Flor do deserto

Capítulo 25- Flor do deserto.


Um som musical familiar era ouvido ao longe. Emanuelle, ainda muito sonolenta, demorou um pouco para discernir que aquela música vinha de seu celular. Ele estava tocando. Ela levantou-se rapidamente da cama, indo para sala para atendê-lo. No visor indicava que era seu chefe Charles:

— Emanuelle falando.

— Emanuelle bom dia, aqui é o Charles.

— Bom dia chefe. Está tudo bem? Houve algum problema?

— Na verdade tenho sim. Dois dos meus médicos plantonistas estão na Suíça, mas eles acabaram de me ligar dizendo que está havendo uma nevasca muito forte por lá, e que os aeroportos estão fechados, sem previsão de abertura. Eles tinham plantão noturno hoje à noite, e quero saber se você poderia ir hoje no lugar deles.

Emanuelle passou a mão pela cicatriz em seu pescoço.

— O Marcus me deu uma semana.

— Eu sei, conversei com ele. Mas a situação é emergencial. O Marcus me convenceu a deixar você numa ala mais tranquila, o que eu não posso ter é gente a menos.

— Isso vai abater da minha carga horária?

— Vai sim, tudo normal.

Emanuelle pensou por um momento. Ela lembrou-se que depois de sua saída do hospital, ela foi agredida por Harrison, quebrou um crânio da cabeça de um bandido, quase foi baleada e teve um pequeno surto novamente. Se ela conseguiu resistir a isso apesar de se recuperar de um ferimento, um plantão seria algo tranquilo.

— Quer saber...acho que estou pronta para voltar à rotina -disse a jovem, de maneira animada.

— Ótimo! Estarei esperando você hoje à noite.

— Até lá.

Ambos se despediram e Emanuelle desligou o celular. A doutora gostou da notícia. Estava louca para voltar à ativa de novo. E de qualquer forma era bom, pois seria algo que manteria sua mente ocupada por um tempo, mantendo alguns pensamentos incômodos longe. Ela lembrou-se das traduções que tinha para terminar. Ela então se dirigiu à cozinha para preparar seu café da manhã. Mas antes que entrasse lá, ela tentou puxar uma informação pela memória. Comentou consigo mesma; “estranho, não me lembro de ter ido para a cama”.

Ao entrar na cozinha, viu que o notebook não estava mais lá nem as folhas impressas com as traduções. Na mesa apenas havia a impressora e um pedaço de papel ao lado. Era um bilhete. Ele dizia:

“ Desça aqui e traga um Pen Drive para copiar os arquivos para você. Preciso do meu notebook.

PS: mesa não é lugar para dormir.

SH”

Emanuelle ruborizou, agora sabia como fora parar na cama.

***

Harrison convocou uma reunião de emergência com metade dos policiais da Scotland e com a equipe de Lestrade responsável pelas investigações. Haviam pelo menos cinco agentes do chefe de segurança em pé, por detrás dele. O homem foi ao púlpito da sala de reuniões, e começou seu discurso:

— Amigos, tenho uma boa notícia para vocês: Temos em mãos oitenta fichas de suspeitos. Finalmente poderemos trazer esses desgraçados à justiça. E vocês farão parte disso hoje. Eu estou autorizado a emitir a prisão preventiva de cada nome que está nesses papéis, e vocês é que farão isso -Lestrade passou a mão pela cabeça, segurando-se para não berrar naquela sala o quanto aquela idéia era idiota e arriscada- Meus agentes dividirão vocês em cinco equipes e cada uma ficará responsável pela prisão e interrogatório de cada suspeito. Chegando aqui é que descobriremos quem é terrorista e quem não é. Se organizem que dentro de alguns minutos começaremos as divisões.

O homem se virou para seus agentes e falava algo com eles. Os policiais cochichavam entre si, e logo o ambiente foi preenchido por um barulho de conversas paralelas, muitos se levantaram indo buscar café, para ir ao banheiro ou simplesmente para esticar a perna. Nesse contexto, Donovan se levantou discretamente e foi em direção à Harrison. O homem ao ver a aproximação da mulher, perguntou:

— O que deseja sargento?

