir!

Nem esperei uma resposta e eu já estava subindo as escadas. Cheguei no meu quarto e desisti de comer, por alguma razão eu estava mais cansada demais, tudo o que eu queria era minha cama, então apenas deitei. Fiquei pensando na vida... e dormi. Peraí, dormi não, desmaiei! E só acordei com meu telefone tocando... Era a Punzie. Eu merecia... A vontade de desligar na cara dela foi grande, mas eu não queria enfrentar um questionário sobre porque não atendi meu telefone. Isso acontecia com frequência. E eu também perdia a paciência com frequência durante eles. Decidi que era melhor atender do que espancar minha melhor amiga no dia seguinte.

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Pov Cebola

Quando finalmente cheguei em casa, a ultima coisa que eu queria fazer era ter uma conversa sobre esse acampamento. Ás vezes acho que meus pais até gostam de me ter longe por um tempo, então eu tinha quase certeza que eles iam me mandar pra esse lugar nem que ele ficasse no Acre. Estava cansado de pensar, cansado de estudar, cansado de destruir minhas amizades. Coloquei o bilhete do acampamento em cima da mesa de centro, o encarei com um pouco de raiva, mas apenas o deixei ali só para não ser acusado de que não avisei sobre dessa história. Segui um pouco desnorteado em direção as escadas, meus pais estavam na cozinha então os cumprimentei brevemente e subi para meu quarto, mas antes que eu chegasse no meio dos degraus minha irmã gritou:

– Mãe! O Cebolinha trouxe bilhete da escola!

Oficialmente. Que menina chata! Aposto que só está fazendo isso pra me ferrar.

– É Cebola! – gritei irritado descendo as escadas.

– O que houve dessa vez? – minha mãe perguntou entrando na sala.

Maria sorriu sínica para mim e entregou o bilhete para minha mãe que leu com muita atenção. Estava mais do que na cara que ela queria me ferrar. Seria uma pena se o bilhete não fosse de reclamações...

– Que legal filho! – minha mãe comemorou depois de ler o bilhete.

– O quê? – Maria estava completamente chocada. Bem feito, quem manda querer fazer os outros se darem mal. – Deixa eu ver isso! – pegando o bilhete das mãos da minha mãe, ela leu e ficou com um bico irritado. Incrível como ela está conseguindo ficar cada vez mais chata. Será que eu também era assim quando era pirralho?

– Você vai querer ir? – minha mãe perguntou interessada chamando minha atenção.

Eu não queria para ser bem sincero, mas sei que essa resposta seria estranha demais para os meus pais então optei por um:

– Por mim tanto faz. Na verdade, eu quero pensar um pouco, depois eu falo.

Terminei de subir as escadas e entrei no meu quarto, me joguei na cama tentando relaxar um pouco, mas acho esse é um tipo desejo impossível de cumprir uma vez te tem um ser pitoco com olhos gigantes desafiadores te fitando.

– O que foi Maria? – pergunto ainda de costas para a porta.

– Você é um idiota maninho! – suas palavras estranhamente me chamaram a atenção e me virei para ela com uma sobrancelha arqueada.

– Porque acha isso?

– Como que “Por mim tanto faz!”? – disse ela afinando a voz na parte em que repetiu o que eu falei.

– Se veio aqui para me zoar, cai fora! – adverti irritado.

– Calma maninho! Senta aí! – ela disse se sentando na minha cadeira e eu em minha cama.

– O que foi agora peste? – questionei revirando os olhos.

– Olha... Você é a pessoa que eu conheço que mais pensa no futuro! Mas está aí jogando fora essa oportunidade única! Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar!

– Cai sim. – contrariei divertido.

– Tá bom deixa eu mudar! Uma oportunidade dessas não acontece duas vezes!

– Mas...

– Não me interrompa de novo coisa! É para o seu próprio bem. – ela disse me deixando em um profundo estado de pensar e indo embora.

– Maria! – chamei antes que ela sumisse de vista.

– Oi?

– Obrigada!

– Disponha!

– E eu vou!

– Que bom maninho.

– Espera. – a interrompi antes de sair. – Você já convenceu os meus pais não é?

– Óbvio, – ela riu divertida. – até parece que vou perder a oportunidade de te mandar pra longe durante 3 meses e ter seu computador, notebook e jogos, apenas para mim. Você ia ir pra esse acampamento nem que estivesse em uma maca de hospital.

– Obrigada pela consideração hein.

– Também te amo maninho, – ela deu uma piscadela brincalhona. – e aprendi com o melhor.

