É engraçado pensar na dinâmica de um casamento.

Eu não vejo graça alguma nisso.

A questão é que nenhum outro tipo de aliança social é tão instável e cheio de variáveis. Um relacionamento tanto pode ruir da noite para o dia, como pode renascer das cinzas a partir de um evento inesperado, algo que você jamais imaginou ser a resolução de todos os empecilhos.

Empe.. O quê? Não importa. Mas concordo que às vezes as coisas se resolvem de formas estranhas. Como no nosso caso. Quem diria que algo que separa tantos casais iria nos unir mais que nunca.

Mas não existem fórmulas quando falamos de casamento, e isso deixa tudo imprevisível. Da mesma forma que nos conhecemos a partir de um encontro estritamente casual, chegamos à nossa crise dos sete por motivos que não sabemos.

Acho que nunca vamos saber, para falar a verdade. Começando pelo fato de que nossa “crise dos sete” aconteceu no sexto ano de casamento. Como alguém pode esperar por isso?

Talvez seja porque nunca fui boa em matemática.

Mas eu sou um administrador. Não sou um perito em números, mas sei operar a “12C” como poucos... Tá bem, não é isso tudo, mas eu me viro bem. Até faço meu imposto de renda sozinho!

Alguém divagou por aqui... Mas, voltando ao assunto, esta conversa me faz lembrar o nosso tempo de namoro. Nunca pensávamos nos problemas, apenas achávamos que éramos feitos um para o outro, e que o nosso amor seria eterno. E ainda mais, que nosso amor seria suficiente para que jamais tivéssemos problemas.

A vida era tão simples quanto uma casquinha de sorvete.

Nosso salário mal pagava uma casquinha de sorvete!

Mas éramos felizes com o pouco que tínhamos. Será que o dinheiro complica as coisas?

Essa é a maior bobagem que eu já ouvi. Éramos daquele jeito porque éramos uns bobões. Dois bobões muito felizes, mas, ainda assim, bobões. Não venha com essas ideias de largarmos nossos empregos e levarmos uma vida simples. Você sabe que não vai aguentar muito tempo sem seu futebol em nossa TV de 60 polegadas. E eu não quero voltar a andar de ônibus. Isso é mais forte que qualquer amor.

Olhando por esse lado, pode ser que você tenha razão.

Eu tenho razão.

Por isso você é a mulher do casal, e eu não. E agora acho que foi você que div... div... Como se diz?

Divaguei.

Isso! Você que divaguei.

Divagou.

Hmm?

Deixa pra lá. O importante é que há sempre uma saída para os problemas, ainda que disfarçada de um problema ainda maior.

Botar ”maior” nisso!

Esta conversa não deve fazer muito sentido para quem está de fora, né, amor?

Não faz sentido nem para mim, que estou de dentro!

Mas vai fazer sentido. E o capítulo 1 é o primeiro passo.

Capítulo 1 neles!