Forget About Me

Capítulo 19 - Glory and Gore


Delicate in every way but one

Layla e Fred terminaram a noite no quintal da casa dela em Berwick-upon-Tweed. O avanço do verão significava dias longos e o sol ainda brilhava até quase onze da noite. Ela se sentou na mesa de metal branca, na qual seu pai lia o jornal nos fins de semana, e ele ficou de pé, mesmo que tivesse duas cadeiras ao lado. Os dois estavam agitados após o fim da reunião. As preocupações de Layla eram quase secundárias, incitadas pelo comentário que Tonks tinha feito. Ela estava mentindo para si mesma? Pensava que qualquer teoria que criou sobre Bonnie estivesse armazenada em um nível mais profundo, mas bastou algumas palavras de Ninfadora para relembrar do assunto. Seria perigoso misturar os sentimentos naquela missão. Era preciso focar nas orientações da Ordem e em Draco, tentando ao máximo abstrair as questões familiares mais sensíveis.

Por outro lado, Fred estava tendo problemas com o plano em si. Ele teve pouco tempo para processar todas as informações. Havia uma parte dele que ficava entusiasmada com uma ideia inconsequente, que gostava de correr riscos. Estaria mentindo se dissesse que não sentia uma ponta de orgulho pela sua namorada - até então desinteressada - assumir uma posição de importância na resistência. Ouvir ela se impor frente a Ordem e querer treinar para uma função de espionagem era atraente. Saber que Layla se importava com justiça e estaria disposta a fazer sacrifícios por ele era ainda melhor, já que fazia Fred sentir confiança no compromisso dos dois. Esses pontos positivos foram ofuscados pela reação de seus pais ao plano. Molly e Arthur foram claros ao dizer que acreditavam que a garota era muito nova e corria sérios riscos junto dos Lestrange. Claro, ele sabia disso, contudo essa confirmação parecia um golpe no estômago. Talvez, sua imaturidade estivesse o fazendo subestimar as fraquezas do plano de Layla. Queria que ela estivesse segura, acima de tudo. Conseguiria superar se ela resolvesse largar ele outra vez, porém não sabia o que faria se algo acontecesse com ela, ainda mais sabendo que seria responsável pelo envolvimento dela.

— Você tem certeza de que quer fazer isso, Layla?

— Não é bem sobre querer. - Ela declarou, determinada. - Eu tenho que fazer isso.

— Você não tem obrigação nenhuma. Esse é um risco muito grande para correr por uma falsa sensação de dever.

Ali estava a outra questão. Em alguns momentos, quando ela falava sobre o motivo de querer se infiltrar com os Lestrange, tudo parecia ser centrado em uma determinada pessoa. Era mesquinho sentir ciúmes naquelas condições. Fred entendia as preocupações dela e, apesar disso, continuava incomodado.

— É um dever real.

Layla entortou o pescoço e olhou para ele, tentando entender o rumo da conversa.

— Preciso saber que você não está fazendo isso porque ainda tem sentimentos por Draco.

— Céus, Fred. Você acha que eu gosto de alguém além de você?

As luzes externas foram acesas, fazendo com que o casal tivesse a consciência de que não estavam sozinhos. A garota cruzou os braços, controlando a irritação para não aumentar a voz. Não era possível que, depois de meses de relacionamento, tivesse que voltar a essa questão. Ele aproveitou o silêncio da namorada para falar algo que estava na sua cabeça há algum tempo.

— Você tem essa visão deturpada de que o Malfoy salvou a sua vida só por ele ter gritado durante dois minutos com você. Isso não é verdade. Você se recuperou e superou seus vícios por conta própria. Se não fosse ele, a bronca teria vindo do seu pai ou do seu irmão. Duas semanas depois, eu teria aparecido para te ajudar.

