Magnus deixou Clary sozinha depois agradece-la pelo que ela fez por Alec.

Ela ficou na cama por algum tempo, pensando que poderia realmente aproveitar para descansar um pouco, nem se lembrava da última vez que dormiu – realmente dormiu e perder a consciência com certeza não contava – mas seus pensamentos não a deixariam dormir.

Assim ela se levantou, alcançou sua mochila – que Isabelle tinha trazido – e vestiu uma calça de moletom e uma regata, ambos pretos. Era tudo o que ela tinha, precisava se lembrar de conseguir algumas roupas. Suas botas ela não sabia onde estava por isso caminhou descalço mesmo.

Enquanto caminhava pelos corredores do instituto uma sensação muito familiar e incomoda a invadiu quando ela ouviu o som de um piano. O som era melodioso mas pesado de mais para ser aconchegante.

Clary se lembrou de que Jace não estava na enfermaria quando ela voltou a si, mas ele tinha estado lá antes, não tinha?

Seus pés a levam diretamente para a sala de musicas, a porta estava aberta e ali sentado no piano com calças de moletom, camisa branca e descalço como ela, estava Jace. Assassinando as teclas do piano. A música era bonita, mas a força que ele colocava para tocar dizia que sua intenção não era de fazer nada bonito.

Clary se aproximou, ela queria saber o que o estava incomodando tanto. Quando ela estava a apenas dois passos dele, Jace parou de tocar. Clary viu os músculos de suas coluna tensionarem e friamente ele disse:

- O que você faz aqui?

- Eu estou bem obrigada por perguntar. – Respondeu Clary ignorando a pergunta dele e fazendo a sua própria. – Agora, por que você esta tão zangado com o piano é a verdadeira pergunta.

- Ótimo, agora você faz piadas. Acho que preferia a Clary que não queria falar com ninguém.

- Já que você não faz mais as piadas espirituosas achei que alguém tinha que ocupar o lugar. Afinal, o que aconteceu para você deixar esse lugar vago?

- Você só pode estar brincando! – Enfatizou Jace, finalmente se virando e olhando para Clary, mas ainda assim não se levantou. – Você foi o que aconteceu. Você tem alguma ideia do tempo que eu gastei procurando por qualquer indicio de onde você possivelmente estava? Não me sobrou tempo algum para piadas.

- Hum.

- Hum? É isso que você tem a dizer, hum? – Jace que sempre foi tão bom em esconder qualquer reação ou emoção, estava com as faces rosadas e um brilho raivoso nos olhos.

- O que você espera que eu diga? Que eu peça desculpas? que diga que estou arrependida? Não vai acontecer.

Jace sorriu sem nenhuma graça.

- Você disse que me amava, quando foi embora, você disse que me amava e eu acreditei. – A raiva tinha ido, sendo substituída pela magoa e ressentimento.

- E era verdade. Eu não menti Jace.

Aquilo o pegou de surpresa, ele finalmente se levantou do banco do piano e estava a apenas um passo de Clary. Tão próximo e ainda assim tão distante.

- Então o que mudou? – Jace perguntou em um fio de voz, como se ele falasse alto de mais tudo fosse se desfazer.

- Eu mudei Jace. E você mudou também.

- Meus... – Ele puxou uma longa respiração - Meus sentimentos por você não mudaram. Eu tentei te odiar, eu tentei me afastar, eu tentei seguir em frente a única coisa que eu não tentei foi te esquecer, porque eu sabia, sempre soube que isso não seria possívêl. Mas eu não pensei em você por um longo tempo, agora que você esta aqui, eu só queria que não estivesse, porque meus sentimentos não mudaram. – Clary percebeu que ele parecia decepcionado ao dizer isso e isso a incomodou.

Clary não respondeu. Ela deu o passo que faltava e colou seu corpo com o de Jace, levou suas mãos até seus cabelos aproximou seus lábios e o beijou, lentamente no início e mais fortemente a cada segundo. Jace não reagiu imediatamente, ele ficou parado enquanto ela explorava sua boca com a língua, mas isso não durou muito, logo ela sentiu suas mãos quentes em seu corpo e sua língua fazendo sua própria exploração, ela podia sentir o coração dele acelerado através do tecido fino de suas camisas.

Sem quebrar o beijo ela o empurrou até se escorar no piano, sua mão descendo de seu cabelo para a nuca, os ombros e então seu peito forte onde seu coração estava cada vez mais acelerado. Seus lábios se separaram por um segundo para que pudessem ter um pouco de ar, ela mordeu seu lábio inferior e voltou a beija-lo, com ainda mais impeto, enquanto se apertava ainda mais em seu corpo e suas unhas estavam agora arranhando seus braços fortemente.

