Foi real?
Capítulo Único
Naquele dia, Emily e Daniel revisitaram o passado.
Era pra ser apenas outra tarde comum na vida de ambos exceto que, ir ao banco não era bem o programa predileto, mas eles tinham pendências a resolver e não havia outra maneira de acabar com aquilo se não fosse pessoalmente.
Emily tinha pressa para terminar aquilo e voltar pros seus afazeres.
Passou apressada pelo saguão e foi a primeira a passar pelas portas de metal que já se fechavam. Logo atrás vinha Daniel, distraído pelo celular. Ele não a vira quando segurou a porta e passou pela fresta, mas assim que seus olhos se encontraram, o modo de defesa dos dois foi ativado.
As faíscas quase podiam ser notadas, saltando de seus olhos. A tensão entre eles ainda existia.
O elevador subia sem problemas quando as luzes apagaram e ele parou com um solavanco.
- Ótimo. – resmungara ele.
Ela discara o número de emergência fornecido pelo fabricante e nada.
Estavam presos naquele elevador, sem ter para onde ir ou outras pessoas para conversar.
Será que sairiam inteiros dessa?
Ela discara o número de novo, e... nada.
Eles teriam que ficar ali dentro até que alguém os resgatasse.
- Merda! – ela ralha e encara o celular sem acreditar.
Daniel havia se sentado e parecia pensativo.
Emily senta do lado oposto e tenta não tocá-lo.
Seu relacionamento os ferira e a mágoa os mantinha separados, mas sabiam lá no fundo que se amavam.
Apesar das mentiras, traições e brigas, eles formavam uma bela dupla.
Emily se agarrava a sua bolsa e olhava para o visor do celular enquanto Daniel abraçava os joelhos e olhava para os próprios pés. Perdido em seus pensamentos, memórias e sentimentos.
Depois de algum tempo, ele é o primeiro a quebrar o silêncio.
- Foi real? – ele perguntou. – O que tivemos?
Ele queria saber se tudo não passara mesmo de uma grande mentira.
Ela o olha e suspira.
- Por que quer saber, Daniel? – ela retrucara – Que diferença isso faria?
Longe um do outro fora fácil sufocar seus sentimentos, mas ali, naquele cubículo escuro, tudo parecia voltar pra superfície.
A verdade era: havia esperança para seu relacionamento, mas não se dariam ao luxo de dar o braço a torcer.
Muito ficara entre eles e essas coisas precisavam voltar para o lugar primeiro.
Evitavam se encontrar ou até saber sobre o outro, mesmo com aquela força que continuava os atraindo.
O mundo poderia girar ao contrário e ainda assim eles se encontrariam.
Tudo os levava ao momento em que tudo aquilo começara. Aquela noite chuvosa, no barco. O pedido de casamento aceito. A felicidade em contar ao mundo que logo deixariam de serem indivíduos e se tornariam um só.
- O pedido de casamento? – ele questiona – Não pode dizer que aquilo não foi real, que seus votos foram da boca pra fora. Que estava mentindo perante Deus e nossos familiares.
A verdade é que ela naquele momento ela comprometera não só seu corpo, mas sua alma.
Embora ela tenha vindo até os Hamptons com outros objetivos e alvos, seu relacionamento com Daniel não fora planejado. Ela se entregara... se jogara de cabeça e ali estavam agora.
Sem uma alternativa melhor, fizera uma das coisas em que era a melhor.
Mentiu outra vez. Da mesma maneira que mentiam um pro outro desde o fim do verão passado, quando Daniel descobrira que fora enganado pela mulher que amou, ainda ama e amaria para sempre.
- Nada daquilo foi real. – mentira – Nunca fora. Você era conveniente pra mim. E só.
Daniel ficou desapontado porque esperava uma resposta diferente.
Estava disposto a tentar outra vez. Importava-se de verdade com aquele relacionamento, mais do que gostaria de admitir. Mas lá estava ela, esmagando seus sentimentos outra vez e no processo, dilacerando seu coração junto.
- Foi o que pensei. – disse ele.
Quando estiveram juntos, ela se sentia amada verdadeiramente. Não por seu dinheiro ou sua influência. Eram apenas um casal como qualquer outro. Sentiam-se apenas, normais.
Os sobrenomes não importavam assim como os zeros na conta bancária e quem eram seus pais. Eram Daniel e Emily, apenas. Eles formavam um belo casal, na verdade. Lutaram contra si mesmo e contra outros para que pudessem ficar juntos, ainda assim se separaram quando a verdade sobre Emily na verdade ser Amanda veio à tona.
Disseram coisas sem pensar, feriram-se mutuamente. Sentiam-se mortos por dentro. Daniel não conseguira aceitar que a pessoa em que depositara toda sua confiança o enganara daquela maneira.
Embora ela tivesse seus motivos, ele só conseguira enxergar toda a situação como a maior traição de todas. Bebera mais do que necessário e levara outra mulher para casa e a levara para a mesma cama que compartilhara com Emily noites antes.
Seus mundos ruíam lentamente perante seus olhos. Ele pedira o divórcio e ela cedera. Sabia que não o faria mudar de ideia, então o deixou livre, mas nunca deixou de amá-lo.
As luzes do elevador se acenderam e suas engrenagens voltaram a puxá-lo para o quarto andar.
- Finalmente. – ela se levantara e ele a imitara.
Ela não aguentaria outro minuto inteiro ali sem contar a verdade a ele. Agradecera silenciosamente a quem tivesse feito-o voltar a funcionar.
Não se olharam ou disseram algo durante o fim do percurso. As pesadas portas de metal se abriram e o pling característico foi ouvido.
Fim da linha.
Daniel deu um passo para frente, sem querer deixá-la ali.
Tomou coragem e saiu.
- Adeus, Emily. – seu coração estava outra vez em frangalhos.
- Adeus, Daniel. – respondeu saudosamente.
Eles se olharam até que a porta já tinha se fechado.
Daniel encarava a porta fechada.
Um sorriso triste surgia em seu rosto.
Agora ele sabia.
Foi real.
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