Layla sabia que essa questão fugia do que seu namorado podia compreender. A verdade é que, naquele momento, ela precisava de um choque de realidade. Draco foi pontual, ácido e um pouco cruel. Foi esse tratamento que fez ela desabar nos braços dele e contar sobre as vozes que escutava. Somente depois disso, ele adotou uma postura sensível e lembrou quem ela gostaria de ser. Ela suspeitava que seu pai, seu irmão e mesmo Fred não conseguiram tocar direto na ferida, eles tentariam poupar seus sentimentos. Contudo, seu namorado poderia viver sem saber desse detalhe.

— Eu sei que parece pequeno visto de fora, mas eu estava fora de controle. Eu poderia ter feito algo irreversível a qualquer momento. A interferência do Draco foi importante. - O rosto fino de Fred se contraiu em uma careta e Layla decidiu explicar de outro jeito. - De qualquer forma, não é só por causa disso, Fred. Eu me sinto responsável por ter escapado.

— Você fala como se tivesse fugido. - Ele colocou uma mão em seu braço, tentando ser delicado. - Layla, eles te abandonaram. Primeiro, como recém-nascida, depois no meio da neve congelante. Foi assim que você escapou. Você não precisa salvar mais ninguém.

- Eu sei disso, mas você não entende. Você tem uma família grande e uma base sólida. Sempre admirei a sua integridade. Seus valores são cristalizados, fixos no lugar. - Layla pressionou a mão dele, enquanto tentava explicar de uma maneira que não alimentaria as suas inseguranças. - Pessoas como eu e o Draco não somos assim. Nós somos argila. Adotamos o molde de quem trabalha com a gente.

— O quê?

Fred estava começando a se perder no raciocínio. A tentativa de mudar a perspectiva dela sobre Malfoy parecia estar fracassando, agora, ela estava fazendo até comparações entre eles. Layla ignorou a interrupção e continuou a sua linha de pensamento.

— Por força do destino, ou o que quer que seja, o meu molde foi essa cidade. Eu recebi alguma orientação e uma proteção mínima e me destaquei. Até Clementine acha que eu sou a queridinha de Berwick-upon-Tweed. Eu sei me guiar por posições sociais e manipular pessoas para conseguir o que quero. Geralmente é algo supérfluo, mas você entende o que eu estou dizendo? Eu sou o fruto do meu meio. Se eu tivesse sido criada por comensais da morte e com ideais de preconceito de sangue, eu seria pior do que o Draco. Nunca tive um senso moral aguçado. Meus defeitos seriam intoleráveis. Eu teria sido uma facista de primeira linha.

— Você está exagerando. Ter sido popular na escola não te faz ter tendências fascistas, Layla. - Ele riu do absurdo da frase. - Isso é tudo conjectura. Não tem como saber como você seria em um cenário que nunca aconteceu.

— Eu sei. Eu já vi partes ruins de mim o suficiente para saber o que eu seria capaz de fazer. Fico feliz que você não consegue ver. É da bondade da sua natureza, não o contrário.

Ela estava cansada daquela conversa e abraçou seu namorado, rompendo a distância entre os dois. Eles foram pegar algo para comer na cozinha e se recolheram para dormir, silenciosos.

Fred estava aliviado por ter a confirmação de que Layla não tinha sentimentos românticos pelo Malfoy. As dúvidas que ela trazia sobre o seu caráter não eram novas. Eram, na verdade, o motivo pelo qual ela se afastou dele da primeira vez. E ele não acreditava nelas. Layla tinha muitas dificuldades. Tinha questões mal resolvidas com a sua mãe adotiva, uma dinâmica familiar um tanto disfuncional, e agora a história do abandono e das suas raízes biológicas. Qualquer pessoa ia enfrentar desafios com isso. Mesmo com um histórico de abuso de drogas e álcool, Fred achava que ela tinha lidado muito bem com a situação para uma menina de dezessete anos. Uma pessoa ruim não passa tanto tempo se preocupando se é uma pessoa ruim. Ele gostaria que ela tivesse a oportunidade de se ver pelos olhos dele.