— Senhor, gostaria de liderar uma das equipes.

O homem deu uma risada rouca, perguntando:

— E porque uma moça como você estaria interessada em liderar algo desse porte.

Donovan falou baixinho, como se o que falasse fosse um segredo:

— Com todo o respeito senhor, essa é uma oportunidade única para mostrar ao meu chefe Lestrade que eu posso ser melhor que Sherlock Holmes.

Harrison fez uma expressão confusa:

— Não entendi. Como assim?

— Senhor, todos os casos importantes que eu já coloquei as mãos, o meu chefe deixou à encargo daquela aberração chamada Sherlock. Eu nunca tive a chance de mostrar para meu chefe o meu valor, que eu posso resolver as coisas sem aquele esquisito se meter. Essa é a oportunidade de eu esfregar na cara de Lestrade a minha capacidade.

— Aberração é? Gostei do apelido -riu o chefe.

— Fui eu que criei -disse Donovan, orgulhosa- eu nunca gostei daquele panaca.

— Eu também não.

Harrison olhou pensativo para Donovan, dizendo em seguida:

— Quer saber? Gostei do seu jeito. Escolha alguns policias, você irá liderar uma equipe.

— Muito obrigada senhor, está fazendo uma boa escolha.

— Eu sei que estou, sempre faço boas escolhas, e quer saber de uma coisa? O que acha de ocupar a vaga de Lestrade quando tudo isso acabar?

Donovan sentiu um ódio furioso querer sair de seu peito, o homem era realmente um babaca antiético. A sargento respirou fundo, fazendo uma cara de surpresa, respondendo para o homem:

— Acho uma ótima idéia senhor. Estou surpresa com a oferta.

— Faça bem seu serviço, e quem sabe ocupará cargos ainda maiores.

— Pode deixar comigo, farei um excelente serviço.

O homem fez sinal com a cabeça, voltando-se para seus agentes. Donovan se afastou do homem, enquanto o xingava mentalmente. A sargento com o celular na mão começou a mobilizar o restante da equipe de Lestrade para acompanhá-la. Lestrade iria gostar de saber que uma das equipes era formada somente por policiais leais à ele, pensou Donovan. A sargento teve que se apressar, logo logo todos estariam saindo para fazerem as prisões.

***

Emanuelle buscou em suas coisas e achou um pen drive antigo vazio. Ela antes de descer resolveu comer alguma coisa, embora fosse já perto da hora do almoço. Ela abriu as prateleiras e chegou na frustrante conclusão que precisava ir no mercado comprar comida com urgência. Pegou um resto de pão no armário, comeu rapidamente e desceu para o 221b. Emanuelle bateu à porta, ao que a sra Hudson atendeu muito sorridente. Ela convidou a jovem para entrar. Emanuelle assim que entrou, foi para a cozinha, seguida da sra Hudson, encontrando um homem de cerca de sessenta anos de idade, muito bem vestido e elegante sentado à mesa, usando o notebook de Holmes. Ele estava traduzindo o restante das fichas dos prováveis suspeitos. Emanuelle olhava ao redor, procurando por Holmes. O homem na mesa, ao perceber a presença da jovem se apresentou:

— Bom dia minha jovem, meu nome é Shelton, sou o tradutor que Lestrade providenciou.

Emanuelle apertou a mão do cavalheiro, comentando em seguida:

— Fico muito feliz que o senhor tenha aceitado ajudar.

— Para mim é um prazer ajudar aos amigos da minha doce cerejinha -disse o homem, beijando a mão da sra Hudson, que tinha se colocado ao lado dele. Emanuelle riu-se da cena, não na intenção de caçoar, mas admirando a cumplicidade daquele casal. O homem continuou, fazendo o sorriso desaparecer do rosto da jovem- e você deve ser a jovem que está em apuros, não é?

Emanuelle deu baixou a cabeça, respirando fundo. O homem comentou:

— Ah, não se preocupe, não contarei para ninguém. Lestrade me explicou da delicadeza desse caso, e particularmente fico feliz em ajudar.

— Obrigada -disse Emanuelle baixinho, como uma criança tímida- o Sherlock está por aqui?