Com um súbito salto Jace a empurrou para longe e se afastou.

- O que é isso? – Ele disse ofegante.

Clary olhava para ele com os olhos semicerrados e com cara de quem estava magoada.

- Um beijo.

- Você nunca me beijou assim antes.

- Como eu disse, eu mudei Jace. – Clary disse sem muita emoção.

- Tanto assim? - Ele parecia atordoado, Clary não sabia dizer se era por ainda estar sem ar ou por descobrir que até seus beijos já não eram assim tão inocentes.

- Você não gostou? Ótimo, não faço mais. – Ela deu as costas e deixou um Jace boquiaberto na sala de música. Ela não podia negar para si mesma, ouvir ele dizer que seus sentimentos por ela não haviam mudado mexeu com alguma coisa dentro dela. Algo quente. Mas ainda assim, ele tinha que saber que se ele pensasse em continuar sentindo algo por ela, esses sentimentos teriam que se adaptar. Ele devê ter entendido. Ou não.

Ela sorriu ao caminhar para a sala de treinamento.

Ela encontrou Alec na sala de treinamento, ele andava distraído pela sala examinando cada instrumento que estava ali, ele trazia um sorriso tímido nos lábios e um brilho intenso em sua alma.

De tudo o que aconteceu com Clary, ser capaz de enxergar a aura, alma ou seja lá o que isso for, era o que mais a incomodava, talvez porque fosse pessoal demais. É claro que não era de todo ruim, era assim que ela era capaz de sentir quando alguém se aproximava, pela vibração de suas almas. Ela tinha que dizer a Simon que ele tinha uma alma, ela pensou que ele gostaria de saber disso.

Embora não seja uma coisa que ela saia por ai falando ´ei você tem uma alma muito brilhante sabia`. Mas isso não significa que ela não veja, e que ela não seja capaz de dizer algumas coisas a partir disso.

Alec brilhava, e apesar de não saber explicar como, ela sabia que era um brilho de felicidade.

- Você parece bem para quem acabou de ser envenenado.

Alec deu um salto com as palavras de Clary.

- Bem, você não parece tão mal também. – Ele disse ruborizando.

Enquanto Clary entrava na sala Alec falou:

- Obrigada Clary você...

- Não precisa disso, sua mãe e Magnus já me agradeceram.

- Bem, eu agradeço também. Se você não se importa gostaria de perguntar por que você fez isso? – Clary olhou para ele e levantou as sobrancelhas.

- Por que eu ajudei você?

- Sim.

Clary riu e voltou a caminhar pela sala, como Alec fazia antes.

- Eu não sei o que exatamente vocês pensam de mim Alec, mas porque eu não estou com a Clave não significa que eu seja o mal em pessoa. Você precisava de ajuda e eu sabia como ajudar, então eu ajudei. Simples na verdade.

Alec parecia verdadeiramente envergonhado.

- Eu não quis dizer que você é uma pessoa má, mas suas ações são muito diferentes agora.

- E de novo, isso não significa que eu seja a malvada da história.

- Não, mas você não pareceu muito boa com o irmão Zacharyah e nem quando falou com Sebastian.

Clary respirou fundo e voltou a olhar Alec.

- Sebastian não precisa de nenhuma bondade. Enquanto a Zacharyah... Digamos que as vezes ser boa não te leva a lugar algum.

Dizendo isso Clary que estava com um Bo – bastão de madeira de aproximadamente dois metros - nas mãos, deu um salto ao centro da sala e fazia movimentos tão rápidos que Alec recuou. Pouco tempo depois ela ouviu Isabelle entrar na sala e falar com o irmão.

- O que ela esta fazendo?

- Ao que parece surrando o ar. Olhe para esses movimentos Izzy. – Alec tinha um tipo de adoração na voz - São tão rápidos quanto os de Jace.

- Sim, e vendo assim ninguém diz que ela estava morrendo a horas atrás.

Clary continuava, dando saltos no ar, manuseando a Bo como se fosse uma extensão de seu próprio corpo, usando as colunas da sala para se impulsionar para saltos mais longos, ela se sentia bem se movimentando, isso era o mais natural para ela e seu corpo.

Mais alguns minutos se passaram até que Clary foi brutalmente interrompida. Jace aterrizou a sua frente, a poucos segundos de levar um bastão de madeira nas costelas, se seus reflexos não fossem tão rápidos ele teria pelo menos três costelas quebradas.