Era tudo muito estranho. Brendon tinha visto sua irmã pedir ajuda para Clementine, Kate e Elsie na mesma semana. Eram assuntos diferentes, todos sobre poções e feitiços. Ela escolheu a área que cada uma era melhor: Kate com os feitiços defensivos e Elsie com as poções curativas. Ela e Clementine até tinham feito um pequeno duelo. Que utilidade tudo aquilo poderia ter para Layla? A última gota de paciência se esgotou quando ela perguntou para ele sobre oclumência no café da manhã.

— Você vai começar um culto? O que é tudo isso?

— É algo que eu estou planejando te contar. Mas você não vai gostar de ouvir.

— Eu jamais gostei de nada que você me contou na minha vida. A última coisa gentil que você me disse foi quando elogiou a minha caligrafia no segundo ano.

— A sua caligrafia realmente é magnífica. - Layla interrompeu um gole de suco de laranja, em tom solene. - Só foi aperfeiçoada ao longo dos anos.

— Boa tentativa. Aliás, você não precisa aprender oclumência. Quem for idiota de querer entrar na sua cabeça, nunca vai se recuperar.

O charme forçado de Layla estava se desgastando.

– Olha, eu vou ser testada para uma função. Preciso demonstrar habilidades básicas em algumas coisas. Se der certo, então eu te conto.

— Que tipo de posição exige feitiços defensivos e oclumência? - Ele não conseguiu evitar o sarcasmo. - É secretária executiva ou algo assim?

— Você me imagina como secretária executiva? - Layla perguntou, enfatizando cada sílaba como uma boa menina mimada. - Com todo respeito a categoria, que é responsável pela manutenção da maioria dos casamentos daqui.

— Vou dar um palpite aleatório e dizer que tem relação com os comensais da morte que você descobriu parentesco.

Do outro lado da mesa, sua irmã mordeu os lábios, indicando que estava certo. A ideia dela ser testada para uma função provocava mil preocupações diferentes. De qualquer forma, ela precisa aprender a se defender. Deixá-la à mercê dos conhecimentos que tinha adquirido na escola era perigoso.

— É totalmente não relacionado.

— Com certeza. Se eu não te ajudar, você vai encontrar algum maluco disposto. Tudo bem. Vamos treinar oclumência.



Ter seu irmão como professor causava algumas dificuldades. Oclumência era difícil e uma habilidade dominada por poucos. Fred tinha sugerido que ela treinasse, já que seria algo que a Ordem poderia testar. Brendon e Layla tinham tido aulas de Oclumência, como parte da sua formação complementar oferecida por St. August. O professor deles tinha sido um monge tibetano contratado para dar um workshop de uma semana. Os irmãos tinham aproveitado as aulas em níveis diferentes. Ela tinha sido muito elogiada e ganhado um bracelete de ouro decorado, ele tinha aprendido alguma coisa. Os dois estavam sentados no sofá do solário, o bracelete que Layla tinha insistindo em usar refletindo com a claridade.

— Você precisa se concentrar, Layla.

— Estou tentando.

— De novo. - Brendon balançou a sua varinha, lançando o feitiço. - Legilimens.

Com facilidade, ele conseguiu visualizar as memórias da irmã. Ela estava lembrando do dia da Batalha do Departamento de Ministérios, quando viu Bellatrix. Brendon sentia a perturbação dela, a confusão se transformando em pânico. A oportunidade de ver a mulher pela primeira vez também o deixava nervoso.

— Talvez eu não seja oclumente. Nem todos os bruxos conseguem ser.

— É uma técnica. Qualquer um pode dominar, se treinar o bastante. O monge Gelong disse que existem personalidades mais propícias. É mais fácil para pessoas calmas e sem vaidade.

— Agora, você só está inventando coisas para me provocar.

