Flawless

23. Próxima parada: Cadeia de Rosewood


No final da tarde de sábado, poucas horas antes da Foxy, Spencer estava sentada em frente ao computador. Ela havia acabado de enviar um e-mail para Lula Molusco com seus trabalhos ane-xados. Apenas envie, disse a si mesma. Ela fechou os olhos, clicou no mouse e, quando os abriu, seu trabalho havia sido enviado.

Bem, o trabalho era mais ou menos dela.

Ela não havia trapaceado. De verdade. Bem, talvez tivesse. Mas quem poderia culpá-la? Depois que a mensagem de A chegou, na noite anterior, ela passou a madrugada inteira telefo-nando para Wren, mas só caía na caixa postal. E ela deixara cinco mensagens para ele, cada uma mais frenética que a anterior. Ela havia colocado os sapatos doze vezes, pronta para dirigir até a Filadélfia para ver se ele estava bem, mas, então, se convencia do contrário. Na única vez em que seu Sidekick tocou, ela dera um pulo para alcançá-lo, mas era apenas uma mensagem do Lula Molusco para toda a turma, lembrando a todos sobre o estilo apropriado de respostas para as questões.

Quando sentiu alguém tocar seu ombro, Spencer gritou.

Melissa recuou.

— Ei! Desculpe! Sou eu!

Spencer se endireitou, respirando com dificuldade.

— Eu... — Ela examinou sua mesa. Droga. Havia um pedaço de papel que dizia

Ginecologista, Terça, 17:00. Anticoncepcional? E ela tinha os trabalhos antigos de História de Melissa na tela do computador. Ela deu um chute no estabilizador, e o monitor ficou preto.

— Está estressada? — perguntou Melissa. — Muito dever de casa antes da Foxy? — Mais ou menos. — Spencer juntou rapidamente todos os papéis espalhados pela mesa em pilhas organizadas.

— Quer meu travesseiro de lavanda emprestado? — ofereceu Melissa. — Alivia o estresse.

— Está tudo bem — respondeu Spencer, sem se atrever a olhar para a irmã. Eu roubei seu trabalho e seu namorado, pensou. Você não deveria ser gentil comigo.

Melissa fez biquinho.

— Bom, não quero fazer você se estressar ainda mais, mas tem um policial lá embaixo.

Ele disse que quer te fazer algumas perguntas.

— O quê? — gritou Spencer.

— É sobre Alison — explicou Melissa. Ela sacudiu a cabeça, fazendo as pontas dos cabelos balançarem. — Eles não deviam te obrigar a falar sobre isso na semana do funeral. É doentio.

Spencer tentou não entrar em pânico. Ela olhou para si mesma no espelho, arrumou o cabelo loiro e aplicou corretivo sob os olhos. Então colocou uma blusa branca de botão e as cal-ças cáqui justas. Parecia confiável e inocente. Mas seu corpo inteiro tremia.

Sem dúvida, havia um policial de pé na sala de estar, mas ele estava olhando para o home office do pai dela, onde ele guardava sua coleção de guitarras antigas. Quando o policial se virou, Spencer percebeu que não era aquele com quem ela havia conversado no funeral. O cara que estava ali era jovem. E parecia familiar, como se ela o conhecesse de algum lugar.

—Você é a Spencer? — perguntou ele.

— Sim — disse ela, baixinho.

Ele estendeu a mão.

— Sou Darren Wilden. Acabo de ser designado para o caso do assassinato de Alison DiLaurentis.

— Assassinato — repetiu Spencer.

— Sim — confirmou o oficial Wilden. — Bem, estamos investigando como assassinato. — Tudo bem. — Spencer tentou parecer calma e madura. — Uau.

Wilden fez um gesto para que Spencer se sentasse no sofá da sala de estar; então, ele se sentou na frente dela, na chaise-longue. Ela percebeu de onde o conhecia: Rosewood Day. Ele havia estudado lá quando ela estava no sexto ano, e tinha adquirido a reputação de mau elemento. Uma das amigas CDFs de Melissa, Liana, tivera uma paixonite por ele, e uma vez fizera Spencer entregar uma mensagem de admiradora secreta para ele, na cafeteria onde ele trabalhava. Spencer se lembrava de ter pensado que Darren tinha bíceps gigantescos.

Agora, ele olhava fixamente para ela. Spencer sentiu o nariz coçar, e o relógio de seu avô deu algumas badaladas altas. Finalmente, ele disse:

— Tem alguma coisa que você queira me contar?

O medo se espalhou pelo corpo dela.

— Contar a você?

Wilden se recostou na cadeira.

— Sobre Alison.

Spencer piscou. Havia algo errado ali.

— Ela era minha melhor amiga — conseguiu dizer Spencer. As palmas de suas mãos estavam suadas. — Eu estava com ela na noite em que desapareceu.

