For You

Remember me


Eu estava com um casaco branco fino e uma bermuda jeans clara, muito simples. Era verão e o sol estava muito quente, mas eu não podia me abater e tinha que trabalhar pesado, eu trabalhava em 3 lugares diferentes além de cuidar das crianças do orfanato. Muitos ficavam impressionados e perguntavam se eu estava mesmo doente, por mais que minha pele fosse pálida e frágil, e eu fosse bem magro e um pouco baixo, as pessoas ainda duvidavam que eu fosse uma pessoa com data marcada para a morte. Neste momento o relógio devia marcar algo como 9 horas da manhã. Eu estava trabalhando na Loja de Conveniências do único Posto da cidade, eu também trabalhava no único Super Mercado ali como caixa a tarde e nos fim de semanas era entregador de Ramén. Estava comendo uma barra de chocolate quando eu vi um homem alto entrar, era ele. Ele pegou uma garrafa de refrigerante na geladeira e a colocou a minha frente. Quando me olhou ele se surpreendeu, nós nos víamos em todos os lugares. Ontem ele foi ao meu caixa quando comprara comida, antes de ontem abasteci seu carro.

- Quantos empregos você tem? – Ele perguntou assustado.

- Três. – Respondi frio. – Vai ficar aqui até quando?

- Até aquele velho assinar o contrato. – Bem... Ele continuava tão teimoso quanto antes.

- Ele nunca vai assinar. – Falei dando de ombros. Era verdade.

- Porque vocês não desistem? Esse orfanato está acabado. – Olhei seus olhos, estão brilhando em pura raiva, ele queria a qualquer custo aquele orfanato.

- Por que você não constrói a porra que você quer construir em outro lugar? – Era minha vez de ficar com raiva. Ele bufou tentando se controlar. Eu suspirei, tinha algo a mais nessa história. - Você sempre foi tão cabeça dura. – Ele me olhou me questionando.

- Você por um acaso me conhece há tanto tempo assim? Não. Então não fale como se me conhecesse – Aquelas palavras fizeram meu coração apertar. Apoiei-me no balcão respirando fundo. O olhei quase o implorando pra se lembrar de mim.

- O tempo está acabando... – Falei fraco. Ele me fitou ainda mais interrogativo. Neguei com a cabeça e ele bufou saindo e batendo a porta com força, me agachei sentindo meu corpo tremer. Recuperei o folego massageando o peito.

De repente começou a chover e eu vi YunHo entrar novamente na Loja, estava molhado. Ele falou diversos palavrões e me olhou bufando novamente abrindo o refrigerante que comprar a instantes e o bebendo.

- Esqueceu o guarda-chuva? – Perguntei saindo do balcão. Ele espirrou e me olhou debochado.

- Não... É que eu não tomei banho hoje e como estava chovendo eu decidi aproveitar, sabe? – Desde pequeno ele adorava me tirar, incrível. Eu tive que rir e ele me olhou e por incrível que pareça sorriu.

- Assim você parece até uma pessoa saudável e mais viva. – Eu parei de rir na hora e olhei pra baixo, odiava lembrar a todo o momento que eu tinha prazo de validade. Ele viu me estado e se desculpou, eu neguei com a cabeça.

-Tudo bem. – Sorri fraco e peguei meu grande guarda chuva de zebra. – Vamos. – Eu fui em direção à porta.

- Vamos a onde? – Ele veio atrás de mim e eu tranquei a porta da Loja, já era hora do homem que me substituía a tarde chegar.

- Só tem um hotel nessa cidade e fica longe. Veio de lá andando? – Perguntei curioso.

- Gosto de me exercitar... Não sabia que ia chover. – Eu abri guarda chuva e o levantei para que ficasse a altura de nós dois.

- Eu te levo até o orfanato. Se prometer que não vai falar nada sobre contrato, senão... Deixo-te aqui na chuva. – Eu andava com dificuldades na rua tentando aguentar o guarda chuva, ele então roubou o guarda chuva de minha mão e passou o braço sobre meu ombro, pude sentir seu calor através daquele quase abraço.