Eles tentaram mais algumas vezes, gerando apenas frustração. Brendon desistiu quando a memória que ele encontrou foi de quando Layla e Fred se conheceram. Ela achou que ele estava exagerando, já que eles interromperam a leitura antes de qualquer coisa picante. Era final da manhã e a tarefa dela para o resto do dia era praticar meditação. Layla julgava ser algo ridículo, mas Brendon insistiu que o treinamento era o mesmo. Deixar a mente vazia, sem preocupações externas. Adotar uma postura tranquila e despida de arrogância.

Ela nunca tinha meditado na vida. Seus pensamentos pulavam de um lado para o outro da sua cabeça. Era fácil para seu irmão calmo com tendências intelectuais falar para ela esvaziar a mente. Layla era um tanto hiperativa e estava acostumada a processar várias informações ao mesmo tempo. Brendon saiu durante a tarde para se encontrar com Peter e o corretor imobiliário que estava procurando um apartamento para ele em Genebra, deixando a casa toda para ela. Interromper seu fluxo de pensamentos parecia impossível. Ela já estava satisfeita que a única voz que ouvia era a sua, e não da mãe morta. Agora, queriam que ela alcançasse o nirvana? Era demais.

A atividade poderia ser mais fácil se ela tivesse menos problemas. Tonks iria até a sua casa no dia seguinte, para dar algumas orientações. A data marcada para sua avaliação pela Ordem estava se aproximando. O plano estava ficando mais real. No final do verão, ela iria morar com comensais da morte violentos. Tentaria fazer eles desistirem de recrutar um adolescente. Fingiria ter outra personalidade e correria risco de vida se fosse descoberta. Para, no final, se tudo desse certo, depender de uma declaração de morte falsa. E pensar que seus planos para o futuro eram comitês de caridade e cursos de moda.



Fred trouxe Tonks às 9 da manhã do dia seguinte. Infelizmente, Brendon e Elsie estavam em casa, de modo que os dois ficaram espiando tudo à distância. Tonks não fez nenhum comentário sobre sua casa e recusou o lanche e o café.

Posicionadas no gramado do jardim, Ninfadora começou a fazer perguntas sobre poções. Era como uma prova oral muito intimidadora. As primeiras perguntas foram fáceis, tinha aprendido a maioria na escola e estava com o conteúdo fresco graças a Elsie. A partir da sétima resposta correta, Tonks ficou mais exigente e queria explicações que ela não sabia. As cinco últimas perguntas eram quase língua estrangeira para Layla.

— Razoável. Nada impressionante, mas é algo com que eu consigo trabalhar. Depois, preciso ver como é sua técnica de preparo. Vamos passar para os feitiços.

A garota ficou aliviada com a mudança da matéria. Ela sempre foi melhor em feitiços do que poções e seu pequeno duelo com Clementine tinha ido muito bem. Fred se afastou, deixando um espaço maior para as duas se posicionarem. Em uma rápida olhada de canto de olho, Layla achou que ele estava sério, de um modo que raramente ficava. Ela ia mostrar para seu namorado que era capaz de fazer isso.

— Feitiços defensivos primeiro.

Esse teste era fácil. Layla conseguia rebater com os feitiços defensivos milésimos de segundo após Tonks lançar os ataques. A maioria das vezes bastava apenas usar Protego. Existiam algumas defesas específicas, que eram mais difíceis de lembrar, mas ela havia decorado a grande maioria. Como sua confiança havia aumentado, quando ela achou que era o suficiente, usou o Expelliarmus para fazer a varinha de Ninfadora voar e cair na grama.

— Muito bem, espertinha. Vamos ver quantos minutos você aguenta de pé.

