Flowackt
one
- Droga de trabalho chato. – resmungou mais uma vez o loiro mais novo.
Os amigos olharam os diversos livros abertos e soltaram outro suspiro, amaldiçoando o professor.
- O pior é que já passamos nessa matéria. – suspirou o mais velho do grupo.
- Quem não teria passado nela? É pura bobagem.
Kouyou deitou-se no chão novamente. Assim como os melhores amigos, ele estava de saco cheio daquele trabalho idiota sobre antigas crenças relacionadas à evolução.
O pior é que eles eram os últimos a apresentar, ou seja, o professor Gackt esperaria mais do trabalho deles.
- Mas precisamos apresentar algo ou é capaz dele tirar nota nossa. – e mais uma vez, Akiharu tentou concentrar-se no pesado livro a sua frente.
Por que eles não estavam usando a internet?
Simples. Fazia um mês que eles se reuniam quase todas as tardes para fazer o trabalho e nada saia porque eles simplesmente começavam a navegar na internet a procura de coisas mais interessantes do que crenças.
Nesse mês eles fizeram varias coisas uteis, como estudar para algumas provas, e muitas coisas inúteis no computador. Miyavi ficava pegando musicas novas no violão e vendo vídeos de uma cantora que ele virara fã no youtube; Miku ficava procurando fotos de lugares e pessoas, conhecidos ou não. Já Kouyou ficava brincando com os aplicativos do Orkut até enjoar, tirá-los do perfil e adicionar novos.
Tirando o fato de que agora eles tinham achado um site que tinha seriados em boa resolução. Isso ferrou completamente os garotos e ai foi que todo final de tarde era a mesma coisa: “Droga. Não fizemos nada do trabalho. Mas de amanhã não passa”.
Mas desta vez não passaria mesmo, afinal o trabalho era para o dia seguinte e para sair algo, os três concordaram em não usar a internet e recorreram aos livros.
O que era extremamente chato.
Algumas horas depois, Kouyou deu um baixo riso e começou a falar apontando para o livro.
- Olha só. Podemos falar desse aqui...
- Lê ai para a gente... – falou Miku que comia um bolo que a sua mãe recém havia trago para eles.
Pegando o livro, o loiro começou a falar:
- “De acordo com um mito chinês da criação datado de 600 a.C., Phan Ku, o Criador Gigante, saiu de um ovo e começou a criar o mundo usando um cinzel para esculpir os vales e as montanhas da paisagem. Em seguida ele colocou o Sol, a Lua e as estrelas no céu e morreu assim que essas tarefas tinham terminado. A morte do Criador Gigante era uma parte essencial do processo de criação, porque os fragmentos do próprio corpo ajudaram a completar o mundo. O crânio de Phan Ku formou a abóboda celeste, sua carne deu origem ao solo, seus ossos se transformaram nas rochas e seu sangue criou os rios e mares. Seu ultimo suspiro produziu o vento e as nuvens, enquanto seu suor transformava-se na chuva. Seu cabelo caiu na Terra, criando vida vegetal, e os piolhos escondidos em seus cabelos forneceram a base para a raça humana..”. Legal, somos piolhos de um morto...
- Piolhos? Que nojo – exclamou Miyavi rindo.
- Não é um piolho qualquer... É um piolho divino... – O loiro que lera ria junto do mais velho. Ao bater o olho na ultima frase que dizia ‘E, como nosso nascimento exigiu a morte do nosso criador, fomos amaldiçoados com a tristeza eterna. ’ completou - E depressivo...
- Que horror. – exclamou o mais novo com a boca cheia.
- Na boa. Eu não sou um piolho divino...
- E depressivo – brincou Kouyou, completando o amigo.
- Foda-se. Eu não sou um piolho... Isso é nojento – resmungou Miyavi ainda rindo.
- Prefiro a teoria da evolução dos macacos. – falou Miku.
- Serio? Eu prefiro ser um piolho divino e depressivo do que ser evolução de um macaco. – comentou Kouyou fazendo uma leve careta.
- Macacos comem piolhos. – provocou o mais novo.
- Ui. Vem aqui e me come... – rindo, Kouyou foi para perto de Akiharu e o abraçou fazendo o mais novo deitar-se no chão.
- Pelo amor de deus. Parem com a putaria... – e se aproximando dos dois que ainda estavam deitados nos chão se agarrando, Miyavi deu um forte tapa na bunda do loiro que estava em cima do mais novo.
- Filho da... – gritou ao sentir a mão lhe batendo e rapidamente, o loiro saiu de cima do amigo e ficou alisando a própria bunda, na esperança desta parar de doer um pouco. – Essa marcou na alma.
- Essa era a intenção.
E os três começaram a rir.
E ficaram rindo um bom tempo e fazendo as brincadeiras idiotas de sempre.
- Ai droga. O que vamos apresentar amanhã? – resmungou Miyavi.
- Não faço ideia...
- E... Que tal criarmos uma crença? – sugeriu Kouyou.
O sorriso dos dois foi a resposta.
Ainda sorrindo, os amigos se juntaram ao redor do notebook e começaram a criar a crença.
~x~
- Okay. Agora vamos ao ultimo grupo. Por favor, senhores Ishihara, Tsukiyama e Takashima venham à frente e apresentem o trabalho.
Um pouco receosos, levantaram-se e foram até a frente da turma.
- Podem começar. – falou Gackt olhando os três alunos à frente.
Se olharam um pouco inseguros e respiraram fundo. Dando um passo a frente, Kouyou falou:
- O nosso trabalho é sobre Flowackt. – Alguns murmúrios foram ouvidos na sala enquanto Miku deixou sobre a mesa do professor a parte escrita do trabalho. – Essa crença se baseia em um grande e bonito Deus que criou um enorme jardim. O jardim seria o nosso planeta.
- E nesse jardim... – continuou Akiharu – Ele plantou uma flor. E dessa flor veio o ser humano. E como ele gostou do ser humano que havia criado, resolveu criar outros, mas um pouco diferentes... Por isso ele plantou diversas flores.
- E foram delas que vieram as diferenças raciais.– completou Miyavi. – E então para criar os animais ele pegou uns pacotes, colocou numa caixa e usou seu apito multi-colorido-especial-para-animais e de lá saiu diversos animais.
A turma ficou encarando os três na frente, alguns do fundo deram umas risadinhas que foram silenciadas pelo olhar do professor.
- Vocês fizeram dez paginas falando sobre isso?
- Sim senhor.
Gackt foi passando o olho pela parte escrita do trabalho, e a medida que ele continuava, um sorriso se formava em seus lábios.
- Parabéns. Sete para vocês.
A turma ficou indignada, inclusive os meninos. Afinal, eles passaram a noite inteira escrevendo uma redação que colocava o professor deles como o novo e melhor Deus já criado e eles levaram apenas um sete.
- Vai ver as flores foram gay demais pra ele – comentou Miku baixinho para Kouyou e Miyavi.
- É. Talvez.
Deixaram a discussão ai, afinal o ‘novo Deus’ do mundo acabara de jogar um pedaço de giz em Kouyou, fazendo os três voltarem a prestar atenção na aula.
Gackt. Um deus. É... Eles estavam perdidos.
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