Ela estava meio agachada, meio levantada, segurava a Bo na frente do rosto e a respiração era forte. Foi assim que ela levantou a cabeça e olhou para Jace que continuava a sua frente com fúria em sua expressão.

- O que você pensa que esta fazendo? – Ele disse. E antes que ela pudesse responder ele se virou para onde Alec e Izzy estavam. – E vocês, como deixaram ela fazer isso?

- Mas do que você esta falando Jace?

- Como se nós tivéssemos que deixa-la fazer alguma coisa.

Falaram Alec e Isabelle ao mesmo tempo, Clary agora ficou ereta e calmamente disse:

- É Jace, do que você esta falando?

- Você quase morreu a apenas uma hora, e esta aqui agora se acabando em treinamento. Você deveria estar descansando. – Clary sorriu.

- Bonita sua preocupação, mas eu cuido de mim mesma a algum tempo, eu sei o que é melhor.

- Sim, devê saber mesmo. Foi por isso que precisou de nós para a tirarmos das mãos de Sebastian.

Agora Clary tinha a mesma fúria de Jace.

- Eu não precisei de vocês para nada. Tudo o que vocês fizeram foram atrapalhar. Mais uma vez. – Clary colocou mai força na última frase. Jace deu um passo a frente se aproximando de uma Clary cada vez mais irritada.

- Você continua dizendo isso, e eu continuo vendo as vezes em que nós salvamos você...

- Vocês me salvaram? O que você ach...

Neste momento os saltos de Maryse anunciaram sua entrada na sala, os dois se calaram, mas continuaram se enfrentando com o olhar.

- Algum problema aqui?

- Não. - Respondeu Jace. – Acho que Clary tentar se matar não é mais um problema.

- Do que você esta falando? Clary? – Maryse parecia preocupada.

- Somente o ego arrogante de Jace que eu pensei que havia sumido surgindo novamente. Nada para se preocupar Maryse.

- Bem, espero que não seja mesmo. Isabelle eu pedi que chamasse todos para o jantar e não que se distraísse por ai.

-Eu...

- Como vocês demoraram eu vim até vocês, nós temos uma visita e eu gostaria que vocês o conhecessem. Este é Ben Wharlook do instituto de Londres, ele passará alguns dias conosco.

Clary estava de costas para a porta quando Maryse chegou e não se incomodou em se virar, mas ouvindo as palavras que ela tinha acabado de dizer Clary sentiu o coração gelar e forçou suas pernas a fazerem um giro de cento e oitenta graus. Fazendo isso ela desejou poder fechar os olhos e quando o abrisse a cena que ela via fosse diferente, mas ela sabia que isso não aconteceria.

- Olá Clarissa. – O garoto a quem Maryse identificou como Ben Wharlook disse. A face calma. Com seus olhos verdes musgo que pareciam opacos com a luz, seu cabelo castanho cheio de cachos que cobriam as orelhas e caiam sobre a testa. Ele era alto, mas não muito, seu corpo era enganosamente magro, na verdade repleto de músculos que esticavam o tecido fino da camisa bege e sua jaqueta de couro marrom, até mesmo sobre seu Jeans claro e gastos ela via seus músculos.

Ele era a imagem da paz e doçura, mas Clary sabia melhor.

- Olá Benjamin. – Ela respondeu, e viu com o canto do olho a face espantada de Jace e Maryse.

- Benjamin? – Perguntou Maryse, o olhando como se o tivesse vendo pela primeira vez. Benjamin parecendo um pouco confuso respondeu.

- Sim, desculpe não ter mencionado antes, mas Ben é a abreviação de Benjamin. Ninguém me chama assim, então não pensei que tivesse importância.

- Clary te chamou assim. – Apontou Jace.

Benjamin caminhou pela sala até estar de frente com Clary.

- Sim, mas Clarissa sempre foi peculiar.

Clary permanecia parada no centro da sala, tensa, como se esperando ser atacada a qualquer momento.

Benjamin caminhou ao redor da sala e pegou em suas mãos uma arma idêntica a de Clary.

- Pelo o que eu entendi você estava treinando Clarissa?

Clary apenas sentiu seu olhar nela, pois ele estava agora em suas costas.

- Escolha de arma interessante, muito boa para testar a agilidade de seus movimentos. Era isso o que fazia? – Perguntou ele com sua voz perfeitamente calma e traiçoeira.

- Sim, era o que eu fazia. – Ela respondeu secamente.

