— Está pronto para o seu primeiro dia? – Sarah caminhou pela cozinha segurando uma xícara de café. Ele não tinha ido para cama essa noite, mas ela não quis pressionar muito sobre isso.

Chuck estava sentado na mesa da cozinha, mexendo em algo no computador, e olhou para ela.

— Bem, como disse antes, eu não sei exatamente como ajudar, mas estive tendo me atualizar sobre alguns novos bancos de dados. – ela sentou do seu lado e ele começou a gesticular com mais entusiasmo – Eu pedi para a general Beckman permissão para acessar os softwares que deram origem ao Intersect e é simplesmente fantástico! As formas como eles compactaram todas informações em arquivos criptografados e eles são ativados por meio de gatilhos é simplesmente... – ele sacudiu as mãos no ar sem ter palavras exatas para descrever.

Sarah sorriu com toda a animação de Chuck e levantou-se novamente para pegar um pouco mais de café. – Tudo vai ficar bem Chuck, mas parece que você não descansou nada...—Sarah olhou preocupada.

— Oh, não, estou bem – ele suspirou – Tirei um cochilo no sofá.

— Chuck... – ela encostou na mesa, segurando a sua mão direita.

— Sarah... bem, é...- ele fez uma pausa olhando fixamente para ela.- ...sobre isso- ele engoliu em seco – Eu não... não é exatamente como se eu me sentisse descontável... mas é tipo isso... sei que sou familiar para você mas...

— Tudo bem, eu não sou familiar para você, entendi. – Ela soltou a mão de Chuck.

— Não, não... – ele segurou novamente a mão dela, agora com as duas. – Veja bem, tenho certeza que você também é familiar para mim, de uma forma inconsciente... e eu não quero estar inconscientemente... – ele procurou as palavras mais adequadas para tentar dizer o que queria – te passando alguns sinais..., invadindo o seu espaço pessoal...ou coisas do tipo...

Chuck começou a corar e seus olhos eram quase suplicantes. Sarah estendeu a mão livre e tocou carinhosamente o seu rosto.

— Tudo bem, tudo bem Chuck, entendo que isso não é fácil para você, só quero que fique confortável, certo? – ele assentiu- Bom menino. Vamos comprar um novo colchão para colocar na cama de Morgan, ok?

— Certo.

Sarah continuou mais alguns instantes com o rosto de Chuck em suas mãos, acariciando os cabelos castanhos, ele permaneceu parado olhando para ela. Sarah estava totalmente absorvida pela sensação de tocar seus cabelos novamente, seus olhos azuis estavam quase fechados. “Ela está gostando?” um sorriso em Chuck começou a se formar lentamente. Quando ela percebeu as expressões faciais se modificando, Sarah percebeu o que estava fazendo e retirou a mão.

— Acho que agora sou eu quem está invadindo o seu espaço pessoal, desculpe.

Mas ela não parecia se lamentar de verdade, os olhos cintilando.

— Acho que eu deveria...- ele apontou para o quarto – trocar de roupa par a gente ir.

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A nova base de operações era subterrânea a uma empresa de assistência tecnológica, no centro de Los Angeles, já que a antiga Buy More tinha sido vendida para Subway e eles precisavam de novos disfarces.

Chuck percebeu que a loja em si era bem menor do que a Buy More, mas apresentava basicamente as mesmas configurações de uma loja de tecnologias e insumos para computadores e, pelo que aparentava, todos os outros funcionários eram agentes também. Sarah andou guiando ele por uma das portas que os conduziu para um armário de suplementos, quando ele já estava abrindo a boca para perguntar, Sarah apertou um número em um painel e a parede do fundo abriu-se como uma porta. Eles desceram dois lances de escada e visualizaram o novo local da equipe.

Ethan já estava sentado em uma mesa observando uma série de números. Ele se virou quando ouviu os ruídos de passos.

— Bom dia – eles disseram em uníssono.

— Hey, bom dia Sarah, radiante como sempre. – ele demorou-se um tempo mais do que necessário contemplando Sarah. Ela acenou com a cabeça e entrou em uma outra sala. – Bom dia Chuck.

— Olá, Ethan. – Chuck permaneceu parado, sem saber exatamente para onde ir ou por onde começar, ele secou as palmas das mãos que tinham começado a suar um pouco.

—Chuck, preciso de uma ajuda sua. Sente-se.- ele falou com um tom levemente autoritário.

Chuck se sentou ao lado dele e ficou aguardando.

— Bem, Chuck, estava apenas te aguardando para fazer o download do Intersect 3.0, essa versão é muito semelhante à que você utilizou anos atrás e gostaria que você me respondesse algumas questões, se você se lembrar, claro. – ele deu uma discreta piscadinha irônica para Chuck.

Sarah tinha advertido Chuck que Ethan poderia ser um pouco “difícil”, ele tinha que confirmar o que exatamente ela queria dizer sobre isso. Para evitar conflitos, Chuck fingiu que não tinha percebido e confirmou com a cabeça.

