POV Steve Rogers

Olho-me no espelho mais uma vez e em seguida encaro o potinho cheio a minha frente. Pai?! E pior, de um adolescente? Será mesmo possível? Talvez Natasha tenha razão e tudo isso não passe de loucura. De qualquer forma, é melhor tiramos qualquer dúvida agora.

Saio do banheiro com passos decididos e vou ao encontro de Tony e Bruce, sendo que esse primeiro estava ali apenas para atormentar nossas vidas.

– Conseguiu? – pergunta. Reviro os olhos e levanto o potinho que Bruce pega sem hesitar. – o que vamos fazer agora? – pergunta ansioso.

– Você eu não sei, mas eu vou preparar as coisas para recolher o material da Natasha e começar o trabalho. – Bruce responde e em seguida começa a pegar alguns instrumentos e preparar uma maca.

– Você não quer minha ajuda Bro? – Tony pergunta, visivelmente incomodado com o fato de estar sendo dispensado.

– Não acho que a agente Romanoff vai querer você aqui durante a coleta. – fala calmamente.

– Eu vou indo. – anuncio já caminhando para fora do laboratório.

– Você não vai esperar a Natasha? – Tony pergunta surpreso.

– Também não acho que ela vai querer me ter por perto agora. – respondo e saio.

Como não tinha muitas opções de locais para o qual pudesse ir, acabo indo parar onde toda essa história começou.

– Espero que isso não seja alcoólico. – falo assim que entro na sala e vejo Hayden com um copo na mão. Tanto ele como Clint me encaram surpresos.

– É pra passar o tempo. – diz naturalmente.

– Quer passar o tempo? Vá ler um livro. – o repreendo e retiro o copo das suas mãos. Hayden reclama, mas apenas ignoro.

– Se ele já te trata assim sem nenhum grau de parentesco, imagine se ele for mesmo seu pai? – Clint comenta, debochado. Olho de soslaio para Hayden, atento a sua reação, mas ele apenas ri em resposta. Será que ele está gostando dessa ideia?

– Eu acho que vocês precisam conversar sendo assim, vou indo. – Clint fala, quebrando o silêncio que havia se instaurado. Levanta-se e vai embora, provavelmente para o seu andar.

Hayden e eu continuamos em silêncio. Eu gostaria de conversar com ele, saber o que está se passando na sua cabeça, ajudá-lo a entender, mas como eu poderia se nem consigo entender o que se passa na minha cabeça?

– Não é o fim do mundo. – ele fala, me tirando dos meus devaneios. – quero dizer, isso tudo é loucura né? Há alguns meses eu e a Natasha estávamos quase nos matando num ringue e agora ela pode ser minha mãe! – ele comenta num tom incrédulo.

– E você conseguiu conquista-la. – afirmo com um sorriso de canto.

– Na verdade, ela só me tolera. – ele repete as palavras da Nat e começamos a rir. – sério, ela faz questão de frisar isso toda vez que entramos no campo sentimental.

– Ela adora você.

– E você também.

– Eu também te adoro ou ela também me adora? – pergunto com o cenho franzido.

– Acho que os dois. – ele dá de ombros.

Continuamos rindo e lembrando as ameaças e coisas pelas quais nós três passamos juntos. Um sentimento de nostalgia toma conta e quando dou por mim, estamos rindo e brincando, imitando gestos e vozes, contando vantagem.

– Mesmo que esse teste dê negativo, eu vou continuar gostando de você e te considerando um pai pra mim. – Hayden fala de repente.

– Então você já me considera seu pai? – ele dá de ombros, pensativo.

– Você sempre agiu como um, embora muitas vezes eu ache que tenha sido inconsciente. Talvez você nem saiba como é agir como um pai e eu admito que também não sei. Mas você é o cara que mais se aproxima dessa figura pra mim. – ele explica e eu fico emocionado. Eu agi como um pai?

– Meu pai morreu quando eu ainda era novo e bom, considerando a minha idade atual, faz muito tempo que eu tive algum contato desse tipo. Então, fico surpreso que você pense isso sobre mim. – ele coloca uma mão no meu ombro.

– Você vai fazer um bom trabalho. – fala num tom tranquilizador.