- Bem, vejamos como você esta.

Novamente se não fosse por seu reflexo rápido alguém teria costelas quebradas, mas neste caso este alguém seria ela. Benjamin atacou com o bastão pelas costas mesmo, mas ela era ágil e se defendeu. Ele continuou atacando. Com movimentos tão rápidos e ágeis como os seus, ou melhor, mais ágeis que os seus, Clary precisava se esforçar para acompanhar os movimentos do garoto e ela ouviu um suspiro coletivo na sala quando os outros perceberam isso.

Aos poucos ele foi dominando a luta, a levando pelos seus movimentos, foram muitas batidas e autos sons de madeira contra madeira, cada golpe era parado, dos dois lados, mas foi o garoto quem conseguiu desarmar Clary. Com um forte golpe ele jogou sua Bo para o outro lado da sala, e não parou de atacar.

Ele girou o bastão em suas mãos e tentou acertar as pernas de Clary, ela com um salto usou a parede como fazia antes, se impulsionou para frente saltou – por cima de sua cabeça - e estava agora as costas do garoto, ela acertou seus pulmões com as mãos fechadas e aproveitou seu momento sem ar para desarma-lo.

Agora em igualdade novamente a luta era mão a mão. E ele atacou. Atacou com força, rápido, sem piedade. Clary não seria capaz de dizer quanto tempo aquela luta durou, mas enfim ele a colocou no chão. Ela estava extremamente cansada, se este não fosse Benjamin ela nunca teria parado, por mais exausta que estivesse ela continuaria lutando, mas este era Benjamin e simplesmente não valia a pena, no fim ele ganharia de qualquer maneira.

Ofegante e com o corpo forte de Benjamin sobre ela, Clary tentou estabilizar sua voz o máximo que pode.

- Se você já deu o seu show, poderia sair de cima de mim? – Ela conseguiu o tom certo, seco e vazio.

- Nem isso você consegue fazer Clarissa? - Ele tinha um tom zombeteiro na voz que irritou Clary. Soltando os braços e remexendo as pernas ela o jogou o mais longe que conseguiu, que acabou sendo logo a sua frente, seu corpo bateu em uma das colunas da sala e permaneceu ali, sentado.

Ela sentou-se e depois levantou-se. Reunindo sua dignidade olhou ao redor da sala, e ela não podia dizer quem tinha o olhar mais espantado. Ela não pode se conter e começou a rir. Era incrível, ao que parecia eles acreditavam mesmo que ela era invencível, só era uma pena perder esse crédito.

- Vocês... Vocês se conhecem? – Maryse foi a primeira a recuperar a voz, mas ambos a ignoraram. Benjamin que havia levantado também tinha um olhar divertido ao vê-la rir.

- Se a Clave soubesse de seu talento em se esconder dentro de seus institutos, classificariam você como uma criminosa zombadeira.

- Eu realmente não optei por isso, em nenhuma das vezes.

- O que não muda o fato de você estar aqui, dentro da casa da Clave, novamente. – Seu olhar divertido havia sumido, agora seus olhos opacos tinham novamente aquela calma falsa. – O que você esta fazendo Clarissa?

- Depende do que você se refere, neste momento estou pensando no que teremos para o jantar.

Muito, muito rápido, Benjamin não estava mais escorado a coluna no meio da sala e sim bem a frente de Clary, com menos de um palmo de distancia.

- Não brinque comigo. Você não come a dias, não dorme a provavelmente semanas, pelas manchas rochas em baixo de seus olhos e em toda parte visível de seu corpo suas runas de cura não estão funcionando bem, pela sua patética demonstração nesta luta foi seriamente ferida a pouco tempo.

Clary deu um passo a trás e sorriu.

- Se você veio de Londres a Nova Iorque para dizer que eu estou um lixo, recado dado, já pode voltar.

- Eu não disse que você esta um lixo. – Ele parou por um momento e logo disse: - Clarissa, você esta pior que um lixo. E considerando seu temperamento esta quase fora de controle.

Os olhos verdes de Clary brilharam com uma chama dourada e sua voz era profunda e tinha os dentes serrados quando ela respondeu a isso.

- Eu estou completamente no controle.

- Não é o que eu vejo.

Agora quem se aproximou foi Clary, se aproximou tanto que falou exatamente no ouvido de Benjamin.

- Então não se esqueça que é fora de controle que eu derrubo você. – Ela se afastou e caminhou em direção a porta, sem olhar para trás ela disse: - Volte para Londres Benjamin.