Eu queria mais do que nunca contar para ele sobre a nossa promessa, mas eu não podia. Ele tinha que descobrir sozinho. Chegamos ao orfanato e eu o parei na porta.

- Lembre-se. Nada de contratos hoje. – Eu falei apontando para o seu nariz e ele soltou uma risada baixa, talvez estivéssemos nos dando até bem.

- Eu cumpro minhas promessas tá legal? – Ele tirou os sapatos e eu tive que me controlar para não bater nele.

- Mentiroso. – Sussurrei, ele me olhou e eu sorri. –Já que está aqui... Venha me ajudar com as crianças. – Puxei seu casaco não o ouvindo quando reclamou.

Entramos em uma sala enorme, onde diversas crianças corriam de um lado para outro com os brinquedos, quando me viram os pequenos vieram correndo me abraçar.

- Quem é esse tio? – Uma menina perguntou apontando para o maior.

- Esse é o YunHo, crianças. Ele vai brincar com vocês hoje. – Eu bati em seu ombro e ele me olhou assustado.

- Não, eu não vou. – Ele tentou sair da sala, mas eu o puxei.

- Por favor, YunHo... Eu não me sinto tão bem... E você sabe que... – Falei baixo fazendo cara de manha ele revirou os olhou e bufou de raiva.

- Está bem... – Ele foi em direção às crianças. – Contanto que nenhum pirralho toque no meu cabelo. – Ele me fitou e eu sorri doce, eu pude ver suas maçãs do rosto coradas.

YunHo mesmo que no começo quase não brincasse com os pequenos e sempre fazia cara de nojo quando elas chegavam perto depois de um tempo ele se soltou bastante revelando um espirito muito infantil, ele começou a rir e correr com as crianças e até rolou no chão com algumas, eu estava realmente feliz... Aquele sorriso, senti meu coração apertar e me apoiei no balcão, aquela dor insuportável no coração novamente.

- JaeJoong? – Foi de mais para meu coração ouvi-lo falar meu nome, eu tinha que aguentar. Eu precisava aproveitar esse momento.

- Eu estou bem. – Suspirei e tentei o olhar sorrindo, ele se aproximou de mim segurando meu braço e colocou a outra mão em minha testa, senti meu rosto arder.

- Está com febre. – Eu neguei com a cabeça e senti cordas passarem por minha pernas, quando olhei o pequeno ChangMin – A criança mais travessa do orfanato. - Estava enrolando uma corda imensa em mim e em YunHo, quando ele enrolou o bastante nós o olhamos interrogativo, então ele saiu correndo com a corda a puxando e nos derrubando.

Eu juro que tentei, eu juro que juntei todas as minhas forças para me controlar. Mas eu tinha caído sobre aquele corpo quente e tão aconchegante, eu nunca tinha me sentido tão vermelho como naquele momento, quando levantei meu rosto estávamos perto de mais, ele me olhava com aquele brilho... Como se estivesse quase lembrando. Então – E eu repito que tentei me controlar. – eu selei meus lábios aos dele, foi algo demorado... Mas rápido de mais pra mim. Quando abri os olhos e me separei eu vi seus olhos arregalados e suas mãos que antes estavam em minha cintura penderem no chão. Eu sou um idiota.

Levantei-me de cima dele e me desculpei, meu coração começando a doer novamente... Apertei minha mão no peito como se fosse ajudar a parar a dor. Ele se levantou e tocou no meu ombro e eu me afastei. Sai correndo pela porta e sai do orfanato mesmo que estivesse na chuva. Corri até a praça vazia próxima e me sentei no banco, deslizei até deitar. Estava com frio, a água da chuva estava muito forte. Senti outra pontada no coração e minha visão turva... Era mais um de meus ataques.

Minha cabeça doía e eu tive que forçar minhas pálpebras a abrirem, depois de clarear minha visão pude ver que quem estava ao meu lado não era JunSu e sim YunHo, corei na hora. Não havia mais ninguém no quarto e parecia ser noite.