— Certo. — Wilden olhou para um bloco de anotações. — Isso está em nossos arquivos. Você conversou com alguém na delegacia de polícia depois que ela desapareceu, não foi?

— Sim. Duas vezes.

— Certo. —Wilden apertou as mãos. —Você tem certeza de que contou tudo a eles? Havia alguém que odiasse Alison? Talvez um policial já tenha feito todas estas perguntas a você antes, mas, como eu sou novo, talvez você pudesse refrescar minha memória.

O cérebro de Spencer parou. Na verdade, muitas garotas odiavam Alison. Até mesmo Spencer nutria certo ódio da amiga às vezes, especialmente em relação ao modo com que ela sempre conseguia manipulá-la, e como havia ameaçado denunciar Spencer pela Coisa com Jenna, se ela algum dia contasse o que sabia. E, secretamente, sentiu certo alívio quando Ali desapareceu. Com Ali sumida, e Toby longe da escola, o segredo deles estava escondido para sempre.

Ela engoliu em seco, fazendo barulho. Não tinha certeza do que esse policial sabia. A poderia ter dado algumas dicas para os policiais, de que ela estava escondendo alguma coisa. E era brilhante — se Spencer dissesse a ele: Sim, eu conheço alguém que odiava Ali, realmente a odiava, o suficiente para matá-la, ela teria que confessar seu envolvimento na Coisa com Jenna.

Se não dissesse nada e se protegesse, A ainda poderia punir seus amigos... e Wren.

Você me magoou, e eu vou magoar você.

O suor começou a escorrer pela nuca de Spencer. E havia mais: e se Toby tivesse voltado só para magoá-la? E se ele e A estivessem trabalhando juntos? E se ele fosse A? Mas, se ele fosse — e tivesse matado Ali —, ele iria até a polícia para se incriminar?

— Tenho certeza de que já contei tudo a eles — disse ela, finalmente.

Houve uma pausa bastante longa. Wilden olhou fixamente para Spencer, e ela olhou de volta. Aquilo a fazia pensar sobre a noite depois de A Coisa com Jenna. Ela havia caído em um sono agitado e paranoico, suas amigas choravam baixinho ao seu redor. Mas, de repente, ela estava acordada de novo. O mostrador do relógio marcava três e quarenta e três da madrugada e

o quarto estava quieto. Ela se sentia atordoada e encontrou Ali dormindo sentada no sofá, com a cabeça de Emily no colo.

— Não posso fazer isso — disse ela, sacudindo-a para que acordasse. — Nós deveríamos nos entregar.

Ali se levantou, levou Spencer para o banheiro no corredor e sentou-se na borda da banheira.

— Controle-se, Spence — disse Ali. —Você não pode abrir a boca se a polícia nos fizer perguntas.

— A polícia? — gritou Spencer, o coração acelerando.

— Shhhhhh — sussurrou Ali. Ela tamborilava as unhas contra a borda de porcelana da banheira. — Não estou dizendo que a polícia vai falar conosco, mas temos que ter um plano para o caso de eles falarem. Tudo o que nós precisamos é de uma história sólida. Um álibi.

— Por que não podemos simplesmente contar a verdade? —perguntou Spencer. — O que exatamente você viu o Toby fazer que te assustou tanto a ponto de você disparar os fogos de artifício por acidente?

Ali sacudiu a cabeça.

— É melhor do meu jeito. Nós guardamos o segredo de Toby e ele guarda o nosso.

Uma batida na porta fez com que elas se levantassem.

— Meninas? — chamou uma voz. Era Aria.

— Tudo bem — disse Wilden, finalmente, arrancando Spencer de suas lembranças. Ele deu a ela um cartão. — Ligue para mim se você se lembrar de alguma coisa, está bem?

— É claro — balbuciou Spencer.

Wilden pôs as mãos na cintura e olhou ao redor da sala. Para a mobília Chippendale, a sofisticada janela de vitral, os quadros emoldurados nas paredes e o relógio George Washington premiado de seu pai, que estava na família desde o século XIX. Então, ele examinou Spencer, dos brincos de diamantes nas orelhas e do delicado relógio Cartier em seu pulso até as luzes loi-ras em seus cabelos, que custavam trezentos dólares a cada seis semanas. O sorrisinho satisfeito no rosto dele parecia dizer: Você parece uma garota que tem muito a perder.

—Você vai àquela festa beneficente hoje? — perguntou ele, sobressaltando-a. — A Foxy?

— Hum, vou — disse Spencer, baixinho.

— Bem. — Wilden fez uma pequena saudação a ela. — Divirta-se. — A voz dele era totalmente normal, mas ela poderia jurar que a expressão em seu rosto dizia: Ainda não terminei