Agradeço com um aceno e voltamos a ficar em silêncio. Mas não mais um silêncio constrangedor ou incomodo, apenas aquele silêncio no qual você está com uma pessoa importante e apenas a presença dela basta pra você se sentir bem.

Nosso momento de paz é quebrado pelo toque no meu celular, que acaba nos assustando.

– Acho bom você atender. – Hayden fala, apontando para o celular que atendo em seguida.

– Alo? – atendo.

Capitão. É a Hill. Precisamos que venha imediatamente para a Base. – Hill parece nervosa.

– O que aconteceu? – pergunto, e algo dentro de mim se remexe temendo a resposta.

É o soldado. Ele fugiu. – meu coração dá um salto.

– Já estou a caminho. – falo e encerro a ligação.

– O que aconteceu? – Hayden pergunta se pondo de pé. Eu já estava parado no meio da sala sem perceber que havia chegado ali.

– É o Bucky. Ele fugiu. – murmuro.

– Como? – Hayden questiona alarmado.

– Eu não sei. Preciso ir pra base e tentar descobrir...

– Eu vou com você! – anuncia e eu o encaro.

– Não. Você vai ficar aqui e isso não está aberto a discussões. – falo duro, mas ao invés de acatar minha decisão, Hayden se mantem firme.

– Você não é meu líder. Eu não faço parte dos Vingadores, tão pouco trabalho para você. Você não manda em mim. – insiste. Respiro fundo e caminho até ele parando em sua frente.

– Você vai ficar aqui, nem que para isso eu tenha que te trancar naquele quarto. – falo o mais calmo que posso. Ele apenas ri, desdenhoso.

– Eu vou e você não vai me impedir. – que droga! Quando foi que ele ficou tão teimoso?

– Hayden, você fica! Eu sou seu pai e estou mandando! – exclamo irritado. Ele me encara e ficamos assim por alguns segundos.

– Até o resultado daquele exame sair, você não é. – as portas do elevador se abrem e rapidamente chego até ele, entrando.

– Independente do resultado daquele exame, eu vou continuar me importando com você, sendo assim, você fica. – as portas se fecham, e a última coisa que vejo é a determinação presente em seu olhar.

POV Natasha Romanoff

– Terminamos. – Bruce anuncia, me fazendo voltar a realidade. – você está bem? – pergunta me analisando. Apenas concordo com a cabeça e apoio-me nos cotovelos, levantando o tronco.

– Quando o resultado sai? – questiono.

– O mais rápido possível. – responde sem me olhar.

– Quando? – insisto.

– É incerto afirmar. Começarei hoje, mas não é certeza que conseguirei fecundar o ovulo. – explica – de qualquer forma, analisarei o DNA resultante e irei comparar com o do Hayden. Farei o mesmo com o sangue de vocês. – conclui.

– Assim que tiver o resultado, não hesite em me chamar. – ele concorda com a cabeça.

– Se me der licença, preciso começar o trabalho. – ele não espera por resposta e vai até o outro lado do laboratório, com meu material em mãos. Seja o que Deus quiser!

Levanto-me com um pouco de dor e vou até o banheiro, onde troco-me e finalmente saio daquele laboratório. Como não estava a fim de encontrar ninguém no momento, vou direto para meu andar, onde poderei ter um pouco de paz e poderei pensar.

Tomo um banho rápido e visto uma roupa confortável, deito-me e por mais que eu tente não ficar preocupada com o resultado, uma ansiedade começa a me atormentar. “E se garoto for mesmo meu filho?” involuntariamente, começo a listar os prós e os contras de ter um filho.

1° Eu ficaria temporariamente afastada de missões e só a ideia me aflige. O que farei no meu tempo livre? “Você cuidara do seu filho...” uma vozinha me responde. Isso me parece chato e entediante, embora provavelmente o Steve, como um bom pai vá me ajudar.

Tá ai! Ter um filho do Steve não me parece uma ideia tão ruim... poderia ser pior, a criança poderia ser filha do... Tony! Isso sim seria um verdadeiro desastre.