Estranhamente eu sorri orgulhoso. É... Mesmo que eu não quisesse, eu amava aquela pirralha. Peguei meu celular e entrei no WhatsApp. Notei o novo nome do nosso grupo e a pergunta da Mô.

[ilovecoelhos] ~ Mônica

E aí? O que os seus pais falaram do acampamento?

[CincoFios] ~ Cebola

Bom...

Pirralhas com olhos gigantes de mangá conseguem qualquer coisa

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Pov Soluço

A distância entre o clube de hipismo e minha casa não era tão grande, mas na velocidade com a qual eu estava caminhando, provavelmente só chegaria em casa umas 18:00 hrs. Tudo bem... Pelo menos assim tenho tempo para pensar. Já que eu prometi para a Marida que pensaria, sou obrigado a fazer isso, mas a dura realidade é que eu não quero fazer. Eu não quero ir para esse maldito acampamento.

A Merida me conhece melhor do que eu gostaria. Ela estava certa, eu estou mal. Dizem que quando se está "mal" é bom ter a ajuda e presença dos amigos e da família, mas como eu posso fazer isso, como eu posso ficar bem, se minha mãe...

Enfim... Isso é um assunto do passado. No entanto, é um dos assuntos do meu passado que sempre insiste em voltar à tona.

Parei de andar e dei um suspiro cansado. O sol já estava se pondo, mas não era isso que dava ao céu uma coloração acinzentada. Nuvens densas se encontravam acima de mim, e parecendo concordar do o meu estado, começaram a deixar sair a sobrecarga. Deixaram chover em cima de mim.

Uma memória passou pela minha mente. Sempre que estou indeciso, e os velhos problemas me impedem de tomar uma decisão e seguir em frente, a voz de Merida ecoa em minha cabeça.

"– Sua mãe ia querer que fizesse isso."

Foi essa a frase que mais mudou a minha vida nesses últimos anos. A frase que me faz acordar para a vida e tomar as decisões na hora certa.

Era uma época em que eu estava mal. Na verdade, eu estava muito mal. Fazia alguns dias que eu estava trancado no meu quarto, sem fazer muito coisa; não comia, não dormia; apenas fazia minha higiene pessoal e voltava para a cama. Perdi a conta de quantas vezes meu pai tentou falar comigo e foi ignorado. Eu sei o quanto deve ter sido difícil para ele, ver o filho naquela situação e não poder ajudar. Mas também não tive coragem de escutá-lo, ou de me esforçar um pouco para tentar superar a situação, eu apenas queria ficar sozinho, no meu canto, pensando.

Até que um dia fui surpreendido por um barulho alto. Minha porta havia vindo abaixo, arrombado por uma familiar juba vermelha.

– Merida! – ouvi o grito revoltado do meu pai. – Você podia ter me pedido a chave reserva do quarto dele!

– Desculpa tio Stoico, – ela gritou de volta após uma risada. – mas se fosse assim, como ele saberia que era eu?

Apesar da situação inesperada, não me movi nem um único centímetro da minha posição na cama. E involuntariamente desejava que ela desistisse e apenas fosse embora, mas, obviamente, não funcionou.

– Ei, Soluço, você tem que levantar. – ela falou com a voz um pouco baixa, talvez sem saber direito o que fazer. Era a primeira vez que ela me via assim. – Vamos lá... Não me faça de trouxa, me deixando aqui falando sozinha. E eu deveria fechar a porta agora, mas meio que ela não existe mais.

Houve um breve momento de silêncio. Geralmente, naquele momento eu estaria rindo da falta de bons modos da ruivinha, mas apenas o silêncio pairou no ar.

– Soluço, por favor, sai dessa. – ela pediu se aproximando e sentando na beira da minha cama. – Se não, quem eu vou irritar, em quem eu vou bater, quem vai aturar meu gênio forte, quem vai me consolar quanto eu tiver problemas, quem eu vou zoar, mas mesmo assim vou saber que vai estar comigo? Eu preciso de você.

Não podia negar que estava surpreso com as palavras dela. Para aquela ruiva falar tudo aquilo, ela tinha que no mínimo estar muito desesperada com a minha situação. Mas infelizmente eu não reagi.

– Merida, pare. Não importa o que você disser, eu não vou reagir, não vou sair dessa cama, não vou seguir em frente, não vou superar. Eu não quero fazer nada disso.