Aproveitando essa brecha, Layla lançou o primeiro feitiço. Ela começou com Estupefaça: seus professores costumavam dizer que era o melhor movimento em um duelo. Talvez Tonks esperasse por isso, já que se protegeu com o feitiço de Revivificação rapidamente. Depois disso, a adolescente conseguiu apenas se defender dos três feitiços que a auror lançou. Nesse momento, havia um desespero maior em executar tais movimentos pelo risco iminente de ser derrubada. Para tentar obter uma vantagem, Layla usou uma azaração, que acabou sendo revertida com um simples levantar de varinha de Tonks. Ela foi virada de ponta cabeça no ar graças ao Levicorpus, permitindo que Ninfadora a deixasse cair com toda a força no chão, desarmada. A dor aguda nas costelas distraiu Layla do confronto e ela estava prestes a ser atingida de novo, quando o feitiço foi interceptado por uma barreira e ricocheteou para outra direção. Tanto ela como Tonks olharam para a direção de Fred, que ainda estava com a varinha erguida. Nenhuma das duas ouviu ele lançar o Feitiço Escudo para proteger Layla.

— Falamos sobre isso, Fred. - Tonks estava visivelmente irritada, ainda que sua voz entregasse que estava sem fôlego. - Você se comprometeu: poderia ficar por perto, desde que não interferisse.

Layla se levantou devagar. Ele tentou se controlar, mas era acostumado a utilizar o Feitiço Escudo em diversos produtos da Gemialidades. Fred estava muito nervoso. Não era certo ficar parado enquanto sua namorada apanhava. A educação dela tinha sido diferente, Tonks deveria levar isso em consideração. Se ela começasse a se machucar no treinamento, que chances teria com os Lestrange?

— O que ela vai aprender com você atacando ela no chão?

— Eles não vão ter pena dela, portanto também não posso ter. Agora, desfaz o feitiço ou eu irei.

A garota ofereceu um sorriso fraco para Fred, apreciando o gesto. O instinto de proteção dele era uma manifestação do seu carinho e da sua gentileza e, graças a sua experiência com outros garotos, sabia diferenciar de situações em que foi subestimada e objeto de possessividade. Ainda assim, gostaria de ter resistido mais. Quando estava cercada de suas falhas e infortúnios, queria mostrar que era capaz de conquistas. Estava acostumada a ser admirada. Não aceitaria ser vista como uma coitada.

Logo que Fred retirou o escudo, os ataques recomeçaram. Layla conseguiu acertar alguns feitiços, mas foi parar no chão diversas vezes. Terminou suja e com um corte na bochecha, se sentindo derrotada. Aparentemente, Tonks estava cansada de vencer.

— Isso é leve perto do que o Lupin pode exigir de você. E nada comparado com a crueldade de Bellatrix. Ela dispara maldições cruciatus com facilidade.

Ela concordou com a cabeça. Esse não era um aspecto bom para superestimar suas habilidades.

— Certo.

— Não desanime. Eu vou vir toda semana te ajudar a se preparar. Vamos ver se, depois de mais dois treinos, estará preparada para ser avaliada pela Ordem.

— Obrigada.

— Acabamos por aqui. Fred, seja um amor e vá buscar a minha mãe. Ela está esperando na Toca.

— É para já.

Fred deu um último olhar para ela antes de aparatar.

— A sua mãe?

— É impossível guardar um segredo dela. Ela ficou muito curiosa quando descobriu que você existe. Quis te conhecer, a todo custo. Ver quem era a sobrinha perdida, criada longe da família Black. Eu já fiz a minha pesquisa, claro. Precisava descobrir com quem estava lidando.

— E o que você descobriu, Tonks?

Layla tinha se jogado na grama e deu um gole na garrafa de água que tinha guardado.

— Você acabou em uma família rica, de qualquer forma. - Apenas nesse momento, ela se permitiu olhar a casa e a propriedade. - A pobreza definitivamente não foi feita para você. Agora, a adoção por uma trouxa e um aborto foi uma pitada de ironia. O bom é que você não vai ser seduzida pelo discurso dos comensais.

— De maneira nenhuma. Se vamos fazer apresentações, vocês têm que conhecer meu irmão também.

