No dia seguinte eu recebi alta. Até agora Brendon não tinha aparecido. Liguei pra ele, mas ele não respondia. Resolvi mandar uma mensagem, falando que eu tinha recebido alta e que ia pra casa de táxi, já que ele não ia me buscar. Só aí ele respondeu, falando pra eu não ir pra casa e esperar ele dentro do hospital. Desconfiei, não gostando do que ele talvez tivesse se metido, mas obedeci.

Uns 20 minutos depois, ele apareceu, apressado e parecendo cansado e preocupado.

''A gente não pode demorar. Depois eu te explico o que tá acontecendo, vamos logo.''

''Ei, calma. Eu não mereço nem um beijo?'' ele sorriu, culpado. Me beijou, calma e profundamente.

''Me desculpa, meu amor, mas a gente realmente tem que ir agora.'' entrelaçando nossas mãos, me puxou docemente para o banco de trás de um táxi que estava parado, nos esperando.

Ele deu um endereço para o motorista que eu não conhecia.

''Pra onde vamos?''

''Pra casa de Jon. Te explico o que tá acontecendo lá.''

''Quem é Jon?''

''Namorado de Spencer. Você não sabia?'' acenei negativamente.

Minha cabeça girou. O que eu tinha acontecido nesse pouquíssimo tempo em que eu fiquei no hospital? Brendon estava encencado e acho que eu também e agente não podia voltar pra casa (que era a única explicação óbvia, afinal o lugar em que eu e Brendon mais gostávamos no mundo era nosso apartamento).

No final, eu sabia que a culpa era toda minha. Eu e minha falta de confiança, minha infantilidade, meu amor platônico por Brendon, minha confusão. Eu e meu maldito amor por aquela praia, por aquele chalé. A culpa caiu sobre meus ombros e tudo o que eu queria era que tudo passasse logo, para que eu pudesse ficar com Brendon em paz pelo resto da minha vida. Queria chorar, mas me segurei. As lágrimas eram teimosas, mas eu sabia que minha vontade de não parecer fraco na frente de Brendon era maior.

Finalmente chegamos na casa de Jon. Era muito grande e muito bonita, mas mesmo assim eu sentia falta do nosso pequeno apartamento. A fachada tinha um grande e bonito jardim, com grama e muitas flores coloridas. No meio, tinha um caminho de pedras que levava até a porta de entrada. Do lado do jardim, havia uma garagem e quatro carros: o meu, o do Brendon, o do Spencer e o maior de todos que eu não reconhecia.

Saímos do carro e andamos até a porta. Brendon tocou a campainha e uma moça com uniforme atendeu.

''Olá Brendon.''

''Oi Dakota. Spencer está aqui?''

''Está sim, mas ele está... ocupado. Com Jon.''

''Ah, tudo bem. Onde eles estão?''

''No escritório.''

''Obrigado.'' sorriu e me puxou pelo labirinto que era a casa. As paredes eram brancas e altas, e ocasionalmente se podia ver quadros grandes e abstratos pela casa. O piso, bem encerado, fazia barulho a cada passo. A casa era realmente muito grande e bonita, Jon deveria ser um cara muito rico para poder bancar tudo isso.

Paramos em frente a uma porta branca. Brendon olhou pra mim com um sorriso brincalhão e bateu na porta.

''Spencer, meu amor, por que você me abandonou na cama? O que está fazendo aí dentro?'' disse imitando uma mulher com a voz enjoada. Ouvi uma voz masculina rir lá dentro; provavelmente Jon.

''Vai se foder, Brendon.'' gritou Spencer, mas logo abriu a porta, arrumando as roupas e cabelo amassados. ''Hey, Ryan!'' abriu um sorriso quando me viu e se afastou da porta para nos deixar entrar.

O escritório tinha grandes janelas de vidro do outro lado. Em frente delas, havia uma mesa grande e bem organizada, junto com uma cadeira giratória. A parede esquerda era coberta por uma prateleira cheia de livros, e na parede direita tinha um quadro, uma mesa pequena com flores e um sofá branco, onde um cara com roupas casuais amassadas estava sentado, sorrindo pra gente. Ele se levantou e estendeu a mão pra mim.

''Olá. Você é o Ryan, não é? Sou Jon.''