Houve alguns segundos de silêncio, então ela pegou meu rosto e o viro, me forçando a encará-la. E por fim disse aquelas palavras que eu tanto precisava ouvir:

– Olhe para mim e escute muito bem o que eu vou te falar, ok? – assenti brevemente ainda sem vontade de continuar aquela conversa. – Sua mãe ia querer que fizesse isso.

E foram aquelas palavras que me fizeram acordar, e eu chorei. Pela primeira vez eu chorei na frente da Merida, mas eu precisava daquilo, precisava dela para me fazer acordar e para me consolar daquela dor que sempre me dilacerava por dentro.

Está acontecendo de novo, e a Merida está certa de novo. Não posso deixar que meus velhos problemas interfiram nas minhas escolhas e muito menos no meu futuro. Eu tenho que ir para esse acampamento.

*~*~*~*

– O quê?! – e esse grito foi a primeira reação do meu pai quando eu contei a novidade. É... Esse vai ser um longo jantar. – E esse povo confia assim, em qualquer um?!

– Não é assim pai... – suspirei procurando as palavras certas para convencê-lo. – É só que para os alunos isso é um sigilo total, mas para os pais é só ir na coordenação ou nesse site e perguntar. Não é como se fossem sequestrar crianças para vender no mercado negro.

– Pra mim parece justamente isso!

– Pai, – rolei os olhos. – não é como se a nossa escola estivesse apoiando um crime internacional.

– Talvez esteja. Próximo ano te colocaremos em outra escola.

– Pai! Você já está exagerando!

– Tá bom, tá bom, eu sei que estou... – suspirou cansado e eu implorava internamente que aquilo fosse um sinal de que ele havia cedido. – Você quer ir?

– Quero! – respondi mais alegre do que esperava. Ele realmente havia cedido, aquilo era estranha, mas eu não tinha do que reclamar.

Provavelmente ele viu o brilho que irradiava dos meus olhos, um brilho sonhador... Como ele contava que era o da minha mãe... E claro que ela tinha que estar no meio dessa decisão dele.

– Eu sei que sua mãe também ia querer isso. Já perdi sua mãe, Soluço... Então me prometa que não vai me abandonar também? – era estranho ver meu pai, o homem forte, temido, o imenso, o viking, o chefe de uma grande empresa mundial de cultura... Sensível daquele jeito. Falar sobre ela tinha esse efeito nele. E em mim.

– Nunca! – respondi o abraçando, afinal eu não sei direito pelo que ele passou, mas sei que é horrível saber que sua mãe morreu por você... Saber que você causou um vazio. E você sentir esse vazio.

É horrível perder alguém.

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Pov Magali

Minhas tentativas de falar com a Mônica sobre meu "problema" foram mais falhas do que eu imaginava. Apesar de ser a segunda vez que acontecia, doeu um pouco mais do que eu esperava. Mais uma vez o Quim provou o efeito que ele possui sobre mim, e o quanto terminar nosso namoro me afeta. Mais do que triste, eu estava irritada com ele! Foi tudo sem mais nem menos! Estávamos bem, nenhuma briga recente, ele estava indo muito bem na recuperação da sua auto estima, no curso de culinária. Claro que nem tudo são flores e o pai dele estava mais bravo do que nunca. O problema de ele não concordar com o nosso relacionamento estava pior do que nunca, o que me fazia questionar seriamente: Será que o Quim terminou comigo por causa dele?

Abri a porta da frente de casa extremamente cansada. Havia sido um dia pior do que eu imaginava e meu estômago ainda embrulhava com as lembranças recentes. Oficialmente, eu não tinha planos de comer pelo resto do dia.

– Filha... – chamou minha mãe.

– Sim?

– Você tá legal?

Essa não! Ela percebeu!

Sem querer deixei uma lágrima teimosa rolar pela minha face...

– O que houve? – perguntou preocupada.

– O-o Q-qui-quim t-te-ter-terminou co-co-comigo! – respondi (se é que esse é o nome como se chama isso...) me entregando as lágrimas e a abraçando.

– M-ma-mas como?! Porque?

– Ele viajou de volta para Portugal e não sabe se vai voltar... Por isso ele achou melhor terminarmos! Ele não queria me fazer sofrer... – falei entre soluços, e com o choro me consumindo.

–Mas...

Ela não falou mais nada, só me abraçou mais forte. Incrível como um simples abraço te faz sentir melhor, simplesmente pelo fato de ele ser da sua mãe.

– Posso fazer alguma coisa por você? – ela perguntou.

– Não... – respondi.

Aí eu lembrei do acampamento. Essa pode ser uma ótima oportunidade para eu esquecer essa história e ser feliz...