— Ele saiu assim que Shelton chegou, minha querida -disse a sra Hudson.

— É para copiar os arquivos? -perguntou o homem, deixando Emanuelle surpresa. O homem percebeu e comentou- Ele avisou que você viria copiar os arquivos do computador dele.

— Ah, sim claro -Emanuelle sorriu, aliviada. Por um momento pensou que aquele homem também era dotado de “poderes dedutivos”.

A jovem entregou o dispositivo para o homem e, dentro de alguns minutos os arquivos foram todos copiados para ela. Ela agradeceu, se despediu de ambos ali presentes e, antes de sair, lembrou-se:

— Sra Hudson, por favor avise ao Sherlock que hoje à noite irei para o plantão noturno no St Barts. Vou traduzir o que der até a hora de sair, depois termino quando eu voltar.

— Mas você está bem para voltar?

— Estou sim, e meu chefe me prometeu que ficarei num setor mais tranquilo. Vou ficar bem.

— Ah, boa sorte então.

— Obrigada. Ah sim, vou sair para fazer algumas compras. Percebi que minha despensa está vazia.

— Tome cuidado querida.

— Pode deixar, tomarei.

Dito isso ela saiu do 221b, desceu as escadas e foi para a calçada esperar o Uber que tinha pedido.

Assim que a jovem saiu do apartamento, Shelton comentou com a senhora Hudson:

— Ela não parece estar tão abalada.

A senhora colocou as mãos sobre os ombros do homem, comentando:

— Pode acreditar que ela está. Ela simplesmente não demonstra. Essa moça ela é muito forte, entende? Ela é delicada, frágil como uma flor, mas ao mesmo tempo forte e resistente. Essa moça passou por muitos apertos na vida, foram muitos desertos que ela enfrentou.

Shelton parou por um momento, pensativo. Olhou para a sra Hudson e comentou:

— Como uma flor do deserto?

A mulher sorriu docemente da constatação, afirmando:

— Isso, como uma flor do deserto.

***

Debaixo de uma poderosa lupa estava o objeto achado por Holmes no galpão da fábrica. Um jovem mexia nele com uma pinça, ora virando ele para esquerda ora para a direita. Ele mexia nas fiações, tentava conectá-las a uma pequena bateria. Sherlock observava a certa distância o que seu especialista estava fazendo. O jovem não esperava que o detetive fosse precisar dele novamente, como também nunca imaginaria que ele chegaria de surpresa na sua porta com John ao seu lado, como fez naquela manhã. O quarto do rapaz era típico dos jovens daquela idade: vários tipos de pôster de toda uma cultura geek enfeitava as paredes daquele aposento, que ia desde Star Wars até Naruto. A sua mesa estava quase toda preenchida por peças e fiações. O garoto realmente gostava de mexer com essas coisas, além de ser um expert em informática. John observava os cartazes pendurados na parede e toda a bagunça ao redor no quarto do rapaz, quando foi interrompido pelo jovem:

—Senhores, vou ligá-lo nessa bateria -disse o rapaz para a dupla- vamos ver o que essa belezinha faz.

Ao conectar aos dois pólos da bateria, o dispositivo fez um barulho estranho e logo em seguida, algumas peças metálicas que estavam perto foram atraídas por aquele pequeno dispositivo, grudando nele.

— É um ímã? -perguntou John, se aproximando mais.

— Praticamente -respondeu o jovem.

— Um ímã elétrico -comentou o detetive.

Sherlock tirou do bolso a lista ditada por Wilson, e mostrou ao jovem, perguntando em seguida:

— Seria possível construir um desses com esses materiais?

O rapaz leu e releu a lista algumas vezes. Respondeu à pergunta:

— Olha, isso requer um bom conhecimento de engenharia, mas sim... daria, e você poderia fazer muito mais além de um simples ímã.

— Explique-se -disse Sherlock. O rapaz se ajeitou na cadeira para prosseguir.

— Olha, com esses materiais daria para fazer um ímã feito esse, só que mais potente ao ponto de criar um campo de força. Um campo de força magnética -Sherlock e John se entreolharam- mas claro, isso tudo é teoria. Para construir algo assim eu teria que ter um equipamento bem mais sofisticado e um conhecimento mais profundo em física.

