Flawless

15. Ela rouba por você e é assim que você retribui


Mona saiu do trocador da Saks em um vestido verde-água, da Calvin Klein, com um decote quadrado. A saia rodada se movia com graça enquanto ela se virava.

— O que você acha? — perguntou ela a Hanna, que estava examinando as roupas expostas do lado de fora.

— Lindo — murmurou Hanna. Sob as luzes fluorescentes do trocador, ela podia ver que Mona estava sem sutiã.

Mona posou diante do espelho de três lados. Ela era tão magra que, às vezes, tinha que apelar para um invejável manequim trinta e quatro.

— Eu acho que este, talvez, combine melhor com o seu tom de pele. — Ela puxou uma das alças. — Quer experimentar?

— Não sei — respondeu Hanna. — É meio transparente.

Mona franziu a testa.

— Desde quando você se importa?

Hanna deu de ombros e examinou uma seção de blazers Marc Jacobs. Era uma quinta-feira à tarde e elas estavam no departamento de roupas de grife da Saks, no shopping King James, procurando freneticamente por vestidos para usar na Foxy. Várias garotas da escola preparatória e outras, que não estavam na faculdade, mas ainda moravam com os pais, iriam comparecer, e era importante encontrar um vestido que já não estivesse sendo usado por cinco outras meninas.

— Eu quero um visual clássico — respondeu Hanna. — Como a Scarlett Johansson.

— Por quê? — perguntou Mona. — Ela tem uma bunda enorme.

Hanna fez biquinho. Quando ela falou em clássico, queria dizer sutil. Como aquelas garotas em propagandas de diamantes, que parecem doces, mas têm as palavras me foda trançadas no cabelo. Se Sean ficasse tão encantado com a virtude de Hanna talvez rejeitasse seus votos do Clube da Virgindade e arrancasse sua lingerie.

Hanna apanhou um par de sapatos peep-toe caramelo, da Miu Miu, na prateleira do lado do trocador.

— Adoro estes. — Ela mostrou um deles para Mona.

— Que tal se você... — Mona apontou o queixo para a bolsa de Hanna.

Hanna os colocou de volta na prateleira.

— De jeito nenhum.

— Por que não? — sussurrou Mona. — Sapatos são a coisa mais fácil.Você sabe disso. — Quando Hanna hesitou, Mona estalou a língua. —Você ainda está traumatizada com a Tiffany?

Em vez de responder, Hanna fingiu estar interessada em um par de sandálias metálicas Marc Jacobs.

Mona tirou mais algumas coisas dos mostradores e voltou para o trocador. Segundos depois, ela saiu de mãos vazias.

— Este lugar é uma droga.Vamos tentar a Prada.

Elas andaram pelo shopping enquanto Mona digitava em seu Sidekick.

— Estou perguntando ao Eric qual a cor das flores que ele vai levar para mim — explicou ela. —Talvez eu combine a cor do meu vestido com elas.

Mona havia decidido ir à Foxy com o irmão de Noel Kahn, Eric, com quem já havia saído algumas vezes naquela semana. Os garotos Kahn eram sempre parceiros seguros para a Foxy — eram bonitos e ricos, e os fotógrafos das colunas sociais os adoravam. Mona tentara convencer Hanna a convidar Noel, mas ela demorou demais. Noel tinha convidado Celeste Richards, que frequentava o colégio interno Quaker — uma surpresa, já que todos achavam que Noel tinha uma queda por Aria Montgomery. Hanna não se importava, entretanto. Se ela não podia ir com Sean, não iria com mais ninguém.

Mona levantou os olhos de suas mensagens de texto.

— Qual clínica de bronzeamento artificial você acha melhor, a Sun Land ou a Dalia's? Celeste e eu estamos pensando em ir à Sun Land amanhã, mas eu acho que eles fazem com que a gente pareça alaranjada.

Hanna deu de ombros, sentindo uma pontada de ciúmes. Mona deveria estar indo se bronzear com ela, não com Celeste. Ela estava prestes a dizer isso quando seu celular tocou. Seu coração se acelerou um pouco. Sempre que o telefone tocava, ela pensava em A.

— Hanna? — Era a mãe dela. — Onde você está?

— Estou fazendo compras — Hanna respondeu. Desde quando sua mãe se importava?

— Bem, você precisa vir para casa. Seu pai vai passar por aqui.

— O quê? Por quê? — Hanna olhou para Mona, que estava examinando óculos de sol baratos em um quiosque. Ela não tinha contado a Mona que seu pai a visitara na segunda-feira.

Era algo estranho demais para se contar.

— Ele só... precisa apanhar algo — respondeu sua mãe.

— Tipo o quê?

A sra. Marin deu uma risada irônica.

— Ele está passando aqui para pegar alguns documentos que nós precisamos discutir antes de ele se casar. Essa explicação basta para você?

