“Você sempre surpreende. E eu tento entender. Você nunca se arrepende. Você gosta e sente até prazer...”

— Como foi a viagem? - pergunto para tentar distraí-lo, ainda que meu rosto não esconde minha alegria de vê-lo e momentaneamente tudo que me preocupava deixou de existir - Aconteceu alguma coisa, pois você voltou antes do esperado. Não que eu esteja reclamando, porque senti muito a sua falta Camus.

— A missão foi tranquila e eu estou cansado, foi uma longa viagem. O que eu tinha que fazer era algo mais de reconhecimento e eu cumpri com o que me foi pedido. E sim, não era para estar aqui, mas consegui realizar a missão antes do tempo estipulado, então Shion me permitiu voltar. E eu sabia o quanto era importante para você que eu estivesse presente no seu aniversário.

Meu coração bate forte ao escutar essas palavras. Ele voltou por mim, porque era importante para mim. A felicidade é evidente no meu rosto, e eu sei que ele está feliz por voltar a casa, porque ele tem um sorriso suave, uma suavidade que dificilmente ele se permite demonstrar. Seus olhos se desviam dos meus e olham para a bagunça que fiz em sua cama, com o presente. Lentamente sua mão se move até um dos livros e começa a acariciá-lo, como uma reverência.

— Milo acabou de dar seu recado - digo porque vê-lo aqui, ouvir tudo o que ele me disse, me faz não conseguir manter minha boca fechada - Eu… eu deveria guardar tudo e deixá-lo descansar. Eu deveria voltar para a festa…

Camus não responde e eu lentamente começo a guardar todos os itens na caixa. Entretanto, me sinto inquieto, porque este não é o comportamento natural dele e eu honestamente tenho medo de encarar o elefante no quarto. Tenho medo de ter entendido errado o significado do presente. Guardo os itens, coloco a caixa no chão, mas não faço movimento para sair do quarto, da cama dele. Camus não me pede para sair, simplesmente se aconchega na cama, colocando-se confortável e espera.

— Milo sabe que você está aqui? - pergunto, porque quero saber se o recado foi dado de maneira espontânea ou foi planejado.

— Não, exceto Shion, não acredito que ninguém mais sabe de meu retorno. Era para ser uma surpresa para você, afinal, eu não queria criar expectativa ou correr o risco de alguém estragar. Eu não tinha certeza se chegaria a tempo.

— Por que você fez tudo isso? - pergunto, porque apesar de eu ser um covarde e não admitir para ele o que sinto… apesar de ter medo, eu preciso entender o porque ele fez isso. Ainda que a resposta possa me despedaçar em muitos pedaços. Ainda que ele possa me falar que me vê como um filho ou algo assim.

— O que é que eu sei Hyoga? Você disse quando estava vendo o presente que te dei, que eu sei de algo. Então diga-me, o que é que eu sei? - ele pergunta e toda sua atenção está em mim, seus olhos estão em mim novamente e algo no clima mudou. Qualquer suavidade que havia, foi apagada. Agora o Camus que estava em frente de mim, era o Camus implacável. O que não vai me deixar sair sem conseguir a resposta que quer.

Eu poderia mentir, mas não tenho condições de mentir. Eu poderia dizer a verdade, mas não consigo. Eu fico congelado, sem conseguir reagir.

— Eu vou dizer o que você não consegue dizer: você está apaixonado por mim. Eu sei disso, eu sempre soube disso. Você é um livro aberto para mim, sempre foi. Você acha que não me dava conta de cada olhar desviado, cada vez que você se segurou para não confessar. O medo que você tinha de eu descobrir…

— Se você sempre soube, porque nunca falou nada?

—Porque para fazer as coisas direito, da maneira correta, isso deveria partir de você. Eu estive em uma posição de poder em relação a você por muito tempo. Eu fui seu mestre, você tinha apego emocional comigo. Você mora na minha casa, na casa de Aquário. Eu não poderia dizer nada sem que parecesse que eu estava impondo algo sobre ti ou criando sentimentos em você, até mesmo o confundindo. Deveria partir de você, porque você deveria entender o que sente e quando chegasse a conclusão, lutar por aquilo que queria.

— E o que mudou? Por que estamos tendo essa conversa? Por que está expondo meus sentimentos assim?

— Porque não estamos mais em uma relação na qual eu tenha poder sobre você. Somos iguais, Hyoga. Algo que você custa a entender. Dividimos as responsabilidades. Entretanto, depois de nossa última luta em um dos nossos treinos, você me evitou. Em todos esses anos você nunca se sentiu desconfortável em minha presença. Então aí eu decidi que tinha que agir, já que você não o faria. E a situação estava saindo fora do controle.

— A sua maneira de resolver isso é jogar na minha cara que você sempre soube do meu amor por você? Isso é cruel, porque você vai me dispensar.

— Você ainda não entendeu, não é? O presente não é só jogar na sua cara que eu sei de seus sentimentos. O presente também é uma declaração de amor, porque eu também te amo Hyoga, também sinto o mesmo por você. Então me impeça, se minhas próximas ações não forem o que você quer. O que você também deseja.

E essas são as últimas palavras que escuto antes de sentir sua mão em meu cabelo e sua boca em meus lábios. E eu nunca te diria não Camus, nunca te impediria. Não quando pela primeira vez na minha vida posso ter o que quero.

No meu aniversário, o homem que amo declarou o seu amor por mim. No meu aniversário, eu me entreguei ao homem que amo. Pude sentir o seu toque, seu gosto, seu cheiro em minha pele. No meu aniversário, Camus me ensinou o que significa a verdadeira felicidade.

Ao final da noite, quando estou confortavelmente em seus braços, bem próximo de dormir, escuto um sussurro em meu ouvido, dizendo Feliz aniversário Hyoga e a única resposta que posso dar e um agradecimento por dar o melhor aniversário que eu poderia ter e declarar meu amor a ele, mais uma vez.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.