— Vejamos... – Ethan olhou para o notebook. “Ele deve ter feito uma lista” Chuck pensou. – Sim. Fiz uma lista de questões relevantes, vamos lá: Sobre alterações físicas, me diga, alguma mudança? Perda de acuidade visual, alterações metabólicas, problemas cardíacos?

— Não, mas agora que você falou, acho que tenho um pouco mais de dificuldade de ler durante a noite, mas nada que me incomode, na verdade.

— Alterações de humor, ataques epilépticos?

— Sempre fui muito ansioso, mas isso já é meu mesmo. Sarah sempre me pede para não surtar, mas sempre já estou surtando. - Chuck sorriu discretamente e parou um pouco. “De onde veio isso?”.

— E sobre convulsões, etc...

— Nenhum relato. - Ethan ia passar para a próxima pergunta quando ele respondeu novamente.- Pensando bem, os flashs, como eu costumava chamar, eles induziam pequenos momentos de perda de consciência, mas eram breves.

— Ok, próxima, alterações de performance?

— O quê? – Chuck parou um minuto.

— Performance, você sabe. Sexual.- Ethan falou com naturalidade, como se fosse uma pergunta sobre marcas de carros.

— Bem, acredito que não. – Ethan olhou para ele, e sorriu com o constrangimento de Chuck.

— Tenho certeza que não, veja, você ainda está casado com Walker e, cá entre nós... Sei como ela pode ser...

Chuck deu um tapa na mesa. Nem ele acreditou que ele tinha feito isso, só ouviu o som e depois sentiu a palma arder. O seu rosto estava quente também.

— Basta Ethan. Essas suas perguntas já acabaram? – Chuck se esforçou para manter o tom de voz controlado.

— O que foi isso? – Sarah apareceu na porta olhando para os dois, o pescoço de Chuck ainda estava róseo. Ele evitou contato visual e olhou para as mãos.

— Tudo bem, Sarah. Estava apenas fazendo algumas perguntas para Chuck.- Ethan lançou um sorriso inocente para ela.

No minuto seguinte a porta estava fechada novamente.

— E com isso, chega de perguntas. – Ele direcionou o sorriso inocente para Chuck. Vamos lá.

Ethan retirou os óculos de uma pasta que estava em outra cadeira e colocou no rosto. Após alguns segundos, as lentes acenderam e começaram a passar imagens rapidamente pelo visor e na mesma rapidez que começaram, as luzes apagaram.

Ethan retirou os óculos e fechou os olhos. – Isso dói um pouco. – ele falou.- Chuck, esse novo projeto será atualizado continuamente- ele abriu os olhos. – A general falou que você foi um excelente Intersect, porém após alguns anos, muitas informações que você tinha na cabeça, começaram a ficar defasadas. O seu papel na equipe, é analisar arquivos recentes e atualizações e sincronizar com as informações na minha mente. O que acha?

— Bem, é uma perspectiva bem ousada, mas acredito que será possível realizar sem problemas. Um intervalo semanal de atualizações acredito que será um ótimo limite. Tenho muitas anotações em casa, posso conferir elas depois e agendar um dia para nossas atualizações.

— Ótimo! – Ethan se levantou cambaleando um pouco. – Você gostaria de ver o que isso faz?- ele apontou para a própria cabeça. - Venha.

Chuck se levantou e acompanhou ele pelas instalações, havia muitos corredores e portas fechadas, algumas com camas, como celas, outras com mesas e cadeiras ele acompanhou Ethan e entrou em uma sala que parecia uma academia. Tinha um dojô, alguns supinos, pesos e esteiras.

O Agente Frazier começou a dobrar as mangas de sua camisa social e tirou os sapatos.

— Vem, Chuck, venha aqui. – ele acenou com as mãos. – Você se lembra de alguma coisa quando tinha o Intersect?

— Apenas de breves momentos, mas não exatamente usando ele. – Chuck se abaixou e retirou os AllStars.

— Eu assisti algumas gravações de suas missões – Ethan falou quando ele se aproximou. – Tente me acertar.

— Não, não gosto muito de violência, sabe? – Chuck encolheu os ombros.

— Qual foi Chuck? Está tudo bem. Venha.

— Acho que é melhor você chamar outra pessoa para isso.

Ethan parou por um segundo e pensou.

— Sim, bem pensado.- ele retirou o celular do bolso da calça e digitou uma mensagem.- Prontinho, ela está vindo.

— Quem?

— Ora, não seja bobo Chuck. A Sarah.

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— Como você fez aquilo? – Sarah perguntou quando deu a partida no carro e começou a dirigir no tráfego de meio dia.

O rosto dela estava ficando discretamente vermelho onde o Ethan a acertou. Chuck olhou pela janela, tentando também entender o que tinha acontecido. Ele tentou esfregar as mãos, mas as dobras de seus dedos estavam doloridas e arranhadas.

— Eu não sei Sarah.- Na sua mente tudo tinha passado em segundos. Em um momento Sarah estava caindo no chão e em seguida, Chuck estava empurrando Ethan de cima dela e trocando golpes. – Não faço idéia, só tentei fazer o que era certo.

Ela assentiu- Precisamos falar com Beckman

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.