Um suor frio escorreu pela nuca de Hanna. Um, porque sua mãe havia mencionado o que ela detestava pensar — que seu pai estava se casando com Isabel, e seria o pai de Kate. E dois, porque ela havia pensado que seu pai poderia estar passando em casa só para vê-la, especificamente. Por que ela deveria ir para casa se ele estava indo lá por outro motivo? Ia ficar parecendo que ela não tinha vida própria. Ela checou o próprio reflexo na vitrine da Banana Republic.

— Quando ele chega? — perguntou.

— Ele vai estar aqui em uma hora. — A mãe desligou abruptamente. Hanna fechou o telefone com força e o apertou entre as mãos, sentindo o calor do aparelho contra sua pele.

— Quem era? — cantarolou Mona, dando o braço a Hanna.

— Minha mãe — respondeu Hanna, distraída. Ela imaginava se teria tempo suficiente para tomar um banho quando chegasse em casa; ela estava cheirando a vários perfumes diferentes que experimentara na Neiman Marcus. — Ela quer que eu vá pra casa.

— Por quê?

— Porque... sim.

Mona parou e olhou cuidadosamente para Hanna.

— Han, sua mãe não liga para você sem motivo nenhum, apenas para mandá-la voltar para casa.

Hanna parou. Elas estavam na frente da entrada do Ano do Coelho, o bistrô chinês sofisticado do shopping, e o aroma intoxicante de molho agridoce lhe subiu às narinas.

— Bom, é porque... meu pai vai passar lá em casa.

Mona franziu a testa.

— Seu pai? Eu pensei que ele estava...

— Não está — interrompeu Hanna, depressa. Quando Mona e Hanna se tornaram amigas, Hanna disse a Mona que o pai estava morto. Ela havia prometido a si mesma jamais falar com ele novamente, portanto, não era exatamente uma mentira. — Nós não tivemos nenhum contato por muito tempo — explicou. — Mas eu o vi outro dia, e ele tem negócios na

Filadélfia, ou coisa do tipo. Ele não está indo lá hoje por minha causa. Não sei por que minha mãe me quer lá.

Mona pôs a mão na cintura.

— Por que você não me contou isso antes?

Hanna deu de ombros.

— Então, quando isso aconteceu?

— Não sei. Segunda-feira?

— Segunda-feira? — Mona parecia magoada.

— Meninas! — Uma voz as interrompeu. Hanna e Mona olharam para o lado. Era Naomi Zeigler. Ela e Riley Wolfe estavam saindo da Prada com sacolas pretas de compras penduradas em seus ombros perfeitamente bronzeados.

—Vocês estão fazendo compras para a Foxy? — perguntou Naomi. Seus cabelos loiros estavam reluzentes como sempre, e sua pele brilhava de forma irritante, mas Hanna não pôde evitar notar que seu vestido BCBG era da coleção passada. Antes que ela pudesse responder, Naomi completou: — Não percam seu tempo na Prada, nós compramos as únicas coisas boas de lá.

— Talvez nós já tenhamos nossos vestidos — rebateu Mona duramente.

— Hanna, você também vai? — Riley arregalou os olhos castanhos e jogou para trás o cabelo ruivo brilhante. — Eu achei que, talvez,já que você não está com o Sean...

— Eu não perderia a Foxy por nada — afirmou Hanna, de forma arrogante.

Riley pôs a mão na cintura. Ela estava vestindo leggings pretas, uma camisa jeans desfiada e um suéter listrado de branco e preto. Recentemente, havia sido publicada em um revista uma foto da Mischa Barton usando exatamente o mesmo modelo.

— O Sean é tão lindo — suspirou Riley. — Eu acho que ele ficou ainda mais bonito neste verão.

— Ele é totalmente gay — disse Mona, rapidamente.

Riley não pareceu preocupada.

— Eu aposto que posso fazê-lo mudar de ideia.

Hanna cerrou os punhos.

A expressão de Naomi se iluminou.

— Ah, Hanna, então, a Associação Cristã de Moços é fantástica, não é?Você tem que fazer aulas de pilates comigo! O instrutor, Oren? Lindo.

— Hanna não frequenta a Associação — interrompeu Mona. — Nós vamos ao Body

Tonic. Isso aí é um buraco.

Hanna virou-se de Mona para Naomi. Seu estômago revirava.

—Você não vai à Associação? — Naomi fez a cara mais inocente de que era capaz. — Estou confusa. Não vi você lá ontem? Do lado de fora da sala de ginástica?

Hanna agarrou o braço de Mona.

— Nós estamos atrasadas. — Ela a arrastou para longe da Prada, voltando na direção da Saks.

— O que foi aquilo? — perguntou Mona, desviando-se com graça de uma senhora obesa, carregada de sacolas.

— Nada. Eu simplesmente não consigo suportá-la.