- Você quer morrer? – Ele franziu o cenho.

- O que está fazendo aqui? – Me encolhi no edredom, eu estava muito envergonhado para olhar para ele.

- Segui você pela chuva. Então o vi desmaiado na praça. – Ele suspirou. – O que você tem na cabeça? – “Você” eu pensei.

- Já está tarde vá pra casa. – Eu me virei, mas ele não pareceu me dar ouvidos e jogou um par de luvas brancas felpudas para mim e tive que virar para o olhar, eram luvas femininas.

- Para que isso? – Ele virou os olhos e foi ver as fotos que estavam no mural do meu quarto de hospital.

- Para que você acha?

- Estamos no verão. – Eu ri e ele bufou. Por mais que tenha chovido forte, era apenas uma chuva de verão, o que ele tinha na cabeça?

- Então espere até o inverno para usá-las. – Eu ri novamente, eu nem sabia se eu sobreviveria até lá. – Esse quarto é seu? – Ele olhava as fotos e os recados de amigos ali.

- Sim... Eu venho muito para cá, então já tenho meu próprio quarto. – Abaixei a cabeça e então o copo de plástico que continha o cappuccino que YunHo segurava caiu. Ele praticamente arrancou uma das fotos e me olhou assustado. A... Eu tinha uma foto de nós dois pequenos no mural, será que...

- O que significa isso? – Ele mostrou exatamente a foto. Eu a peguei e sorri para ele.

– Você disse que cumpre suas promessas, certo? – Toquei o pequeno garoto com sorriso largo na foto, meu pequeno YunHo. O olhei e percebi o brilho nos seus olhos, ele estava paralisado, provavelmente lembrando... De tudo.

- Por que não me falou? – Eu o ouvir trincar os dentes, estava com muita raiva.

- Eu queria... Que lembrasse sozinho. – Meu rosto queimava e meu peito ardia em desespero por não saber como ele reagiria.

Ele se aproximou de mim e levantou a mão como se fosse me bater, eu tinha certeza que ele me bateria, mas ele a baixou e suspirou pesado. YunHo passou a mão na testa como se estivesse com dor de cabeça e ficou andando para um lado e para o outro.

- YunHo... – Tentei falar, mas ele fez sinal para que eu fizesse silêncio então eu me calei. Ele se sentou ao meu lado e me olhou com intensidade, senti meu corpo tremer com aquele olhar. YunHo levantou a mão até tocar os dedos em meu rosto, fechei os olhos com aquela caricia tão boa. Mas foi rápido de mais, ele parou e se levantou indo para porta.

- Desculpe... Eu não posso JaeJoong. – Estava confuso, senti meu peito apertar. Só o vi passar por aquela porta e desaparecer, achei que voltaria... Ou ao menos que tentaria pegar o orfanato com meu “pai”, mas não.

Ele sumiu. Levou minhas esperanças embora e eu não aguentava mais essa dor. Olhei-me no espelho depois de duas semanas, minha pele estava mais pálida que o normal, meus lábios estavam ressecado e eu não tinha forças para trabalhar.

Fui a varanda do orfanato e me sentei na rede me balançando, olhei as árvores que quase não tinham folhas, estávamos entrando no outono e eu me sentia cada vez mais fraco, eu queria ao menos sobreviver até o inverno, usar o presente que ele me dera. Meu peito ardeu novamente e tentei conter minhas lágrimas naquele pôr-do-sol , era impossível. Cada vez que eu pensava naquele homem eu sofria mais, meus ataques agora vinham com mais frequência e eu praticamente não saia do hospital, era rara as vezes que vinha a essa varanda e sentia que não viria por muito mais tempo.

Por que tudo dava errado?

Senti a brisa leve e fresca bater em meu rosto, olhei para o chão e achei um trevo de quatro folhas. Segurei-o como se fosse me dar algum tipo de sorte. Deitei ali mesmo na rede adormecendo e esperando que o dia de amanhã nunca chegasse.