''Oi.'' apertei sua mão, meio encabulado. Ele me convidou a sentar no sofá, e eu o fiz, trazendo Brendon comigo. Spencer e Jon sentaram-se no chão e entrelaçaram as mãos. ''Então... o que está acontecendo?''

Brendon suspirou e olhou para seus pés. Parecia não saber como começar.

''Bom... depois que eu deixei o hospital, fui atrás de Pete. Quando encontrei ele, ele já estava entrando em seu carro, então segui ele até sua casa. Tentei fazer um acordo, brigamos um pouco e acabei levando um soco ou dois - mas eu estou bem, juro. Ele é um cara difícil para negociar. No final, o melhor que consegui foi dar pra ele nosso apartamento, 2 mil dólares e sair correndo antes dele inventar mais alguma coisa. Todo esse tempo que eu não atendi o celular eu estava arrumando as coisas mais importantes pra tirar de casa antes de entregar a Pete. Falei com Spencer pra ver se podia passar uns dias na casa dele, pelo menos até achar um lugar pra ficar, e ele disse que estava saindo da casa dos pais e vindo morar com Jon. Não quis atrapalhar os dois, mas Jon insistiu pra que eu ficasse aqui, então trouxe nossas coisas pra cá. Mas ontem, quando Pete apareceu pra pegar a chave lá em casa, disse que ele não ia desistir de você, e que se te visse na rua, ele 'faria você ser dele, querendo ou não''. Palavras dele. Eu fiquei com medo de te perder, por isso te apressei tanto hoje. Não sei do que ele é capaz e sinceramente não quero descobrir. Então a gente vai ficar uns tempos por aqui, só até achar uma casa legal fora da cidade. Jon disse que não liga em ter amigos do Spencer aqui.'' sorriu pra ele, agradecendo. Jon balançou a cabeça e sorriu de volta.

Fiquei com medo, mas me sentindo protegido ao mesmo tempo. Eu sei que estaria preso naquela casa, e que não me arriscaria a sair, mas eu não ligava. A casa era grande e agradável, e meu namorado e meu melhor amigo estariam lá, além do namorado do meu melhor amigo, então eu ficaria bem.

''Tá tudo bem. Não ligo de ficar aqui se vocês estiverem também.'' peguei a mão de Brendon e sorri para confortá-lo.

''Mesmo?''

''Mesmo.'' ele sorriu aliviado.

Conversamos sobre outros assuntos e o clima ficou bem mais descontraído. Descobri que Jon namorava Spencer há um bom tempo, eu é que tinha me desligado do mundo, e que ele era dono de uma grande empresa, por isso a casa era tão grande e bonita. Era um cara legal, nossa convivência com certeza não seria difícil.

Depois de algum tempo, decidimos deixar Spencer e Jon sozinhos para eles terminarem o que estavam fazendo antes de interrompermos. Brendon me guiou até nosso quarto. Era bem grande, com certeza não precisaríamos de tanto espaço. As janelas de vidro que ficavam do lado direito iam do teto até o chão e tinham grandes cortinas brancas; a vista do grande quintal cheio de árvores e flores era linda. Tinha um levantamento no piso em forma de meio círculo na parede oposta a porta, com dois degraus, e em cima dele, havia uma grande cama de casal com edredons vermelhos e travesseiros brancos. Essa parede tinha um tom vermelho, não muito escuro, diferente do resto da casa. No quarto tinha também um guarda-roupa, uma mesa com flores e na parede oposta às janelas, uma porta que dava para o banheiro.

''Uau. Esse é o 'pequeno quarto de hóspedes' em que vamos ficar? Só isso aqui é maior que nosso apartamento inteiro!'' eu não estava exagerando. Aquele quarto era realmente muito maior que nosso apartamento. Brendon riu.

''Eu sei. Também não acreditei quando vi pela primeira vez.''

''Aqui é tudo um pouco... grande demais, não acha?''

''Acho, mas a gente se acostuma. Aqui não é tão ruim assim, afinal.''

''Com certeza não.'' sorri. Corri e pulei na cama. O colchão era muito macio.

Olhei para Brendon. Seu rosto era inundado por um grande sorriso e seus olhos brilhavam de felicidade. Ele correu também e pulou em cima de mim.

''Eu te amo.''

''Eu também te amo.''

Me beijou depois disso e eu sabia que não podia estar mais ferrado ou mais feliz do que estava.