2° Crianças são chatas e dão muito trabalho. Precisam de atenção, cuidado e principalmente carinho. Não sei se conseguiria ser amorosa o bastante para suprir as necessidades de uma criança nesse quesito. Provável que ela cresça se sentindo rejeitada e não desejada... o que não seria uma completa mentira.

3° Ela não seria apenas filha do Steve Rogers e da Natasha Romanoff, seria filha também do Capitão América e da Viúva Negra! Seria um alvo fácil! Alguém com quem eu me preocuparia 24hrs do dia. Eu ficaria vulnerável. Não gosto de vulnerabilidade.

4° Eu teria que me casar? Nunca consegui me imaginar casada e por mais que eu goste do Steve a ideia é um pouco aterrorizante. Construir uma família me parece uma tarefa complicada. Não acho que seja apta para tal missão.

5° Como eu conseguiria conciliar minhas duas vidas? A vida pessoal da Natasha Romanoff e a vida da Viúva Negra? Quem levaria o garoto para a escola e participaria das reuniões de pais quando eu estivesse em uma missão? Não confio em babás e não poderia deixar o moleque sozinho. E se ele ficar doente? Terei que leva-lo ao hospital e ficar ao seu lado até que ele melhore? Odeio hospitais!

Definitivamente não nasci para ser mãe e não posso ter filhos. Não quero e não vou ter filhos. Mas o Hayden já está aqui sua burra! A vozinha novamente interrompe meus pensamentos, me trazendo para uma nova realidade.

Sim. Ele já está aqui e como eu não poderia tê-lo? Como poderia priva-lo de conhecer o pai e principalmente, privar o pai de conhece-lo? E por mais que eu arrume desculpas e objeções para não querer, como eu poderia agora, depois de tê-lo conhecido, me privar de conviver com ele, olha-lo e aprender que mesmo que nem tudo seja perfeito podemos viver momentos perfeitos?

De repente sou atingida por um novo tipo de ansiedade, de aflição. E dentro de mim eu sinto que por mais que eu finja que não, eu quero muito que o resultado seja positivo.

– Qual é?! Você é a Natasha Romanoff! – me repreendo em voz alta, por querer e ao mesmo tempo não querer tais coisas.

Um turbilhão de emoções tomando conta de mim, me fazendo sentir coisas que há muito eu pensei que estivessem enterradas.

– Natasha! Natasha! – alguém grita batendo na porta. Rapidamente levanto-me e vou até ela, a abrindo.

– Ha - Hayden? – gaguejo um pouco, ao vê-lo parado ali na porta, com as bochechas vermelhas e os cabelos caindo sobre os olhos.

– Posso entrar? – pergunta já entrando. Reviro os olhos. – sei que talvez eu não seja a pessoa que você mais queira ver no momento, mas temos problemas maiores para tratar. – ele fala sério.

– O que aconteceu? – pergunto no mesmo tom.

– O Soldado fugiu. – ele fala num tom sombrio. Engulo seco.

– O Steve já sabe? – questiono.

– Já. Ele recebeu uma ligação da Hill e foi direto pra base. Você ainda estava no laboratório então não pude falar com você antes. – esclarece.

– Então é pra base que eu vou. – falo já pegando minhas coisas.

– Eu vou com você. – afirma.

– Não vai não. – devolvo sem nem olha-lo. – você ainda está doente, está afastado de missões por ordens expressas do Capitão e....

– O Steve não manda em mim! – exclama. Paro o que estou fazendo e olho para ele.

– E do Diretor Coulson. – completo. – não aja como uma criança mimada, isso é irritante e desnecessário. – aviso. Ele bufa de irritação.

– Eu consegui prendê-lo da primeira vez e salvei vocês!

– E seremos eternamente gratos a você por isso. Mas no momento, a única coisa que você vai fazer é ser alvo de preocupações. – vou para o banheiro e troco rapidamente de roupa. – você fica e ponto final. Não está aberto há discussões. – saio do quarto e ele me segue até o elevador.

– Natasha, eu preciso, eu sinto que tenho que fazer alguma coisa. – suplica.

– Eu sinto muito Hay... mas a resposta ainda é não. – as portas do elevador se fecham, deixando para trás um Hayden ainda mais vermelho de raiva. – é pro seu bem garoto. – falo para a porta fechada.