— Seu irmão?

— Sim. É aquele vulto que aparece a cada cinco minutos na janela da cozinha. Ele deve ter gostado de ver eu tomando uma surra.

Ninfadora pareceu reprovar o comentário.

— Ele não sabe sobre a missão, certo?

— Não contei para ninguém. Ele é muito inteligente, mas não é um risco. Brendon está prestes a se mudar para a Suíça. Com sorte, meu pai vai ficar com ele por um tempo.

— Traga ele, então. Aquele cafézinho também seria ótimo.

A garota foi para dentro e voltou com Brendon, Elsie e uma bandeja de café. Logo em seguida, Fred chegou. Andrômeda parecia ter a idade do seu pai, com 40 e poucos anos. Correspondia a descrição da filha do meio, ainda que sua aparente juventude a surpreendeu um pouco. Seus cabelos eram castanhos claros curtos, seus olhos amigáveis. Elas se pareciam. Mesmo sem querer, isso emocionou Layla. Para disfarçar, ela deu um cumprimento superficial e seguiu servindo xícaras para todos. Brendon deve ter percebido sua reação ou apenas ter ficado incomodado com a semelhança, porque assumiu uma postura carrancuda. Tonks notou a rigidez e se esforçou para ser gentil. Com Fred e Elsie auxiliando no diálogo, a interação ficou mais comunicativa, ainda que seu irmão permanecesse desconfiado. Layla e Andrômeda tiveram uma abertura para conversar mais afastadas.

— Dora me contou a sua história. Eu sinto muito por tudo que aconteceu com você.

— Eu não me lembro de quase nada. Tenho certeza que as coisas não foram fáceis para você também.

Uma corrente de tristeza passou pelos olhos de Andrômeda, mas logo passou.

— Eu gostaria de dizer que minhas irmãs não foram sempre assim, porém não sei se é verdade. Desde cedo, já existiam compulsões, obsessões e defeitos. A proporção era diferente e a vida tornou as coisas piores. Existia luz nelas. - A narrativa foi interrompida e a mulher olhou bem no rosto dela. - Você entende isso. Me disseram que você quer resgatar o filho da Narcisa.

— Eu quero que Draco tenha a oportunidade de escolher o seu caminho. Livre, sem coerção ou temor pelos seus pais. Poderia ser eu no lugar dele.

Andrômeda estendeu a mão e tocou seus ombros. Sua expressão revelava compreensão.

— Eu conheço essa sensação. Você está dando um presente muito precioso a ele, Layla. Lyra significa harpa, a constelação recebeu o nome por conta do mito de Orfeu. Conhece? - Ela negou com a cabeça. - Apolo, pai de Orfeu, lhe deu uma harpa e a música que ele tocava era tão bonita que fascinava árvores, animais e até os deuses. A sua lira virou constelação pela comparação do brilho das estrelas com o seu poder. Combina com você. Beleza, poder.

— Obrigada. - A adolescente costumava buscar ser elogiada pela sua aparência. O poder parecia muito mais importante nesse momento. - Layla quer dizer “noite” ou “escuridão”. Layla Black seria redundância.

A menção ao nome da família fez Andrômeda se aproximar.

— Você é a cópia da Bella na sua idade. Molly e Arthur deveriam ter notado.

— Sirius percebeu. Ele tentou me estrangular.

O comentário foi ignorado.

— Partiu meu coração ela ter jogado o seu potencial no lixo.- Ela completou com um sussurro. - Bella já foi capaz de amar.

Layla entendeu, pela conjugação verbal, que Andrômeda sabia que Bellatrix nunca a tinha amado. A constatação não a machucou. Com uma história de abandono tão marcante quanto a sua, essa conclusão foi rápida. Raiva era a emoção que predominava. Quem era ela para escolher não amá-la?

— Ela vai pagar pelos seus erros. Um por um.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.