Point of view: Carlton

Seattle, 05 de julho de 2016.

Hoje eu finalmente tomei coragem e fui até o hospital, determinado a falar com a Grace.

—Ok, obrigado. - Agradeci a recepcionista após me informar onde Grace estava e saí em direção á emergência.

No caminho, ouvi vários murmurinhos como: "Esse não é o Dr.Johnson?", " Mas ele não tinha morrido?", "Mas como isso?", " O que ele faz aqui?". As pessoas pareciam não acreditar na minha presença, o que já era de se esperar.

Ao chegar na emergência, procurei pela Grace e logo a vi com um paciente, então não me aproximei e fiquei em um canto esperando que ela terminasse para tomar coragem e ir até ela.

—Não esqueça dos remédios, hein senhor Castro! Tenha uma boa noite. - A ouvi falar sorridente enquanto tirava as luvas e caminhou até o balcão. Esperei Grace parar e fui até ela. Me aproximei com cautela e meio receoso, por não saber qual seria a reação dela.

—Grace? - Chamei, ao parar atrás dela.

Meu coração batia mais forte só em vê-la. Meu tom era de felicidade, mas ao mesmo tempo de medo de sua reação. Só Deus sabe o quanto esperei por aquele encontro.

—Pois não..? - A vi se virar e paralisar ao me ver, deixando o tablet que estava em suas mãos cair no chão e se espatifar em vários pedaços. -Carlton?

Fiquei sem saber o que falar. Minha vontade era enorme de abraçá-la e beijá-la, mas sabia que não seria certo eu fazer isso, então me segurei.

—Oi... Grace...

—Você não...? - Ela continuava imóvel. Pude notar suas mãos trêmulas.

—Eu sei, não era para eu estar aqui... - Comecei a dizer. -Eu estava morto, foi o que todos achavam. Mas não, eu estou aqui na sua frente. Estou vivo. - Sorri leve a olhando.

Não sei o que ela estava pensando naquele exato momento. Estava feliz? Decepcionada? Com raiva? Ou por enquanto só estava tentando assimilar tudo até achar o que sentir? Pelo visto o namorado dela não havia lhe dito nada sobre eu ter ido até a casa da praia.

Um enorme sorriso se abriu no rosto de Grace e ela pulou em mim me abraçando. O que me deixou surpreso. O mesmo sorriso se formou em meu rosto e eu retribui o abraço apertado.

Era tão bom aquela sensação dos nossos corpos colados, de poder sentir o cheiro dela novamente.

—Você está vivo!!!

—Estou!!

—Ai meu Deus, mas... - Ela se afastou e segurou meu rosto como se inspecionasse meu estado.

Eu estava um pouco diferente. Meus cabelos estavam um pouco maiores e minha barba por fazer.

—Como? - Franziu o cenho.

—Fui parar perto de uma ilha, um casal me encontrou e me ajudou. Todo esse tempo eu estava lá. -Suspirei e percebi meu sorriso se desfazer, por pensar que ela já estava com outra pessoa e provavelmente havia perdido meu lugar.

—E por que só voltou agora? - Ela me soltou e pôs as mãos dentro dos bolsos do jaleco me olhando.

—Eu queria ter voltado antes. Mas... não lembrava de nada. Eu tinha perdido a memória quando cheguei lá. Só consegui recuperar tudo, ou quase tudo, agora. - Tentei me explicar. -Eu queria ter te visto quando cheguei, mas você não estava em casa quando fui lá...

Ela soltou um suspiro. -Já deve ter conhecido o Matt.

—É, o conheci... - Abaixei a cabeça e soltei um suspiro. Enquanto isso, percebi ela se abaixar para pegar o tablet. Suas mãos continuavam trêmulas e eu até poderia dizer que ela estava um pouco desorientada com minha presença, o que era compreensível, vendo pelo o que todos achavam.

—Ai... - A ouvi sussurrar e pelo sangue evidente em sua mão, percebi que havia se cortado.

—Ei, posso ver? Você se cortou. - Disse me aproximando e pegando sua mão.

—Não precisa, está tudo bem. - Ela assegurou, mas eu insisti.

—Tem certeza? - Pude perceber em seu olhar que ela não estava confortável com aquela situação.

Ela puxou a mão e deu um passo para trás.

—Carlton, eu estou bem! - Afirmou novamente, dessa vez com o tom mais elevado.

—Eu sei, eu só quero te ajudar...

—Eu não quero que você me ajude, eu estou bem! Aprendi a viver sem você, aprendi a levar a vida sem a sua presença! As crianças também. Não preciso que se preocupe agora, a vida seguiu sem você! - Ela não sabia o que estava dizendo, certamente não sabia. Como aprendeu a viver sem mim? Senti meu coração partir em vários pedaços ao ouvir aquilo.

—Mas eu não. Não aprendi a viver sem você. - Falei alto para que escutasse, a vendo se afastar.

—Eu sinto muito... - A ouvi falar baixo com a expressão séria e em seguida saiu dali.

—Eu também sinto muito. - Sussurei com os olhos marejados e senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto.

Ver ela dizer todas aquelas palavras me doeu. Parecia que eu estava sem chão, como se ele tivesse sido tirado de mim. A Grace era meu chão e agora vejo que não a tenho mais, então talvez ele realmente tivesse sido tirado de mim.

Enxuguei a lágrima e olhei em volta. Todos olhavam para mim. Sai dali e peguei um táxi para a casa dos meus pais. O caminho todo triste, abalado, sem saber o que fazer da minha vida daqui em diante. Cheguei em casa e subi direto para o quarto. Não queria falar com ninguém, me deitei de costas na cama e fiquei olhando para o teto pensando.

Eu só queria ter minha família comigo.

Família é um laço forte, que por mais que você queira, não consegue desfazer. Não precisa possuir o mesmo sangue para serem da família, só basta considerá-los como tal. E amá-los verdadeiramente.

E é por amá-los tanto, que não desistirei da minha família, de jeito algum. Lutarei até onde eu conseguir para tê-los de volta. Meus filhos se lembrarão do pai, Grace voltará a me ter como o amor de sua vida. Nossa história foi bonita demais para terminar assim. O destino não pode ter estragado tudo o que construímos.