— E eles tem tudo isso -disse John consigo mesmo, levando as mãos à cintura, preocupado.

Sherlock estava encostado na parede, reflexivo. Depois de um curto silêncio, ele se pôs de pé, subitamente, falando:

— Obrigada. Já tivemos a informação que queríamos -disse, pegando o objeto da mesa e a lista da mão do rapaz, fazendo sinal para John para sairem.

— Espera! -disse o jovem, fazendo Sherlock parar na porta do quarto, pronto para sair- meu pagamento sr Holmes.

Sherlock deu um sorriso de canto de boca, e pegou do bolso um pequeno papel dobrado e o entregou para o jovem, que agradeceu com um grande sorriso no rosto. Watson observou o papel com curiosidade.

Assim que Sherlock e Watson estavam na rua de novo andando, John perguntou:

— O que foi aquilo? Que pagamento foi esse?

— Dei para ele minha senha da Netflix, só para ele usar durante um mês.

— Você tem Netflix?! -John perguntou alto, surpreso.

— Sim, mas não precisa espalhar para toda Inglaterra.

— Mas eu pensava que você não gostava de televisão.

— E não gosto, mas sei que a maioria das pessoas gosta, então eu uso como moeda de troca.

— Ah -disse John. Decidiu então arriscar- você, por acaso, não gostaria de ceder sua senha para um amigo antigo seu, sei lá, por três meses.

Sherlock parou e olhou para John, incrédulo.

— O que foi? -perguntou Watson- são só três meses.

Sherlock revirou os olhos, continuando a andar. Ele comentou com Watson:

— Concentre-se no caso John.

— Tá, tá...desculpa. Onde foi que você achou esse negócio mesmo? -John apontava para o bolso de Sherlock, onde estava o dispositivo.

— No galpão de testes deles.

— Entendo...então isso faz parte de uma bomba?

— Praticamente sim. Mas aqui não é o melhor lugar para falar sobre isso. Vamos para o 221b.

Sherlock mal terminara de falar, e já estendia a mão para um táxi que passava na rua.

***

Àquela hora o mercado não estava tão cheio. Emanuelle pegava das prateleiras os produtos que necessitava, colocando-os no carrinho de compras. A jovem sentiu sua barriga roncar. Ela lembrou-se de que naquela rede de hipermercado havia uma lanchonete com um delicioso sanduíche de Atum. Emanuelle não pensou duas vezes e seguiu para a lanchonete. Ela colocou o carrinho ao lado de sua mesa e foi fazer o pedido. Dentro de alguns instantes estava saboreando um delicioso pão com pasta de atum, salada, presunto, queijo e castanhas. Ela não se conteve e pediu uma sobremesa: trufa de chocolate; perfeito para aquele dia frio, seguido de um cafézinho. A jovem pagou pelo almoço e seguiu ao caixa para pagar pelas compras. Enquanto passava os produtos pela máquina, Emanuelle sentiu que estava sendo observada, ficando com um mau pressentimento. Ela observava ao redor, assustada. Pagou, colocou rapidamente todas as compras numa sacola retornável que trouxera consigo e saiu do mercado o mais rápido possível. Ainda no estacionamento, ela contratou um Uber. Por sorte, tinha acabado de chegar um no supermercado. Emanuelle acenou e ele foi em direção à ela. Assim que o motorista parou e a jovem colocou a mão na maçaneta, ela sentiu alguém colocar a mão em seu ombro e puxá-la com toda a força para trás. Emanuelle deu um salto pelo susto, deixando as suas compras caírem pelo chão. Ao se virar e reconhecer quem foi que fizera isso, seu peito destilou um suspiro misturado de alívio e indignação, seguido de um “ah, é você…” cheio de desprezo. Diante dela estava uma mulher alta, próxima de seus cinquenta anos, artificialmente loira, com lentes de contato azul, dando à mulher um olhar ainda mais estranho. Usava uma maquiagem exagerada e forte para aquela hora do dia, como também roupas chamativas demais para alguém que iria simplesmente fazer compras no supermercado. A jovem sentiu um asco subir pela sua garganta, ao ver a mulher que tornou a sua vida um inferno nos seus primeiros meses em Londres. A tia da amiga de Emanuelle olhava para ela com mix de arrogância e fúria. Ela disse, em tom de deboche:

— Ora, não sabia que você estava com dinheiro sobrando para comprar comida.

