Cinza e passiva. Essa era a minha vida. Um estudante comum, estudava para as provas, ia as aulas, comia, dormia, nada mais.

Nunca me interessei por nenhum clube. Não penso em gastar minha energia, por isso não me preocupo em deixar certas coisas de lado. Sempre foi assim, até eu receber a carta da minha irmã. Pedindo para que eu entrasse no Clube de Literatura Clássica do meu colégio – que por ironia, foi o dela também – algo que eu nunca tive intenção de fazer. Bem, desde que eu não gastasse minha energia por nada, não deve ter problema...

Mas então eu a conheci.

Grandes olhos violetas que brilham quando ela diz: “Eu não consigo parar de pensar nisso.” Os cabelos negros que crescem junto com flores e envolvem o ser – no caso, eu – a quem ela pergunta, transformando o lugar praticamente em um jardim de fios e flores.

Claro, isso é impossível. Mas acontece.

É impossível dizer não para a dona desses olhos. Chitanda Eru. Não só porque eles realmente parecem brilhar, mas também porque ela não aceita um não como resposta e quando fica curiosa sobre algo não há nada que acabe com a sua determinação. Como alguém gasta tanta energia assim?

Se o Satoshi não tivesse falado nada, eu teria deixado o clube para ela, logo depois que eu descobri que ela estaria nele, mas então eles voltaram, os cabelos, as flores e os olhos. Quando me dei conta o papel de inscrição já estava nas mãos dela.

E a partir daquele momento, um pingo de cor caiu na minha vida cinzenta.

Primeiro foi a porta ter sido trancada sem que ela percebesse, depois o possível clube secreto e o livro que voltavam e saía misteriosamente da biblioteca sem explicação. E então, aquele problema pessoal.

“Por que eu chorei?”

Era o que ela queria saber. Outro mistério. Outra vez gastando energia. O misterioso caso de 45 anos atrás, Hyouka, a coleção que contava a história do Herói do Clube. O tio da Chitanda. Eu estava acostumado em vê-la determinada, mas ela estava diferente, era algo muito maior do que simples curiosidade.

Eu quis ajudar.

Bem, eu não era o único. Satoshi e Ibara também ajudaram, todos nós, reunidos em uma mesa, na casa da Chitanda. Teoria, informações, minha energia indo embora.

Mas eu não me importava tanto.

Eu queria ajudar, queria ajudar a Chitanda. Não só isso. Eu queria descobrir sobre o que aconteceu há 45 anos. Talvez não tenha sido só sorte a minha teoria bater exatamente com o que aconteceu. Eu descobri. Descobri o que aconteceu. Descobri porque Chitanda chorou.

Hyouka. I Scream.

Quando eu a vi chorando, senti algo estranho. Por que ela estaria chorando? Foi então que ela disse que havia se lembrado.

“Obrigada, Oreki-san.”

Aquelas palavras. Por algum motivo eu me senti bem. Bom, ela se lembrou, eu atendi o pedido dela, acho que eu deveria me sentir bem.

Então eu percebi, minha vida estava deixando de ser cinzenta, eu estava me esforçando por algo, meu estilo passivo estava sumindo e por mais que eu dissesse para mim mesmo que esse não era eu. Não conseguia evitar.

E foi tudo por causa dela.