– Na verdade... – disse me afastando e pegando o papel na mochila, que estava no meu quarto e voltando. – Tem isso!

Ela mal olhou e respondeu:

– Se isso vai te trezer felicidade eu nem me importo! Você vai de qualquer jeito!

– Obrigada mãe! – falei a abraçando de novo.

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Pov Rapunzel

Cheguei em casa gritando pelos meus pais.

– PAAAAAAAAAI!!!!! MÃÃÃÃÃÃÃÃÃE!!!!!

Mas acabei esbarrando com a Flory, nossa empregada, e ela caiu com tudo no chão.

– Aí! Desculpa! – falei a ajudando. – Sabe onde estão meus pais?

– No jardim...

Ela nem bem respondeu e eu a soltei fazendo cair com tudo no chão... De novo...

– Desculpa Flory! Mas o que eu tenho para falar com eles é urgente, e você pode se levantar sozinha, né?!

Aí eu saí correndo para o jardim e só ouvi ela dizer:

– Oi pra você também Rapunzel!

Entrei no jardim gritando:

– PAAAAAAAAAI!!!!!!MÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃE!!!!!!

– Pare de gritar Rapunzel. – disse meu pai calmo.

– O que houve filha? – perguntou minha mãe me olhando.

– Foi isso! – disse entregando o bilhete a eles.

Eles leram com muito cuidado e falaram:

– Interessante... – isso em uníssono...

– Mas você realmente quer ir? – perguntou meu pai.

– Quero! – respondi firme.

– Então vamos ver as coisas e talvez...

– Talvez? – perguntei triste.

– Mas é quase certo que você vai!

– Obrigada, obrigada, obrigada... – falei abraçando eles. – Mas agora eu tenho que ligar para a Merida, beijos...

E saí do jardim com o celular na mão digitando o número da Merida... Tinha que contar isso para ela.

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Pov Cascão

Cheguei em casa 2 horas depois que as aulas tinham terminado, pois a Cascuda tinha marcado um encontro comigo.

Achei super estranho. Primeiro pelo fato de ela ter me convidado, segundo pelo fato de ter sido em cima da hora.

E eu estava certo, pois esse encontro resultou no término do nosso namoro.

Ela vai viajar, em um intercâmbio, e só vai voltar no final do ano que vem...

Estou sem chão...

No caminho para casa pensei ter esquecido meu celular e comecei a procura-lo dentro da minha mochila. Mas acabei achando além dele, algo mais interessante... O bilhete do acampamento.

É... futuro... Quem sabe esse acampamento não me ajuda a esquecê-la...

##########

Cheguei em casa e mostrei o bilhete para minha mãe dizendo que queria ir. Ela e meu pai congelaram. Acho que não é todo dia que eu quero fazer uma viagem para mudar o meu futuro...

Do nada eles gritaram:

– Você vai!

E eu sai para o meu quarto com medo de qualquer outra coisa... No celular vi a Mônica me convidando para um grupo no wwp e aceitei... Logo vi ela contando que tinha acabado de conversar com os pais dela e que eles também aceitaram que ela fosse numa boa, e que a Magali contou que o Quim tinha terminado com ela...

Cascão(Parkur;D) – Bem vinda ao clube Magá... T-T

Magali(Comiiiida! Só que não;D) – Como assim Cas?

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Pov Jack

Cheguei em casa cumprimentando meu avô que estava fazendo uma escultura de gelo de uma linha de trem com o ar condicionado no máximo!

É... Eu e ele amamos o frio...

– Vô! Olha só isso... – disse entregando o bilhete para ele.

– E o que você acha disso? – perguntou ainda lendo o bilhete.

– Que deve ser incrível ir para esse acampamento decidir um pouco do meu futuro... – respondi, mas é claro que não era isso que eu pensava daquele lugar...

– Hô, hô, hô! – ele riu aquela risada gostosa que te faz sentir acolhido. – Você não me engana Frost...

– Tá! Eu vou lá porque quero me divertir...

– E...

– E só!

– Vou fingir que vou acreditar...

– Ei! – reclamei indignado.

– Mas não se preocupe... Você vai!

– Yes!

– Mas só se me prometer uma coisa...

– O que? – falei rolando os olhos.

– Que não vai exagerar nessa diversão...

– Fechado! – disse apertando sua mão oficializando o acordo.

– Então você vai! Mas eu tenho um jantar com uns amigos de trabalho agora... Nos vemos mais tarde...

– Até! – me despedi e a porta se fechou.

É acampamento... Me aguarde! Jack Frost tá chegando...