— E eu não sabia que os abutres saíam de suas tocas no inverno.

Faíscas saíram pelos olhos daquela mulher. Ela comentou entre dentes:

— Você é um ingrata e uma gatuna! Fui eu quem acolheu você nessa cidade selvagem, e é assim que você me agradece? Saindo de casa e me deixando na mão? E ainda me chama de abutre?

— Não, você não me acolheu! -respondeu Emanuelle rispidamente, apontando o dedo de forma ameaçadora- você só queria uma empregada para atender seus caprichos! A única vigarista aqui é você!

A mulher abriu a boca em surpresa e já ia destilar mais uma ofensa, quando foi interrompida pelo motorista do Uber, que tinha descido do veículo e falou para ambas:

— Senhoras, desculpe interromper, mas vai querer o Uber minha jovem? Tenho outros clientes para atender.

— Sim, vou querer sim -disse Emanuelle, recolhendo suas compras do chão e colocando-as dentro do carro- eu me distraí com essa senhora carente de atenção.

Emanuelle entrou no veículo e fechou a porta, deixando uma mulher enfurecida do lado de fora. A mulher bateu no vidro, chamando a atenção de Emanuelle, ela urrava do lado de fora:

— Você vai me pagar sua vadia! Você vai voltar para o Brasil, que é seu lugar!

— Por favor, vamos embora -disse Emanuelle, fazendo o motorista dar partida no carro.

A mulher continuava a gritar enfurecida, ameaçando Emanuelle de deportação. A doutora afundou o rosto entre as mãos, tentando livrar-se do estresse.

— Parente complicada? -perguntou o motorista.

— Não faz idéia de como -respondeu a jovem, seguido de um suspiro.

O resto da viagem se deu de forma silenciosa. Emanuelle apoiou a cabeça na porta, seu olhar vazio. Ela recordou seus primeiros dias na Inglaterra, como ela chegara cheia de esperança e animada para começar uma vida nova; o que foi destruído poucos dias depois por causa daquela mulher. Todas as ameaças e os serviços de casa exaustantes. Todas as lágrimas derramadas na cama, antes de dormir. Muitas noites mal dormidas, cheias de dor e saudades de casa. Saudade dos seus avós. Emanuelle lacrimejou e algumas lágrimas escaparam de seus olhos. Ela rapidamente limpou, e se endireitou no banco. Ela estremeceu e respirou fundo, não queria mais lembrar daquilo, não aguentava mais sentir dor. Resolveu então prestar atenção na vista da janela. As decorações natalinas que enfeitavam as lojas chamou sua atenção. Ela lembrou-se do quanto amava essa época. Foi quando ela percebeu que apenas em poucos dias o Natal chegaria. Uma pequena empolgação tomou conta de seu peito. Planejava as comidas que prepararia, e os lugares onde visitaria. Ela sempre ouvira falar que o Natal em Londres era um dos mais bonitos, com corais nas ruas, apresentações musicais e as ruas maravilhosamente enfeitadas. Mesmo com todo o terrível clima de medo que caiu sobre a cidade nos últimos dias, ela não planejava perder de ver o Natal de Londres. Sem dúvida, para ela nada tiraria o brilho do Natal naquela cidade. Emanuelle foi trazida de seus pensamentos pelo comentário do motorista. O carro parou de andar:

— Era só o que faltava! O que houve à essa hora?

— O que está acontecendo? Porque paramos?

— Olhe só.

O motorista apontou para frente, ao que Emanuelle se soltou do cinto, colocando-se na cadeira do meio para ver. À frente deles havia já uma fileira de carros, causada por uma multidão de pessoas que fechava a pista, com cartazes na mão.

— Onde estamos? -perguntou Emanuelle

— Perto da Scotland Yard.