— Por que você estava na Associação ontem? Você me disse que ia ao dermatologista. Hanna parou. Ela sabia que encontrar Naomi antes do Clube da Virgindade resultaria em problemas.

— Eu... tinha uma coisa pra fazer lá.

— O quê?

— Não posso te contar.

Mona franziu o cenho e se virou. Ela deu passos secos e determinados em direção à Burberry. Hanna a alcançou.

— Olhe, eu simplesmente não posso. Sinto muito.

—Tenho certeza de que sente. — Mona começou a vasculhar dentro da bolsa e tirou dela os sapatos caramelo Miu Miu, da Saks. Eles não estavam na caixa e o lacre de segurança

tinha sido arrancado. Ela os balançou na frente do rosto de Hanna. — Eu ia dá-los de presente para você. Mas esqueça.

O queixo de Hanna caiu.

—Mas...

— Aquele negócio com o seu pai aconteceu há três dias e você nem me contou — disse Mona. — E, agora, você fica mentindo pra mim sobre o que vai fazer depois da escola.

— Não é bem assim... — gaguejou Hanna.

— É o que parece para mim. — Mona franziu a testa. — Sobre o que mais você está mentindo?

— Sinto muito — balbuciou Hanna. — Eu só... — Ela olhou para os próprios sapatos e respirou fundo. —Você quer saber por que eu estava na Associação? Tudo bem. Eu fui ao Clube da Virgindade.

Os olhos de Mona se arregalaram. Seu celular tocou dentro da bolsa, mas ela não fez nenhum movimento para apanhá-lo.

— Agora eu espero que você esteja mentindo.

Hanna sacudiu a cabeça. Ela se sentia um pouco nauseada; a Burberry tinha o mesmo cheiro forte de seu novo perfume.

— Mas... por quê?

— Eu quero o Sean de volta.

Mona caiu na gargalhada.

—Você me disse que tinha terminado tudo com o Sean na festa do Noel.

Hanna olhou para a vitrine da Burberry e quase teve um ataque cardíaco. A bunda dela estava mesmo daquele tamanho? De repente, ela estava na mesma proporção da Hanna gorda e babaca do passado. Ela engasgou, desviou o olhar e olhou de novo. A Hanna normal olhou de volta.

— Não — respondeu. — Ele terminou comigo.

Mona não riu, mas também não tentou confortar Hanna.

— Foi por isso que você foi à clínica do pai dele, também?

— Não — disse Hanna rapidamente, esquecendo de que havia visto Mona lá. Então, percebendo que teria que contar a Mona o motivo real, ela voltou atrás. — Bom, foi. Mais ou menos.

Mona deu de ombros.

— Bem, eu meio que já tinha ouvido falar que o Sean tinha terminado com você, de qualquer jeito.

— O quê? — sibilou Hanna. — Quem disse isso?

— Acho que foi na aula de ginástica. Não me lembro. — Mona deu de ombros. — Talvez o Sean tenha começado a espalhar isso.

Os olhos de Hanna se enevoaram. Ela duvidava de que Sean tivesse falado... mas talvez A tivesse.

Mona olhou para ela.

— Eu achei que você queria perder a virgindade, não prolongá-la.

— Eu só queria ver como era — disse Hanna, docemente.

— E aí? — Mona fez um biquinho malicioso. — Me dê os detalhes sórdidos. Aposto que foi hilário. Vocês cantaram? Entoaram mantras? O quê?

Hanna franziu a testa e se virou. Normalmente, ela teria contado tudo a Mona. Mas estava magoada com o fato de Mona rir dela, e não queria lhe dar satisfação. Candace havia dito de forma tão decidida: Esse é um lugar seguro. Agora, Hanna não sentia que tinha o direito de contar os segredos dos outros, nem mesmo quando parecia que A estava contando os dela. E por que, se Mona havia ouvido um boato sobre ela, não tinha lhe dito nada? Elas não deveriam ser melhores amigas?

— Nada disso, na verdade — murmurou ela. — Foi bem chato.

O rosto de Mona, que antes tinha uma expressão de expectativa, passou a demonstrar desapontamento. Ela e Hanna olharam uma para a outra. Então, o celular de Mona tocou, e ela desviou o olhar.

— Celeste? — disse Mona ao atender. — Oi!

Hanna mordeu os lábios, nervosa, e olhou para o relógio Gucci que usava.

— Tenho que ir — sussurrou para Mona, fazendo um gesto na direção da saída leste do shopping. — Meu pai...

— Espere — disse Mona ao telefone. Ela cobriu o bocal com as mãos, revirou os olhos e empurrou os sapatos Miu Miu para as mãos de Hanna. — Fique com eles. Na verdade, eu os detestei.

Hanna se afastou, segurando os sapatos roubados pelas tiras. De repente, ela também os detestava.